sábado, 24 de outubro de 2015

Carta Aberta do Conselho da Paz dos EUA

Carta Aberta do Conselho da Paz dos EUA Para Todos Os Nossos Amigos e Camaradas Do Movimento Pela Paz Caros Amigos e Camaradas da Paz

 Como é do vosso conhecimento, o nosso mundo encontra-se numa conjuntura crítica e perigosa: a possibilidade de um confronto militar, potencialment nuclear, entre a NATO, liderada pelos Estados Unidos, e a Rússia.

As forças armadas das duas superpotências nucleares estão mais uma vez frente a frente, desta vez na Europa do Leste, nomeadamente na Ucrânia, e na Síria. E as tensões aumentam a cada dia que passa. De certo modo, podemos dizer que já decorre uma guerra mundial.

Actualmente, os governos de 15 países estão a bombardear a Síria. Incluem sete países aliados da NATO: EUA, Reino Unido, França, Turquia, Canadá, Bélgica e Holanda. Também incluem aliados dos Estados Unidos não-membros da NATO: Israel, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia, Bahrein e Austrália; e, mais recentemente, a Rússia.

Nas fronteiras ocidentais da Rússia, desenvolve-se uma outra guerra perigosa. A NATO aumenta as suas forças em países vizinhos da Rússia.
Todos os governos que fazem fronteira agora autorizam forças militares da NATO e americanas no seu território, onde decorrem exercícios militares da NATO ameaçadores a apenas poucas milhas das principais cidades russas.
Certamente que isto cria uma grande tensão para o governo russo, como seria naturalmente igual para o governo dos EUA se as forças russas estivessem posicionadas nas fronteiras EUA-México e EUA-Canadá, fazendo exercícios militares a poucas milhas das principais cidades americanas.
Qualquer uma, ou ambas as situações podem facilmente levar a um confronto directo entre os EUA e os seus aliados da NATO, por um lado, e a Rússia, por outro; um confronto que tem o potencial de escalar para uma guerra nuclear com consequências desastrosas.

É devido a esta situação perigosa que contactamos os nossos amigos e camaradas da paz e do movimento anti-nuclear.

Parece-nos que muitos dos nossos aliados no movimento prestam pouca atenção para os perigos que ameaçam hoje toda a existência da humanidade a nível global, e limitam as suas respostas apenas ao protesto contra esta ou aquela acção por parte deste ou daquele lado. Na melhor das hipóteses, lançam contra os EUA e a Rússia "uma praga nas vossas casas", criticando ambos os lados por aumentar de igual modo as tensões.
Isto é, a nosso ver, uma resposta passiva, não histórica, e, mais importante, ineficaz, que ignora a urgência da ameaça existente. Além disso, lançando culpas de igual modo, mascara as suas verdadeiras causas.

Mas as raízes da crise actual são muito mais profundas do que os recentes conflitos na Síria e na Ucrânia. Tudo volta para a destruição da União Soviética, em 1991, e a vontade dos EUA, como a única superpotência remanescente, de dominar unilateralmente o mundo inteiro.
Este facto é afirmado sem rodeios no documento publicado pelos neoconservadores em Setembro de 2000, chamado "Reconstruir as Defesas da América: Estratégia, Forças e Recursos para um Novo Século", no qual se baseia a política actual dos EUA (perdoem-nos por este long lembrete):

 "Actualmente os Estados Unidos não enfrentam qualquer rival global. A grande estratégia da América deve ter como objectivo preservar e alargar esta posição vantajosa tanto quanto possível no futuro.
Há, no entanto, estados potencialmente poderosos insatisfeitos com a situação actual e desejosos de mudá-la ... ". "Hoje a sua tarefa [dos militares] é ... dissuadir o aparecimento de uma nova grande potência concorrente; defender regiões-chave da Europa, da Ásia Oriental e do Oriente Médio; e preservar a primazia americana ....
Hoje, essa mesma segurança só pode ser obtida ao nível do "retalho", através da dissuasão ou, se necessário, obrigando os inimigos regionais a agir de forma a proteger os interesses e princípios americanos ... ".
"Hoje é geralmente aceite que a informação e outras novas tecnologias... estão a criar uma dinâmica que pode ameaçar a capacidade dos EUA de exercer o seu poder militar dominante.

