Exegese de uma "notícia" da Bloomberg– A entrevista da Bloomberg a Zakharchenko não podia ser mais venenosa nem mais desonesta
por Joaquin Flores [*]
O artigo de hoje naquela publicação dos EUA é realmente particularmente instrutivo. Ele mostra como os EUA e os atlantistas europeus tentarão tornear as reais violações ucranianas do Acordo Minsk II e do cessar-fogo. Os EUA e seus agentes directos e indirectos a trabalharem nos media ostensivamente"privados/independentes" (mas de facto controlados pelo estado) estão a criar o pretexto para utilizar a resolução do Conselho de Segurança da ONU que ratifica o Acordo Minsk II contra aqueles aos quais ele favorece: aqueles cujas vitórias no campo de batalha o tornaram possível. Além disso, no mínimo eles estão a fomentar um clima interno [belicista] e a estabelecer o discurso nacional a fim de justificar coisas que violam o direito internacional. Os media ocidentais fazem isso adulterando palavras de Zakharchenko de modo a que se ajustem a uma tremenda mentira. Especificamente fazem-no retirando o que ele disse do contexto e a seguir inserindo suas palavras no contexto ficcional por eles inventado. Do modo como apresentam as coisas, não teremos dúvida em ouvir que "o próprio Zakharchenko" disse que pretendia desde o princípio romper o cessar-fogo. Se não ficar insultado ou colérico pelo que passa por notícia, análise ou comentário no ocidente então sugerimos que leia por si próprio "Gunfire in Donetsk as Rebel Leader Refuses Ukrainian Unity" . Nesta revisão, destacaremos alguns dos enganos e partes mais desonestas e mais perigosas do artigo da Bloomberg. Na medida em que estes artigos são utilizados para encorajar o público dos EUA a apoiar o governo estado-unidense a aumentar suas guerras ilegais no mundo, trata-se de crimes de guerra tal como entendidos pelo precedente estabelecido em Nuremberga e pelos processos subsequentes do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, nas décadas seguintes. Naturalmente, de acordo com a teoria da "arrogância em gotas", mesmo as moscas a berrarem "acusações" enquanto pousadas no carro de guerra da história, tal como o autor do artigo, Stefan Kravchenko, corporificam a arrogância imperial que tem sua origem no topo máximo. Pode passar desapercebido a estes criminosos, grandes e pequenos, que as suas calúnias não são diferentes daquelas que levaram Julius Streicher à forca. Sim, as condenações em Nuremberga não foram apenas dos que estavam no comando militar, ou de decisores políticos – mas também os dos media. Devemos recordar que Streicher, tal como Joseph Goebbels, só escreveu palavras. Eles apenas criaram um discurso que justificava guerras agressivas de conquista. Os patrões dos media americanos acreditam claramente que estão do lado vencedor da história, assumindo de modo arrogante que nunca terão de prestar contas pelos seus crimes documentados. Mas com o poder estado-unidense agora em declínio, estamos a aproximar-nos rapidamente de uma época em que vários homens de estado e magnatas dos EUA terão de enfrentar julgamento semelhante ao de Nuremberga, sob a observação da comunidade internacional. Será uma época importante para a verdade e a reconciliação. O Acordo Minsk II verificou-se num momento em que milhares de inocentes estavam a ser mortos pelas Forças Armadas Ucranianas (FAU) e foi posteriormente ratificado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Trabalhar para solapar este acordo para a paz consagrado pela ONU é claramente um crime contra a humanidade e um crime contra a paz, o que constitui crime de guerra. Neste contexto podemos ver o que é de facto o melhor cenário de fim de jogo para aqueles nos media que são culpados de crimes contra a humanidade e crimes contra a paz, o que possivelmente inclui Kravchenko e seu patrão, a Bloomberg. É muito importante compreender como os media estado-unidenses conduzem sua propaganda. Um dos métodos primários é a destruição da língua inglesa. A gramática e as palavras são muito importantes, pois definem conceitos específicos. Quando palavras e gramática são sacrificadas, os próprios