terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Miséria e concentração de riquezas aumentam na pandemia

Miséria e concentração de riquezas aumentam na pandemia 1 de dezembro de 2020 Categoria: Brasil, Destaques, Últimas Notícias permalink Tagged under: Brasil, economia, Instagram, Miséria, Pandemia, Pobreza Share this on WhatsApp ShareShare POBREZA – Pandemia aumentou número de pessoas abaixo da linha da miséria em todo o mundo (Foto: Reprodução/Rodrigo Oliveira) Dados do estudo “Quem paga a conta?”, publicado pela OXFAM em junho de 2020, apontam que os super ricos brasileiros ficaram 34 bilhões de dólares mais ricos durante a pandemia. Enquanto isso, 21% das famílias mais pobres estão sem renda e dependem de doações para poder se alimentar. Raphael Almeida RIO DE JANEIRO (RJ) – Diferente do que dizem os analistas econômicos dos principais jornais do país, a crise econômica iniciada em 2008 ainda não acabou. Se em 1929 foi chamada de “A Grande Depressão”, os economistas fazem questão de afirmar que se trata apenas de uma recessão, todavia, é preciso desnudar a razão da crise econômica e como a pandemia de Covid-19 acelerou seus efeitos. Em “O Capital: crítica da economia política”, Marx aponta que o átomo da economia capitalista se encontra na mercadoria, não à toa, o primeiro capítulo do livro começa por debater esse tema. Em sua genialidade, comprova por A+B, que o capitalismo cria dentro de si tendências e contratendências. Quando a mercadoria não é vendida, o ciclo da mais-valia não se completa (a mais-valia não é transformada em lucro). Para recuperar o valor investido os patrões reduzem os salários, porém, com o salário ainda mais achatado, os trabalhadores não conseguem comprar, aumentando ainda mais os produtos nos estoques. Na mesma proporção encontra-se a linha de crédito bancário: as pessoas não pagam, os bancos aumentam os juros para manter sua taxa de lucro, com isso, aumenta-se a inadimplência. Com o perdão de parecer vulgar, excluir diversos outros elementos econômicos e resumir uma obra magnífica, percebe-se que o sistema capitalista aponta sempre para a crise. Ou seja, a crise não é um ponto fora da curva do desenvolvimento capitalista, ela estrutura a economia capitalista. Ela é a síntese do descompasso entre a produção de mercadorias e o consumo das mercadorias, entre o caráter social da produção e o caráter individual da apropriação das riquezas. Uma das consequências da crise é a ampliação dos monopólios. Olhemos para 2008 e a grande crise iniciada com a quebra do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos. Mesmo com o Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos, e o Banco Central Europeu injetando centenas de bilhões de dólares e euros no sistema financeiro, quando a grande árvore do Lehman Brothers caiu, em 15 de setembro de 2008, levou consigo outros 25 bancos. Os números seguiram em 2009 com a falência de mais 140 instituições financeiras; 157 em 2010 e 71 em 2011. Ao todo, 393 bancos quebraram no período de três anos. Por óbvio, as pessoas não ficaram sem conta bancária. O JP Morgan, maior banco dos EUA, terceira maior empresa do mundo, passou a absorver os clientes do rival falido e viu seu valor de mercado triplicar desde 2008. O desenvolvimento desigual do capitalismo fez com que o centro do Império sofresse os primeiros efeitos da crise que rapidamente se alastrou para Portugal, Espanha, Alemanha, Grécia, França, Inglaterra… Os países que tinham sua matriz econômica nos commodities, como o Brasil, assistiram os efeitos da crise a partir de 2014, quando despencou o preço do barril de petróleo e estende-se até hoje. Muitos economistas afirmam que a crise econômica no centro do Império foi superada, já que entre 2010 e 2019, o Produto Interno Bruto norte-americano cresceu ininterruptamente em numa média 2% ao ano, da mesma forma o crescimento nas bolsas de investimento segundo o índice Dow Jones. Mas, ao observarmos os dados do Bureau of Economic analysis, percebemos que 70% do crescimento do PIB dos EUA estavam sedimentados no aumento de consumo das famílias, e