segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sergei Glazyev / A Ucrânia e a ascensão do euro-fascismo


por Sergei Glazyev [*]
Os actuais acontecimentos na Ucrânia são guiados pelos espíritos malignos do fascismo e do nazismo, embora aparentemente tenham-se dissipado há muito depois da II Guerra Mundial. Setenta anos após a guerra, o génio mais uma vez escapou da garrafa, colocando uma ameaça não simplesmente na forma dos símbolos e retórica dos apaniguados de Hitler mas também através de uma obsessiva políticaDrang nach Osten (Impulso para o Leste). 

A garrafa foi desarrolhada, desta vez pelos americanos. Tal como há 76 anos atrás em Munique, quando britânicos e franceses deram a sua bênção a Hitler para a marcha rumo ao Leste. Da mesma forma, na Kiev de hoje Washington, Londres e Bruxelas estão a incitar Yarosh, Tyahnybok e outros nazis ucranianos à guerra com a Rússia. É-se forçado a perguntar: por que fazem isto no século XXI? E por que está a Europa, agora unida na União Europeia, a tomar parte no atear de uma nova guerra, como se sofresse de um lapso total de memória histórica?

Responder a estas perguntas exige, antes de mais nada, uma definição precisa do que está a suceder. Isto, por sua vez, deve começar com a identificação dos componentes chave dos acontecimentos, com base em factos. Os factos são geralmente conhecidos: Yanukovych recusou-se a assinar o Acordo de Associação com a UE, que a Ucrânia fora pressionada a aceitar. Depois disso, os Estados Unidos e seus aliados da NATO removeram-no fisicamente do poder ao organizarem um violento golpe de estado em Kiev e levarem ao poder um governo que era ilegítimo, mas que lhes obedecia plenamente. Neste artigo, será chamado "a junta".

O objectivo desta agressão era fazer com que o Acordo de Associação fosse aceite, como se evidencia pelo facto de que foi na verdade assinado, prematuramente, pelos líderes da UE e a junta apenas um mês depois de esta última ter capturado o poder. Eles relatam (o documento contendo suas assinaturas ainda não foi publicado!) que apenas a parte política do acordo foi assinada, a parte que obriga a Ucrânia a seguir a política externa e de defesa da UE e a participar, sob a direcção da UE, na resolução de conflitos civis e militares regionais. Com este passo, a adopção do Acordo como um todo tornou-se uma mera tecnicalidade.

Na essência, os acontecimentos na Ucrânia assinalam a subordinação forçosa do país à União Europeia – o que pode ser chamado de "Euro-ocupação". Os líderes da UE que insistentemente nos dão lições sobre a obediência à lei e aos princípios de um estado baseado na lei, neste caso marimbaram-se para a regra da lei ao assinarem um tratado ilegítimo com um governo ilegítimo. Yanukovych foi derrubado porque se recusou a assiná-lo. Esta recusa, além disso, precisa ser entendida em termos não só do conteúdo do Acordo como também do facto de que ele não tinha direito legal a aceitá-lo, porque o Acordo de Associação viola a Constituição Ucraniana, a qual não prevê a transferência da soberania do estado a uma outra parte.

De acordo com a Constituição Ucraniana, um acordo internacional que entre em conflito com a Constituição só pode ser assinado se a Constituição for emendada previamente. A junta instalada pelos EUA – e pela UE – ignorou esta exigência. Segue-se que os EUA e a UE organizaram o derrube do governo legítimo da Ucrânia a fim de privar o país da sua independência política. O próximo passo será impor à Ucrânia suas políticas económica e comercial preferidas, através do seu acesso à parte económica do Acordo. Além disso, embora a actual Euro-ocupação difira da ocupação da Ucrânia em 1941 em que, até agora, se verificou sem uma invasão por exércitos estrangeiros, sua natureza coerciva está para além de qualquer dúvida. Assim como os fascistas despojaram a população da Ucrânia ocupada de todos os direitos civis, a junta moderna e seus apoiantes americanos e europeus tratam os oponentes da Euro-integração como criminosos, acusando-os sem fundamento de separatismo e terrorismo, aprisionando-os ou mesmo posicionando guerrilhas nazis para alvejá-los.

Enquanto o Presidente Yanukovych estava em vias de assinar o Acordo de Associação com a UE era o destinatário de toda espécie de louvação e sedução de políticos e altos responsáveis da UE. Contudo, no minuto em que se recusou, agentes de influência americanos (bem como representantes oficiais dos EUA, tais como o embaixador na Ucrânia, a secretária de Estado Assistente e representantes de agências de inteligência), juntamente com políticos europeus, começaram a castigá-lo e a louvar seus oponentes políticos. Eles proporcionaram maciça ajuda informacional, política e financeira aos protestos do Euromaidan, transformando-o no terreno para o golpe de estado. Muitas das acções de protesto, incluindo ataques criminosos contra pessoal encarregado de aplicar a lei e tomadas de edifícios governamentais, acompanhadas por assassinatos e espancamentos de um grande número de pessoas, foram apoiadas, organizadas e planeadas com a participação da Embaixada Americana, assim como de responsáveis e políticos europeus, os quais não só "interferiram" nos assuntos internos da Ucrânia como executaram uma agressão contra o país através das guerrilhas nazis que haviam cultivado.

A utilização de nazis e fanáticos religiosos para minar a estabilidade política em várias regiões do mundo é um método favorito das agências de inteligência americanas. Ele foi empregado contra a Rússia no Cáucaso, na Ásia Central e agora mesmo na Europa do Leste. O programa Parceria Oriental (Eastern Partnership), o qual os EUA encorajaram os responsáveis polacos e da UE a iniciar, foi voltado contra a Rússia desde o princípio. O seu objectivo era romper as relações das antigas repúblicas soviéticas com a Rússia. Esta ruptura supunha-se que fosse concluída por contratos de Acordos de Associação entre cada um destes países e a UE. A fim de proporcionar bases políticas para estes acordos foi lançada uma campanha para espalhar russofobia e difundir um mito chamado "a escolha europeia". Esta mítica "escolha europeia" foi então artificialmente contraposta ao processo de integração euro-asiático, com políticos e media ocidentais a descreverem a última como uma tentativa de restaurar a URSS.

O programa Parceria Oriental fracassou em toda e qualquer antiga república soviética. A Bielorússia já fez a sua própria escolha, criando uma União Estatal com a Rússia. O Cazaquistão, outro país euro-asiático chave (embora não formalmente um alvo da Parceria Oriental) igualmente escolheu o seu próprio caminho, constituindo a União Aduaneira com a Rússia e a Bielorússia. A Arménia e o Quirguistão decidiram aderir a este processo. A província de Gagauzia rejeitou a adopção da russofobia como pedra angular da política de Moldova. O referendo Gagauz, rejeitando a integração europeia em favor da União Aduaneira, desafiou a legitimidade da "escolha europeia" de Chisinau. A Geórgia, a única república que tomou uma decisão relativamente legítima em favor da associação com a UE, pagou a sua "escolha europeia" com a perda de controle sobre uma parte do seu território, onde o povo não quis viver sob a euro-ocupação. O mesmo cenário está agora a ser imposto à Ucrânia – perda de uma parte do seu território, onde os cidadãos não aceitam a "escolha europeia" da liderança.

A coação da Ucrânia para por a sua assinatura no Acordo de Associação com a UE foi embrulhada na russofobia, como reacção da consciência pública ucraniana magoada pela decisão do povo da Crimeia de aderir à Federação Russa. Uma vez que a maioria dos ucranianos ainda não se consideram automaticamente como separados da Rússia, tem havido ali uma forte pressão para inculcar uma percepção deste episódio como agressão russa e anexação de parte do seu território. Eis porque Brzezinski fala acerca na "finlandização" da Ucrânia, um meio de anestesiar os cérebros da nossa elite política durante a operação americana de amputar os laços da Ucrânia com a Rússia histórica. Ainda que sob anestesia, supõem que nós russos devamos aceitar um sentimento de culpa pela nossa mítica opressão do povo ucraniano, ao passo que este último é alimentado à força com repúdio à Rússia, com a qual alegadamente terá combatido ao longo tempo sobre a Pequena Rússia e Novorossiya. [1]

Contudo, só um observador superficial veria a actual histeria anti-russa nos media ucranianos, tão impressionante na sua russofobia frenética, como uma reacção espontânea ao drama na Crimeia. Na realidade, é evidente que a guerra que está a ser travada contra a Rússia está agora a entrar numa fase aberta. Durante duas décadas fomos razoavelmente tolerantes com as manifestações da ideologia nazi na Ucrânia, sem considerá-la seriamente, em vista da aparente ausência de pré-condições claras para o nazismo. A falta de tais pré-condições, contudo, foi totalmente compensada pela persistente semeadura de russofobia através do apoio a numerosas organizações nacionalistas. A discrepância entre a sua ideologia e a exactidão histórica não incomoda os fuehrers destas organizações. Em troca de uma ninharia de países membros da NATO, eles são completamente livres para pintarem a Rússia como a imagem do inimigo. O resultado é inconvincente, devido à nossa história, língua e cultura comuns: Kiev é a mãe de todas as cidades russas, o Kiev-Pechersk Lavra é o maior local sagrado dos ortodoxos do mundo e foi na Academia Kiev-Mohyla que a moderna língua russa tomou forma. Portando, são utilizadas mentiras loucas, jogando com episódios trágicos da nossa história comum, tais como a Revolução e a Guerra Civil, bem como a fome do Holodomor dos anos 1930, os quais são falsamente atribuídos unicamente à tirania russa. A russofobia, baseada no nazismo, está ser tornada a pedra angular da identidade nacional da Ucrânia.

