Desobedecer as ordens de
cometer crimes
– Milhares de casos de "maçãs podres"
no interior das Forças Armadas colombianas
por
Nicolás Rodríguez Bautista [*]
Senhoras e senhores das Forças
Armadas do Estado:
É necessário que a Colômbia e o mundo tenham presente, ao finalizar este ano
de 2020, que a instituição à qual os senhores pertencem, longe de cumprir sua
missão constitucional, continua envolvida em crimes de lesa humanidade contra
os sectores mais humildes do povo, ao qual os senhores dizem pertencer e
defender.
O Tribunal Penal Internacional (TPI), nas suas investigações sobre o Conflito
Interno colombiano, no passado mês de Setembro evidenciou o envolvimento de
integrantes das Forças Armadas em múltiplos crimes, como:
- 2314 casos de execuções
selectivas chamadas Falsos Positivos, que deixaram 3966 assassinados;
- Mais de 200 casos de
crimes sexuais;
- Promoção e expansão dos
grupos paramilitares;
- Numerosos casos de
deslocamento forçado.
O
relatório documentou crimes em que estão envolvidos 22 generais e um grande
número de oficiais superiores, que lhes permite concluir que este tipo de
graves violações de Direitos Humanos são uma conduta criminal sistemática do
Estado colombiano, que tem origem na Doutrina de Segurança imperante, que
classifica como inimigo a exterminar todo aquele que se oponha e proteste
contra o regime dominante.
Todos nós que acompanhamos a realidade da vida política e social do país
sabemos que os dados antes mencionados são só uma pequena amostra, porque a
realidade do que ocorre nos territórios está muito acima dos números do
relatório do TPI.
Não tenho dúvidas de que, ainda que não sejam uma maioria, existem entre a
oficialidade e sub-oficialidade das Forças Armadas colombianas pessoas
honestas e patriotas que se afastaram destes crimes e que por isso
recusaram-lhes suas promoções, interromperam sua carreira militar e são
vistos com desconfiança por não comungar com tais crimes. A eles exprimo meu
respeito e reconhecimento.
Da mesma maneira, é evidente que as centenas de milhares de soldados e
políticas que formam a base destas instituições, saídos das entranhas
populares, não são os responsáveis por esses crimes espantosos e, se se viram
envolvidos neles, na sua grande maioria não é por sua vontade e sim por
cumprirem ordens de sub-oficiais e oficiais no comando.
Denúncias de organizações de Direitos Humanos evidenciam as práticas de
alienação inculcadas nos jovens que ingressam nas fileiras das Forças
Armadas, que fazem-nas mais intensas com os chamados soldados profissionais
aos quais adestram como mercenários, para o que fazem-lhes perder os valores
do respeito e da sensibilidade humana, condição necessária para cumpri ordens
sem prejuízo do cumprimento do Direito Internacional Humanitário (DIH).
É necessário recordar que o motivo que levou membros das Forças Armadas a
executar os chamados Falsos Positivos foram os incentivos concedidos por
decretos presidenciais, tais como recompensas em dinheiro, promoções e
férias, etc. Tais crimes cometem-nos contra pessoas inocentes não envolvidas
no conflito, para apresentá-los como baixas em combate causadas pelas
insurgência, execuções que permite à cúpula das Forças Armadas apresentar-se
como parte vitoriosa na sua Guerra anti-subversiva.
Tudo o dito anteriormente permite concluir que as Forças Armadas não são uma
instituição que contribua para a superação do Conflito que destrói a
Colômbia, mas agrava-o e perpetua-o, uma vez que a cúpula do poder político e
das Forças Armadas fazem da Guerra um negócio lucrativo.
Os democratas, progressistas e patriotas, tal como os revolucionários que
levantam a bandeira de uma paz com justiça social, devemos aceitar esta grave
realidade para poder transformá-la.
Na proximidade do término deste ano faço um apelo às mulheres e homens
honestos e patriotas que estão nas fileiras das Forças Armadas a manterem-se
em pé e unirem-se em pensamento e acção aos que lutam por um país, que
avancem pelo caminho de uma pátria onde caibamos todos e onde a justiça
social sejam o sonho, a vontade e a decisão de uma luta que alcance a paz
autêntica que merecemos.
Cordialmente,
Nicolás Rodríguez Bautista
Primeiro Comandante do ELN
26 de Dezembro de 2020.
O original encontra-se em eln-voces.net/desobedecer-ordenes-de-cometer-crimenes/
Esta carta encontra-se em https://resistir.info/ .
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