a maior parte desse consumo foi garantido pelo aumento de crédito cedido. A saída do mercado financeiro foi transformar o crescimento econômico num biscoito de polvilho, aparentemente grande, mas cheio de ar e extremamente frágil. Segundo o economista Marcelo Roubicek, redator do jornal Nexo, a injeção de crédito ligado ao consumo dos lares norte-americanos alcançou seu maior nível na história, um valor que em 2019 foi de 4 trilhões de dólares, pela cotação atual 22,5 trilhões de reais, três vezes mais que o PIB do Brasil. Com a pandemia de Covid-19 tomando proporções mundiais, no dia 12 de março deste ano, as bolsas sofreram em um único dia o maior abalo de sua história. A Ibovespa caiu 15%, maior tombo desde 1998. Num mesmo dia, a Bolsa de Valores foi fechada duas vezes, o circuit breaker, como foi amplamente noticiado. A instabilidade e a possibilidade do lockdown (o que pararia a produção e venda de produtos, por conseguinte, estagnação do lucro) fez com que houvesse um efeito cascata em todas as bolsas de valores pelo mundo. Somente após o Banco Central dos EUA anunciar que injetaria US$ 1,5 trilhão no sistema financeiro (que o Estado doaria aos bancos e investidores) o mercado se acalmou. Nesse momento, as manchetes da crise voltaram a surgir. Todavia, basta olharmos para os portais das próprias elites econômicas para confirmar que a economia mundial dava sinais de queda já em 2019: “Mundo corre risco de entrar em recessão; o que aconteceria com o Brasil?”, “O mundo está à beira de uma nova grande crise econômica?”, “A crise econômica global está se formando, e a guerra comercial é só uma parte disso” , “Crise à vista?”. Os capitalistas do mundo enxergaram na crise a possibilidade de ampliar suas fortunas e monopolizar ainda mais a economia. Não à toa, em meio ao empobrecimento generalizado da população, os super ricos ficaram mais ricos. Dados do Institute for Policy Studies e Americans for Tax Fairness mostram que a fortuna dos 643 norte-americanos mais ricos cresceu 29% desde o começo da pandemia, significando mais de 584 bilhões de dólares em suas contas, enquanto 40 milhões de pessoas vivem na linha da pobreza no país. Os mesmos dados mostram que os cinco maiores bilionários dos EUA – Jeff Bezos, Bill Gates, Mark Zuckerberg, Warren Buffett e Larry Ellison – viram sua riqueza crescer durante a pandemia em um total de 101,7 bilhões de dólares, ou 26%. Eles capturaram 17,4% do crescimento total da riqueza de todos os mais de 600 bilionários nos últimos três meses. As fortunas de Bezos e Zuckerberg juntas cresceram quase 76 bilhões de dólares, ou 13% do total de 584 bilhões de dólares. No Brasil, dados do estudo “Quem paga a conta?”, publicado pela OXFAM em junho de 2020, apontam que os super ricos ficaram 34 bilhões de dólares mais ricos. Na América Latina, o aumento da riqueza foi de 48,2 bilhões de dólares durante a pandemia. Dados da Bússola Social mostram que 21% das famílias mais pobres estão sem renda na pandemia, e dessas, 38% dependem de doações para poder se alimentar. Ainda de acordo com os dados, em 71% das famílias pelo menos um membro perdeu o emprego durante a pandemia. É verdade que o lucro dos super ricos se deu, numa parte, pelo aumento de vendas, mas por outro lado, houve uma grande economia de seus déficits com a demissão de milhões de trabalhadores e redução salarial dos empregados, sob alegação de falta de dinheiro. Segundo a OXFAM,“se estima que até 52 milhões de pessoas se tornarão pobres e 40 milhões perderão seus empregos este ano”. Diferente de 2008, onde grandes companhias entraram em falência, levando consigo os pequenos proprietários, fazendo com que os consumidores fossem absorvidos por monopólios ainda mais robustos, durante a pandemia, o pequeno proprietário, dono do pequeno mercado, da pequena loja, da mercearia, foi o principal atingido. Não à toa, assistimos nas capitais um número assustador de placas na frente dos comércios escrito “Vende-se”. O pequeno proprietário está sendo substituído pelo grande monopólio, com o fechamento das pequenas lojas. A população tem como