Este artigo não está preocupado em desvendar a objectividade da absurda histeria russofóbica dos nazis ucranianos, mas sim em estabelecer as razões para o seu ressurgimento no século XXI. Isto exige uma percepção de que este "nazismo ucraniano" é uma construção artificial, criada pelos antigos inimigos do mundo russo. O nacionalismo e fascismo ucraniano, cultivado do exterior, sempre tiveram Moscovo como alvo. A princípio era promovido pela Polónia, a qual encarava a Ucrânia como a sua própria zona fronteiriça e estabeleceu a sua estrutura de poder vertical para administrá-la. A seguir veio a Áustria-Hungria, a qual investiu grandes quantias de dinheiro ao longo de muito tempo para encorajar o separatismo ucraniano. Durante a ocupação fascista alemã, estas tendências separatistas foram o terreno no qual o movimento Bandera e a Polizei se desenvolveram, ajudando os fascistas alemães a estabelecerem a sua ordem na Ucrânia, inclusive através de operações punitivas e escravização da população. Seus seguidores modernos estão agora a fazer o mesmo: sob a orientação dos seus instrutores americanos, guerrilhas do Right Sector Banderista estão a efectuar operações punitivas contra a população no Donbass, ajudando a junta instalada pelos EUA a "limpar" cidades dos apoiantes de maior integração com a Rússia e assumindo funções de polícia para o estabelecimento de uma ordem pró americana e anti russa.

É óbvio que sem o firme apoio americano e europeu não teria sido possível nem o golpe de estado nem a existência da junta de Kiev. Infelizmente, como diz o famoso ditado, "a história ensina-nos que a história não ensina nada". Isto é uma catástrofe para a Europa, a qual mais de uma vez teve de tratar com casos de governos proto-fascistas como aquele que agora molda a Ucrània. Ele envolve, essencialmente, um relacionamento entre fascistas e o grande capital. Uma simbiose deste tipo permitiu a ascensão de Hitler, que foi apoiado pelos principais capitalistas alemães, seduzidos pela oportunidade, sob a cobertura da retórica nacional-socialista, de ganhar dinheiro com encomendas do governo e com a militarização da economia. Isto aplica-se não só aos capitalistas alemães como também aos europeus e americanos. Houve colaboradores com o regime de Hitler em praticamente todos os países europeus e os Estados Unidos.

Poucas pessoas perceberam que as marchas com tochas seriam seguidas pelos fornos em Auschwitz e que dezenas de milhões de pessoas morreriam no incêndio da II Guerra Mundial. A mesma dinâmica está a desenvolver-se agora em Kiev, excepto que o berro de "Heil Hitler!" foi substituído pelo de "Glória aos heróis!" – heróis cujo grande feito foi executar judeus indefesos em Babi Yar . Além disso, a oligarquia ucraniana – incluindo os líderes de algumas organizações judias – está a financiar os anti-semitas e nazis do Right Sector, os quais são os baluartes armados do actual regime na Ucrânia. Os patrocinadores do Maidan esqueceram que, no relacionamento simbiótico entre nazis e grande capital, os nazis sempre obtém o controle sobre os homens de negócio liberais. Estes últimos são forçados ou a tornarem-se nazis ou a deixarem o país. Isto já está a acontecer na Ucrânia: os oligarcas que permanecem no país estão a competir com os pequeno fuehrers do Right Sector no domínio da russofobia e da retórica anti-"moscovita", bem como em sequestrar a propriedade daqueles antigos patrocinadores nazis que fugiram para Moscovo.

Os actuais dominadores em Kiev contam com a protecção dos seus patrões americanos e europeus, jurando-lhes diariamente que combaterão a "ocupação russa" até o último "moscovita" [2] . Eles obviamente subestimam quão perigosos são os nazis, porque estes acreditam realmente que são uma "raça superior", ao passo que todas as outras, incluindo os homens de negócio que os patrocinam, são encarados como criaturas "sub-humanas", contra as quais é permissível violência de toda espécie. Eis porque os nazis sempre prevalecerão, dentro do seu relacionamento simbiótico com a burguesa, a qual é então forçada ou a submeter-se ou a fugir do país. Não há dúvida de que se os seguidores de Bandera não forem travados à força, o regime nazi na Ucrânia desenvolver-se-á, expandir-se-á e consolidar-se-á mais profundamente. A única coisa ainda em dúvida será a "escolha europeia" da Ucrânia, pois o país fede cada vez mais ao fascismo de 80 anos atrás.

Naturalmente, o eurofascismo de hoje é muito diferente das suas versões alemã, italiana e espanhola no século XX. Estados nacionais europeus retrocederam ao passado, entrando na União Europeia e submetendo-se à euroburocracia. Esta última tornou-se o principal poder político na Europa, revogando facilmente quaisquer intentos de soberania de países europeus individuais. O poder da burocracia baseia-se não num exército, mas no seu monopólio sobre a emissão de moeda, sobre os mass media e sobre a regulamentação do comércio, todos os quais são administrados pela burocracia no interesse do grande capital europeu. Em todo conflito com governos nacionais europeus durante a última década, a euroburocracia prevaleceu constantemente, forçando países europeus a aceitarem seu governo e seus políticos tecnocratas. Tais políticas são baseadas na rejeição constante de todas as tradições nacionais, desde os padrões morais cristãos até como são produzidas as salsichas.

Os europolíticos vulgares, do género neutro e livres de ideias pouco se assemelham aos fuehrers enfurecidos do Terceiro Reich. O que eles têm em comum é uma confiança maníaca em que estão certos e na prontidão para forçar os povos a obedecerem. Embora as formas eurofascistas de compulsão sejam mais suaves, trata-se ainda de uma abordagem dura. A discordância não é tolerada e a violência é permitida, até e incluindo o extermínio físico daqueles que discordam das políticas de Bruxelas. Naturalmente, os milhares que morreram durante o esforço para instilar "valores europeus" na Jugoslávia, Geórgia, Moldávia e agora na Ucrânia não se comparam com os milhões de vítimas dos invasores fascistas alemães durante a II Guerra Mundial. Nações europeias inteiras estão a desaparecer no cadinho da integração europeia.

A palavra italiana fascio, da qual deriva "fascismo", indica uma união, ou algo atado junto. No seu entendimento actual, refere-se à unificação sem preservação da identidade do que é integrado – sejam povos, grupos sociais ou países. Os eurofascistas de hoje estão a tentar apagar não só diferenças económicas e culturais nacionais como também a diversidade de individualidades humanas, incluindo a diferenciação por sexo e idade. Ainda mais: a agressividade com que os eurofascistas estão a combater para expandir sua área de influência por vezes recorda-nos da paranóia dos apoiantes de Hitler, os quais estavam preocupados com a conquista do Lebensraum [espaço vital] para a raça ariana superior. Basta recordar a histeria dos políticos europeus que apareciam no Maidan e nos media ucranianos. Eles justificaram os crimes dos proponentes da euro-integração e de maneira infundada denunciaram aqueles que discordavam da "escolha europeia" da Ucrânia, adoptando a abordagem de Goebbels de que quanto mais monstruosa a mentira mais se assemelha à verdade.

Hoje, o condutor do eurofascismo é a euroburocracia, a qual obtém suas directrizes de Washington. Os Estados Unidos apoiam a expansão para o Leste da UE e da NATO de todos os modo possíveis, vendo estas organizações como importantes componente do seu império global. Os EUA exercem controle sobre a UE através de instituições supranacionais, as quais esmagaram os estados-nação que aderiram à UE. Privada de soberania económica, financeira, de política externa e militar, estes submetem-se às directivas da Comissão Europeia, as quais são adoptadas sob intensa pressão dos EUA.

Na essência, a UE é um império burocrático que arranja as coisas dentro do seu espaço económico de acordo com os interesses do capital europeu e americano, sob controle estado-unidense. Como qualquer império, aspira expandir-se e faz isso atraindo países vizinhos a Acordos de Associação, pelos quais estes entregam sua soberania à Comissão Europeia. A fim de fazer com que tais países aceitem tornar-se colónias da UE, apregoam o medo acerca de uma ameaça externa, com o media guiados pelos EUA a retratarem a Rússia como agressiva e belicosa. Sob este pretexto, a UE e a NATO moveram-se rapidamente para ocupar os países da Europa do Leste após o colapso da União Soviética; a guerra nos Balcãs foi organizada para este objectivo. As vítimas seguintes do eurofascismo foram as repúblicas bálticas, nas quais nazis russofóbicos forçaram a adesão à UE e a NATO. A seguir o eurofascismo alcançou a Geórgia, onde nazis sob orientação americana desencadearam uma guerra civil. Hoje, os eurofascistas estão a utilizar o modelo georgiano na Ucrânia, a fim de forçá-la a assinar o Acordo de Associação [ NR 1] com a UE, como um território subserviente e cabeça-de-ponte para atacar a Rússia.

Os EUA encaram o processo de integração da Eurásia como a principal ameaça aos seus planos de colocar a euroburocracia como responsável da área pós soviética. O processo de integração está a desenvolver-se com êxito em torno da União Aduaneira Rússia-Bielorússia-Cazaquistão. A UE e os EUA investiram pelo menos US$10 mil milhões na construção de redes anti-russas, a fim de impedir a Ucrânia de tomar parte naquele processo. Em paralelo, utilizando o apoio de polacos e bálticos russofobos, bem como dos media sob o controle dos magnatas americanos dos media, os Estados Unidos estão a incitar responsáveis europeus contra a Rússia, com o objectivo de isolar as antigas repúblicas soviéticas do processo de integração euro-asiático. O programa Parceria Oriental (Eastern Partnership), inspirado por eles, é uma cobertura para a agressão contra a Rússia na antiga área soviética. Esta agressão toma a forma de forçar antigas repúblicas soviéticas a entrarem em Acordos de Associação com a UE, sob os quais transferem sua soberania económica, comercial, de política externa e as funções de defesa para a Comissão Europeia.

Para a Ucrânia, o Acordo de Associação com a União Europeia significa transferir para Bruxelas suas funções soberanas de regulação comercial e outras relações económicas externas, de padrões técnicos e inspecções veterinárias, sanitárias e de peste, bem como abrir seus mercados a bens europeus. O acordo contém um milhar de páginas de directivas da UE que a Ucrânia teria de cumprir. Cada secção obriga a que a legislação ucraniana seja alterada para cumprir as exigências de Bruxelas. Além disso, a Ucrânia assumiria a obrigação de cumprir não só as actuais directivas de Bruxelas como também as futuras, em cuja redacção não exercerá qualquer papel.