conceitos e pensamentos que estas representam são também destruídos. Além disso, quando o contexto crítico é subtraído, o resultado empobrecido é uma forma de linguagem que reduz a capacidade cognitiva do leitor. Faz-nos estúpidos. Certamente, desde pelo menos a semana passada, temos visto um ligeiro aumento no volume de notícias de confrontos. Em torno do Aeroporto de Donetsk tem havido muitas centenas de feridos do lado das FAU, segundo informações da RPD . Não só alguns destes confrontos ocorreram entre as várias forças que combatem a favor da Junta de Kiev e os revolucionários no Donbass, mas também entre os vários grupos da Junta de Kiev. Na verdade, está confirmado que só na semana passada as FAU tiveram várias escaramuças graves com a OUN na semana passada. Ao ler o artigo da Bloomberg, algumas coisas saltam à vista como críticas na definição da narrativa estado-unidense. Uma das principais "tácticas" utilizadas para inventar esta narrativa é combinar só tangencialmente factos relacionados e citações numa única sentença ou parágrafo. Estes factos e citações podem nem mesmo estar correlacionados, mas são apresentados como se estivessem e até mesmo como relações causais. Outras mistificações também eram gritantes, algumas eram uma questão de manipulação (spin), outras de omissão. Outras ainda envolviam a utilização do equívoco, uma respeitada falácia lógica nos media ocidentais. Escolhemos algumas para destacar do artigo a fim de ajudar a melhor vacinar o público quanto à espécie de guerra de informação que está ser travada pelos media dos EUA contra o seu público. Nossa esperança é que nossos leitores considerem útil desenredar o facto da ficção. A coisa mais frustrante ao desvendar mentiras e desinformação é que requer mais texto e esforço para desvendá-las do que para fazê-las. Amostra I
Deixando de lado as conotações enviadas aos leitores ocidentais para os quais fumadores, portadores de armas e religiosos devotos são pessoas altamente questionáveis (e aparentemente Zakharchenko dispõe de todas as três características, a par de David Koresh ), as primeiras mentiras reais estão contidas no segundo parágrafo.
Para começar, o "inimigo" a que Zakharchenko se refere não é o "país" Ucrânia em si. País é um termo vasto e ambíguo, mas claramente expressões como "ame o seu país, não o seu governo" não são construções possíveis se os termos forem sinónimos. Isto pode parecer discussão de filigranas para os suficientemente anestesiados ou para aqueles cujo Adderal foi gasto, mas estas distinções são extraordinariamente cruciais e críticas para o modo de entender o direito internacional e especificamente o Acordo Minsk II (o qual alguns combates podem estar a violar) e o modo como é entendido por aqueles que o assinaram. Estas também são distinções importantes que não devem ser ignoradas por aqueles na Bloomberg, cuja circulação é de quase um milhão. Leitores da Bloomberg utilizam a informação providenciada para entender o mundo e para apoiarem ou se oporem a iniciativas do governo, que vão desde o relativamente banal até o extraordinariamente grave, tal como fazer guerra. Na medida em que Zakharchenko se refere aos militares da Ucrânia, suas funções existem dentro da constituição, isto é, do estado e não do governo, o qual inclui também várias brigadas voluntárias não governamentais e batalhões tais como as OUN, Pravy Sektor, Aidar e Azov. Estas são compostas por elementos que são parte do estado (como cidadãos) mas não parte do governo em si. Governo é uma função do estado; todos os cidadãos são parte do estado mas nem todos os cidadãos são membros do governo. Um estado possui soberania, ao passo que poderes de governo são derivados do estado. Estados têm, por exemplo, como no caso da Ucrânia, uma constituição. Os governos vão em vêm, são eleitos e saem por disposições na constituição. Tipicamente, como no caso da Ucrânia, para um governo mudar a constituição e permanecer um governo constitucional, deve derivar esta autoridade do estado. Em repúblicas democráticas, tais como a Ucrânia antes do golpe, esta autoridade é normalmente derivada