domingo, 16 de agosto de 2015

Revelações sobre a espionagem do Eliseu: o que devemos conhecer

Revelações sobre a espionagem do Eliseu: o que devemos conhecer

Liberation
15.Ago.15 :: Outros autores
As recentes revelações da Wikileaks sobre a espionagem por parte da NSA americana a altas figuras do Estado francês pouco acrescentam ao que já se sabia: que os EUA dispõem dos meios técnicos e da falta de escrúpulos necessária para vasculharem a privacidade do mundo inteiro. Mas o alto nível dos espiados mostra também a desconfiança que os dirigentes imperialistas depositam uns nos outros. Têm toda a razão.

As opiniões francesas são quase unânimes a denunciar as escutas da NSA sobre personalidades políticas entre 2008 e 2012, segundo documentos publicados pelo Liberation e Mediapart em colaboração com a WikiLeaks.

Várias personalidades políticas francesas apanhadas pela NSA.
Segundo um extracto da base de dados de pessoas a escutar estabelecido pela TOPI (Target Office and Primary Interest) no fim do ano de 2010, a unidade da NSA encarregada de tratar das intercepções recolhidas, várias personalidades francesas de primeiro plano faziam parte dos seleccionados da NSA.

Entre as personagens escutadas estão, para além do presidente da República, alguns dos seus conselheiros como Jean-David Levitte ou Claude Guéant. Figuram igualmente os ministérios das Finanças e da Agricultura, o número do posto de antena do Eliseu da célula do «telefone vermelho», os responsáveis da frota presidencial mas também altos responsáveis do Quai d’Orsay como o porta-voz Bernard Valeo ou Laurence Tubiana, que lideravam as negociações sobre o clima em Copenhague em 2009.

Três presidentes no visor da NSA
Os conteúdos dessas escutas que publicámos mostram uma selecção do que interessa aos analistas da agência americana.
Assim, comentam uma discussão em 2006 entre o presidente Jacques Chirac e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Philippe Douste-Blazy.
Sobre Nicholas Sarkozy, para além de uma análise do seu ego, os analistas comentam a inquietação do presidente em ser escutado, assim como a sua defesa dos interesses da família Pernod-Ricard nos Estados Unidos ou o seu desejo de ser mediador no Médio Oriente.
François Hollande foi também objecto de uma escuta, as análises citam uma conversa que teve com Jean-Marc Ayrault a respeito de uma reunião secreta em 2012 com os opositores de Ângela Merkel para evocar o Grexit.

Como espia a NSA essas personalidades?
Os documentos obtidos pelo WikiLeaks mostram pouco sobre as técnicas utilizadas para interceptar as telecomunicações dos presidentes franceses e dos seus interlocutores. Mas sabe-se que há dez anos uma unidade especial instalou um posto de espionagem no telhado da embaixada dos Estados Unidos.
Um outro meio poderiam ser os serviços de informação alemães. Em Maio de 2014, soube-se que o BND espiou por conta da NSA as instituições europeias, diplomatas europeus, o Quai d’Orsay e muitas empresas, nomeadamente a Airbus.
«Em princípio, não deve haver espionagem entre países amigos e principalmente a nível de chefes de Estado ou do governo. Isso não quer dizer que não se faça, mas não podem ser descobertos», declarou o investigador François Heisbourg numa entrevista ao Liberation.
Colocam-se na posição de tudo analisar e tudo escutar, numa sociedade obcecada pelo terrorismo, afirma Johan Hufnagel, num editorial publicado a 23 de Junho.

Fonte: Liberation, 24 2015-08-06 
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