Dito claramente, depois de assinar o Acordo a Ucrânia torna-se uma colónia da União Europeia, obedecendo cegamente às suas exigências. Isto inclui exigências que a indústria ucraniana é incapaz de executar e que prejudicarão a economia do país. A Ucrânia deve abrir completamente o seu mercado a bens europeus, os quais levarão a um aumento de US$4 mil milhões nas suas importações e expulsarão do mercado produtos industriais ucranianos não competitivos. A Ucrânia será obrigada a cumprir padrões europeus, os quais custarão 150 mil milhões em investimentos para modernização económica. Não há fontes para tais quantias de dinheiro. Segundo estimativas de economistas ucranianos e russos, a Ucrânia, depois de assinar o Acordo, pode esperar uma deterioração das suas já negativas balanças comercial e de pagamentos e, em consequência, o incumprimento (default). 

Portanto, assinar o Acordo de Associação significaria [NR 2] uma catástrofe económica para a Ucrânia. A UE obteria certas vantagens, através de um mercado expandido para os seus produtos e a oportunidade de adquirir activos ucranianos desvalorizados. Corporações dos EUA, por sua vez, ganhariam acesso a reservas de gás de xisto (shale gas),as quais gostariam de adicionar a infraestrutura de gasodutos e um mercado para elementos combustíveis nucleares destinados a centrais eléctricas. O objectivo principal, contudo, é geopolítico: depois de assinar o Acordo de Associação, a Ucrânia não poderia participar na União Aduaneira com a Rússia, Bielorússia e Cazaquistão. Foi para este resultado que os EUA e a UE recorreram à agressão contra a Ucrânia, organizando a captura armada do poder pelos seus protegidos. Apesar de acusarem a Rússia de anexar a Crimeia, eles próprios tomaram a Ucrânia como um todo, com a instalação de uma junta sob o seu controle. A missão da junta é despir a Ucrânia da sua soberania e colocá-la sob a UE, através da assinatura do Acordo de Associação.

O desastre na Ucrânia pode ser chamado de agressão contra a Rússia pelos EUA e seus aliados da NATO. Isto é uma versão contemporânea do euro-fascismo, a qual difere da cara anterior do fascismo durante a II Guerra Mundial por empregar poder "soft" com apenas alguns elementos de acção armada em casos de extrema necessidade, bem como a utilização da ideologia nazi como uma ideologia suplementar ao invés de absoluta. Um dos principais elementos definidores do eurofascismo foi entretanto preservado e é a divisão dos cidadãos em superiores (aqueles que apoiam a "escolha europeia") e inferiores, os quais não têm direitos às suas próprias opiniões e em relação aos quais tudo é permitido. Uma outra característica é a prontidão para utilizar violência e cometer crimes ao tratar com oponentes políticos. O aspecto final que precisa ser entendido é o que conduz ao renascimento do fascismo na Europa. Sem apreender isto, é impossível desenvolver um plano de resistência e salvar o mundo russo desta mais recente ameaça de euro-ocupação.

A teoria do desenvolvimento económico a longo prazo reconhece um inter-relacionamento entre ondas longas de actividade económica e ondas longas de tensão militar e política. Mudanças periódicas de um modo tecnológico dominante para o seguinte alternam-se com depressões económicas, em que gastos governamentais acrescidos são utilizados como incentivo para ultrapassar a crise. Os gastos são concentrados no complexo militar-industrial, porque a ideologia económica liberal permite o reforço do papel do estado só para objectivos de segurança nacional. Portanto, é promovida a tensão militar e política e são provocados conflitos internacionais para justificar gastos acrescidos com a defesa. Isto é o que está a acontecer actualmente: os EUA estão a tentar resolver seus acumulados desequilíbrios económicos, financeiros e industriais a expensas de outros países, pelo agravamento de conflitos internacionais que lhes permitirão cancelar dívidas, apropriarem-se de activos pertencentes a outros e enfraquecer seus rivais geopolíticos. Quando isto foi feito durante a Grande Depressão da década de 1930, o resultado foi a II Guerra Mundial. A agressão americana contra a Ucrânia prossegue todos os objectivos acima mencionados. Primeiro, sanções económicas contra a Rússia são destinadas a eliminar milhares de milhões de dólares da dívida estado-unidense para com a Rússia. Um segundo objectivo é tomar activos do estado ucraniano, incluindo o sistema de transporte de gás natural, reservas minerais, as reservas ouro do país e objectos valiosos artísticos e culturais. Terceiro, capturar mercados ucranianos com importância para companhias americanas, tais como combustível nuclear, aeronáutica, fontes de energia e outros. Quarto, enfraquecer não só a Rússia como também a União Europeia, cuja economia sofrerá uma perda estimada em um milhão de milhões (trillion)de dólares com as sanções económicas contra a Rússia. Quinto, atrair para os EUA capitais em fuga da instabilidade na Europa.

Portanto, a guerra na Ucrânia é negócio apenas para os Estados Unidos. A julgar pelos relatos nos media, os EUA já recuperaram seus gastos com a Revolução Laranja e o Maidan ao levarem como prémio tesouros dos saqueados Museu Nacional de Arte Russa e Museu Histórico Nacional, ao tomarem campos potenciais de gás e ao forçarem o governo ucraniano a mudar de russos para americanos os fornecimentos de combustível nuclear para as suas centrais nucleares. Além disso, os americanos avançaram no seu objectivo de longo prazo de separar a Ucrânia da Rússia, transformando o que costumava ser a "Pequena Rússia" num estado hostil à Rússia, a fim de impedi-lo de aderir ao processo de integração euro-asiático.

Esta análise não deixa espaço para dúvidas acerca da natureza a longo prazo e constante da agressão americana contra a Rússia na Ucrânia. Washington está a dirigir seus fantoches de Kiev no sentido de escalar o conflito, ao invés de revertê-lo. Eles também estão a incitar os militares ucranianos contra a Rússia, tendo como objectivo arrastar forças terrestres russas a uma guerra contra a Ucrânia. Eles estão a encorajar os nazis ali a iniciarem novas operações de combate. Isto é uma guerra real, organizada pelos Estados Unidos e seus aliados da NATO. Tal como há 75 anos atrás, ela está a ser travada pelos eurofascistas contra a Rússia, com a utilização de nazis ucranianos cultivados para este propósito.

O que é surpreendente é a posição dos países europeus, os quais estão a reboque dos EUA e nada fazem para impedir uma nova escalada da crise. Eles deveriam entender melhor do que ninguém que nazis só podem ser travados com a força. Quanto mais cedo isto for feito, menos vítimas e menos destruição haverá na Europa. A avalanche de guerras através da África do Norte, do Médio Oriente, dos Balcãs e agora na Ucrânia, incitadas pelos EUA no seu próprio interesse, ameaça acima de tudo a Europa. E foi a devastação da Europa em duas guerras mundiais que deu origem ao milagre económico americano no século XX.

Mas o Velho Mundo não sobreviverá a uma Terceira Guerra Mundial. Impedir tal guerra significa que deve haver reconhecimento internacional de que as acções dos EUA constituem agressão e que a UE e os responsáveis estado-unidenses que as executam são criminosos de guerra. É importante conferir a esta agressão a definição legal de "eurofascismo" e condenar as acções dos políticos e responsáveis europeus que tomaram parte no ressuscitar do nazismo sob a cobertura da Parceria Oriental.
24/Junho/2014

Notas 
[1] Malorossiya ("Pequena Rússia" ou "Rússia Menor") é uma expressão que remonta à toponímia grega para as áreas populadas pelos eslavos orientais, mais próximas ("Rússia Menor") e mais remotas a Norte do Mar Negro ("Rússia Maior"). Ela tem sido utilizada ao longo dos tempos para indicar toda a moderna Ucrânia ou, principalmente, o nordeste da Ucrânia ou margem esquerda do Rio Dnieper. A expressão Novorossiya ("Nova Rússia") foi introduzida no século XVIII para terras adquiridas pelo Império Russo, sob Catarina II, em guerras com o Império Otomano. Estas incluíam o litoral do Mar Negro desde o Rio Dniester até a Crimeia, o litoral do Mar de Azov a Leste até aproximadamente a foz do Rio Don, e terras ao longo do baixo Dnieper.
[2] Moskal , ou "Moscovite, é um termo pejorativo ucraniano para um russo.

[NR 1] O acordo foi assinado em 27/Junho/2014.
[NR 2] Este artigo é anterior à assinatura do Acordo de Associação. 


Ver também:
  • Ukraine and EU sign free trade zone deal 
  • 5 facts you need to know about Ukraine-EU trade deal 
  • NATO pledges new funding for Ukrainian military
  • "Impedir o reforço do exército ucraniano" 
  • Les communistes moldaves dénoncent l'Accord d'association avec l'Union européenne 
  • Ukraine's EU Association Agreement, A Prelude to Further Bloodshed 
  • Batalhão "Azov": metade consiste de criminosos
  • Fascism As It Is , filme de Andrey Karaulov (em inglês)

    [*] Da Academia de Ciências Russa e conselheiro do Presidente da Federação Russa.

    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/ukraine-and-the-rise-of-euro-fascism/5388443 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • Papa Francisco: "O sistema econômico já não aguenta mais"

    SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2014




    O Papa Francisco assegurou ontem que o sistema econômico mundial "já não aguenta mais". Em uma entrevista concedida ao jornal espanhol La Vanguardia, o Sumo Pontífice afirmou que, no centro de todo sistema econômico, devem estar o homem e a mulher, mas, em contrapartida, "nós colocamos no centro o dinheiro, o deus dinheiro". O líder da Igreja Católica, de 77 anos, falou sobre uma "cultura do descarte" e observou que "agora também está na moda descartar os jovens com a desocupação. Fico muito preocupado com o índice de desemprego dos jovens, que em alguns países supera os 50%", afirmou o Papa argentino.

    "Ao manter um sistema econômico que já não se aguenta mais, descartamos toda uma geração", sentenciou Francisco, que denunciou que "as grandes economias mundiais sacrificam o homem sob os pés do ídolo dinheiro". Além disso, defendeu que "caímos em um pecado de idolatria, a idolatria do dinheiro", por meio da qual se descartar também os idosos, porque "já não produzem mais". Em declarações com um apurado senso crítico em relação ao poder econômico mundial, o pontífice alertou também sobre os perigos de "uma globalização mal entendida que anula as diferenças" diante de uma globalização bem entendida que gere riqueza. "Todos juntos, mas cada qual conservando sua particularidade, sua riqueza, sua identidade, mas isso não acontece", assegurou.