Os rivais potenciais, como a China estão desejosos de explorar essas tecnologias transformadoras de uma forma ampla, enquanto adversários como o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte correm a desenvolver mísseis balísticos e armas nucleares como um dissuasor contra uma intervenção americana nas regiões que procuram dominar .... Se uma paz americana deve ser mantida e alargada, ela deve ter como base segura numa superioridade militar americana inquestionável... "

. "[A] realidade do mundo de hoje é que não há nenhuma varinha mágica com a qual se possa eliminar as armas nucleares [...] e que dissuadir a sua utilização requer uma capacidade nuclear fiável e dominante dos Estados Unidos .... As armas nucleares continuam a ser uma componente fundamental do poder militar americano ....
"Além disso, pode haver uma necessidade de desenvolver uma nova família de armas nucleares destinada a enfrentar novos conjuntos de requisitos militares, como o de atingir os bunkers blindados subterrâneos profundos que estão a ser construídos por muitos dos nossos potenciais adversários ....

A superioridade nuclear dos EUA não é para se ter vergonha; será antes um factor essencial na preservação da liderança americana... ". "[M]anter ou restaurar uma ordem favorável em regiões vitais do mundo, como Europa, o Médio Oriente e Ásia Oriental coloca uma responsabilidade única sobre as forças armadas americanas ...".

"Por um lado, exigem uma liderança política americana, em vez das Nações Unidas .... Nem os Estados Unidos podem assumir uma posição tipo ONU de neutralidade; a preponderância do poder americano é tão grande e os seus interesses globais tão vastos que não pode fingir ser indiferente ao resultado político nos Balcãs, no Golfo Pérsico ou mesmo quando se destacam forças em África ...

As forças americanas devem continuar destacadas no exterior, em grande número .... Negligência ou retirada de missões policiais vai... incentivar pequenos tiranos a desafiar interesses e ideais americanos.

E o fracasso de preparar para os desafios de amanhã irão garantir que a actual Pax Americana chega a um fim rápido ... ". "[É] importante que a NATO não seja substituída pela União Europeia, deixando os Estados Unidos sem uma voz nos assuntos de segurança europeus ..."

"A longo prazo, o Irão pode muito bem vir a ser uma ameaça tão grande para os interesses dos EUA no Golfo como o Iraque. E mesmo que as relações EUA-Irão melhorem, manter forças avançadas baseadas na região ainda seria um elemento essencial na estratégia de segurança dos EUA devido aos já antigos interesses americanos na região ... ".
"[O] valor de forças de terrestres continua a ser do agrado duma superpotência global, cujos interesses de segurança dependem ... da capacidade de vencer guerras.
Apesar de manter o seu papel de combate, o Exército dos EUA adquiriu novas missões na década passada – de imediato ... defender os interesses americanos no Golfo Pérsico e no Médio Oriente. Estas novas missões exigirão o baseamento continuado de unidades do exército dos EUA no estrangeiro ....

[E] lementos do Exército Europa EUA devem ser deslocados para o Sudeste da Europa, enquanto uma unidade permanente deverá ficar baseada na região do Golfo Pérsico ... ".

"Quando seus mísseis são armados com ogivas que transportam armas nucleares, biológicas ou químicas, até mesmo potências regionais fracas têm uma dissuasão credível, independentemente do equilíbrio das forças convencionais.
É por isso que, de acordo com a CIA, vários regimes profundamente hostis à América - Coréia do Norte, Iraque, Irão, Líbia e Síria - "já têm ou estão a desenvolver mísseis balísticos" que poderiam ameaçar aliados dos Estados Unidos e as forças no estrangeiro .... Estas capacidades representam um sério desafio para a paz americana e para o poder militar que conserva a paz.

"A capacidade de controlar esta ameaça emergente por meio de tratados de não-proliferação tradicionais é limitada ...". "A actual paz americana vai ter vida curta se os Estados Unidos forem vulneráveis às potências fora-da lei com arsenais pequenos e baratos de mísseis balísticos e ogivas nucleares ou outras armas de destruição maciça.

Não podemos permitir que a Coréia do Norte, Irão, Iraque ou estados semelhantes minem a liderança americana ... ". E, mais importante, nada disto pode ser alcançado "sem um acontecimento catastrófico e catalisador – como um novo Pearl Harbor ..." (todas ênfases adicionadas) E este documento tem sido o princípio orientador da política dos EUA desde então, para as administrações Bush e Obama.
Todos os aspectos da política dos EUA hoje estão de acordo com a letra deste documento, desde o Médio Oriente, a África, Europa do Leste e América Latina, ignorando a ONU como força de paz global e substituindo-a pelo poder militar da NATO como executante global, tal como recomendado neste documento.

