Tomada de consciência pautada na luta de classes cotidiana, detalhada e observada nos mínimos detalhes da vida, que só o poeta que milita consegue extrair, perceber, transmitir. Assim é a poética de Pedro, que mesmo quando fala sobre o amor, o lazer com os amigos num sábado de futebol ou o time da Várzea, nos apresenta com um lirismo daqueles que vivem de perto as delícias, agruras e privações dessa nossa sociedade decadente e tão carente de poesia.
Em todo seu livro notamos a preocupação do autor em escrever algo real, natural, concreto. Podemos dizer que os poemas de Pedro têm público e endereço certo: quando exalta algum acontecimento lembra-se de Canudos e sua inspiração é o Abaixo-assinado,o operário na pedreira, o vigia que não dorme para proteger o sono alheio, os vulgos, o vendedor de queijo, o entregador de papéis, a mulher lutadora, brasileira, e a vida da gente.
É preciso salientar as origens desse poeta do Piauí, que militou no movimento estudantil desde cedo, contribuiu para a reconstrução do movimento estudantil em Pernambuco depois no fim da ditadura, período confuso, defendeu o povo no parlamento, militando até hoje e tudo isso sem deixar de viver e fazer poesia.
Ao perguntar sobre essa sua militância poética e política, mesmo durante a ditadura militar, Pedro, poeta, modesto, nos respondeu: “O verdadeiro poema era a luta contra a ditadura. Levantar a bandeira da liberdade, acender os corações para a luta, despertar o ódio contra o fascismo e o amor pela justiça. A poesia está nos olhos de quem vê a matéria prima da vida com toda a magia que ela nos oferece. Além do que, como já disse o poeta, a vida é amiga da arte e a poesia é companheira da luta. Vivemos, lutamos, amamos e sorrimos melhor se temos a poesia ao nosso lado, nos fazendo companhia. A poesia é a minha nova trincheira de luta para me fazer mais merecedor da vida e de tudo o que ela nos oferece”.
O livro “As Trincheiras do Silêncio” foi lançado em 2014, ano que se completaram os 50 anos do golpe militar de 64, e represente uma enorme contribuição no resgate da poesia de resistência feita no Brasil, após os 21 anos de ditadura que dizimou nossa cultura e deixou o país mergulhado em tristezas e sem poesias. “As Trincheiras do Silêncio” é um bom livro e uma boa leitura.
Cloves Silva, estudante de Letras da UFRPE, militante da UJR-PE.
Fonte: A Verdade
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