sexta-feira, 25 de abril de 2014
Contraf
Bancos desligaram 10.115 funcionários e
contrataram 8.266, que recebem 58,2% menos
O sistema financeiro fechou 1.849 postos de trabalho no primeiro
trimestre de 2014. Enquanto bancos privados lideraram os cortes, a Caixa
Econômica Federal abriu 1.132 vagas no mesmo período, o que impactou
positivamente o resultado do setor. A redução de empregos nos bancos
anda na contramão da economia brasileira, que gerou 344.984 novos postos
de trabalho nos três primeiros meses do ano.
Os dados constam na Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada nesta
quinta-feira (24) pela Contraf-CUT, que faz o estudo em parceria com o
Dieese, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Clique aqui para conferir tabelas e gráficos da pesquisa.
Conforme o estudo, além do corte de empregos, a rotatividade permaneceu
muito alta no primeiro trimestre do ano. Os bancos brasileiros
contrataram 8.266 funcionários e desligaram 10.115.
Um total de 13 estados apresentaram saldos negativos de emprego. Os
maiores cortes ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul
e Minas Gerais, com 967, 276, 260 e 186 vagas, respectivamente. O
estado que exibiu o maior saldo positivo foi o Pará, com a criação de
124 postos de trabalho.
"Mesmo auferindo lucros bilionários, os bancos brasileiros,
especialmente os privados, continuaram eliminando postos de trabalho
neste início do ano, a exemplo dos últimos meses de 2013, o que não tem
justificativa. No ano passado, os seis maiores bancos (BB, Itaú,
Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e HSBC) lucraram R$ 56,7
bilhões", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
Para ele, "banco que não gera emprego anda na contramão da economia do
país, prejudica os bancários e não contribui para o crescimento com
distribuição de renda".
Rotatividade diminui salários dos bancários
A pesquisa mostra também que o salário médio dos admitidos pelos bancos
no primeiro trimestre do ano foi de R$ 3.129,17 contra o salário médio
de R$ 5.372,02 dos desligados. Assim, os trabalhadores que entraram no
sistema financeiro recebem valor médio equivalente a 58,2% da
remuneração dos que saíram.
A rotatividade no sistema financeiro contrasta fortemente com a do
conjunto da economia brasileira. A remuneração média dos trabalhadores
admitidos no país correspondeu a 93,8% da recebida pelos desligados. Uma
grande diferença!
"Os bancos privados seguem praticando rotatividade, um instrumento
nocivo usado para reduzir a massa salarial e turbinar ainda mais os
lucros", critica o presidente da Contraf-CUT. "Nos últimos dez anos, os
bancários conquistaram aumentos reais consecutivos, mas esses ganhos
foram corroídos pela rotatividade, reduzindo o crescimento da renda da
categoria", denuncia.
Para Cordeiro, "os números da nova pesquisa reforçam a certeza dos
bancários de ampliar a luta contra as demissões e pelo fim da
rotatividade, por mais contratações e contra o PL 4330 da terceirização,
como forma de proteger e ampliar o emprego da categoria e da classe
trabalhadora".
Mulheres continuam ganhando menos do que os homens
A pesquisa revela que as mulheres, ainda que representem metade da
categoria, continuam sendo discriminadas pelos bancos na sua
remuneração, ganhando menos do que os homens não somente na contratação
como também no desligamento.
Enquanto a média dos salários dos homens na admissão foi de R$ 3.507,06
no primeiro trimestre do ano, a remuneração das mulheres ficou em R$
2.745,20, valor que representa 78,3% da remuneração de contratação dos
homens.
Já a média dos salários dos homens no desligamento foi de R$ 6.174,31,
enquanto a remuneração das mulheres foi de R$ 4.500,73. Isso significa
que o salário médio das mulheres no desligamento equivale a 72,9% da
remuneração dos homens.
"Essa discriminação reforça ainda mais a luta da categoria por igualdade
de oportunidades na contratação, na remuneração e na ascensão
profissional", destaca Cordeiro.
Maior concentração de renda nos bancos
A pesquisa fortalece ainda a luta dos bancários por distribuição de
renda. Enquanto no Brasil, os 10% mais ricos no país, segundo estudo do
Dieese com base no Censo de 2010, têm renda média mensal 39 vezes maior
que a dos 10% mais pobres, no sistema financeiro a concentração de renda
é ainda maior.
No Itaú, cada membro do Conselho de Administração recebeu, em média, R$
15,5 milhões em 2013, conforme dados da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), o que representa 318,5 vezes o que ganhou o bancário do piso
salarial. No Santander, cada conselheiro embolsou, em média, R$ 7,7
milhões no mesmo período, o que significa 158,2 vezes o salário do
caixa. E no Bradesco, que pagou, em média, R$ 13 milhões no ano para
cada conselheiro, a diferença para o salário do caixa foi de 270 vezes.
Desta forma, para ganhar a remuneração mensal de um desses executivos, o
caixa do Itaú tem que trabalhar 26,5 anos, o caixa do Santander 13 anos
e o do Bradesco 22,5 anos.
"Esse profundo abismo que separa os ganhos dos altos executivos e os
salários dos bancários atenta contra a justiça social e a dignidade dos
trabalhadores, bem como contribui para a vergonhosa posição do Brasil
entre os 10 países mais desiguais do planeta", conclui o presidente da
Contraf-CUT.
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