quinta-feira, 24 de maio de 2012

“O Imperialismo Humanitário ou: como os 1% arregimentam os militares e a NATO para enriquecerem”





Iraklis Tsavdaridis*

23.Mai.12 :: Outros autores

Iraklis TsavdaridisNão pode haver paz e justiça enquanto o imperialismo dominar o mundo. Apelamos aos povos do mundo para reforçarem a luta contra o imperialismo em cada país, para unirem as nossas vozes e esforços pela dissolução da NATO e pela saída dos nossos países que sejam membros. O movimento global pela paz tem que unir forças contra o esforço unido do capital e dos monopólios expresso por exemplo pelos G8.
O imperialismo não é todo-poderoso e não é seguramente invencível.



Contribuição do Conselho Mundial da Paz na conferência contra a cimeira da NATO e dos G8 em Chicago, 18-19 Maio 2012
Caros amigos e camaradas
Permitam-me que agradeça ao Conselho da Paz dos EUA pelo convite para aqui estar convosco em Chicago, cidade que marcou a história do movimento dos trabalhadores. Saudamos os milhões de pessoas que nos EUA amam a paz, os trabalhadores e todos os pobres e oprimidos neste centro do imperialismo.
Por ocasião da cimeira da NATO em Chicago, o CMP gostaria de denunciar uma vez mais a maior máquina de guerra da história da humanidade, responsável por crimes contra a humanidade desde a sua fundação em 1949 até hoje.
A NATO nunca foi uma estrutura defensiva, não o foi em 1952 quando a Grécia e a Turquia aderiram à “aliança” ao mesmo tempo e não o foi durante a existência do Pacto de Varsóvia, fundado mais tarde que a NATO e dissolvido em 1991.
A NATO esteve de relações amigáveis com todos os regimes sanguinários e reacionários e todos os movimentos contra-revolucionários do mundo, seus governos e dirigentes, estendendo o tapete vermelho a Pinochet e aos dirigentes do apartheid, e estando por detrás de golpes de estado e ditaduras militares na América Latina e na Europa.
Em especial a partir de 1991, os povos do mundo passaram a enfrentar o o aumento da agressividade do imperialismo e da NATO, com as suas intervenções militares na antiga Jugoslávia que culminaram nos 78 dias de bombardeamento em 1999. Foi a primeira vez que a NATO desprezou abertamente não apenas a ONU e a lei internacional, mas os próprios estatutos, estabelecendo a nova doutrina que foi aprovada na cimeira de Washington que celebrou o seu 50º aniversário.
No meio da crise económica global do capitalismo, quando milhões de mais pessoas empobrecem mesmo nos EUA, os lucros das indústrias de guerra são grandes. No ano passado, as despesas militares totais atingiram o máximo de 1,54 milhões de milhões de dólares, metade dos quais gastos pelos EUA sozinhos. Sejam quais forem os ajustes no orçamento militar de alguns dos estados-membros da NATO, eles têm a ver com a crise económica e com a melhor coordenação das suas despesas e nada têm a ver com uma posição mais pacífica dos seus governos. Trata-se de procurar melhor “relação custo/benefício”, de modo que a máquina de guerra seja mais eficiente na persuasão da sua “defesa inteligente”.
Todos os governos dos estados-membros partilham a responsabilidade na NATO, apesar do papel determinante do governo dos EUA. As diferenças de perspetiva sobre alguns assuntos refletem pontos de vista particulares e rivalidades, mas levam sempre à comum confrontação agressiva com os povos. Infelizmente, houve ilusões também sobre o atual governo dos EUA relativamente ao anterior. A vida mostrou que a administração Obama não alterou em nada a sua política e atitude imperialistas, nem relativamente ao capital e monopólios americanos e à sua ânsia de cada vez mais lucros, nem relativamente ao seu povo e aos povos do mundo. A agressão dos EUA, França, Reino Unido e NATO contra a Líbia em 2011, esse massacre sangrento do povo líbio para assegurar as reservas de petróleo e a respetiva mudança violenta de regime é totalmente comparável com o que as anteriores administrações fizeram na Jugoslávia (Clinton), Afeganistão e Iraque (G.W.Bush). É óbvio que nada mudou, pelo contrário, o governo dos EUA está conduzindo juntamente com outras poderosas potências imperialistas da Europa planos para o “Grande Médio-Oriente”, com a Síria como o alvo de hoje e o Irão o de amanhã.
