terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

1859: Abolicionismo & John Brown


O Abolicionista John Brown



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J. Brown, o controverso líder abolicionista (1800-1859)
Quase todo o evento histórico de grandes dimensões é, por assim dizer, precedido por um outro, de proporções bem menores, que premonitoriamente o anuncia. Com a guerra civil norte-americana, travada entre 1861-65, não foi diferente, antecedida em poucos meses por uma curiosa, dramática e sangrenta incursão militar provocada por ativistas abolicionistas. O assalto ao arsenal federal de Harpers Ferry, na Virgínia, liderado por John Brown, galvanizou por umas semanas a atenção da opinião pública americana, ao tempo em que sinalizou o conflito que iria ocorrer dezesseis meses depois por todos os Estados Unidos da América.

A impaciência com a escravidão



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A guerra do Kansas: abolicionistas vs. escravistas, 1857
Desde que Thomas Jefferson, na hora da redação da Declaração de Independência de 1776, fora pressionado pelos convencionais, seus colegas, a suprimir qualquer menção no texto sobre a abolição futura da escravidão no regime recém-fundado, que os Estados Unidos vivia como se fosse uma casa dividida - como bem lembrou depois Abraão Lincoln, em memorável discurso. Metade dela era livre, metade era escrava. Os inúmeros movimentos e associações pró-abolicionistas, que desde aquela época se constituíram na América, mostraram-se, entretanto, impotentes em dar uma solução à tragédia social e moral que representava a "peculiar instituição". Quase um século se passara desde que os colonos ingleses haviam fundado a república, anunciando ao mundo terem-na instituído em nome da liberdade, proclamando em alto e bom som pertencerem à nação mais livre do mundo. Contraditoriamente, porém, a metade dos Estados que a compunham, todos eles do Sul dos Estados Unidos, continuavam firmemente escravistas. Não só isso, desde os anos de 1830, os líderes sulistas acirravam a disputa com os que defendiam a proposta do movimento pelo "solo livre", ao redor das futuras terras do Oeste, que estavam sendo abertas à colonização. Longe da escravidão estar agonizante, ela diariamente dava provas de querer disputar o espaço com o trabalho livre. Foi isso que levou o abolicionista John Brown à exasperação e a recorrer à violência como solução.

John Brown

John Brown, um dos maiores nomes da luta antiescravista nos Estados Unidos, perdera as esperanças de alcançar o seu intento por meio da pressão pacífica e do jogo eleitoral. Filho de um calvinista que abominava a nefanda instituição servil, nascido no Connecticut em 1800, desde cedo entregara-se à causa da emancipação dos negros. Depois de ter sido dono de um curtume na Pensilvânia, mudou-se para Ohio para ser fazendeiro em Franklin Mills. Terminou fracassando. Em 1837, profundamente chocado pelo assassinato do jornalista Elias Lovejoy, morto por uma multidão pró-escravista, jurou frente ao túmulo do linchado que, dali em diante, ele se dedicaria a lutar pela abolição. Em 1857, na histórica cidade de Concord, no Massachusetts - berço da luta da independência -, John Brown, já um ativista conhecido, imponente como um profeta bíblico, apresentou-se frente aos dois maiores totens intelectuais dos ianques: o filósofo Ralph Waldo Emerson e o pacifista David Thoreau. Lamentou na peroração que fez a eles a necessidade de ter que empregar a violência, entendendo-a , contudo, como uma vontade de Deus. Conforme o seu engajamento na causa libertária aumentava, mais sua aparência assemelhava-se a um dos personagens do Antigo Testamento. Com o rosto marcado pela indignação moral, seu olhar se irritava com a indiferença que os outros homens demonstravam para com a grandeza do movimento que ele participava.


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Thoreau e Emerson foram assistir Brown


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Um comentário:

  1. caramba! Até que enfim achei algo sobre John Brown em português! Gostei do seu texto, com contexto histórico, deixando claro que Brown não era um louco, e sim um cara que não aguentava mais e partiu pra luta.

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