domingo, 16 de fevereiro de 2014

Os enormes desafios da Frelimo e do PAIGC*


Carlos Lopes Pereira
16.Fev.14 :: Colaboradores
Carlos Lopes PereiraA Frelimo e o PAIGC, partidos que conduziram as vitoriosas lutas de libertação nacional em Moçambique e na Guiné-Bissau, travam hoje batalhas decisivas para o seu futuro em condições mais difíceis do que em qualquer situação anterior desde as independências respectivas. Em Moçambique os resultados das eleições autárquicas de 2013, os indícios de divisões internas na Frelimo e o regresso dos ataques armados da Renamo definem os traços mais preocupantes de uma situação que tem evoluído negativamente. Na Guiné-Bissau o PAIGC elegeu uma nova liderança que terá um pesado encargo pela frente: o de derrotar a ditadura instalada pela corrupta hierarquia militar e conseguir que o seu país regresse ao caminho da democracia, do desenvolvimento e do progresso.

A Frelimo em Moçambique e o PAIGC na Guiné-Bissau, partidos que conduziram as vitoriosas lutas de libertação nacional naqueles países, travam hoje batalhas decisivas para o seu futuro.
Na pátria de Eduardo Mondlane e Samora Machel, a Frelimo, no poder desde a independência em 1975, dá sinais de divisões internas e de perda de apoio popular a poucos meses das eleições presidenciais e legislativas de 15 de Outubro.
O presidente do partido e da república, Armando Guebuza, não se pode recandidatar, por imperativo constitucional. Assim, o secretário-geral da Frelimo, Filipe Paunde, anunciou que o candidato presidencial será um de três dirigentes propostos pela comissão política – Alberto Vaquina, médico, primeiro-ministro; José Pacheco, agrónomo, ministro da Agricultura; e Filipe Nyusse, engenheiro, ministro da Defesa.
Esta lista de pré-candidatos foi, contudo, contestada por alguns destacados dirigentes do partido, que entendem caber ao comité central – que deverá reunir-se no final deste mês – a decisão sobre a escolha do candidato.
A imprensa moçambicana tem avançado com vários nomes de possíveis «presidenciáveis», para além de Vaquina, Pacheco e Nyusse, todos eles na casa dos 50 anos e naturais do Norte e do Centro de Moçambique, ao contrário dos anteriores líderes do país (Machel, Joaquim Chissano e Guebuza), homens do Sul.
Ao mesmo tempo que procura ultrapassar estas divergências no seu seio, a Frelimo tenta chegar a um entendimento com Afonso Dhlakama e a Renamo, o maior partido da oposição parlamentar, no sentido dessa força cessar os ataques armados que leva a cabo sobretudo na província de Sofala.
Enquanto avançam em Maputo conversações entre as duas partes – a Renamo exige a recomposição dos órgãos eleitorais, a «despartidarização» do Estado e uma maior participação nos lucros dos grandes negócios, em especial a exploração do carvão e do gás natural –, têm surgido notícias contraditórias sobre movimentações militares na serra da Gorongosa, onde se admite estar escondido, desde há meses, o próprio Dhlakama.
Um mau indicador para a Frelimo são também os resultados das eleições autárquicas de Novembro de 2013. Embora vitorioso na maioria dos 53 municípios, o partido no poder viu o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) crescer e conquistar três capitais de distrito – Beira, Quelimane e Nampula. No Gurué (Zambézia), onde no fim-de-semana passado o escrutínio foi repetido, por comprovadas «irregularidades graves» na eleição anterior, o MDM obteve agora confortável vantagem.
O seu líder, Daviz Simango, autarca da Beira, será quase de certeza candidato à presidência da República, em Outubro, disputando a liderança do país contra os eleitos da Renamo (Dhlakama, provavelmente) e da Frelimo, ainda por escolher.
Neste cenário, é tempo de a Frelimo unir fileiras, escolher um candidato credível e convencer a maioria do povo de que ela pode garantir a paz e a unidade nacional e continuar a luta pelo desenvolvimento e pela emancipação social dos moçambicanos.
PAIGC com nova liderança
Um outro país africano, a Guiné-Bissau, vive tempos difíceis, ainda que haja perspectivas de mudanças a curto prazo.
O PAIGC, o partido da independência, acaba de realizar o 8.º Congresso, ultrapassar divisões e escolher uma nova liderança. Em Cacheu, 1200 delegados elegeram um novo presidente, Domingos Simões Pereira, que substitui Carlos Gomes Júnior, forçado ao exílio depois do golpe de estado militar de 12 de Abril de 2012.
Engenheiro formado na então União Soviética, com um mestrado nos Estados Unidos e a concluir um doutoramento em Portugal, Domingos Pereira, de 50 anos, foi ministro em governos guineenses e, até há pouco tempo, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Eleito com amplo apoio dos combatentes da luta de libertação nacional, apostou no veterano Carlos Correia, com larga experiência partidária e governativa, para 1.º vice-presidente do PAIGC. Uma destacada militante, Hadja Satu Camará, e um jovem quadro, Baciro Dja, são os outros vice-presidentes.
Constituindo uma boa notícia a escolha democrática desta liderança séria à frente do maior partido guineense, são enormes os desafios que o PAIGC terá de vencer.
Desde logo, ganhar as eleições presidenciais e legislativas, a realizar sob a égide das Nações Unidas, em Abril próximo. Depois, reformar as forças armadas, afastando os chefes militares corruptos que mantêm o país refém de uma retrógrada ditadura. E, enfim, construir a democracia e o desenvolvimento numa Guiné-Bissau cujo povo anseia retomar o seu futuro nas próprias mãos.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2098, 13.02.2014
Anterior Proxima Inicio

0 comentários:

Postar um comentário