Partido Comunista de Israel
Contribuição do Partido Comunista de Israel ao XV Encontro
Internacional de Partidos Comunistas e Operários realizado em Lisboa,
Portugal, de 8 a 10 de novembro de 2013
"camaradas e amigos,
O Partido Comunista de Israel saúda revolucionariamente a todos vocês,
delegados dos partidos comunistas e operários do mundo que participam
desta importante conferência.
Saudações especiais ao PCP, cuja corajosa história de luta
revolucionária é conhecida e apreciada por todos: sua luta contínua, sob
a liderança de Álvaro Cunhal, contra o Estado Novo autoritário e suas
tendências colonialistas e fascistas; seu papel na Revolução dos Cravos e
na democratização de Portugal.
Toda esta história é celebrada pelos movimentos comunistas e operários
ao redor do mundo. Também gostaria de aproveitar a oportunidade para
saudar os Partidos Comunistas Libanês e Sírio em seu 89º aniversário, e
parabenizá-los por sua luta contínua contra as intervenções
imperialistas e sionistas e por liberdade e justiça no Líbano e na
Síria.
Queridos camaradas,
Citando a camarada Rosa Luxemburgo, parece que hoje em dia mais do que
nunca o mundo como um todo enfrenta a alternativa: socialismo ou
barbárie. Quando o capitalismo entra em fúria e tenta, destrutivamente,
invadir onde e como possa; quando as potências imperialistas (tendo à
frente EUA e UE) passam sistematicamente à ofensiva; quando os direitos
dos povos à democracia e justiça social, controle sobre os recursos
naturais e Bem-Estar são todos postos sob o ataque perverso do
imperialismo, do capitalismo, do chauvinismo e da xenofobia; quando tudo
isto ocorre, é nossa obrigação somar esforços e revidar contra nossos
inimigos, nomeadamente o capitalismo e seus asseclas. Se falharmos no
cumprimento desta tarefa, o caminho estará pavimentado para nossos
inimigos e seu plano daninho, e nós estaremos condenados. Nos unamos e
derrotemos o império da pobreza e da corrupção, da violência e da
exploração, das guerras e da depressão.
Caros amigos,
A situação em Israel e nos Territórios Palestinos Ocupados é grave.
No que diz respeito à ocupação, a colonização israelense dos territórios
não apenas continua – sob os auspícios e o apoio financeiro e político
dos EUA –, mas se torna cada vez mais profunda e cruel. Recursos
naturais como água e terras são reiteradamente roubados pelas
autoridades sionistas israelenses em favor dos colonos judeus; as
liberdades de movimento, de culto e de reunião dos palestinos são
estritamente limitadas; manifestantes pacíficos e adeptos da
não-violência são frequentemente presos, agredidos e por vezes mesmo
baleados; árvores, campos e outros bens de propriedade de palestinos são
queimados e danificados diariamente por colonos judeus, sob os olhares
complacentes do Exército israelense que ignora este vandalismo fascista –
como na época da KKK no Alabama sob George Wallace.
Os níveis de pobreza e desemprego nos territórios palestinos são
significativos, primeiramente devido ao bloqueio israelense em Gaza e às
restrições que Israel impõe à economia palestina na Cisjordânia e em
Jerusalém Oriental (como aquelas relativas ao trabalho de palestinos em
Israel). O ECPE (Escritório Central Palestino de Estatísticas) mostra
que 25,7% dos palestinos vivem na pobreza, e cerca de um quarto dos
palestinos jovens pode ser classificado como pobre. Os níveis de pobreza
são ainda mais altos na Faixa de Gaza, com 38% vivendo na pobreza,
contra 18,3% na Cisjordânia. Ainda: 33% dos jovens palestinos estão
desempregados, sendo a taxa mais alta de desemprego entre jovens com
educação superior (cerca da metade de todos os graduados está
desempregada). As autoridades israelenses repetidamente recorrem a
detenções arbitrárias e demolições de casas, além de perseguirem
organizações de defesa dos direitos humanos (por exemplo Addameer).
O brutal regime colonialista que os governos sionistas de Israel vêm
sustentando por décadas nos territórios ocupados é acompanhado por
perversas políticas capitalistas e racistas dentro de Israel. O país
tem, em consequência, um dos níveis mais altos de pobreza na OCDE, um
dos níveis mais altos de desigualdade social, e um dos mais baixos em
testes escolares internacionais.
De acordo com o Escritório Israelense de Estatísticas, um terço dos
israelenses corre o risco de cair abaixo da linha de pobreza, sendo que
não menos de 40% das crianças israelenses correm o mesmo risco. As
estatísticas mostram um acréscimo de 5% durante a década seguinte a 2001
– o maior acréscimo em comparação com a União Europeia à exceção de
Alemanha e Suécia. O Centro Taub de Estudos em Políticas Sociais, em
Israel, mostrou que 21% dos idosos em Israel vivem abaixo da linha de
pobreza mesmo após receberem assistência.
Um relatório recente da OCDE mostrou que Israel se tornou o mais pobre
dentre os países desenvolvidos, ocupando o quinto lugar no quesito
distância entre ricos e pobres – ficando atrás apenas de Chile, México,
Turquia e EUA. Na verdade, a situação real em Israel é ainda pior, já
que as definições de pobreza, de desigualdades de renda e outras são
distorcidas para subestimar os fatos reais e apresentar um quadro menos
desfavorável, em benefício das
classes
dominantes e de seus governos burgueses.
