terça-feira, 18 de março de 2014

Venezuela: polícia confisca coquetéis molotov de golpistas

Após protestos violentos, polícia confisca coquetéis molotov em cidade da Venezuela

Operação mobilizou cerca de mil efetivos da Guarda Nacional Bolivariana em Chacao, no Distrito Metropolitano de Caracas

Centro de barricadas, violência e depredação de edifícios nos últimos dias, o município de Chacao, no leste do Distrito Metropolitano de Caracas, registra a presença de forças de segurança desde a madrugada desta segunda-feira (17/03). Foram confiscados objetos, como coquetéis molotov, arames, máscaras, pregos e garrafas com óleo.
Eles estavam expostos na parte sul da praça Altamira, emblemático ponto de protestos opositores, e eram observados por curiosos. Muitos desses itens foram utilizados nas últimas semanas, quando protestos explodiram em alguns municípios venezuelanos. Além disso, houve detenções e, segundo relato, revistas de bolsas e mochilas de transeuntes.
Luciana Taddeo/Opera Mundi

Forças policias encontraram coquetéis molotov em praça e os expuseram

“Estamos resgatando este espaço que permaneceu sequestrado durante aproximadamente 22 dias, quando ninguém podia circular aqui”, explicou a Opera Mundi o general Edgardo Zuleta Rausseo. A operação, denominada “Altamira 2014”, mobilizou cerca de mil efetivos da Guarda Nacional Bolivariana e de forças policiais no município. “A finalidade é trazer novamente a paz a este setor da cidade”, esclareceu.
A Praça Altamira vinha sendo ponto de barricadas nas ruas tanto de dia, como de noite, quando a situação se agravava: manifestantes com rosto coberto incendiavam lixo e objetos, lançavam coquetéis e pedras contra policiais, que respondiam com bombas de gás lacrimogêneo e “perdigones”, uma espécie de bala de plástico.
Ultimato
No último fim de semana, durante uma marcha de militares e civis em apoio ao governo, o presidente Nicolás Maduro deu um ultimato para que os manifestantes violentos saíssem da praça e da avenida Francisco de Miranda, na altura do município. “Se não se retiram, vou liberar esses espaços com a força pública”, disse o chefe de Estado.
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O prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, escreveu no Twitter que o governo informou à prefeitura que a mobilização policial não é de ordem pública, mas para a segurança cidadã e que “não há restrição de garantias constitucionais, nem ao livre trânsito, nem ao direito ao protesto”. Opositor, o prefeito relata diariamente a situação na região, como a intoxicação de moradores pela grande quantidade de gás lacrimogêneo.
Na noite de domingo (16/03), o político postou um vídeo no qual um detido é agredido com um capacete por policiais em Altamira, durante o dia. Mais tarde, informou que às 22h30 não havia nem forças nacionais de segurança nem manifestantes no município. “Tensa ‘calma’. Ruas em péssimo estado, como se tivesse passado um furacão”, escreveu.
Luciana Taddeo/Opera Mundi

Guarda Nacional Bolivariana também efetuou prisões na praça Altamira

Provocação
Para a arquiteta Fabiana Colmenares, de 35 anos, que estava durante a tarde de hoje na praça, a presença dos policiais na praça é uma “provocação”. “Estamos há semanas protestando, e o governo não responde. Para mim, é uma demonstração de que eles têm o poder, o que ditadura faz. Mas nós somos maioria”, disse, carregando um cartaz no qual pedia apoio da GNB aos manifestantes.
A rotina de enfrentamentos entre manifestantes e policiais, assim como os bloqueios de ruas, se tornou um problema para pessoas que moram ou trabalham nas redondezas. Durante a tarde de hoje, em uma das esquinas da praça, em um ponto de “mototáxi”, um motoqueiro e um empresário conversavam sobre a operação. Ambos disseram ser opositores e apoiar a presença policial no local, mas preferiram não se identificar.
“Acho ótimo”, expressou o motoqueiro sobre a presença policial, contando que nas últimas semanas não conseguiu trabalhar. O empresário que tem uma clínica nas proximidades da praça disse que as mais de 50 consultas diárias que esta costumava fazer caíram para cerca de 20. O fechamento do metrô em quase todos os dias de manifestações também era motivo de queixas. Segundo o governo, a medida se dá após ataques a funcionários de transporte público.
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Há duas semanas, camareiras de um hotel driblavam o lixo das barricadas para chegar à estação mais próxima que estivesse aberta. Parte do grupo se queixava pelas dificuldades de chegar e sair do trabalho, enquanto outra defendia os manifestantes. Edifícios nas redondezas também foram atacados por manifestantes nos últimos dias, como o ministério de habitação e um de escritórios privados.
Com a presença policial na praça nesta segunda, apoiadores do governo se dirigiram à região para manifestar apoio à operação e rejeição aos manifestantes que fazem barricadas. Alguns foram munidos de vassouras e pás para colaborar com a limpeza do local. É o caso de Marian de Carrillo, de 48 anos, que diz ter vindo de Cátia com um grupo de 30 pessoas. “Viemos recuperar essa praça, para que seja uma zona de paz. Ali estão os litros de óleo, gasolina, coquetéis molotov, todo o arsenal para incendiar o país”, criticou, apontando para o local em que objetos usados por manifestantes estavam expostos.
Luciana Taddeo/Opera Mundi

Objetos apreendidos pelas forças de segurança foram expostos na praça

Discussão
A presença de chavistas no local, no entanto, resultou em discussões aos gritos com opositores. “Isso é uma ditadura!”, disse uma mulher, queixando-se da repressão aos manifestantes. “Ditadura em que todos podemos falar, filmar...”, disse com um sorriso irônico um apoiador do governo. “Nós comemos sancocho [espécie de sopa com carne e diversos legumes]”, expressou, afirmando vir de uma comunidade popular. “Só se for sancocho de sapato!”, disse outra das opositoras, sobre a falta de alguns alimentos em supermercados.
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As discussões, no entanto, não passaram a agressões físicas. “Já tiramos aqueles rapazes daqui, pedimos que baixem o nível de enfrentamento”, disse um oficial a um publicitário de 30 anos, que dava entrevista a Opera Mundi. “Tá bom, termino minha declaração e saio daqui”, respondeu o opositor. “Não, este espaço é de todos nós, é seu também, fique onde quiser”, afirmou o guarda.
Na manhã de hoje, a ministra da Defesa, Carmen Meléndez, elogiou a operação para o “reestabelecimento da paz” em Chacao. “Missão cumprida, rapazes”, escreveu aos efetivos de segurança em seu Twitter. A ministra lamentou, no entanto, a morte de mais um efetivo da GNB, no estado de Aragua. “A violência deve terminar em todo o território nacional, por todos os venezuelanos, sem exclusão”, expressou.
      F: Opera Mundi
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