Por Heron BarrosoRio de Janeiro
Existe entre muitos companheiros da esquerda e de setores da pequena burguesia medo da atual ameaça fascista. Muitos acham praticamente impossível impedir as “aproximações sucessivas” que levarão a um golpe de Bolsonaro e seus bandos neonazistas. Se assustam com as declarações, artigos e notas de ministros e generais alinhados ao ex-capitão. Encaram e consideram essas ameaças golpistas exatamente como os fascistas querem: como uma coisa que já está definida, restando apenas um pretexto para acontecer.
Sem fé nas massas, muitos partidos e movimentos reformistas, além de várias pessoas honestas, democratas e progressistas, temem um enfrentamento aberto e direto com a extrema-direita. Sua paralisia é motivada pela ilusão de que não provocando a besta-fera afastarão o risco de golpe. Chegam, inclusive, ao ponto de desaconselhar qualquer manifestação antifascista sob o argumento de que darão a Bolsonaro a tão aguardada oportunidade para fechar o regime. Dito de outra forma, transferem para os setores populares dispostos à luta a responsabilidade pelo que vier a acontecer com o que sobrou da democracia no Brasil.
Esse raciocínio é tão falso e reacionário que se assemelha ao que até hoje é usado para defender a tese de que a resistência armada à ditadura militar de 1964 levou ao AI-5 e ao endurecimento da repressão, culpando indiretamente os guerrilheiros pelas perseguições, sequestros, torturas e assassinatos promovidos pelas Forças Armadas.
O mesmo falam das manifestações de Junho de 2013, reinterpretadas como movimentos de direita, uma espécie de “marco zero” da ascensão fascista em nosso país. Não confessam, mas é como se os milhões de jovens que foram às ruas e derrubaram o aumento das passagens estivessem errados em exigir melhores empregos, salários dignos, hospitais e escolas “padrão FIFA” e não passassem de massa de manobra do fascismo.
Porém, o erro principal desses setores – que vacilam entre enfrentar ou recuar ante o fascismo – é não compreender exatamente e em profundidade o caráter de classe do fascismo e o que este representa.
A ditadura fascista é a pior e mais cruel inimiga da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres, dos indígenas, dos negros e do povo pobre. É a ditadura terrorista imposta pelo capital financeiro, a grande burguesia e o imperialismo para tentar salvar o sistema capitalista da crise e da bancarrota. Esse é, ao mesmo tempo, seu ponto forte e sua fraqueza. Sua aparente força reside no fato de contar com o apoio da oligarquia financeira, das Forças Armadas e de setores da classe média radicalizados pela ameaça de verem seus privilégios de classe em risco. Por outro lado, o fascismo não representa os interesses da imensa maioria do povo e, no caso do Brasil, não conta com o apoio de, pelo menos, dois terços da população. Por isso, seu poder é frágil e pode ser derrotado.
Porém, não basta ser maioria. É preciso mobilizar essa maioria e tomar a iniciativa, golpear o fascismo antes que ele ganhe corpo e ocupe as ruas de maneira definitiva. É aí que reside a importância de se adotar uma atitude combativa frente a ameaça do fascismo.
Por isso, as manifestações do próximo domingo (7), convocadas por vários movimentos populares e torcidas organizadas, são um passo fundamental na luta para derrotar Bolsonaro e seus planos, romper com a paralisia e o medo e deixar claro que haverá resistência. Sem isso não derrotaremos o fascismo.
Sem ocupar as ruas, deixaremos campo aberto para que os bandos neonazistas se sintam à vontade para promover suas marchas macabras e obscurantistas. Sem denunciar o fascismo, deixaremos as massas de nosso povo vulneráveis à sua propaganda falsa e demagógica. E o pior: sem enfrentar o fascismo hoje, agora, nos desmoralizaremos perante a classe trabalhadora e a juventude para travar qualquer luta séria daqui para frente. Como disse Carlos Marighella, “é preciso ter coragem”.
Por mais crítico que seja o momento e por maior que seja a dificuldade que a quarentena impõe à mobilização de amplos setores da sociedade contrários a Bolsonaro e ao golpe, não podemos seguir assistindo de longe a agitação do caos promovida pelo presidente aspirante a Hitler.
A hora é essa. O descontentamento popular em relação ao governo, a indignação frente sua indiferença pelos mais de 30 mil mortos pela Covid-19, a revolta de milhões de trabalhadores que não conseguem acessar o auxílio emergencial e a ampla adesão à luta pelo Fora Bolsonaro! e pelo impeachment nos dão uma grande base de apoio social à luta antifascista.
Essa luta se fortalecerá ainda mais se não se deixar cair nas provocações da extrema-direita e se combinarmos a coragem com o trabalho de base diário entre as massas nos bairros, favelas, fábricas e empresas, por meio das ações de solidariedade e assistência às famílias abandonadas pelo governo à própria sorte e aos quase 17 milhões de trabalhadores desempregados pela crise. Todos os partidos, sindicatos, movimentos populares, associações de moradores, entidades estudantis, etc., precisam voltar suas energias para esse trabalho agora, antes que seja tarde.
Essa tem sido a linha de ação do Partido Comunista Revolucionário (PCR), da União da Juventude Rebelião (UJR), da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), do Movimento de Mulheres Olga Benario e do Movimento Luta de Classes (MLC).
Se eles têm armas, dinheiro, soldados e robôs, nós temos o povo, e com o povo unido venceremos!
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