sábado, 18 de outubro de 2014

China Antiga: Período Xia



Período Xia



A história chinesa possui um certo hiato na passagem entre o seu período proto-histórico e aquela que seria considerada a sua primeira dinastia organizada, a Dinastia Xia, cujas datas tradicionais a colocam entre -2205 -1766.
As culturas primitivas, como de Yangsho e Longshan dão-nos alguns testemunhos do processo formativo da civilização chinesa, mas as conexões com uma possível organização política de caráter real ainda são incertas. No entanto, as verosimilaridades permitem-nos inferir que haja uma relação cultural entre as mesmas, ou até um movimento de continuidade. Como afirma Cotterel,

Igualmente incertos são os antecedentes da cultura Yangshao, que hoje é generalizadamente reconhecida como a génese da cultura chinesa por causa da influência permanente que a sua agricultura auto-suficiente exerceu sobre as tribos que a partir daí se consideraram o povo chinês. Fisicamente, os habitantes das aldeias Yangshao são parecidos com os actuais chineses das províncias do Sul, mas isso não deixa de fazer sentido se nos lembrarmos como, durante a era imperial, a invasão dos Nómadas transformou a China do Norte num cadinho de mistura de raças. Mas, mesmo a partir da era dos Zhou, em que se passou a dispor mais facilmente de fontes literárias, é óbvio que o critério para definir quem pertencia ao mundo chinês passava mais pela consciência duma herança cultural comum do que pela afinidade étnica.[...]Antes de se ter esgotado o período de cultura Yangshao surgiu outra cultura, chamada Longshan por ter sido descoberta em 1929 perto de Longshan ou «Montanha do Dragão», na localidade de Chengziyai, província de Shangdong. Com efeito, os baluartes rectangulares de terra amassada antecipam a longa tradição de cidades fortificadas que em breve seriam inauguradas pelos Shang; além disso, a área de implantação que eles abrangiam era mais de cinco vezes maior do que a que se acolhia dentro do fosso defensivo de Banpo. Outras semelhanças com os tempos posteriores eram, por exemplo, as técnicas de adivinhação, as formas das peças de olaria e, o que não deixa de ser interessante, uma série de tabuletas de oleiros que são idênticas a caracteres descobertos em inscrições de oráculos de Shang. Seja uma evolução da cultura Yangshao, seja uma tradição oriental distinta com pontos de contacto que se estendem para nordeste até à Sibéria oriental, a de Longshan caracteriza-se essencialmente pela sua olaria avançada, uma louça fina, muito polida, cinzenta ou preta, que mostra sinais de ter sido feita com roda. Esta cultura floresceu até ao princípio da idade do bronze, pouco depois de 1800 a. C., e os seus vestígios aparecem por baixo dos dos Shang, na província de Henan, sede desta dinastia. (Cotterel, 1986)

As considerações feitas pelos autores da década de 80, porém, não permitiam ainda confirmar a existência dos Xia. A descoberta de importantes vestígios arqueológicos só se deu recentemente, e poucos manuais tiveram oportunidade de reproduzir estas novidades, que continuam em fase de estudo e análise.

Pouco ainda se sabe sobre eles, e muito provavelmente sua história está intimamente ligada as dos Shang, cuja sobrevivência política e documental permite-nos definir melhor seu quadro de existência. As descobertas arqueológicas apontam, no entanto, para a imensa riqueza técnica e artística dos mesmos:

“Na Idade do Bronze, que durou cerca de 2 mil anos na China, a dinastia Xia é o período inicial no desenvolvimento da tecnologia do bronze e que lançou sólidas bases para a sua prosperidade. Os objetos de bronze da última fase da dinastia desenterrados na relíquia de Erlitou podem ser classificados em categorias de serviços de vinho, serviço de cozinha, armas, instrumentos musicais, ferramentas e adornos”. (CRI, 01-11-2004)

A exploração arqueológica da China ainda nos promete surpresas, portanto. Tal como Tróia, Xia está sendo gradualmente desenterrada do chão e seus segredos devem aos poucos ser revelados. Não serão poucas, porém, as dificuldades. Confúcio tinha consciência de que seu resgate dos tempos antigos era incompleto e possivelmente problemático - não foi o mestre, pois, que reclamou da insuficiência de textos, objetos e tradições das dinastias antigas? "Posso falar sobre o ritual Xia? Seu herdeiro, o país de Qi, não preservou suficientes evidências. Posso falar sobre o ritual Yin? Seu herdeiro, o país de Song, não preservou suficientes evidências. Não existem registros suficientes e tampouco homens sábios suficientes; caso contrário, eu poderia obter evidências a partir deles" (Lunyu 3 e Zhongyong, 28). Mesmo assim, fragmentos desta antiguidade garantem subsídios mínimos para um estudo atual. Para os pensadores da época de Confúcio os Xia eram, de qualquer modo, a raiz da civilização chinesa:

“Foi a lição do nosso grande antepassado;
O povo devia ser tratado com carinho
E não olhado de cima;
O povo é a raiz de uma nação.
Se a raiz é firme ela vive tranqüila”
(Shujing, Livro de Xia, 3)





Escudo decorado de Bronze Xia

Fonte: Projeto Orientalismo
http://china-antiga.blogspot.com.br
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