    Nessa mesma linha, também lembrou como os desequilíbrios econômicos criaram áreas de imensa pobreza na América Latina, ao receber ontem os membros do Conselho de Administração da Fundação Populorum Progressio para a América Latina. "Quantos danos não causam a cultura do descarte, a economia da exclusão e da desigualdade. Vemos isso também na América Latina, onde os desequilíbrios econômicos criaram áreas de imensa pobreza", ressaltou o Papa.

    Essa fundação, criada por São João Paulo II em 1992 para gerir projetos na América Latina, depende do Pontifício Conselho “Cor Unum”, que se encarrega das obras de caridade do Papa, que em seu discurso instou os cristãos a se dedicar à caridade e à justiça. "Os fieis laicos estão convocados para participar nos âmbitos sociais, econômicos e políticos para favorecer processos que permitam erradicar as causas da desigualdade", acrescentou.

    Francisco rechaçou "a violência em nome de Deus" no Oriente Médio ou em outras partes, já que, assegurou, "é uma contradição que não corresponde ao nosso tempo e leva as religiões a contradições muito graves" – como, por exemplo, ao fundamentalismo. "As três religiões temos nossos grupos fundamentalistas, que são pequenos em relação a todo o resto", acrescentou o pontífice, ressaltando que o fundamentalismo tem uma natureza violenta.

    “Para mim, a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e ver o que essas raízes têm que dizer no dia de hoje”, observou Francisco quando foi perguntado se era ou não um revolucionário. “Não há contradição entre revolucionário e ir às raízes. Mais ainda, acredito que a maneira para que as mudanças sejam verdadeiras é a identidade. Nunca se pode dar um passo na vida se este não vem de trás, sem saber de onde venho, que sobrenome eu tenho, que sobrenome cultural ou religioso eu tenho”, defendeu Jorge Bergoglio.

    O Papa também se referiu à relação da Igreja Católica com outras religiões. Durante a entrevista, deu sua opinião sobre o antissemitismo e criticou quem nega o genocídio nazista. “Não saberia explicar por que isso acontece, mas acredito que está no geral muito ligado, mas sem que isso seja uma regra fixa, às direitas. O antissemitismo costuma se aninhar melhor nas correntes políticas de direita do que nas de esquerda, não?”. E continua: “Inclusive, ainda tem quem negue o Holocausto, uma loucura”.

    Francisco também se comprometeu a abrir os arquivos do Vaticano sobre o Holocausto. “Nesse tema, me preocupa a figura de Pio XII, o Papa que liderou a igreja durante a Segunda Guerra Mundial. Tiraram o pobre Pio XII de cima de tudo. Mas é preciso recordar que antes ele era visto como o grande defensor dos judeus. Ele escondeu muitos deles nos conventos de Roma e de outras cidades italianas, e também na residência estival de Castel Gandolfo. Ali, na casa do Papa, em sua própria cama, nasceram 42 crianças, filhos de judeus e outros perseguidos ali refugiados. Não quero dizer que Pio XII não tenha cometido erros – eu mesmo cometo muitos –, mas seu papel deve ser levado em conta segundo o contexto da época”, disse.

    “Seria melhor, por exemplo, que não se falasse para que não matassem mais judeus do que mataram? Também quero dizer que, às vezes, me dá um pouco de urticária existencial quando vejo que todos se voltam contra a Igreja e contra Pio XII, esquecendo-se das grandes potências. Os senhores sabiam que elas conheciam perfeitamente a rede ferroviária dos nazistas para levar os judeus aos campos de concentração?”.

    ________
    Tradução de Daniella Cambaúva.

    domingo, 29 de junho de 2014

    República Popular de Lugansk / Nacionalização "seletiva" na economia

    29 de junho de 2014


    A República de tachas Lugansk para a esquerda

    Por Andrei Digtiarenko. Igor T. Tradução

    da República auto-governo do povo de Lugansk, anunciou o processo de nacionalização "seletiva" de várias formas de propriedade. E esta é apenas uma parte das intenções políticas e econômicas. O que você pode fazer com esta iniciativa, e que tipo de sociedade irá construir os criadores de uma nova sociedade em Lugansk independente? sondou "Royal Gazette".


    A trajetória da República de "Brilho da Lua"

    Sem esperar o Kremlin são sinais encorajadores, que permitem realizar negociações para uma possível fusão com a Donbass da Rússia, o Supremo Legislativo corpo tomou as rédeas econômicas autoforzados pelas águas turbulentas da política externa agressiva. 

    Mas a comunidade internacional, incluindo a Rússia, não tem pressa para reconhecer o auto-proclamado "República da lua brilhante." Lutando acreditar movendo inexoravelmente em direção a sua "capital" Lugansk.Posso até dente na mente dos mais ardentes defensores da população local com a separação da Ucrânia, contemplando novo uivos das sirenes ou o barulho das explosões de minas, e espero que os últimos resquícios de entusiasmo evaporar lentamente.

    Lojas e empresas estão fechadas território, as empresas estão em colapso, os mercados de falência, em alguns locais a suspensão total do financiamento do orçamento. E todos os dias da guerra, a situação está piorando. Em um mês ou dois, pensionistas Lugansk que votaram por unanimidade a favor da secessão de Lugansk começar invadindo correios e agências bancárias, e eu sinceramente me pergunto por que não pagar pensões e benefícios. E motins estão perto pela falta de alimentos. E pisca "o governo criminoso Kiev" a Consultivo órgão supremo da abordagem vai se tornar cada vez mais difícil de realizar.

    Obviamente, esse problema de compreensão e bloqueio tem sido observado por Valeria Bolotova. Neste sentido, o lançamento oficial digital do Legislativo Supremo Consultivo (OLS) de várias páginas do documento apareceu intitulado  "Teses sobre as ações prioritárias do governo da República Popular" . Na comunicação, "esses rebeldes" tentou dizer a seus seguidores como eles vêem os novos desenvolvimentos e que medidas vão tomar.

    Em suma, suas bases são a soberania ea prosperidade econômica da República Popular da Lugansk, afirmando uma aliança hipotética com a Rússia. 

    Rússia é mencionado em quase todos os parágrafos deste documento. E muito refletido claramente a perspectiva de contínuo sem o apoio dos poderes vizinhos, argumenta OLS Na verdade, se a peça é limpa retórica, é uma reminiscência do "Wish List", como ele às vezes chamado de ver Perestroika, equilíbrio nua de objectivos estratégicos que OLS resta apenas um, máxima integração no "mundo russo":

    "Como objetivos do Governo da República é proclamada:
    - A construção de um Estado democrático, legal e social em que todos os cidadãos são protegidos contra qualquer discriminação baseada na nacionalidade, língua ou distinção social, e possa exercer plenamente os seus direitos e oportunidades.
    - Criar um estado de união com a Rússia, para fornecer um espaço político, económico e cultural unificada, um sistema de segurança comum e de relações normalizadas Ucrânia e outros Estados.
    - Atingir o nível de vida os cidadãos da UE e da Rússia. "


    No entanto, apesar desses "alvos" grandes há um entendimento de que é improvável que os rebeldes de Lugansk, num futuro próximo, ser capaz de mudar todos os problemas sociais e econômicos acumulados dos ombros de Vladimir Putin. 

    Portanto, até o final de 2015, o país declarou a livre circulação do rublo eo hryvnia (moeda ucraniana NT), e até o verão deste ano, um período de "reflexão à agressão, é criado para preservar soberania e integridade territorial, "a população receber as suas pensões e subsídios, de acordo Bolotova indicado em sua totalidade, eo início dos pagamentos adicionais para os veteranos, os idosos, os jovens e os funcionários responsáveis ​​pela aplicação da lei, além de aumentar os salários dos trabalhadores do setor público, mineiros, metalúrgicos e de energia. "OLS também adverte que" cancela a duplicação dos preços do gás, electricidade e serviços públicos, o que fez as autoridades Kiev ". De agora em diante as taxas de serviços do país são estabelecidos em 2013. Os OLS garante o pagamento atempado dos salários, pensões, prestações sociais em toda a República, incluindo ... Slaviansk e Kramatorsk. Curiosamente, são as garantias sociais Lugansk declaram para os moradores da região de Donetsk, formalmente, para todos os "cidadãos fraternos que têm o seu bilhete de identidade" daqueles que estão na fronteira da República Popular da Lugansk ou será corrigido?


    E um outro artigo muito sintomático: governo OLS promete aumentar salários "em empresas de propriedade dos oligarcas à custa de valor acrescentado, que se apropriou!"

    Sentido anti-horário



    iniciativas globais. MQO no campo da economia e das finanças são muito curiosos 

    em um futuro próximo, de acordo com a tese, a jovem república chocar uma atividade econômica que será exibida:
    "... Estabelecer um procedimento simplificado para pequenas e médias empresas, a fim de reduzir a carga fiscal sobre estas empresas em duas tranches do sistema fiscal.
    Ele vai introduzir incentivos fiscais e apoio institucional para empresas de manufatura que estão fazendo investimentos em modernização e expansão da sua produção por cinco anos.
    Garante o fornecimento de subsídios governamentais para o desenvolvimento de pequenas e médias empresas, no total, pelo menos 50 milhões de hryvnias.
    foi estabelecido que dentro de um mês para auditar todos equipamentos de mineração, materiais, contratos, no âmbito da reestruturação da indústria do carvão, a fim de eliminar o saque dos fundos públicos devido a vários contratos com prémio. Recursos liberados (de acordo com estimativas preliminar, será de pelo menos 3 bilhões de hryvnias) será feita para pagamentos adicionais de salários e pensões aos mineiros.
    registros de processos de negócio e de autorização para a aprovação de todos os projectos de investimento simplificados é criado.
    foi criado da Agência de Desenvolvimento de Investimentos, cuja missão é garantir a implementação de grandes projectos de investimento para aumentar o número de novos empregos.
    eram garante que todos os recursos materiais e financeiros, em especial as receitas fiscais e receitas em divisas dos exportadores maior, chegou mais cedo ou mais tarde, vem o território dominado por Kiev é disponibilizado para os cidadãos da República.
    Empresas da República realizada no ano de PIB, no valor de 256 bilhões de rublos e impostos recolhidos permitem apenas obter 48% do orçamento. Este é o resultado de políticas governamentais deliberadas no sentido de oligarquia, levaram ao confisco e redistribuição de sua renda gerada por nossa economia. Portanto, a tarefa principal é fazer com que o resultado para o povo os nossos impostos. 
    garante o abastecimento de derivados de petróleo, com os preços praticados na Rússia, o que poderia reduzir o preço da gasolina na República 1.5 vezes. 
    Atingir a discriminação de produtos russos fornecidos mas já produzido por empresas da República, sobre a Rússia, incluindo a contratação e aquisição por empresas públicas. 
    organizar a cooperação com as regiões russas. Será fornecido especial atenção à cooperação transfronteiriça no âmbito da cooperação económica e parcerias com a zona sul federais da Federação Russa.
    Concluir um acordo sobre o fornecimento de gás russo para 268,5 dólares por mil metros cúbicos
    O Ministério das Finanças de acordo com os municípios preparar o orçamento para o orçamento de 2015 e do Fundo de Pensões do projeto República.
    era esperado para ser o orçamento de gastos, no valor de nada menos que 18 bilhões de hryvnias. O lado das receitas do orçamento serão planejadas de um montante igual aos custos, ou seja, o défice orçamental 2015 será livre.O crescimento da receita do orçamento será alcançado, retornando para a República de Donetsk pagamentos de impostos por parte das empresas industriais estão agora a pagar impostos para Kiev ".


