sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Ludmila Outtes / A migração e a crise humanitária na Europa

A migração e a crise humanitária na Europa

imigracao1A migração é um fenômeno natural antigo e bastante conhecido que ocorre em todos os continentes. Porém, a crise migratória européia tem ganhado destaque na mídia nos últimos meses devido ao elevado número de mortes e à violência praticada, tanto pela polícia, que tenta impedir a entrada dos imigrantes, quanto de uma parcela xenófoba da população, com ataques neonazistas registrados em algumas localidades (no total, foram noticiados 202 ataques em 2015).
Somente neste ano, dados da ONU apontam que mais de 300 mil pessoas tentaram entrar na Europa, tendo como ponto de partida principalmente a Síria, Líbia e Afeganistão, e como destino principal a Alemanha, que espera receber até o final do ano 800 mil pedidos de asilo. A travessia é realizada muitas vezes em embarcações precárias e com excesso de passageiros pelo Mediterrâneo, ocasionando naufrágios que foram responsáveis pela morte de mais de 2.500 imigrantes. A foto de um menino sírio de 2 anos morto após o naufrágio de uma embarcação no último dia 02 ganhou a manchete de vários jornais no mundo, sendo apontado como símbolo da crise migratória.
Outros casos extremos também ganharam a mídia: uso de força policial para conter a entrada dos imigrantes; a construção de uma cerca de arame farpado de 174 km de extensão na divisa da Hungria com a Sérvia; o aparecimento de 71 corpos, provavelmente de sírios, dentro de um caminhão frigorífico a 40 km de Viena, em 28 de julho; o naufrágio de barcos que realizavam a travessia ilegal de imigrantes nos arredores da ilha de Lampedusa, na Itália, que contabilizou a morte de 800 pessoas em 19 de abril, e de dois barcos com cerca de 500 imigrantes na Líbia, em 27 de agosto; além dos casos de violência dos próprios atravessadores, que recebem até R$ 10 mil por pessoa para realizar a travessia por barco.
As causas do grande êxodo
A maior parte dos imigrantes ilegais sai de países que enfrentam guerras civis fabricadas ou financiadas pelo capitalismo. Para conter ou amenizar a crise do sistema capitalista, os países “de primeiro mundo” (principalmente os Estados Unidos) se utilizam das guerras para alavancarem a indústria armamentista, principal geradora de lucro aos burgueses. Além do mais, a destruição causada pelas guerras impulsiona também as indústrias da construção, que chegam ao país devastado para reconstruir as cidades.
Um grande exemplo disso foram as guerras contra os ditadores ou contra o “terrorismo” de alguns países do Oriente Médio iniciadas pelos EUA nos últimos anos, que alavancaram as indústrias bélicas e de construção americanas. “A única coisa mais importante que podemos fazer para impedir a migração é abolir a máfia do desenvolvimento: o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Europeu de Investimento e o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento. Uma segunda coisa é parar de bombardear o Oriente Médio. O oeste destruiu a infra-estrutura da Líbia, sem qualquer pista sobre o que iria substituí-la. O que sobra é um estado de vácuo comandado por senhores da guerra que estão agora no centro do contrabando de pessoas no Mediterrâneo”, publicou o escritor Anders Lustgarten em um artigo ao jornal inglês The Guardian, em abril deste ano.
As guerras provocadas pelo imperialismo na tentativa de conter as crises econômicas e sociais, como vemos, causam efeitos até sobre os próprios burgueses, que hoje buscam alternativas para conter a onda de “invasão” dos refugiados aos países de primeiro mundo. Como diria Marx, “o capitalismo cava sua própria cova”.
Ludmila Outtes, Recife
jornal:   A Verdade
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