RIO GRANDE DO NORTE – A reitoria do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) vêm sofrendo, desde abril deste ano, uma intervenção a mandado do ministério da educação, o qual empossou Josué Moreira como reitor pró tempore da instituição, de forma contrária o processo democrático de eleições do instituto, o qual elegeu o professor José Arnóbio como reitor. Diante disso, os estudantes do Rio Grande do Norte têm construído uma luta em prol da democracia do instituto e contra a intervenção. Na última terça-feira (11), as entidades estudantis organizaram um ato pacífico na reitoria do IFRN, o qual começou por volta das 9h da manhã e iria até às 16h da tarde, porém às 14h a polícia militar foi acionada para reprimir o ato, como relatou Matheus Araújo, presidente da União dos Estudantes Secundaristas Potiguares (UESP).
“Hoje, no dia do estudante, estudantes de vários grêmios estudantis decidiram construir um ato simbólico na reitoria contra a intervenção que já dura mais de 100 dias no nosso instituto. O interventor Josué decidiu chamar a PM, ao invés de conversar com os estudantes como sempre aconteceu no IFRN. O primeiro diálogo dos PMs foi no tom de ameaça, dizendo que levaria gente algemada, totalemente agressivos. Depois confiscaram o celular de uma menina de forma extremamente bruta só porque ela estava gravando a atuação deles” — afirmou.
A ação dos policiais foi condenada também por parte dos servidores e diretores gerais do instituto, o professor e membro do Conselho Superior Daniel Lobão disse em entrevista: “O IFRN foi criado para transformar a sociedade através da educação, da pesquisa, da ciência e tecnologia, da extensão e da ação social. […] E o que você ensina quando você é o líder máximo da instituição — tudo bem que você foi colocado lá indevidamente, como o professor Josué — mas qual mensagem que você passa de aprendizagem para os estudantes, no dia do estudante, quando você chama a polícia pra resolver qualquer tipo de conflito que poderia estar sendo conversado? É o pior exemplo possível. Não é pedagógico, não é posição de educador, é a posição de uma pessoa autoritária. Por que vieram quatro viaturas para uma situação que tinha 30 estudantes? Todo mundo desarmado, apenas entoando palavras de ordem, aí vem os policiais armados, entram no território da instituição, e jogam spray de pimenta em estudantes. É um dia muito triste […], é o total colapso da missão institucional do IFRN que é transformar a sociedade através da educação”.
Os diretores gerais dos campi do instituto emitiram nota de apoio aos estudantes, a qual dizia: “A comunidade estudantil é a razão de existência de uma casa de educação que forma cidadãos e profissionais de excelência. Respeito e diálogo é o que os estudantes merecem, não truculência e ameaças. Diretores e Diretoras Gerais dos Campi do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte se solidarizam e manifestam incondicional apoio aos estudantes que, exercendo a cidadania, clamam pelo retorno à normalidade democrática no IFRN” — diz o documento.
Algumas horas após o ocorrido, o Interventor Josué Moreira se pronunciou através de uma nota justificando a ação dos policiais na tentativa de distorcer as reivindicações dos estudantes no ato, a qual dizia: “Com surpresa, recebi a informação de que um grupo de estudantes do IFRN havia invadido a sede do Instituto, o prédio da Reitoria. Declaro que estou sempre aberto ao diálogo, mas a forma como a tentativa de conversa foi realizada foi lamentável, pois eles invadiram a Reitoria.
Hoje é um dia dedicado aos estudantes, mas o que eles vieram fazer aqui não foi reivindicar a questão da volta às aulas, na verdade, estão reivindicando outras coisas, alinhadas a ideais estritamente políticos. A gestão está trabalhando para fazer acontecer o retorno das aulas e o que os alunos buscavam aqui, fazendo esse movimento, não era nessa direção. Por fim, agradeço e peço desculpas a gloriosa PM do RN, que tenta manter a integridade física dos servidores que estão trabalhando, a ordem e proteção do patrimônio público. A aglomeração de alunos é uma desobediência a lei contra o combate à Covid-19.’’
O fato ocorrido teve grande repercussão nas redes sociais levando a governadora do estado do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), a se pronunciar diante do ocorrido em suas redes sociais: “Logo que tomei conhecimento do lamentável ocorrido hoje, no IFRN, acionei o @CoronelAraujoPM, e o CMTE da PM, Cel. Alarico, e determinei prioridade na apuração do episódio. O PM que conduziu a operação será afastado das atividades operacionais até a investigação seja concluída.’’
É consenso para os estudantes que a intervenção no IFRN é uma intervenção política, visto que o nomeado reitor pró tempore é alinhado às políticas fascistas do governo Bolsonaro, e não têm demonstrado interesse em dialogar com as entidades estudantis e o corpo discente como um todo, dessa forma ferindo o processo democrático que sempre existiu no IFRN. Por isso mesmo diante do ocorrido a luta dos estudantes continuará e se intensificará. É de extrema importância que toda a comunidade que constrói a educação pública no nosso país se mobilize, a favor da democracia do instituto federal e contra a repressão policial. Casos como esse não podem passar impune, basta de repressão ao movimento estudantil.
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