única opção comprar nas grandes redes de atacado como Ponto Frio, Americanas, Magazine Luiza e Amazon. Com o fechamento dos mercados, açougues e hortifrutis, resta os hipermercados do Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart. Se no começo do ano o mundo assistiu com preocupação as declarações das guerras comerciais entre China e Estados Unidos, com a pandemia, a situação se inflamou. Jogou-se gasolina na fogueira. Cada vez mais as grandes empresas ficam incapacitadas de crescer seus tentáculos, não há novos mercados para explorar, já que dominam continentes inteiros, tendo como opção a guerra comercial para penetrar no mercado de seu rival. Isso se verifica nas disputas entre Alibaba (conglomerado privado de empresas chinesas) x Amazon (EUA), a Wish e Ebay x AliExpress (que pertence ao grupo Alibaba), Tik Tok (chinesa) x Instagram (EUA), Huawei e Xiaomi (chinesas) x Apple (EUA) e Samsung (Coreia do Sul). GUERRA ECONÔMICA – EUA e China disputar controle dos mercados e da economia mundial (Foto: Reprodução) Cresce a possibilidade de uma nova guerra no mundo Com as tensões entre os blocos China/Rússia x EUA/União Europeia se intensificando, e um aprofundamento ainda mais violento da crise econômica de 2008, as potências imperialistas investem cada vez mais em suas forças armadas. O ano de 2019 registrou o maior aumento com gasto militar dos últimos dez anos, como comprova o artigo O Balanço Militar, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. O país que mais investe é os EUA, com um gasto de US$ 684,6 bilhões. O país conta com 800 bases militares espalhadas pelo mundo. A China aumentou seus gastos em 6,6% em comparação a 2018. Em números brutos, China e EUA estão muito à frente da Rússia, que investe US$ 61,6 bilhões em defesa, todavia, o país dirigido por Putin detém grande quantidade de armas nucleares. A Alemanha, viu seu gasto militar se elevar 9,7% entre 2018 e 2019, país que mais investiu em toda Europa, continente que viu seu gasto aumentar em 4,2% no mesmo período. O assassinato do general iraniano Suleimani pelas forças armadas norte-americanas, no começo do ano, agravou a tensão no país e no conjunto do Oriente Médio, onde os EUA demostram ter mais domínio geopolítico da região. A China amplia seu domínio econômico sobre o continente africano, instalando ainda uma base militar no Djibuti, buscando assegurar o controle da nova rota da seda. A situação se agrava ainda mais nas disputas pelo território sírio entre OTAN e Rússia. As tensões diplomáticas entre China e Taiwan estampam as capas dos jornais internacionais. Estados Unidos e a China posicionaram embarcações militares em vários pontos do Mar do Sul da China, região que inclui sete países e Taiwan e tem importância estratégica: é uma das principais rotas comerciais navais do planeta. Em nosso continente a situação não é diferente. A todo momento o imperialismo norte-americano desestabiliza governos como Honduras, Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia, e tenta criar uma guerra contra a Venezuela em busca de petróleo. Necessidade de uma nova sociedade Não há claridade que cegue a realidade que o capitalismo não consegue resolver os graves problemas da humanidade. Esse modelo econômico se esgotou por completo. Não há desenvolvimento harmônico numa sociedade que destrói os biomas, queima suas florestas para ser ocupado pelo gado do agronegócio. A tecnologia desenvolvida na sociedade capitalista não serve para gerar qualidade de vida ou reduzir a jornada de trabalho, mas sim para aumentar o lucro dos patrões. Enquanto a Covid-19 matava as elites brasileiras, era defendido o lockdown; quando o vírus passou a vitimar principalmente a periferia, tudo voltou a funcionar. Dia após dia faz-se necessário a derrubada do capitalismo e a construção do socialismo, uma sociedade que socialize as riquezas, que emancipe o homem e a mulher, garanta comida aos famintos, terras aos camponeses e trabalho com salário digno para aqueles que vivem do trabalho. Print Friendly, PDF & Email
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