do povo, o qual é parte do estado como cidadãos. Os processos para mudar constituições deste tipo, tal como criar novas constituições cria um novo estado, são muitas vezes chamadas referendo. Se bem que estas distinções possam parecer tediosas à partida, a questão da destruição da linguagem feita pela Bloomberg destina-se a combinar dentro de "uma mesma sensação" um bocado de conceitos realmente distintos, tanto em termos práticos como legais. Dentre eles estão os direitos de cidadãos se insurgirem contra a criação inconstitucional de um novo estado por um governo fantoche instalado por um patrocinador estrangeiro e um golpe organizado. Se um governo muda a constituição através de meios inconstitucionais, portanto introduzindo um novo estado o qual remove sua fundamentação da cidadania, ele não é mais um governo constitucional. Cidadãos, historicamente e na lei, são considerados como tendo o direito de se rebelarem utilizando força, de resto e tipicamente reservada para a auto-defesa, contra uma usurpação inconstitucional de poder, como se verificou na Ucrânia. Também há um conjunto de mercenários e turistas do conflito a combaterem na região. De facto, informações até à data de violações de Minsk II dizem que estas são executadas por estes agrupamentos voluntários que combatem do lado da junta de Kiev. O Acordo Minsk II exige especificamente que estes sejam desmantelados. É igualmente concebível que Zakharchenko se refira a estes agrupamentos ilegais e não ao estado que sanciona e ao governo que controla os militares da Ucrânia (as FAU). Muitos dos nossos leitores fora dos EUA apreciarão instantaneamente a distinção entre governo e estado. Um corolário aqui é a medida em que Poroshenko é o Comandante Supremo em Chefe dos militares do estado – ele tem este poder, segundo os rebeldes, como o chefe de um governo que ganhou o controle dos militares do estado em consequência de um golpe inconstitucional contra o estado. Esse governo fez uma nova constituição, a qual faz do "estado da Ucrânia" um "novo estado". A Bloomberg, ao defender junto ao público os envios ilegais dos EUA de armas e treinadores para a Ucrânia, faz aqui um truque de prestidigitação: a utilização da ambiguidade (equivocation) em que as palavras "governo" e "país" são utilizadas como sinónimos. Agora estas categorias muito importantes para o entendimento desta crise patrocinada pelos EUA (a diferença entre governo, estado e país) foram embrulhadas em conjunto à moda orwelliana. Dito isto, a utilização da expressão "turvou a questão" na mesma sentença em causa é uma projecção clássica. Turvar a questão é precisamente o que esta passagem, na verdade todo o artigo, faz melhor. De facto, a utilização desta expressão é extremamente bizarra – a insurgência "pró russos" turvou a questão é o que gramaticalmente esta sentença nos instrui a inferir. Isto é circular, porque logicamente a própria questão é a da insurgência e suas causas. O que literalmente está a ser dito é que a questão se turvou a si própria. O autor tenta quebrar nossas capacidades cognitivas nas rochas da tautologia. Literalmente, o autor disse que a existência da insurgência turvou a questão do (entendimento?) da existência da insurgência. Na última sentença, dizem-nos que "Também mergulhou a Ucrânia numa crise económica...". Assim, com esta sentença somos instruídos a escolher entre "as NU" ou "o conflito", sendo "o conflito" [a opção] mais razoável. E este ponto é evidentemente falso – a dívida de 15 mil milhões de euros com que a Ucrânia arcava foi uma das causas do facto de Yanukovich voltar-se para a Rússia em Novembro de 2013, a qual por intermédio da China obteve um salvamento(bail out) daquele montante. A UE e o Banco Mundial declararam-se incapazes de ajudar nisto de qualquer maneira significativa, com qualquer ajuda de balança de pagamentos, reestruturação de dívida ou outras alternativas de pagamento sobre o empréstimo do FMI. Mesmo o FMI o declarou em Dezembro de 2013 :
Isto já era assim com um rácio dívida-PIB de mais de 40%. A Bloomberg tenta reescrever a história e confundir causa com efeito.
