quarta-feira, 24 de abril de 2013

Zimbábue: O culto às pedras

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ZimbábueHavana (Prensa Latina) Originais talhas em pedra representando animais da fauna africana, rostos humanos, máscaras rituais ou objetos artísticos estão à venda em qualquer canto ou estrada do Zimbábue como uma característica desse país do sul da Africa, cujo próprio nome está associado às rochas.
Elefantes, macacos, leões, gazelas, gnus e aves, entre outros, aparecem representados em arte rochosa graças ao trabalho de uma multidão de escultores aficionados, que exibem os mais variados níveis de destreza e inspiração plástica.

Há de todos os tamanhos: desde pequenas talhas para enfeitar uma estante até verdadeiras imitações dos animais reais, quase a tamanho natural, mais próprias para exibir em um parque ou jardim, em uma mostra da variedade que tem atingido este artesanato no Zimbábue.

Este fenômeno é, de certa forma uma homenagem às origens de sua própria cultura, já que o principal símbolo do país, as ruínas do Grande Zimbábue, a poucos quilômetros da cidade de Masvingo, significa em um dos dialetos da língua shona -a mais falada localmente- a Grande Casa de Pedra.

O Grande Zimbábue é a única reliquia arquitetônica destas dimensões na parte subsaariana do continente africano.

As pedras são uma presença impossível de evitar neste país, onde o espetáculo de rochas em equilíbrio, umas sobre outras, como desafiando a gravidade, acrescentam um atrativo adicional a qualquer percurso pelo campo zimbabuense.

Estas curiosas pedras, que podem ser encontradas em outras partes do mundo, atingem, na maioria das vezes, várias toneladas de importância.

As rochas em equilíbrio, mais evidentes nos suburbios de Harare, a capital, e no Parque Nacional de Matobo, ao sul de Bulawayo, a principal cidade da etnia Ndebele, são um resultado da milenária erosão que deixou as enormes pedras de granito sem o sustento de outras mais macias, desaparecidas com o tempo, mas milagrosamente equilibradas.

Segundo calcula-se, as alturas de Matobo, que cobrem um área a mais de três mil quilômetros quadrados, se formaram há uns dois bilhões de anos, e com o decorrer dos milênios criaram estas maravilhas geológicas que lhe valeram à zona a designação de Patrimônio da Humanidade em 2003.

Outro lugar de grande beleza são as rochas em equilíbrio de Chiremba, no distrito suburbano de Epworth, para perto de a capital de Zimbabwe, onde as gigantescas pedras, como por arte de magia, parecem se balançar como a ponto de cair.

A imagem de uma destas obras de arte naturais foi usada inclusive no papel moeda, como um dos símbolos da nação.

A lembrança de que esta paisagem se mantém assim há milhares de anos é uma evidência da ausência de atividade sísmica nesta região.

Desde aqui para o norte, enquanto atravessam-se as terras e colinas da região de Mashonalandia, podem ser distinguidas, à cada volta do caminho, outras caprichosas formações rochosas, como se se tratassem dos cubos de um jogo infantil.

À fama destas rochas graníticas unem-se as esculturas que se vêem por todos os lados neste país africano, a maior parte das quais, como ofertas para os turistas, estão confeccionadas na chamada pedra sabão, que leva no Zimbábue o mesmo nome (soapstone, em inglês).

Por sua consistência relativamente macia, esta pedra é muito fácil de talhar e admite um bom polido, pelo que é o material preferido para quem localmente se iniciam nesta arte. A esteatita foi empregue, entre outras obras, nas camadas exteriores do Cristo Redentor do Rio de Janeiro e em alguns templos da Índia.

A sua abundância no Zimbábue deve-se, entre outras coisas, ao surgimento e expansão da arte da escultura neste país africano, com Joram Mariga (1927-2000) como seu progenitor.

Este artista, que começou a esculpir desde muito jovem e se manteve ativo durante quase meio século até seu falecimento (no ano 2000) em um trágico acidente de trânsito, atingiu renome nacional e internacionalmente com suas obras, onde o autóctone se combina em harmônicas linhas com o moderno.

É um dos fundadores do movimento da escultura Shona, ainda que nele se integrassem também pessoas de outras etnias, trabalhando já de forma mais séria em materiais duros como rochas serpentinas e pedras calcáreas, ainda que sem esquecer os trabalhos em pedra sabão.

As esculturas zimbabuenses têm atingido tal fama que desde a segunda metade do passado século começaram a ser exibidas no estrangeiro, em lugares tão afamados como o Museu Rodin, em Paris, onde foram elogiosamente recebidas pela crítica especializada.

Assim tem querido o tempo, através da geologia e a arte, que as pedras, tão vinculadas à história deste país com a construção do Grande Zimbábue no século XI, sigam sendo hoje um grande foco de atenção para os amantes do paisajismo e da cultura.

* Jornalista da Redação de Serviços Especiais da Prensa Latina

arb/jhb/cc
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