Não deveria ser nem necessário dizer que o estado socioeconômico de
Israel é um produto direto das políticas neoconservadoras dos governos
israelenses, cuja palavra de ordem na última década tem sido apenas uma:
privatização, privatização e privatização. Outro resultado desta
política, aparentemente intencional, são as circunstâncias
socioeconômicas em que vivem os cidadãos árabes-palestinos – que
constituem mais de 20% do número total de cidadãos – em Israel. As taxas
de desemprego e pobreza entre eles são as mais altas. De acordo com o
relatório Adalah, mais da metade de todas as famílias árabes de Israel
vive abaixo da linha de pobreza e, das 40 cidades em Israel com os mais
altos índices de desemprego, 36 são cidades árabes.
O povoado mais carente em Israel é Al Naqab, árabe palestino beduíno. Os
problemas não são apenas a pobreza, a falta de acesso a cuidados
médicos, educação e outras políticas sociais. Grande parte das
comunidades constitutivas do povoado vive em vilas históricas que o
governo de Israel se recusa a reconhecer e prover com os serviços
básicos como saneamento básico e eletricidade. Ainda mais: há poucas
semanas, o parlamento israelense (o Knesset) aprovou a infame Lei
Prawer, cuja implementação confiscará 800.000 dunums de terra em Al
Naqab e expulsará 50.000 beduínos de suas residências e da terra em que
nasceram. Este plano desumano também acarretará na demolição de 35 vilas
árabes históricas, que os governos de Israel continuam se recusando a
reconhecer, e confinará 30% dos beduínos árabes em Al Naqab em 1% da
terra.
Queridos camaradas,
Nos últimos anos, os governos capitalistas sionistas de Israel vêm
conduzindo uma guerra de caráter fascista contra os vestígios de
democracia burguesa que ainda existem em Israel. Uma sequência de
decretos governamentais foi proposta objetivando abolir a independência
dos tribunais, limitar a liberdade de imprensa, desobstruir a
perseguição de refugiados e asilados políticos (principalmente
provenientes da África), reprimir o direito à greve, restringir a vida
da sociedade civil – praticamente composta por organizações em defesa
dos direitos humanos e grupos de esquerda.
Gostaria de chamar a atenção para duas leis particularmente chocantes. A
primeira, o “Decreto para a prevenção do dano ao Estado de Israel
através de boicote”, que foi aprovado em julho de 2011. De acordo com
esta lei, “Qualquer um que faça uma chamada pública por um boicote ao
Estado de Israel e a seu conteúdo, ou no caso em que as circunstâncias
deixem clara a expectativa de tal boicote e que isto esteja claro a quem
publicar o texto, está cometendo um delito civil e a lei Tort (nova
versão) se aplicará a ele ou a ela”.
A outra lei é a racista “Lei de Terras de Israel (Emenda 03)”, de abril
de 2011. De acordo com esta lei, “estrangeiros” não têm direitos sobre a
terra, por exemplo o direito de propriedade, nem tampouco o direito de
alugar a terra por mais de 05 anos. Estrangeiros, diz a lei, são todos
aqueles que “não tem o direito de imigrar para Israel sob a Lei do
Retorno”, ou seja: todos os não-judeus.
Queridos camaradas,
Como marxistas-leninistas, sabemos que a realidade deve ser analisada
como uma totalidade. De fato, os elementos enumerados acima estão
dialeticamente inter-relacionados e juntos constituem um todo: um todo
de capitalismo mesclado com colonialismo sionista e racismo. No caso do
governo de Israel e das classes dominantes, a política do medo e o
sionismo são utilizados regularmente para dividir a classe trabalhadora e
os setores explorados como um todo, e governar por meio do pânico e da
intimidação.
Por isso, ao invés de dirigir sua fúria contra os exploradores e
opressores, as massas israelenses (especialmente os setores judeus) são
encorajadas pelos poderes constituídos a dirigir a raiva e a frustração
aos árabes, aos refugiados e aos outros“outsiders”. É este o caminho
para compreendermos o entusiasmo de Netanyahu descrevendo o Irã como o
arqui-inimigo da humanidade: o medo serve a ele e a seus aliados melhor
do que qualquer compromisso de paz, do que a justiça ou a democracia.
Sabendo que o quadro que apresentei é muito sombrio, gostaria de
concluir com algum otimismo. Voltaire afirmou que a história da
humanidade se constitui de doenças, crimes, desastres e loucura.
Voltaire talvez estivesse certo, mas suas palavras mostravam apenas um
lado do cenário: o outro lado é a luta contra estas doenças, crimes,
desastres e loucura.
Conduzida em Israel pela parceria árabe-judia do Partido Comunista de
Israel e do Hadash (a Frente Democrática pela Paz e pela Igualdade), as
desmandos e crimes cometidos pelo Estado sionista de Israel e seus
aliados sempre encontram objeção pública: sempre e em todo lugar em que
há um desmando, estamos lá nos opondo com toda a força. Em nome do PC
israelense eu gostaria de chamá-los a apoiar nossa luta contra a
ocupação, contra o racismo sionista e contra a injustiça, por democracia
real e socialismo em Israel, pelo estabelecimento de um Estado
Palestino verdadeiramente independente e soberano nos territórios
ocupados por Israel em junho de 1967, com Jerusalém Oriental como sua
capital.
É importante ter sempre em mente que lutar contra o capitalismo e o
imperialismo exige que lutemos contra seus colaboradores e associados;
no Oriente Médio, isso significa uma batalha sem tréguas e sem
concessões contra o sionismo, assim como contra os regimes e movimento
reacionários árabes.
Hasta la victoria siempre! Venceremos!"
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB).
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