Qualquer líder ou governo que resista à dominação planeada do mundo pelos EUA deve sair, pelo uso da força militar, se necessário! O "acontecimento catastrófico e catalisador - como um novo Pearl Harbor" que precisavam foi-lhes entregue numa bandeja de prata em 11 de Setembro de 2001 e todo o plano foi posto em movimento.

Um novo "inimigo", o Terrorismo Islâmico, ocupou o lugar do velho "inimigo", o Comunismo. Assim começou "guerra global contra o terrorismo". Primeiro veio o Afeganistão, depois o Iraque, a seguir a Líbia, e agora a Síria, com o Irão à espera da sua vez (todos eles listados no documento como alvos de mudança de regime pela força). Da mesma forma, com base na mesma estratégia, a Rússia, e mais tarde a China, como "rivais globais" e "impedimentos" para a dominação global dos EUA, também devem ser enfraquecidos e contidos.

Daí, também, a concentração de forças da NATO nas fronteiras da Rússia e o envio de porta-aviões e navios de guerra da marinha dos EUA para a Ásia Oriental para cercar China. Infelizmente, ao que parece, este quadro estratégico global escapa a uma parte significativa do nosso movimento pela paz.

Muitos esquecem que a diabolização de líderes estrangeiros, e palavras de ordem como "Saddam Hussein deve ir embora", "Kadafi deve ir embora ", "Assad deve ir embora ", "Chávez deve ir embora ", "Maduro deve ir embora ", "Yanukovych deve ir embora ", e agora, "Putin deve ir embora ", (todos claramente em violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas) fazem parte integrante da mesma estratégia de dominação global que ameaça a paz e a segurança de todo o mundo, e até mesmo a própria existência da humanidade.

Não se trata aqui de defender este ou aquele líder ou governo, ou ignorar a violação dos direitos dos seus cidadãos. A questão é que não podemos olhar para cada um desses casos de forma isolada e lidar com eles por igual sem ver a raiz de todos eles, ou seja, a intervenção dos EUA para dominar o globo. Não podemos esperar a eliminação das armas nucleares quando os dois mais poderosos estados nucleares estão à beira de um confronto militar.

Não podemos proteger os civis inocentes, financiando e armando os extremistas, directamente ou através de aliados. Não podemos esperar a paz e a cooperação com a Rússia, enquanto se concentram forças da NATO e realizam-se exercícios militares nas suas fronteiras. Nós não podemos ter segurança se não respeitarmos a soberania e a segurança de outraos países e povos.

Ser justo e objectivo não significa ser imparcial em relação ao agressor e as suas vítimas. Precisamos parar a agressão antes de podermos lidar com as respostas das vítimas contra a agressão.
Não devemos culpar a vítima de agressão em vez das acções do agressor.

E olhando para todo o quadro, não deve haver qualquer dúvida sobre quem são os agressores. É à luz destes factos que pensamos que não podemos evitar a catástrofe iminente, sem unir forças, com o sentido de urgência necessário, para exigir o seguinte em palavras e acção:

1. As forças da NATO devem ser imediatamente retiradas dos países que fazem fronteira com a Rússia;

2. Todas as forças estrangeiras devem deixar imediatamente a Síria, e a soberania e integridade territorial da Síria deve ser garantida.

3. O conflito sírio deve ser tratado apenas através de processos políticos e negociações diplomáticas. Os EUA devem deixar a sua política de "Assad deve ir embora" como condição prévia, e parar de bloquear as negociações diplomáticas.

 4. As negociações devem incluir,especialmente, o governo da Síria, bem como todas as partes regionais e globais que são afetadas pelo conflito.

5. O futuro do governo sírio deve ser escolhido apenas pelo povo sírio, livre de todas as interferências externas.

6. A estratégia dos EUA para a dominação global deve ser abandonada em favor da coexistência pacífica de todos os países e o respeito pelo direito de todas os países à autodeterminação e soberania.

 7. O processo do desmantelamento da NATO deve começar imediatamente. Apelamos a todos os nossos amigos e camaradas do movimento anti-nuclear e da paz para dar as mãos numa coaligação democrática para acabar todas as guerras de agressão. Agradecemos sinceramente todas as respostas de cooperação dos nossos amigos e camaradas no movimento. O Conselho da Paz dos EUA 10 de Outubro de 2015
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