Havana
(Prensa Latina) Originais talhas em pedra representando animais da
fauna africana, rostos humanos, máscaras rituais ou objetos artísticos
estão à venda em qualquer canto ou estrada do Zimbábue como uma
característica desse país do sul da Africa, cujo próprio nome está
associado às rochas.
Elefantes, macacos, leões, gazelas, gnus e aves, entre outros, aparecem
representados em arte rochosa graças ao trabalho de uma multidão de
escultores aficionados, que exibem os mais variados níveis de destreza e
inspiração plástica.
Há de todos os tamanhos: desde pequenas
talhas para enfeitar uma estante até verdadeiras imitações dos animais
reais, quase a tamanho natural, mais próprias para exibir em um parque
ou jardim, em uma mostra da variedade que tem atingido este artesanato
no Zimbábue.
Este fenômeno é, de certa forma uma homenagem às
origens de sua própria cultura, já que o principal símbolo do país, as
ruínas do Grande Zimbábue, a poucos quilômetros da cidade de Masvingo,
significa em um dos dialetos da língua shona -a mais falada localmente- a
Grande Casa de Pedra.
O Grande Zimbábue é a única reliquia arquitetônica destas dimensões na parte subsaariana do continente africano.
As pedras são uma presença impossível de evitar neste país, onde o
espetáculo de rochas em equilíbrio, umas sobre outras, como desafiando a
gravidade, acrescentam um atrativo adicional a qualquer percurso pelo
campo zimbabuense.
Estas curiosas pedras, que podem ser
encontradas em outras partes do mundo, atingem, na maioria das vezes,
várias toneladas de importância.
As rochas em equilíbrio, mais
evidentes nos suburbios de Harare, a capital, e no Parque Nacional de
Matobo, ao sul de Bulawayo, a principal cidade da etnia Ndebele, são um
resultado da milenária erosão que deixou as enormes pedras de granito
sem o sustento de outras mais macias, desaparecidas com o tempo, mas
milagrosamente equilibradas.
Segundo calcula-se, as alturas de
Matobo, que cobrem um área a mais de três mil quilômetros quadrados, se
formaram há uns dois bilhões de anos, e com o decorrer dos milênios
criaram estas maravilhas geológicas que lhe valeram à zona a designação
de Patrimônio da Humanidade em 2003.
Outro lugar de grande
beleza são as rochas em equilíbrio de Chiremba, no distrito suburbano de
Epworth, para perto de a capital de Zimbabwe, onde as gigantescas
pedras, como por arte de magia, parecem se balançar como a ponto de
cair.
A imagem de uma destas obras de arte naturais foi usada inclusive no papel moeda, como um dos símbolos da nação.
A lembrança de que esta paisagem se mantém assim há milhares de anos é
uma evidência da ausência de atividade sísmica nesta região.
Desde aqui para o norte, enquanto atravessam-se as terras e colinas da
região de Mashonalandia, podem ser distinguidas, à cada volta do
caminho, outras caprichosas formações rochosas, como se se tratassem dos
cubos de um jogo infantil.
À fama destas rochas graníticas
unem-se as esculturas que se vêem por todos os lados neste país
africano, a maior parte das quais, como ofertas para os turistas, estão
confeccionadas na chamada pedra sabão, que leva no Zimbábue o mesmo nome
(soapstone, em inglês).
Por sua consistência relativamente
macia, esta pedra é muito fácil de talhar e admite um bom polido, pelo
que é o material preferido para quem localmente se iniciam nesta arte. A
esteatita foi empregue, entre outras obras, nas camadas exteriores do
Cristo Redentor do Rio de Janeiro e em alguns templos da Índia.
A
sua abundância no Zimbábue deve-se, entre outras coisas, ao surgimento e
expansão da arte da escultura neste país africano, com Joram Mariga
(1927-2000) como seu progenitor.
Este artista, que começou a
esculpir desde muito jovem e se manteve ativo durante quase meio século
até seu falecimento (no ano 2000) em um trágico acidente de trânsito,
atingiu renome nacional e internacionalmente com suas obras, onde o
autóctone se combina em harmônicas linhas com o moderno.
É um
dos fundadores do movimento da escultura Shona, ainda que nele se
integrassem também pessoas de outras etnias, trabalhando já de forma
mais séria em materiais duros como rochas serpentinas e pedras
calcáreas, ainda que sem esquecer os trabalhos em pedra sabão.
As esculturas zimbabuenses têm atingido tal fama que desde a segunda
metade do passado século começaram a ser exibidas no estrangeiro, em
lugares tão afamados como o Museu Rodin, em Paris, onde foram
elogiosamente recebidas pela crítica especializada.
Assim tem
querido o tempo, através da geologia e a arte, que as pedras, tão
vinculadas à história deste país com a construção do Grande Zimbábue no
século XI, sigam sendo hoje um grande foco de atenção para os amantes do
paisajismo e da cultura.
* Jornalista da Redação de Serviços Especiais da Prensa Latina
arb/jhb/cc |
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