O CMP pede a retirada completa e incondicional de todas as forças dos EUA e da NATO do Afeganistão, do Iraque e da província sérvia do Kosovo. A “paz e prosperidade” não podem ser garantidas através de protetorados e da limitação de soberania dos povos, e em especial sob ocupação.
Pedimos para que seja posto fim a todo o tipo de interferência externa nos assuntos internos da Síria e denunciamos a hipócrita preocupação dos imperialistas com o povo sírio. O CMP exprime o seu apoio à aspiração genuína do povo pela democracia social e por mudanças económicas na Síria e ao seu desejo de paz e estabilidade. A vontade e aspirações do povo sírio nada têm a ver com os grupos mercenários armados, promovidos, treinados e instruídos pela Turquia, pelo Qatar e pela Arábia saudita, que estão a empurrar a Síria para uma guerra civil. Ao mesmo tempo, cada vez mais sanções estão a ser impostas à Síria que levam sofrimento ao seu povo. Vimos a situação no terreno durante a nossa recente visita à Síria. O povo na Síria pode ser crítico relativamente a muitas coisas do sistema político e certamente que tem queixas e exigências socio-económicas, mas de modo nenhum aceita a interferência estrangeira ou a invasão militar do seu país. O povo sírio não quer outra Líbia, onde depois do massacre pela NATO no ano passado o país foi dividido em bocados e as tribos se matam umas às outras.
E aliás quem tem a moral e a coragem para ensinar e exportar democracia? As monarquias do golfo? Porque não falam na NATO durante todo este tempo da invasão saudita do Bahrain? Quem é capaz de ensinar aos povos árabes como construir estados democráticos? Serão os governos gregos que participaram em todas as anteriores agressões com as bases militares dos EUA e da NATO em solo grego, enquanto o povo grego empobrece sob o ataque conjunto das forças dominantes, capital e UE e FMI?
Caros amigos, companheiros lutadores pela paz
Há dois anos, em novembro de 2010, a NATO adoptou a sua nova doutrina militar em Lisboa, tornando esta ala militar do imperialismo mais “eficiente” no tratamento dos novos planos e das chamadas ameaças assimétricas. O que eles queriam dizer era segurança energética (o que significa como conseguir petróleo e gás baratos e o controle das suas condutas), ou pirataria (como assegurar o comércio capitalista e o transporte globais de petróleo e gás), e evidentemente as ameaças à democracia e estabilidade nas sociedades (o que significa criar mecanismos autoritários de supressão dos protestos e levantamentos populares). De mão dada com os EUA, a NATO desenvolveu as suas políticas de condução da guerra e tivemos no ano passado a expressão global disso com as operações militares e bombardeamentos da Líbia pela NATO. A NATO expande cada vez mais o seu raio de operações, possui muitas formas de cooperação bilateral e multilateral, e está paulatinamente envolvendo parceiros nesses planos.
Os G8 salvaguardam os interesses do grande capital e dos monopólios dos seus países. Há evidentemente contradições e competição feroz. Desenrolam-se no campo da economia e da política ao longo de todo o ano, para a divisão do bolo que todos eles vão receber. Mas, quando se trata da cimeira anual, os G8 têm um terreno comum que está seguramente contra o interesse dos povos, dos trabalhadores e dos camponeses, ou da grande maioria das nossas sociedades. As decisões sobre o que o FMI e o Banco Mundial farão estão em discussão nos G8, o balanço entre as diferentes e poderosas forças imperialistas estão a ser tratadas nos G8. Todos os estados dos G8, exceto a Rússia e o Japão, estão na NATO. O Japão tinha tropas no Iraque e está a participar nos planos militares americanos no extremo oriente asiático. E a Rússia não levantou qualquer veto no ano passado no Conselho de Segurança da ONU quando o bombardeamento contra a Líbia começou.