E quanto à nossa insurgência "rebelde"? Porque a existência da insurgência "turva a questão" da existência da insurgência, ficamos incapazes de perguntar porque exactamente a "turvada" insurgência declarou independência em relação ao novo estado da Ucrânia. Na verdade, o contrato social foi rompido por Yatsenyuk e Turchinov sob as ordens dos EUA. O novo estado da Ucrânia é uma entidade ocupada ilegalmente, sob administração estado-unidense. As palavras "golpe", "apoiado", "financiado", "étnico", "limpeza", "assassínio", "morto" e "inconstitucional" não aparecem nem uma única vez num artigo que pretende discutir o pensamento de Zakharchenko. Na verdade, isto é uma questão "enturvada". Amostra II
Sim, a Ucrânia é um país na área geográfica onde há tanto um estado da Ucrânia como um governo da Ucrânia. Como já vimos, o termo "país" também é intencionalmente vago.
Um país por definição pode referir-se a um estado soberano, ou a uma área de terra sob ocupação, ou a um estado anteriormente soberano sob ocupação estrangeira. Além disso, "país" pode referir-se a uma parte de um estado que é disputada por dois ou mais estados. Donetsk é, confirmadamente, um país que contesta permanecer no estado da Ucrânia. Contudo, a palavra "país" não aparece em lugar algum no Acordo Minsk II e é clara a razão porque esta falácia ambígua foi empregue pela Bloomberg. A Ucrânia é um país sob ocupação estrangeira pelos EUA, o qual tomou o controle do governo e trouxe à existência um novo estado. É contra este estado, e não o anterior estado da Ucrânia, que os rebeldes estão a "rebelar-se". A Bloomberg interpreta mal o Acordo Minsk II, enganando os leitores que em grande parte estão nos EUA. Os recursos à sua disposição, a equipe de juristas que trabalha para eles o tempo todo em outras áreas e a relativa facilidade de encontrar o texto do acordo (está na Wikipedia) bem como a linguagem clara como está escrito, pode significar só algumas coisas. No contexto das outras omissões e distorções deliberadas que praguejam este "artigo" e impugnam a integridade do seu autor, estamos justificados ao concluir que esta "má interpretação" é intencional.
Se bem que o Acordo de Minsk II declare que o governo da Ucrânia toma controle das fronteiras do estado, em parte alguma do acordo se declara que há qualquer possibilidade (eventuality) do retorno de Donetsk e Lugansk (colectivamente, a Federação da Novorússia) para o país, o estado ou o governo da Ucrânia. Além disso, o retorno do controle das fronteiras do estado não é uma eventualidade, mas mais exactamente baseia-se sobre outras disposições que exigem acordo bilateral. A referência à fronteira do estado está no Ponto 9 do acordo. A execução do artigo não se verifica até o cumprimento do Ponto 11.