    No campo da indústria:
    "O fornecimento de produtos industriais para o mercado russo, que em 2014 vai aumentar a produção e as exportações para a Rússia de material rodante, locomotivas e outros produtos de engenharia de transporte em 30%, complexo de produção química na República Reintegração não inferior a 50% em produtos não agrícolas menos de 30%.
    Junto com as empresas e as autoridades russas estão criadas as condições para a produção simplificada de empreendedores para o mercado russo, que deverá fornecer um aumento global das exportações de produtos Terminou com a Rússia para um total de nada menos que 100 milhões de rublos em 2014.
    negociar com a Rússia fornecendo atividades, refino de petróleo livre de impostos e de currículo Lisichansk refinaria, garantindo nossas necessidades de produtos derivados de Repúblicas nacionais de petróleo de Lugansk e Donetsk. Porque Lisichansk refinaria a plena capacidade vai produzir nada menos que 200 milhões de rublos estes serem pagos na República para a receita fiscal em 2014 e nada menos que 500 milhões de dólares em 2015 ".


    E o mais interessante. Na agenda da OLS, a nacionalização das grandes empresas.
    "Apropriação Governo da Ucrânia foi nacionalizado no território da República. Empresas de oligarcas ucranianos que se recusaram a aceitar a jurisdição da República são de propriedade nacionalizadas. Contra essas oligarquias legislação tributária especial é preparada para evitar que o permanente fuga de capitais de grandes empresas e do governo (mas, neste caso, "para determinar a lista de empresas oferecidas para a privatização com investidores russos interessados ​​no ano em curso e futuras aquisições" Minha nota.) " Esta é, em suma os princípios das "Teses".

    Na verdade, parece que o OLS escolhe o caminho socialista de desenvolvimento. Isso, em princípio, não é surpreendente, mas a adesão à Federação Russa, embora não esteja claro quanto tempo a república pode sobreviver, isentando o "valor acrescentado" das oligarquias.


    A questão é até que ponto a "virada à esquerda" mantém jovem "República da lua brilhante." Mas há situações de peso: a história do século XX está repleto de exemplos da construção do socialismo nos países da União Soviética, da China a Cuba e Coréia do Norte. Agora Lugansk, o "jeito especial" de tais estados socialistas para o assédio. Qual é o próximo: a coletivização, a Revolução Cultural, o Juche Idéias? Espera-se que os ideólogos em seus planos futuros ainda traçar acumulação de chegar a um "Lugansk socialista com uma face humana".

    "Vamos tentar alcançar o equilíbrio"

    Planos de MQO são uma tradução parcial da economia da região ao caminho socialista como seu primeiro-ministro disse  Vasili Nikitin.  Segundo ele, a construção da nova "república" na política econômica tem que confiar em suas próprias forças:

    - Como é que vai levar a cabo a nacionalização?
    - Nos próximos dias haverá uma lei de nacionalização. De fato, para a nacionalização de empresas deve ser feito com cuidado. Será feita após análise da economia de cada empresa individual. E se você não não precisa ser nacionalizada. Vamos criar uma comissão especial para tratar dessa questão. 


    - Nós estamos falando sobre a indústria do carvão?
    - Não só. Além disso, o transporte, agricultura e mineração. Chega são as áreas afetadas, mas, novamente, depois de uma análise aprofundada. 


    - De acordo com a sua estimativa, é que a república pode ser economicamente independente de Kiev? Já é pagar as pensões, os salários?
    - Estimativas preliminares dizem que tem que ser assim no futuro próximo ... talvez até o final do ano, vamos tentar cobrir as despesas. Talvez nós equilibrar nossas receitas com as despesas, especialmente depois da destruição de esquemas de corrupção lá fora. Estamos muito capaz. 


    - Como podem ser as fontes de financiamento do orçamento?
    - Na região de Lugansk, infelizmente, o orçamento eo financiamento foi amarrado a mineração produção metade e metade pelo comércio. Este é um indicador muito bom que quase a maior parte do nível de mercado rentável é, provavelmente, do século 18. Até o momento, temos de desenvolver a primeira produção raise para aumentar a capacidade para que possamos oferecer nossos produtos para outros países .
    Pessoalmente, vou prestar atenção especial para o desenvolvimento da agricultura. Nossa região é capaz de alimentar-se. 


    - No "programa de acção prioritária" refere-se ao aumento das pensões, os salários para os funcionários do Estado ... Como isso é conseguido?
    - Porque o trabalho está em sua altura, o que resulta para os trabalhadores 


    - receberá ajuda da Rússia? Talvez haja algum progresso por parte da Federação Russa?
    - Enquanto esperamos, só depende de nós mesmos. Um olhar para a frente para se trabalhar com a Federação Russa, com os países da União Aduaneira.


    - O que será nacionalizada em primeiro lugar?
    - Agora todos os dias há reuniões com líderes empresariais, estamos dispostos a trabalhar com los. Eu não acho que nós estamos indo para responder a esta pergunta alguém vai ter de nacionalizar o seu negócio pela força. Nós temos uma abordagem diferente. 


    - Você agora tem competências e recursos para formar um governo, e para o desenvolvimento da política social a partir do zero?
    - pessoas competentes têm critério suficiente. Mas precisamos de peritos independentes e, possivelmente, alguns auditores internacionais ...
    Fonte:

    27 jun 2014

                                  (Tradução do espanhol para português pelo Google)

    Thierry Meyssan /Jihadismo e indústria petrolífera

    Tradução: Alva
    A refinaria de Baiji.
    A refinaria de Baiji.

    Enquanto os média ocidentais apresentam o Emirado islâmico no Iraque e no Levante como um grupo de jihadistas recitando o Corão, este iniciou a guerra do petróleo no Iraque. Com a ajuda de Israel, o EIIL cortou o aprovisionamento da Síria e garantiu o roubo do petróleo de Kirkuk pelo governo local do Curdistão. A venda será assegurada pela Aramco, que camuflará este desvio aumentando a produção «saudita».

