segunda-feira, 11 de março de 2013

Drones dos EUA no Oeste africano*

 



Carlos Lopes Pereira

08.Mar.13 :: Colaboradores

Enquanto numerosos países africanos procuram soluções pacíficas para os conflitos que afectam o continente, nomeadamente no Congo e no Mali, o imperialismo reforça a ofensiva. Os EUA, a França e outras potências empenhadas na guerra de reconquista desencadeada no Mali instalam mais tropas, “conselheiros”, equipamento e bases militares. Mais uma vez a “guerra contra o terrorismo” mostra a sua verdadeira face: dar cobertura à recolonização, enquadrar a acção terrorista do imperialismo contra povos e nações.


Onze países africanos chegaram a um entendimento para estabelecer a paz no Congo, país mergulhado há 15 anos numa guerra movida por grupos armados apoiados do exterior.
A «Plataforma de Cooperação para a Paz e a Segurança na República Democrática do Congo e a Região dos Grandes Lagos» foi assinada em Addis-Abeba, no domingo, 24,entre o governo congolês e diversos chefes de estado.
O acordo, com a bênção da ONU e da União Africana, prevê o fim da ajuda aos rebeldes congoleses. Subscreveram o documento, além do Congo, a República Centro-Africana, Uganda, Burundi, Ruanda, Angola, Congo-Brazzaville, África do Sul, Sudão do Sul, Zâmbia e Tanzânia. Assinaram também o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a líder da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, e o presidente da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, Armando Guebuza.
Dirigentes na capital etíope manifestaram optimismo em relação aos resultados deste acordo de paz no Congo, a braços com uma rebelião armada no leste que Kinshasa acusa de ser fomentada pelo Ruanda. As Nações Unidas prometeram agora reorganizar a sua força de «capacetes azuis» na zona e exortaram os rebeldes do M23, activos no Kivu Norte, a optarem por uma solução política.
Também se falou de paz em Malabo, na Guiné-Equatorial, onde decorreu na sexta-feira, 22, a 3.ª cimeira do Fórum América do Sul-África (ASA), organização que integra mais de 60 estados.
Os líderes africanos e sul-americanos aprovaram uma declaração em que «apoiam a abordagem global da crise no Mali tal como indicam a União Africana e as Nações Unidas». Pediram à comunidade internacional apoio aos processos de «regresso à ordem constitucional» na Guiné-Bissau e em Madagáscar e à «normalização e estabilização» do Congo.
O presidente anfitrião, Obiang Nguema, propôs alargar o fórum aos países centro-americanos e caribenhos, «que também foram vítimas do colonialismo e da discriminação existente nas relações internacionais».
Por seu turno, Dilma Rousseff, do Brasil, acredita que «o século XXI, as próximas décadas, vão ser de afirmação do mundo em desenvolvimento e, especialmente, da África e da América Latina». A presidente brasileira considerou que as duas regiões têm agora a oportunidade histórica de reduzir a distância económica e social que ainda as separa das nações mais avançados. «Vamos ser protagonistas decisivos desse novo cenário histórico e de uma cultura de paz, solidariedade, justiça social e cooperação fraterna», previu.
Guerra imperialista agravou-se no Mali
Enquanto em Addis-Abeba e Malabo se debateram a paze o desenvolvimento,no Mali internacionaliza-se cada vez mais a guerra imperialista de reconquista, desencadeada em Janeiro com a intervenção militar francesa.
O conflito, que envolve já milhares de soldados de França e de vários estados oeste-africanos como a Nigéria e o Chade,além de centenas de«conselheiros e peritos militares»de potências europeias ocidentais, alastra-se já a países vizinhos e ameaça a paz e a segurança no Sahel e no Magrebe.
O presidente Barack Obama anunciou na sexta-feira, numa carta ao Congresso, que os Estados Unidos enviaram 100 militares para o Níger, com o aval do governo nigerino, para instalar na capital, Niamey, uma base de «drones».São, na sua maioria, especialistas em logística, inteligência e segurança e vão apoiar as tropas francesas no Mali.
Esta decisão abriu uma outra frente de guerra, com a utilização de aviões não-tripulados contra os insurgentes islamitas refugiados no norte montanhoso maliano, junto à fronteira com a Argélia.
Segundo o «New York Times», a nova base no Níger«é uma indicação da prioridade que a África assumiu nos esforços norte-americanos contra o terrorismo».
A intervenção militar yankee no continente é coordenada pelo Africom, com quartel-general na Alemanha e uma base permanente no Djibouti.
O Níger assinou recentemente com os EUA um acordo que abriu caminho ao aumento da presença militar americana nesse país vizinho do Mali.
O Pentágono pretende que os «drones» Predator – conhecidos pelas suas missões de espionagem no Irão e de bombardeamentos terroristas de populações civis no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque –«farão apenas voos desarmados, de vigilância», embora não tenha descartado «a possibilidade de conduzir ataques com mísseis se a ameaça terrorista aumentar».
O plano é mudar mais tarde a base militar dos EUA no Níger para Agadez, mais perto do norte do Mali, onde estão em curso as principais operações bélicas da legião francesa.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2048, 28.02.2013
Anterior Proxima Inicio

0 comentários:

Postar um comentário