Além disso, o Ponto11 requer uma nova constituição antes mesmo que a restauração do controle da fronteira pelo governo ucraniano possa ocorrer. Portanto, o artigo definido "o" refere-se a um futuro governo constituído após a criação de ainda outro novo estado, porque o Ponto 11 deve ser cumprido antes do Ponto 9. Ele não se refere a "o" governo da Ucrânia no tempo presente. Ele não se refere ao presente governo. O Acordo Minsk II realmente exige uma anulação dos estrangeiros instalados pelo governo do golpe, com federação – isto é, a descentralização sendo o elemento chave de uma nova constituição. Ele também requer que os representantes destes distritos – Donetsk e Lugansk – concordem. O representante de Donetsk dentro do quadro do Grupo de Contacto Trilateral é o próprio Zakharchenko. Portanto, a interpretação da Bloomberg é inteiramente falsa. Nenhum destes eventos pode ocorrer sem acordo bilateral e nada é "eventual". Mas o que entendemos disto é que Zakharchenko é "desafiador" face a uma eventualidade imperativa, codificada pela ONU, o que faz com que pareça um criminoso. E o que é o "desafio" de Zakharchenko no contexto da trégua? Esta é uma daquelas palavras que é vaga, mas sua utilização intencional (e colocação) revela a inferência. Com o máximo de generosidade, desafio pode significar tão pouco como "disposição para combater". No pior caso, significa desobediência, não cumprimento e insubordinação. Isto é talvez um significado "imperial", isto é, não cumpridor dos ditames dos EUA e da sua auto-definida "comunidade internacional". "Desafio" é habitualmente utilizado nos media ocidentais para caracterizar líderes globais contra o Império estado-unidense, dos quais dizem-nos que são "homens muito maus". Ou talvez – e isto também é intencional – eles estão a sugerir que ele é não cumpridor do acordo de Minsk II, a qual é uma acusação muito perigosa e criminosa, se não for verdadeira. Eles não precisam fixar-se num significado, porque "desafiante" tanto literalmente como neste contexto significa tudo isto. A citação que se segue a esta acusação de comportamento não cumpridor é então estranhamente colocada, a fim de moldar sua própria avaliação do que outros em Donetsk pensam ser evidência do seu próprio "desafio" à suposta eventualidade da reunificação. Somos levados a imaginar que ele estava a adoptar um tom "desafiador" quando faz a citação que se segue, muito embora o artigo tecnicamente não diga nada. Trata-se realmente apenas de uma linha que se segue a outra. Isto destina-se a fazer-nos extrair uma inferência clara que o autor do artigo poderia tentar dizer que não estava implícito. Amostra III
Aqui na primeira linha da amostra podemos ver que eles estão a insinuar (implying) que a sua declaração desafiadora era realmente uma ameaça de violência, a qual somos levados a assumir que são enfatizados (verbo transitivo, "tornar evidente") pelas suas acções as quais resultaram na perda de seis soldados ucranianos. Este fraseado destina-se a insinuar, ou melhor, levar-nos a inferir, que a perda de seis soldados foi o resultado do desafio de Zakharchenko – ou da disposição a combater, ou do não cumprimento de Minsk II. Em suma, somos levados a entender que Zakharchenko lançou os ataques. Na realidade, a OSCE – a única organização intergovernamental "legitima" cujas descobertas pretendem ser "objectivas", sobre o terreno – informou de ataques ofensivos por parte das forças ucranianas. Os rebeldes da RPD têm acusado os monitores da OSCE de estarem empenhados em colecta de inteligência por conta os militares ucranianos ou dos EUA.
A segunda sentença não tem conexão com a primeira e está colocada logo a seguir a fim de identificar a Rússia como apoiante do "ataque" de Zakarchenko o qual se seguiu à sua advertência "desafiante". O segundo parágrafo é incluído para insinuar que enquanto Zakarchenko desafiadoramente rompe o acordo Minsk II, enfatizando isto com ataques armados e financiados pelos russos que matam soldados ucranianos, ao passo que Yatsenyuk está comprometido com a sua implementação. Isto está em total divergência com os dados que têm sido recolhidos até à data. A seguir está outro exemplo do mesmo padrão, a junção de sentenças não relacionadas, colocadas juntas a fim de insinuar uma conexão natural. Exemplo IV
O parágrafo desta amostra salta da citação do relatório oficial da OSCE para uma declaração do governo ucraniano via Facebook. A primeira citação da OSCE na primeira sentença faz parte de uma notícia a qual realmente confirma que a Ucrânia atacou a RPD no Aeroporto de Donetsk numa "batalha com tanques em plena escala" . Na segunda sentença, colocada logo após a primeira pelas razões que discutimos acima, acontece algo bastante estranho. O "Conselho de Segurança Nacional e Defesa" ucraniano afirma que rebeldes atacaram posições. Tomado em conjunto, este parágrafo destina-se a deixar a impressão de que a OSCE e o Conselho de Segurança Nacional e Defesa concordam ambos em que os ataques foram feitos pelos rebeldes a posições da Ucrânia próximas de Mariupol. Na realidade a OSCE confirma ter ouvido detonações a 20 km, vindas de Mariupol:
Dado o historial de relatórios OSCE sobre esta espécie de incidentes, se tivesse havido um meio de insinuar que da RPD era responsável, eles o teriam feito. De facto, a imprecisão deste relatório, se bem que aparentemente objectivo, pode mesmo indicar que eles poderiam plausivelmente negar ter a certeza de que era o exército ucraniano, apesar de saberem certamente que não poderiam afirmar que era a RPD.