    Para a imprensa atlantista o Emirado islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), que acaba de invadir o Norte e o Oeste do Iraque, é um grupo de jihadistas animado pela sua fé, o Corão numa mão e a kalachnikov na outra. Para aqueles que sofreram as exações deles, nomeadamente na Síria, é um exército privado – composto de mercenários dos quatro cantos do mundo e enquadrado por oficiais norte-americanos, franceses e sauditas— que divide a região, para melhor permitir o seu controlo pelas potências coloniais.
    Se concebermos os membros do EIIL como crentes armados, não se consegue imaginar que por trás do seu ataque estão escuros interesses materiais. Mas, se admitirmos que se trata de bandidos manipulando a religião, para dar a ilusão que Alá abençoa os seus crimes, teremos que estar mais atentos.
    Ao mesmo tempo que vai vertendo lágrimas de crocodilo pelos milhares de vítimas iraquianas desta ofensiva, a imprensa atlantista alarma-se pelas consequências deste novo conflito sobre o preço do petróleo. Em alguns dias o barril voltou a subir até aos $ 115 US, quer dizer o preço ao nível de setembro de 2013. Os mercados ficaram preocupados aquando dos combates pela refinaria de Baiji, perto de Tikrit. Na realidade esta refinaria só produz para o consumo local, que poderia entrar rápidamente em escassez de carburante e de eletricidade. A alta do petróleo (preço- ndT) não é imputável à interrupção da produção iraquiana, mas sim à perturbação dos fornecimentos. Ela não durará pois, já que os mercados são excedentários.
    Marrom: região invadida pelo EIIL (mapa As-Safir)
    A Arábia Saudita anunciou que ia aumentar consideravelmente a sua produção para mitigar a baixa da oferta, consequente à interdição de comercialização pelo EIIL. Mas os especialistas estão cépticos e sublinham que o reino nunca produziu muito mais que 10 milhões de barris por dia.
    A imprensa atlantista que nega o apadrinhamento da Otan (ao EIIL-ndT), explica, eruditamente, que o EIIL ficou repentinamente rico ao conquistar poços de petróleo. O que era já o caso no Norte da Síria, mas que ela não tinha notado. Ela esforçara-se por tratar as lutas entre a Frente al-Nosra e o Emirado islâmico como uma rivalidade exacerbada pelo «regime», quando estas visavam o apoderar-se dos poços de petróleo.
    Entretanto levanta-se uma questão à qual a imprensa atlantista nunca responde: como podem os terroristas vender petróleo no mercado internacional, tão controlado por Washington? No mês de março os separatistas líbios de Bengazi falharam a tentativa de venda do petróleo que tinham capturado. A marinha de guerra dos E.U. havia interceptado o navio-tanque Morning Glorye tinha-o reconduzido à Líbia [1].
    Se a Frente al-Nosra e o EIIL são capazes de vender petróleo no mercado internacional, é porque a isso são autorizados por Washington e estão ligados a companhias petrolíferas, com escritórios públicos estabelecidos.
    O acaso fez com que o congresso mundial anual das companhias petrolíferas se realizasse, de 15 a 19 junho, em Moscovo (Moscou-Br). Pensava-se que lá se ia falar da Ucrânia, mas tratou-se apenas do Iraque e da Síria. Soube-se que o petróleo roubado pela Frente al-Nosra na Síria é vendido pelaExxon-Mobil (a sociedade dos Rockefeller que reina sobre o Catar), enquanto o do EIIL é explorado pela Aramco (EUA / Arábia Saudita). Lembremos, de passagem, que durante o conflito líbio, a Otan tinha autorizado o Catar (quer dizer a Exxon-Mobil) a vender o petróleo dos «territórios libertados» pela al-Qaida.
    Podemos, portanto, ler os combates actuais —tal como todos os do século XX no Próximo-Oriente— como uma guerra entre as companhias petrolíferas. [2] O facto de o EIIL ser financiado pela Aramco basta para explicar que a Arábia Saudita afirme ser capaz de compensar a baixa da produção iraquiana: o reino simplesmente colocará o seu selo sobre os barris roubados para os legalizar.
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    O êxito do EIIL permite-lhe controlar os dois principais oleodutos: de um lado para Banias, e que aprovisiona a Síria, enquanto o outro transporta o crudo para o porto turco de Ceyhan. O Emirado Islâmico cortou o primeiro, causando cortes de energia adicionais na Síria, mas, estranhamente, deixa funcionar o segundo.
    É que este gasoduto é usado pelo governo local, pró-Israelita, do Curdistão, para exportar o petróleo que acaba de roubar em Kirkuk. Ora, tal como expliquei na semana passada [3], o ataque do EIIL é coordenado com o do Curdistão afim de cortar o Iraque em três pequenos estados, de acordo com o mapa da remodelagem do «Próximo-Oriente alargado», estabelecido pelo estado-maior norte-americano em 2001, que o exército dos E.U. não conseguiu impôr em 2003, mas que o senador Joe Biden fez adotar pelo Congresso em 2007. [4]
    O Curdistão iniciou as suas exportações de petróleo, de Kirkuk, via oleoduto controlado pelo EIIL. Em poucos dias foi capaz de carregar dois navios-tanques em Ceyhan, fretados pela Palmali Shipping & Agency JSC, a empresa do bilionário turco-azeri Mubariz Gurbanoğlu. Entretanto, depois que o governo de al-Maliki— que não foi ainda derrubado por Washington— emitiu uma nota denunciando este roubo, nenhuma das companhias trabalhando habitualmente no Curdistão (Chevron, Hess, Total) ousou comprar este petróleo.
    Não conseguindo encontrar comprador, o Curdistão declarou-se pronto a vender os seus carregamentos a metade do preço, 57,5 dólares o barril, continuando sempre o seu tráfico. Dois outros navios-tanque estão à carga, sempre com a bênção do EIIL. O facto do tráfico continuar, na ausência de saída, mostra que o Curdistão e o EIIL estão convencidos que conseguirão vender, portanto que o seu tráfico dispõe dos mesmos apoios de Estado: Israel e Arábia Saudita.
    A possível divisão de Iraque em três não deixará de refazer as cartas do petróleo. Diante do êxito do EIIL, todas as companhias petrolíferas reduziram o seu pessoal. Alguns muito mais que os outros: é o caso da BP, da Deutsch Shell (a qual emprega o xeique Moaz al-Khatib, o geólogo ex-presidente da Coligação nacional síria), da Türkiye Petrolleri Anonim Ortakligi (TPAO), e das companhias chinesas (Petrochina, Sinopec e CNOOC).
    Os perdedores são, portanto, os Britânicos, os Turcos e, sobretudo, os chineses que eram, de longe, os primeiros clientes do Iraque. Os vencedores são os Estados Unidos, Israel e a Arábia Saudita.
    Os jogos não têm, pois, nenhuma relação com um combate pelo «verdadeiro Islão».
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    [1] «Fuerzas estadounidenses abordan el tanquero “Morning Glory” en el Mediterráneo » («O Pentágono vistoria o “Morning Glory” no Mediterrâneo»-ndT), Red Voltaire , 18 de marzo de 2014.
    [2] «Irak, las páginas borradas de la historia» («Iraque, as páginas de história apagadas»-ndT), por Manlio Dinucci, Il Manifesto, Red Voltaire , 19 de junio de 2014.
    [3] «Washington relança seu projecto de partição do Iraque», por Thierry Meyssan, Traduction Alva, Al-Watan, Rede Voltaire, 16 de junho de 2014.
    [4] «La balcanización de Irak» («A balcanização do Iraque»-ndT), por Manlio Dinucci, Il Manifesto, Red Voltaire , 18 de junio de 2014.
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    Thierry MeyssanThierry Meyssan Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).
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    sábado, 28 de junho de 2014

    A direita, o fascismo e a vaia contra a Dilma: colhendo o que plantou! ou Quem está fortalecendo a direita no Brasil?



    A direita, o fascismo e a vaia contra a Dilma: colhendo o que plantou! ou Quem está fortalecendo a direita no Brasil?

