quinta-feira, 6 de novembro de 2014

David Swanson / Os EUA enviam aviões armados com Urânio Empobrecido para o Médio Oriente

David Swanson*
06.Nov.14 :: Outros autores
Os efeitos da utilização de munições de Urânio Empobrecido fazem-se sentir por muito tempo depois do seu disparo. Contaminam solos e águas. São altamente cancerígenas. Vitimam civis, crianças sofrem de leucemia e malformações congénitas. Atingem os próprios militares das tropas da agressão e ocupação imperialista. Mas os EUA não desistem de as utilizar.


A Força Aérea dos EUA diz que não deixa de utilizar armas de urânio empobrecido, que as enviou recentemente para o Médio Oriente, e que está preparada para as usar.
Um tipo de avião, o A-10, enviado este mês para o Médio Oriente pela Ala de Caças Nº 122 da Guarda Nacional Aérea dos EUA, é responsável por mais contaminação por Urânio Empobrecido (UE) do que qualquer outra unidade, segundo a Coligação Internacional para a Proibição de Armas de Uranio (ICBUW). “Peso por peso e segundo a quantidade de projécteis, foi utilizada mais munição OGU-14B de 30 mm do que qualquer outro projéctil”, disse o coordenador da ICBUW Doug Weir, referindo-se à munição utilizada pelo A-10, em comparação com munição de UE utilizada por tanques.
O superintendente de assuntos públicos Sargento Mestre Darin L. Hubble, da Ala de Caças Nº 122 disse-me que os A-10 que se encontram agora no Médio Oriente, juntamente com “300 de nossos melhores aviadores” foram enviados para ali de acordo com um destacamento de forças planeado durante os últimos dois anos e que não foram designados para participar nos actuais combates no Iraque ou na Síria, mas que “isso poderia mudar a qualquer momento”.
As tripulações carregarão projécteis PGU-14 de urânio empobrecido nos seus canhões Gatling de 30 mm e utilizá-los-ão quando necessário, disse Hubble. “Se houver a necessidade de rebentar com alguma coisa – por exemplo um tanque – serão utilizados”.
O porta-voz do Pentágono Mark Wright disse-me: “Não existe proibição do uso de projécteis de uranio empobrecido, e os [militares dos EUA] utilizam-nos. O uso de UE em munições perfuradoras de blindagem contra tanques permite destruir mais facilmente os tanques inimigos.”
Na quinta-feira numerosos países, incluindo o Iraque, dirigiram-se ao Primeiro Comité das Nações Unidas contra o uso de urânio empobrecido e em apoio do estudo e da mitigação do dano em áreas já contaminadas. Espera-se que uma resolução não vinculativa seja votada esta semana pelo Comité , instando os países que utilizaram UE a que disponibilizem informação dos locais atacados. Uma série de organizações entregou esta semana às entidades estado-unidenses uma petição instando-as a não se oporem à resolução.
Em 2012 uma resolução sobre o UE foi apoiada por 155 países e rejeitada apenas pelo Reino Unido, EUA, França, e Israel. Vários países proibiram o UE, e em Junho o Iraque propôs um tratado global proibindo-o – uma iniciativa apoiada também pelos parlamentos europeus e latino-americanos.
Wright disse que os militares dos EUA estão “tomando em consideração as inquietações suscitadas pelo uso de UE, e investigando outros tipos de materiais para possível uso em munições, com resultados diversos. O tungsténio tem algumas limitações na sua funcionalidade em munições perfuradoras de blindagem, bem como algumas preocupações sanitárias baseadas nos resultados da investigação com animais no que diz respeito a algumas ligas contendo tungsténio. A investigação prossegue nesta área para encontrar uma alternativa ao UE que seja mais facilmente aceite pelo público, e que tenha também um desempenho satisfatório em munições.”
“Temo que o UE seja o Agente Laranja desta geração”, disse-me o congressista estado-unidense Jim McDermott. “Há um considerável aumento na leucemia infantil e em malformações congénitas no Iraque desde a Guerra do Golfo e a nossa subsequente invasão em 2003. Em ambos os conflitos foram utilizadas munições de UE. Há também graves indícios de que armas de UE causaram sérios problemas de saúde aos nossos veteranos da Guerra do Iraque. Questiono seriamente o uso dessas armas até que os militares dos EUA realizem una investigação completa sobre o efeito dos resíduos da arma de UE sobre os seres humanos.”
Doug Weir da ICBUW disse que o renovado uso de UE no Iraque seria “um favor de propaganda para o EI/ISIS”. A sua organização e outras que se opõem ao UE estão observando cautelosamente um possível distanciamento do UE por parte dos EUA, que segundo os militares dos EUA não foi utilizado na Líbia em 2011. O sargento mestre Hubble da Ala de Caças Nº 122 crê que se tratou simplesmente de uma decisão táctica. Mas fora exercida pressão pública por activistas e parlamentos de nações aliadas, e por um compromisso do Reino Unido de não utilizar UE.
O UE é classificado como um Carcinogéneo do Grupo 1 pela Organização Mundial de Saúde, e existe amplo testemunho dos danos para a saúde produzidos pelo seu uso. Os danos são acrescidos, disse-me Jeena Shah no Centro de Direitos Constitucionais (CCR), quando o país que usa UE se nega a identificar os locais atacados. A contaminação penetra solo e água. Sucata contaminada é usada em fábricas ou convertida em panelas, ou há crianças que brincam com ela.
CCR e Veteranos do Iraque Contra a Guerra apresentaram um requerimento ao abrigo da Lei de Liberdade de Informação numa tentativa de conhecer os locais atacados no Iraque durante e depois das ofensivas de 1991 e 2003. O Reino Unido e os Países Baixos revelaram locais atacados, assinalou Shah, tal como a OTAN também depois do uso de UE nos Balcãs. E os EUA revelaram locais atacados com munições de fragmentação. ¿Por que não o fazem também agora?
“Durante anos”, disse Shah, “os EUA negaram que houvesse uma relação entre o UE e problemas de saúde em civis e veteranos. Estudos de veteranos do Reino Unido são altamente sugestivos de que existe uma ligação. Os EUA não querem que se realizem estudos.” Para além do mais, os EUA utilizaram UE em áreas civis e a identificação desses locais poderia sugerir violações das Convenções de Genebra.
Em Dezembro, médicos iraquianos testemunharão sobre os danos causados por UE ante a Comissão Tom Lantos de Direitos Humanos em Washington, D.C.
Entretanto, a Administração de Obama disse quinta-feira que gastará 1,6 milhões de dólares para procurar de identificar atrocidades cometidas no Iraque… pelo EI/ISIS.
*David Swanson é autor, activista, jornalista, e apresentador de radio. É director de WorldBeyondWar.org e coordenador de campanha de RootsAction.org. Os livros de Swanson incluem War Is A Lie. Seu blogue: DavidSwanson.org e WarIsACrime.org. Apresenta o Talk Nation Radio.
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