O exemplo seguinte da notícia da Bloomberg também é interessante, porque utiliza o determinante possessivo "seu" no lugar do artigo definido "o". Exemplo V
O efeito psicológico sobre o leitor pretendido com esta sentença é claro. Isto transforma "a república popular", a qual é todo um processo social, produzido por condições sócio-políticas objectivas e apoiado por milhões de pessoas, e torna-a a "sua" república popular, isto é, algo que existe quase puramente na mente de um fumador de cigarros, leitor da bíblia, portador de armas, o louco desafiante e violador do Acordo Minsk II.
Trata-se da linguagem da "demonização", semelhante à "Jugoslávia de Milosevic", ao "Iraque de Saddam", à "Líbia de Gaddafi" ou à "União Soviética de Stalin". Não se trata sequer de alguma variação de estilo no uso da gramática. De modo algum a RPD é propriedade de Zakharchenko. Ele foi eleito no fim do ano passado, numa votação com comparecimento apreciável. Ele não afirmou que a RPD é "sua", nem a constituição – ratificada pela assembleia popular – indica que o seja. Os mecanismos para removê-lo existem. A linguagem utilizada no exemplo acima destina-se a nos dar a impressão de que ele é ditatorial e com uma mentalidade estreita. Eles chegam muito perto, se é que realmente não o fazem, de citá-lo incorrectamente. Dada a criminalidade geral deste artigo, a falta de ética jornalística respeitante à transformação de um artigo definido num adjectivo determinante possessivo dentro de um fraseado pode parecer relativamente controverso. Mas, é a acumulação de tudo isto ao longo do artigo que deixa no leitor a inabalável convicção de que recebeu informação adequada quanto ao carácter e objectivos de Zakharchenko. Amostra VI
Como se pode ver no exemplo acima, a mentira quanto ao cessar-fogo é repetida. Mais uma vez, a reintegração de Donetsk e Lugansk dentro da Ucrânia não é compulsória pelo acordo Minsk II, o qual é muito mais do que um cessar-fogo. Quanto ao "seu desejo de tomar Mariupol", a secção que exibe a amostra V é intitulada "Libertação de Mariupol", mas só a estranha e questionável frase lhe é atribuída.
Sem uma transcrição verificada da entrevista, com suas próprias palavras no original ucraniano (ou russo), então – à luz dos demais graves problemas criminais e éticos deste artigo – não se deveria permitir que fosse matizado nosso entendimento do que possa ter dito ou pretendido. No entanto, um "desejo" não "contraria" o cessar-fogo, acções sim. O artigo está essencialmente, neste exemplo, a tentar acusá-lo de violar o cessar-fogo com base nos pensamentos que eles afirmam estarem na sua cabeça. Amostra VII
Porque a [operação de] falsa bandeira do Malysian Airline já foi desmascarada, não entraremos em pormenores excessivos quanto à primeira parte. A citação de Zakharchenko é que é problemática. Esta entrevista não foi efectuada em inglês, mas sim em ucraniano.