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    Marcelo Buzetto1
    Será que podemos criticar o governo?
    Nossa pretensão é só levantar alguns problemas para que possamos tentar elaborar uma avaliação mais crítica sobre o que se passou na abertura da Copa da FIFA/grandes empresários. Sabemos que em ano eleitoral algumas pessoas e organizações que se intitulam de “esquerda” proíbem/inibem/menosprezam/desestimulam/secundarizam debates mais ligados à estratégia política revolucionária ou à luta pelo socialismo e se submetem a um taticismo exacerbado, com uma obcessão explícita em ganhar as eleições a qualquer custo, mesmo que para isso ocorrer seja necessário abandonar programas e princípios. Até forças minoritárias anticapitalistas que atuam dentro de organizações nacional-desenvolvimentistas/reformistas/social-democratas/social-liberais, ao fazer a crítica a suas direções, ficam só na retórica e acabam aceitando e capitulando, entrando de corpo e alma na campanha eleitoral mesmo sabendo que os candidatos majoritários não defendem reformas estruturais e muito menos o socialismo.
    Esses setores não-revolucionários tem feito uma pressão intensa contra a esquerda anticapitalista (que é um campo político amplo) que faz críticas ao governo Dilma e à sua postura em relação à Copa da FIFA. Intelectuais reformistas/oportunistas (no sentido leniniano dos termos) gastam tinta e tempo todos os dias nas redes sociais para difamar e caluniar qualquer militante ou movimento que faça uma crítica à Copa da FIFA. Sobrou até para o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), um dos mais legítimos movimentos de luta por moradia existentes no Brasil da atualidade (não é o único). Numa marcha pela moradia da ocupação Copa do Povo, em Itaquera/São Paulo, alguns defensores do governo Dilma se levantaram num só coro e em pânico pela possibilidade do MTST ocupar o “Itaquerão”, ação que nunca havia sido cogitada pelas lideranças do movimento, que tinham em sua marcha até integrantes da torcida Gaviões da Fiel. Esses “espadachins do grande capital” (ou do pequeno e médio capital) a serviço do governo e, indiretamente e voluntariamente, da FIFA, plantam todos os dias notícias eufóricas sobre o clima da Copa em páginas do facebook de movimentos sociais, inundando tais espaços com notícias que exaltam uma campanha de inspiração nacional-fascista-ufanista que tenta demonstrar que cada vez mais “somos todos um só”. Esse ufanismo nacional-desenvolvimentista geralmente cria condições mais favoráveis para o crescimento e avanço do fascismo do que as avaliações críticas contra o governo Dilma e contra a Copa da FIFA.
    Espero que vários militantes de movimentos e organizações anticapitalistas façam e divulguem suas avaliações, principalmente aqueles e aquelas que estão construindo no dia-a-dia das lutas concretas, nas ruas e marchas, a nova vanguarda política e social que continuará a fazer as mobilizações imediatas por melhores condições de vida e trabalho ao mesmo tempo em que debate programa, princípios e estratégia, tratando tudo isso como parte de um único processo: a construção das condições mais favoráveis para o desencadeamento da tão desejada Revolução Brasileira.
    Para os setores não-revolucionários resta só a ironia, o deboche, a desqualificação de qualquer divergência e a calúnia, tentando identificar/associar qualquer crítica ao governo Dilma e à Copa da FIFA a uma atitude “golpista” ou que só “ajuda a direita”. Tais setores estão – conscientes ou não disto – se aproximando e fazendo a política da direita e de pessoas e organizações que também não votam em Dilma, mas toleram a Dilma e seu governo diante de uma ameaça dos movimentos legítimos da classe trabalhadora (MST,MTST, movimento sindical, etc...). É de causar indignação e revolta ver e ouvir gente que se diz socialista ou comunista tratar com ironia ou mesmo apoiar a ação da tropa de choque contra os jovens que protestavam próximo ao Sindicato dos Metroviários de SP no dia da abertura da Copa da FIFA, depois de terem sido cercados/sitiados pela PM dentro do sindicato e atacados mais uma vez, de maneira covarde e extremamente violenta (como sempre tem ocorrido).
    Quem vaiou Dilma?
    Algo previsto se tornou realidade. No dia 12 de junho de 2014, na abertura da Copa da FIFA e dos grandes empresários, a presidenta Dilma foi vaiada e xingada, e de tabela, sobrou também ofensas para o presidente da FIFA, Joseph Blatter. É preocupante a avaliação que setores nacional-desenvolvimentistas/reformistas/social-democratas (N-D, R, S-D) que se autointitulam de “esquerda” tem dado ao fato, pois tentam resumir o fato a uma postura de “uma elite que é contra o PT e contra o governo” (como se não houvesse gente da elite dentro do PT e dentro do governo). Temos que avaliar quais foram as circunstâncias e as condições que favoreceram tal manifestação de setores majoritariamente burgueses presentes no interior do Estádio em Itaquera-São Paulo? E também precisamos identificar quem foram os responsáveis para facilitar o acesso desses setores elitistas/burgueses tradicionalmente racistas e com inclinações fascistas à Copa da FIFA? Quais as condições e quem foram os responsáveis? Poderia ter sido diferente?
    Com o preço cobrado pelos ingressos, e com a política da FIFA de colocar à venda somente 45% dos mesmos, distribuindo o restante para as empresas patrocinadoras da Copa, o que vimos foi uma plateia branca e burguesa, portanto, conservadora e com tendências fascistas. A classe média/classe média alta/pequena/média burguesia e representantes do grande capital foram e serão o público majoritário nas arquibancadas, gerais e camarotes da Copa da FIFA. Com um público deste, uma pesquisa eleitoral nas portas do “Itaquerão” poderia dar vitória no primeiro turno para o Aécio Neves (PSDB), sem dúvida o candidato dos setores mais reacionários da política nacional.
    O que queremos dizer com tudo isto é que foi o próprio governo Dilma que aceitou e se submeteu às condições impostas pela FIFA, e aproveitou o momento para garantir lucros exorbitantes para as grandes empresas que vão financiar a campanha presidencial e de seus candidatos aos governos estaduais, além dos deputados e senadores. Ao manter o preço elevado, e fazer concessões inadmissíveis à direção da FIFA, o governo criou as contradições que se revelaram em diversos momentos da cerimônia de abertura da Copa. Portanto, colheu no dia 12 o que plantou nos últimos meses. O governo Dilma ajudou a colocar os fascistas-burgueses/burgueses-fascistas para dentro dos estádios. E esse é um fato inquestionável. Onde estava a base social que ajudou a eleger Dilma? Fora dos estádios, em casa, nos bares ou contemplando o prêmio de consolação dado por algumas prefeituras, que contrataram em regime de urgência empresas privadas para instalar telões em praça pública (ou ajudaram a patrocinar as festas da FIFA). Ou seja, a classe trabalhadora e as massas populares que elegeram Lula e Dilma ficarão para fora dos estádios. Estão excluídos da Copa da FIFA.
    O povo brasileiro ficou do lado de fora, mas mesmo excluído torceu pela vitória
    Não haviam negros ou indígenas/povos originários, nem sem terra, nem sem tetos, nem quilombolas, nem ribeirinhos ou atingidos por barragens, nem trabalhadores assalariados de setores mais pobres e/ou populares da nação. Uma arquibancada elitista, mas de uma elite que ganhou de presente do governo a Copa. A Copa das Elites não poderia permitir a entrada de setores proletários-populares, que só pisaram no estádio para limpar os banheiros, recolher o lixo e realizar tarefas que pudessem tornar mais agradável a vida das elites presentes. E quem foi cúmplice e aliado da FIFA neste processo de exclusão? O governo Dilma, com destaque para o Ministério dos Esportes, do membro da bancada ruralista de São Paulo, deputado Aldo Rebelo.
    Quando entraram as crianças fazendo embaixadinhas com as bolas, só uma única menina. Pergunta: num Brasil com tantas meninas jogando bola, com uma seleção feminina campeã mundial, será que não era possível ter mais meninas com a bola nos pés? Se o governo de uma presidenta não aproveita momentos como este para criar espaços para projetar as mulheres dentro do futebol, quando as meninas da seleção feminina vão ter, de fato, o apoio e o estímulo necessário para praticarem esse belo esporte em condições mais dignas? Pisou na bola Dilma. Depois não sabe por que cresce a violência contra as mulheres e o machismo no Brasil. Nos campinhos de terra e grama ou nas quadras de cimento ou grama sintética do Brasil são milhares as mulheres jogando bola. Só o governo que não vê.
    Num Brasil com tanta qualidade musical, com tantos artistas verdadeiramente populares e comprometidos com a difusão de uma cultura nacional-popular, a Copa da FIFA no Brasil impõe que três contratados pelas empresas patrocinadoras da Copa cantem na abertura, e o pior é que nem cantaram, pois tudo já estava gravado previamente e as vozes se confundiram numa medíocre apresentação marcada pela farsa. O governo não lutou contra a FIFA para cavar espaços para tornar a abertura da Copa mais popular e mais brasileira. Submissão total e absoluta à FIFA e às grandes empresas, pois são as mesmas que vão financiar a campanha da reeleição.
    Mais repressão e violência contra a esquerda e os movimentos da classe trabalhadora
    Uma crescente onda de criminalização do protesto social toma conta do Brasil. Todos os indivíduos e organizações que estão lutando por transformações sociais estão sentindo a violenta perseguição e repressão do poder judiciário, das polícias militar, civil, federal e Força Nacional de Segurança que, aliados com os governos municipais, estaduais e federal e a mídia empresarial-burguesa, atacam todos os dias os que fazem greves, marchas, ocupações, mobilizações. A crescente violência policial contra as manifestações também é praticada contra todos os pobres do campo e da cidade, principalmente contra a juventude pobre e negra dos bairros da periferia. Policiais matam milhares de jovem dessas comunidades todos os anos. No Rio de Janeiro, em dez anos de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), um projeto do governo Lula inspirado na Colômbia (o país mais antidemocrático da América do Sul, com 7 mil presos políticos), o resultado foram mais de 10 mil mortes de moradores das comunidades onde existem UPPs. A Polícia Militar nos estados vem adquirindo mais força e influência no interior dos governos, recebem apoio estrutural e financeiro, mesmo quando existem nos estados escolas sem carteiras para os estudantes ou hospitais públicos estaduais sem remédios ou equipamentos fundamentais. Não falta dinheiro para as PMs. O maior volume de recursos que os governos destinam à Segurança Pública é aplicado nas PMs, fato que só fortalece a militarização deste setor. As PMs são instituições conservadoras, decadentes e reacionárias, que mereciam já ter desaparecido se o Brasil estivesse num regime verdadeiramente democrático. Para a maioria dos governos no Brasil, nas três esferas, lutas sociais se resolve com polícia e repressão. Militantes são perseguidos, presos, processados, condenados, associados com o crime organizado, como fizeram agora setores da mídia e dos governos estadual de São Paulo e federal, lançando comentários sobre a possibilidade de relação entre os Black Blocs e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A militarização de diversas esferas da vida social está em pleno desenvolvimento no Brasil. As PMs são uma força maior e mais poderosa do que as próprias Forças Armadas. Nada, nem ninguém, está conseguindo conter a repressão policial e controlar as operações da polícia. Os casos da repressão em São Paulo e Rio de Janeiro merecem um estudo mais aprofundado. As PMs estão em permanente treinamento de combate contra uma possível situação de rebelião popular, pouco se importando com a garantia da Segurança Pública. Mobilizam mais efetivos para um despejo de sem terra ou sem teto, ou para uma manifestação contra a Copa do que em uma operação contra organizações consideradas criminosas ou no combate ao narcotráfico.
    Também as Forças Armadas estão participando de maneira ativa e organizada na repressão às lutas sociais. Os Batalhões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) são tropas de choque para conter “distúrbios civis”, ou seja, mobilizações sociais. Essa é a função do Exército? E ganhou força no interior do Exército e da Marinha uma linha de pensamento que pretende alterar a Constituição para que as Forças Armadas possam ter poder de polícia e atuar na Segurança Pública, o que já é uma realidade nas ocupações de morros e comunidades no Rio de Janeiro e outros estados, nas operações realizadas no Haiti (ocupação de bairros da periferia, repressão às mobilizações sociais, prisões de lideranças populares, etc) e nas operações conjuntas com PM durante grandes eventos como Olimpíadas e Copa. As Forças Armadas seguem sendo um espaço privilegiado de reprodução da ideologia da classe dominante em seus aspectos mais conservadores e reacionários. Qualquer soldado que manifeste publicamente simpatia por ideias progressistas e/ou de esquerda pode ainda, em muitos quartéis, receber algum tipo de punição. Esse conservadorismo e postura antidemocrática e antipopular no interior das Forças Armadas se desenvolve de diversas maneiras.