Caros amigos
O CMP organizou com os seus parceiros há dois anos em Lisboa uma conferência como esta aqui hoje (Sim à paz – Não à NATO) e um grande comício e manifestação com mais de 30.000 pessoas nas ruas de Lisboa. A nossa palavra de ordem era: “A NATO é o inimigo da paz e dos povos – Dissolução!”
Estamos a participar aqui em Chicago numa continuação da contra-cimeira popular à NATO de Lisboa, levando a nossa solidariedade e apreço pelo movimento da paz nos EUA, que luta em difíceis condições contra o mesmo inimigo. Os 41 milhões de dólares que estão a ser gastos pela cidade de Chicago e pelo governo dos EUA para a cimeira da NATO são retirados diretamente dos serviços sociais ao povo americano.
A NATO reune-se nestes dias com os seus aliados e mais de 60 chefes de estado e de governo estarão aqui em Chicago, convertendo esta cidade numa fortaleza. A NATO vai discutir e concretizar a doutrina aprovada em Lisboa e já testada na Líbia para fazer face aos seus “novos desafios”. Falam de “ameaças assimétricas” e do estabelecimento de Forças de Resposta da NATO (FRN) flexíveis, que intervenham rapidamente em qualquer ponto onde os interesses do capital e dos monopólios estejam em causa. A NATO está a avançar com o seu Escudo de Defesa de Mísseis, ao mesmo tempo que não desiste da opção primeiro ataque (first strike).
A NATO prepara-se e treina-se para possíveis intervenções dentro dos seus estados-membros, uma vez que o descontentamento e revolta dos povos são crescentes, especialmente em consequência da crise capitalista. Quando a NATO fala sobre a salvaguarda da paz e segurança, quer dizer que prepara novas agressões e guerras contra povos e nações.
A NATO elabora novos planos reacionários mão a mão com a EU, que criou o Exército Europeu e seus grupos de combate. Todas as ações são bem coordenadas, de forma a suprimir protestos e levantamento dos povos e proteger o escoamento do petróleo e os respetivos lucros das corporações multinacionais.
Falam de novas ameaças e perigos, não-militares como as alterações climáticas, a “guerra do ciberespaço”, a segurança da energia, demarcando o planeta inteiro como seu espaço de ação vital. Inclui-se aqui o Afeganistão, a Somália, o Kosovo, o mar do sul da China ou a Austrália e a Nova Zelândia. Inclui-se também o Médio-Oriente, onde se desenvolvem planos em grande escala. O objetivo da NATO é tornar-se “mais flexível, mais efetiva e eficiente”, o que significa mais assassina. O título da cimeira da NATO em Chicago “Paz e Estabilidade na área Euro-Atlântica” é hipócrita, visto que a NATO já atua como cherife e polícia mundial há muitos anos.
A NATO prepara o seu novo sistema de Vigilância Terrestre da Aliança (Alliance Ground Surveillance – AGS) com aviões não-tripulados altamente sofisticados para a vigilância do mar Mediterrâneo, o que prova que estão em andamento preparativos para novas agressões.
Debaixo do título “Defesa inteligente”, a NATO está a tentar unificar a estrutura de comando militar dos estados-membros para estabelecer prioridades comuns e recursos e despesas seguros. A NATO requer dos seus membros a unificação da infrastrutura e a partilha de responsabilidades em operações multinacionais. Tudo isto se passa também à luz dos problemas orçamentais que os governos enfrentam com a crise económica capitalista.
Caros amigos
Não pode haver paz e justiça enquanto o imperialismo dominar o mundo. Apelamos aos povos do mundo para reforçarem a luta contra o imperialismo em cada país, para unirem as nossas vozes e esforços pela dissolução da NATO e pela saída dos nossos países que sejam membros. O movimento global pela paz tem que unir forças contra o esforço unido do capital e dos monopólios expresso por exemplo pelos G8.
O imperialismo não é todo-poderoso e não é seguramente invencível.
*Secretário Executivo do Conselho Mundial da Paz
Tradução: Jorge Vasconcelos
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