Livro branco reconhece racismo de Estado
A Suécia xenófoba
O
governo sueco apresentou, dia 25, um livro branco em que reconhece a
política de discriminação da comunidade cigana como «o lado negro
desconhecido da história» do país.
Elogiada
por muitos como o mais democrático e tolerante dos regimes
democráticos, afinal a Suécia também escondia cadáveres na cave: um
passado de racismo e de violência que vem a público agora.
«Temos
uma herança de preconceito, e as correntes racistas e xenófobas,
particularmente fortes na primeira metade do século XX, continuam a
existir hoje na sociedade sueca», afirmou o ministro da Integração, Erik
Ullenhag.
O
ministro, responsável pelo livro branco, revelou que a política
segregacionista remonta ao início do século passado, altura em que
documentos do governo descreviam os ciganos como «socialmente inúteis» e
como tal deviam ser aniquilados.
O livro branco demonstra que ao longo do século XX as autoridades suecas esterilizaram, perseguiram, retiraram a custódia de crianças e proibiram os ciganos de entrar no país.
Hoje
é o próprio governo a admitir que «a situação em que vivem os ciganos
se deve à discriminação histórica a que foram submetidos».
Esse
passado de impunidade e racismo de Estado foi qualificado por Ullenhag
como «um período negro e vergonhoso da história da Suécia».
Tudo
começou no início do século passado com o recenseamento da população
cigana, efectuado por organismos oficiais como o Instituto de Biologia
Racial ou a Comissão de Saúde e Bem-Estar. Os ciganos foram definidos
como «indesejáveis» e um «peso» para a sociedade.
Entre
1934 e 1974, o Estado prescreveu a esterilização às mulheres ciganas,
em nome do «interesse das políticas demográficas». Uma em cada quatro
mulheres ciganas foi sujeita a este tratamento, segundo estima o
Ministério da Integração.
Mesmo
assim, o Estado não hesitava em retirar a custódia das crianças às
famílias, prática que, de acordo com a assessora política do Ministério,
Sophia Metelius, era «sistemática».
O
governo de Estocolmo admite ainda que proibiu a entrada de ciganos no
seu território até 1964, incluindo durante o período da expansão nazi,
quando mais de 600 mil indivíduos desta etnia foram exterminados pelos
hitlerianos.
Tal
como sucede na França actual, as autoridades suecas impediam as
comunidades ciganas de se fixar de forma permanente, segregando as
crianças em salas de aula separadas e negando-lhe acesso aos serviços
sociais.
Calcula-se
que residam actualmente na Suécia cerca de 50 mil ciganos, numa
população que ronda os nove milhões de habitantes. Mais do que a
novidade das relevações, há muito denunciadas pela comunidade cigana,
surpreende a iniciativa do governo de centro-direita de compilá-las e
divulgá-las.
A
razão está relacionada com o tema: a extrema-direita está a subir nas
sondagens, tendo já perto de dez por cento das intenções de voto. Para o
governo sueco é hora de combater as mensagens xenófobas, e a história
pode dar um valioso contributo.
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