    Por exemplo, em 2004, quando se completou 40 anos do golpe, a Revista do Exército Brasileiro, publicada pela Editora Biblioteca do Exército (Bibliex), fez uma edição especial, homenageando em sua capa e com textos o General Castelo Branco, nada menos que um dos atores principais no golpe de 64. Essa editora publica também a Revista Defesa Nacional, e uma grande quantidade de livros que servem de bibliografia básica na formação de oficiais das Forças Armadas. Basta qualquer membro dos governos Lula e Dilma visitarem as bibliotecas das escolas de formação da Marinha, Exército e Força Aérea para ver o que se está ensinando nas escolas militares. Vejam o plano de ensino dos professores e sua bibliografia. Desde 2004, ou seja, durante o próprio governo Lula, até hoje, uma série de livros da Bibliex estão fazendo o que eles próprios chamam de “revisão” da história do Brasil, contando a mesma na perspectiva dos golpistas de 1954, 1955, 1961, 1964. E essas revistas e essa editora Bibliex são mantidas com dinheiro público, pois são ligadas ao Exército brasileiro. Então quem é que está fortalecendo a direita no Brasil? Quem luta contra a Copa da FIFA? Em 2009 estivemos com outros brasileiros em Honduras, para nos juntarmos ao povo na luta contra o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya. Qual não foi a nossa surpresa que o governo golpista daquele país fez uma homenagem a um tenente-coronel do exército brasileiro que estava lá dando aulas na escola de formação de oficiais do exército de Honduras, fruto de um convênio entre os dois países. Na semana em que o presidente Lula condenava energicamente o golpe esse oficial do seu exército, cujo comandante-mor é o presidente da República, aparecia na televisão de Honduras e escrevia na internet textos de elogio aos golpistas e críticas a Manuel Zelaya. O que aconteceu com este tenente-coronel? Nada. Então, companheiros e companheiras, quem está, nos últimos anos, fazendo o jogo da direita?????
    Uma última sobre a BIBLIEX. Ela publicou uma coleção de 14 livros com o título “1964: 31 de Março – História Oral do Exército”. Este é o título que está na capa, mas quando abrimos na primeira página vem um subtítulo assim “O Movimento Revolucionário e sua história”. Na orelha do Tomo I está escrito: “Na manhã do dia 31 de março de 1964, ocorreu a deflagração de um Movimento Revolucionário que trouxe imenso alívio à Nação Brasileira, antes ameaçada por um golpe de inspiração comunista, em avançado estado de preparação”. Esses 14 livros vem sendo usados, desde 2003, quando foram publicados, nas escolas militares de todo o Brasil. Eles trazem entrevistas, textos e documentos fundamentais para entender o pensamento conservador-reacionário-golpista. Fazem exaltação e elogios aos golpistas de 31 de março. Rendem homenagens aos ditadores e a governos que praticaram a tortura, o assassinato, o sequestro e o desaparecimento de cadáveres, como se comprova através do trabalho das várias Comissões da Verdade existentes hoje no Brasil. Todas as entrevistas são com participantes ativos do golpe e simpatizantes. Tudo financiado com recurso público, seja a produção, seja a divulgação da obra. E tudo isso durante os governos Lula e Dilma. Outros livros “interessantes” dessa Editora enaltecem comandantes militares nazistas e as batalhas vencidas na Espanha pelos fascistas do General Franco. Como é possível num governo considerado democrático o dinheiro público financiar a publicação de textos que são um instrumento de propaganda conservadora e golpista. Tem livros elogiando a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e as ações dos governos dos EUA e da Colômbia na repressão contra as “narcoguerrilhas de esquerda”. Ainda assim, alguns insistem em afirmar que os Black Blocs e outros grupos e movimentos é que fazem o jogo da direita.
    Não é só pelo dinheiro público gasto que somos contra a Copa da FIFA, nossa crítica é porque esta iniciativa está fortalecendo a burguesia e os setores fascistas de dentro e de fora do (s) Estado/Governos
    Setores mais conservadores estão se reagrupando/reorganizando, pois temem que o país possa viver por muitos anos uma situação onde na política predomine ou a hegemonia de uma esquerda reformista/nacional-desenvolvimentista/social-democrata ou ideias de uma esquerda anticapitalista, que hoje não está na direção de amplos setores da classe trabalhadora mas que pode acumular forças nessa direção nos próximos anos.
    A Copa se transformou num momento propício para que setores reacionários estimulem/provoquem conflitos entre as distintas organizações da esquerda brasileira, seja a reformista, seja a anticapitalista, pois assim podem encontrar espaços favoráveis para a difusão de alternativas conservadoras. Mas quem mais criou condições para o avanço de posições conservadoras na política nacional foi o próprio governo federal, com suas alianças em nível nacional e nos estados e municípios, sem falar do dinheiro que o mesmo gasta para sustentar o Partido da Imprensa Golpista (PIG), pois nas páginas de Veja, Época, Estadão e Folha estão propagandas de página inteira da Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Ministério da Educação, etc. A Veja cedeu, em junho de 2013, em plena mobilização pelo passe livre, até as suas páginas amarelas para o Ministro da Comunicação atacar os “xiitas do PT” (segundo ele) que querem a democratização dos meios de comunicação. A Rede Globo de Comunicação, que muitos apoiadores do governo Dilma chamam de antidemocrática e golpista, é financiada pelo próprio governo federal, que paga para inserir propaganda da Petrobrás no intervalo dos jogos da Copa da FIFA. Quanto custa uma inserção de propaganda neste horário na Globo? Certamente a presidenta da Petrobrás deve saber o valor.
    Não precisamos aqui falar dos quantos banqueiros e grandes empresários que foram beneficiados com as obras da Copa, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida, etc. Em vez de criar empresas públicas para a realização de tais obras, com custo menor e maior atendimento das demandas sociais, em vez de estatizar os setores fundamentais da economia como o cimento (que segue sob o controle de monopólio) e outros, para ter controle sobre as matérias-primas e o processo de produção, fortalecendo assim a capacidade de controle e gestão do governo sobre as iniciativas econômicas e os projetos relacionados à infraestrutura, a opção foi a entrega desses setores ao grande capital nacional e estrangeiro.
    As grandes construtoras lucram bilhões, e contratam/subcontratam empresas menores, que aplicam a terceirização/quarteirização, violam os direitos trabalhistas e não se preocupam em garantir um trabalho decente, mantendo níveis absurdos de precarização do trabalho e desrespeito à legislação trabalhista, que são as causas das mortes de operários nas obras do PAC e da Copa. Mas nem os crescentes acidentes de trabalho ou mortes no trabalho sensibilizaram o governo federal. Os operários mortos foram escondidos durante a cerimônia de abertura da Copa. Nenhuma referência. Nenhuma homenagem. Já esperávamos por isso.
    Vamos às ruas garantir nosso direito à manifestação, nosso direito de criticar a Copa nas condições em que a mesma está sendo realizada
    Vivemos um novo ciclo de lutas políticas e sociais no Brasil. Abriu-se um novo período de mobilizações. Quem não perceber esta nova situação perderá, mais uma vez, o bonde da história. Uma nova vanguarda política e social está nascendo das lutas pelo passe livre, contra o genocídio da população pobre-negra das periferias, das lutas em solidariedade aos povos indígenas/originários, das mobilizações dos sem teto, pela desmilitarização das polícias, por um transporte público de qualidade, por educação e saúde, etc... São lutas cotidianas, muitas vezes iniciadas de maneira desordenada/desorganizada, mas que vão tomando forma e conteúdo à medida que vão amadurecendo, adquirindo experiência organizativa e forjando novos militantes para as lutas futuras. Muitos jovens militantes foram para as ruas desde junho de 2013. Muitos continuam nas ruas. A intensa repressão afastou das ruas um setor mais inexperiente, menos consciente e menos convicto da possibilidade de vitória. São muitos os presos e processados da jornada de junho. Muitos torturados, homens e mulheres. As PMs de todo o Brasil se tornaram uma força política-militar de combate de inspiração plenamente fascista e são hoje a maior ameaça à democratização do país. E o Ministro da Justiça do governo Dilma, que ofereceu ajuda para o governador de São Paulo reprimir o MPL e as lutas em junho de 2013, em junho de 2014 ofereceu ajuda para Alckimin reprimir a greve dos Metroviários de São Paulo. Com um Ministro que acha que insatisfação social se resolve com mais polícia na rua podemos esperar o que?
    Quer quiser apoiar e votar na Dilma fique à vontade, mas não se engane quanto a quem é o principal inimigo das forças progressistas, populares e de esquerda (das mais diversas matizes). Não são os sem teto, os sem terra, os metroviários, os indígenas, os quilombolas, os garis, os condutores, os jovens que lutam contra a Copa da FIFA, os Black Blocs ou qualquer grupo que luta nas ruas contra a polícia e as injustiças sociais. Os inimigos do povo estão nos parlamentos (onde são maioria), no judiciário, na mídia e dentro dos próprios governos, inclusive do governo federal. Estão na presidência do Senado e da Câmara Federal, nas Assembléias Legislativas e governos estaduais e municipais.
    As reformas estruturais que queremos serão arrancadas da classe dominante pela luta de massas, nas ruas, marchas, nos campos e favelas/comunidades, e serão resultado da unidade da população das periferias com as organizações populares e de esquerda (da esquerda anticapitalista), e com os pobres das áreas rurais. Essa tentativa de aliança das massas populares da cidade e do campo, encontro promovido por organizações anticapitalistas, deve ser o centro de nossas atenções para o próximo período. Unir a classe trabalhadora na luta por transformações sociais, essa é nossa tarefa, mesmo em condições de dura repressão e perseguição, pois é o que nos espera. As ruas de hoje se tornaram uma intensa escola de formação política e de quadros, com militantes que não ficam esperando a “ordem” ou o “comando” de seus “dirigentes” para enfrentar nas ruas os representantes do capital. São jovens que tem coragem, tem iniciativa, tem ousadia, qualidades que não mais encontramos em muitos dirigentes burocráticos e reformistas que se perpetuam em posições importantes de inúmeros movimentos da classe trabalhadora. Esses jovens que são criticados até por alguns militantes/dirigentes de “esquerda” foram os que tiveram a belíssima iniciativa de organizar em março deste ano a Marcha Antifascista, que ocorreu em todas as capitais do país para repudiar o golpe empresarial-militar de 31 de março de 1964. Na convocatória da Marcha um apelo à unidade antifascista, pedindo para que “comunistas, anarquistas, libertários, trotsquistas, sindicalistas, movimentos populares”, etc, fizessem um ato contra setores reacionários e golpistas que tentaram reeditar (mas fracassaram) as Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Esses são os jovens que lutam contra a Copa da FIFA, e que num momento tão importante como foi o mês de março, não se esqueceram de homenagear quem perdeu a vida e a liberdade para que hoje pudéssemos estar aqui, continuando a batalha pelo socialismo. Só coragem, ousadia, criatividade e iniciativa são insuficientes para uma vitória da classe trabalhadora. É preciso também organização, unidade, mobilização permanente, etc.
    E não falamos aqui das reformas estruturais não realizadas, o abandono da reforma agrária, o não cumprimento do Estatuto das Cidades e a não realização da reforma urbana, o apoio e a cumplicidade do governo federal e governos estaduais para com os grandes empresários do ensino privado, que não pagam impostos e recebem milhões do governo federal oferecendo cursos de baixa qualidade e péssimas condições de trabalho aos docentes, os problemas concretos nas áreas de educação, saúde e transporte, a manutenção de inúmeros privilégios para a burocracia governamental que está em cargos indicados pelo governo e seus aliados, a manutenção de posturas e relações promíscuas entre membros dos governos e empresas privadas, etc...
    Quem quer construir uma nova sociedade tem que evitar o reformismo e o sectarismo. O momento eleitoral não pode nos desviar das questões fundamentais da luta de classes. Para a esquerda anticapitalista só importa a luta eleitoral se a mesma estiver subordinada a uma estratégia política revolucionária, e se for possível aproveitar o momento das eleições para elevar o nível de consciência política das massas,organizar lutas concretas, formar novos militantes e debater um programa de transformações para o país que esteja em sintonia com as condições objetivas e subjetivas.
    Para os partidos que viraram máquinas eleitorais financiadas por grandes e médios empresários a batalha principal não está nas ruas, está nas urnas, pois vivem de dinheiro, propaganda/mídia e alianças espúrias com os inimigos do povo, para assegurar uma vitória à qualquer custo. Para estes fica a pergunta: quem está mesmo fortalecendo ou fazendo o jogo da direita??????
    a capacidade de e as mate monto das demandas sociais, em vez de estatizar os setores fundamentais da econo
    1 - Marcelo Buzetto é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP e Coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM) do Centro Universitário Fundação Santo André/SP. Junho/2014.
    Fonte:PCB
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