A palavra que Zakharchenko mais provavelmente utilizou para "lamentavelmente" terá sido "sumno". Isto pode significar tanto "infelizmente" como "lamentavelmente". Por que "lamentavelmente" faria qualquer sentido, senão para insinuar que Zakharchenko lamenta que eles fossem incapazes de derrubar um avião civil? O que se pretendeu ao invés foi o frio e burocrático "infelizmente", como em "infelizmente para aqueles que nos acusariam". Isto é transformado de "infelizmente" ("unfortunately") para "lamentavelmente" ("sadly"). O artigo pretende levar-nos a pensar que o desafiante Zakharchenko está triste porque a sua república popular não havia abatido o avião. Amostra VIII
Mais uma vez, o acordo Minsk II não conclama a Ucrânia a afirmar "gradualmente" cada vez mais controle sobre as regiões em ruptura até que pleno controle seja alcançado no fim do ano". O acordo praticamente diz o oposto: ele obriga a que o governo ucraniano avance com a criação de um novo estado, a constituição do qual dá autonomia e etapas definidas para as "regiões em ruptura". Apresentámos algumas das secções relevantes bem como um link para todo o acordo.
[*] Analista político, radicado em Belgrado.Há uma série de mecanismos claramente definidos, etapas, as quais devem ser cumpridas para qualquer destas coisas se verificar. Não há maneira de interpretar isto de qualquer outro modo. A linguagem é clara e não ambígua. A questão do "controle" é só mencionada literalmente na secção acerca da fronteira e mesmo isto repousa num acordo bilateral entre os representantes das partes como delineado no Grupo de Contacto Trilateral. Em nenhum ponto do processo as "regiões em ruptura" juntam-se ao actual estado da Ucrânia, nem são elas obrigadas unilateralmente a juntar-se a um futuro estado da Ucrânia, nem são forçadas a assim fazer pelo actual ou por qualquer futuro governo. Esta mentira é promovida a fim de enganar a população dos EUA rumo ao continuado e escalado apoio militar dos EUA à Ucrânia, o qual é um crime de guerra e também pretende minar o Acordo Minsk II. A lógica da mentira é isto: desde que os rebeldes continuam a existir e não "gradualmente afirmam cada vez menos controle", então eles estão a violar Minsk II. Eles o violam só por existirem, de acordo com este artigo criminoso da Bloomberg. O que Poroshenko assina ou não assina é praticamente irrelevante para o Acordo Minsk II. O acordo conclama uma nova constituição. Só um novo estado ucraniano, organizado como um estado federal tal como declarado claramente no Ponto 11 é o mecanismo que então dispara o processo – um mecanismo que ainda exige acordo bilateral – respeitante a qualquer controle de um futuro governo de Kiev sobre as fronteiras, e apenas as fronteiras de Donetsk e Lugansk, com a Rússia. Este não é de modo algum acerca do controle sobre as regiões "em ruptura". Uma nova constituição tal como exigido por Minsk II significa um novo estado, um estado federal e não um estado unitário; isto significa essencialmente que o actual governo encabeçado por Poroshenko é provisório. Uma nova constituição, e só uma nova constituição, levaria ao acordo bilateral dos representantes de Donetsk e Lugansk. Estes não são os Governadores nomeados por Turchinov, mas especificamente aqueles do Grupo de Contacto Trilateral – Zakharchenko et al. Estes e apenas estes são indicados no Acordo e provavelmente exigiriam novas eleições, as quais significariam um novo governo em Kiev. A Bloomberg tenta inverter a realidade. Este conflito iniciado pelos EUA já custou a vida de 50 mil pessoas segundo estimativas da inteligência alemã , bem como mais de um milhão de refugiados deslocados segundo a ONU. Com tão brutal má informação e desinformação do leitor numa matéria desta magnitude, e de adulteração dos factos, das citações e colocação de sentenças juntas de modo a comunicar uma mensagem diferente da verdade, os redactores, editores e proprietários da Bloomberg podem ser acusados de crimes de guerra: crimes contra a humanidade e crimes contra a paz. O original encontra-se em russia-insider.com/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
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