O Cometa C/2012 S1 (ISON) em imagens da sonda STEREO (Ahead) da NASA.
Crédito: NRL/NASA
Crédito: NRL/NASA
Se há
uma coisa que sabemos sobre os cometas, é que o seu comportamento é
muito difícil de prever. Os cometas conseguem sempre surpreender-nos, às
vezes para nossa desilusão. Parece
que o Cometa ISON, ou a maior parte dele, não vai sobreviver o seu
encontro com o Sol, depois de passar a aproximadamente 1,2 milhões de
quilómetros da sua superfície ardente. Esta distância pode parecer
imensa, mas é perto o suficiente para submeter o cometa a temperaturas
que rondam os 2700 graus Celsius. Pode parecer improvável que sobreviva a
uma passagem tão próxima com o Sol, mas outros cometas rasantes já o
conseguiram no passado, até mesmo com periélios mais íntimos.
Por isso, algumas pessoas tinham esperanças que o ISON desafiasse a morte e emergisse intacto. Mesmo
assim, o ISON não nos deixa sem um mistério final. Pouco depois de
alcançar o seu ponto mais próximo do Sol, não apareciam sinais de
"vida". Os media e as redes sociais lamentavam a perda e assumiam que
tinha sido destruído. Mas
pouco tempo depois surgiram novas imagens que apontavam para algo que
aparecia no outro lado do Sol. Seria o Cometa ISON, mas mais pequeno, ou
apenas uma versão fantasmagórica do que tinha sido? Nem mesmo os
especialistas cometários têm ainda a certeza.
A imagem mostra que o
que quer que apareceu depois do periélio tinha material suficiente para
produzir uma cauda, que começou a desvanecer com a maior distância ao
Sol. A fim de
poderem saber mais, os cientistas precisam de mais dados - que ainda não
têm. Só quando o objecto se afastar mais do Sol é que os equipamentos
podem recolhê-los e obter respostas definitivas. O que pode ser dito com
certeza é que, seja qual for o tamanho do núcleo remanescente (se é que
ainda existe), será muito mais pequeno do que era há algumas semanas
atrás, quando era visível com binóculos a partir da Terra.
O Cometa ISON foi
apelidado de Cometa do Século. Quando foi detectado pela primeira vez em
Setembro de 2012, alguns cientistas acreditavam que tinha potencial
para brilhar mais do que a Lua. Não alcançou esse nível, mas certamente
deu um bom espectáculo na sua viagem a partir da nuvem de Oort, uma
região de corpos gelados situada a quase um ano-luz do Sol. O ISON
orbitou na nuvem de Oort durante 4,6 mil milhões de anos. Nas últimas semanas, o ISON libertou vários níveis de poeira e gelo do seu núcleo.
À medida que se
aproximava do Sol, a produção de poeira parecia, por vezes, desligar-se
por completo. Isto levou alguns cientistas a suspeitar que teria uma
morte antecipada, extinguindo o seu potencial. Mas então o ISON
surpreendeu-nos "ligando as luzes" novamente - as últimas aparições
antes do periélio sugeriam que ainda não tinha ficado sem combustível. Os
cometas brilhantes da nuvem de Oort que passam pela Terra são
extremamente raros. Os astrónomos estudam estes objectos gelados para
aprender mais sobre o Sistema Solar exterior. O ISON contém segredos com
4,6 mil milhões de anos, incluindo informações sobre os primeiros gases
e poeiras do nosso Sistema Solar.
Mas apesar do que
aconteceu com o Cometa ISON, os cientistas obtiveram novos dados sobre o
cometa durante a sua viagem em direcção ao Sol. Isto vai ajudá-los a
compreender, e quem sabe a melhor prever, o comportamento dos futuros
visitantes cometários. A
raridade deste evento explica a incerteza dos cientistas no que toca à
previsão do comportamento do Cometa ISON, simplesmente não têm muito
para comparar. A passagem tão perto do Sol não é certamente um ritual
fácil para os cometas: os extremos de gravidade e calor a que são
sujeitos rasgam os seus núcleos e podem vaporizá-los numa fracção de
segundo.
Foi-nos provavelmente
negada a oportunidade de observar um lindo cometa a rasgar os nossos
céus nocturnos em Dezembro, mas nem tudo são más notícias. A curta vida
do ISON permitiu-nos aprender mais sobre o comportamento destas antigas e
sujas "bolas de neve". E enquanto os cientistas se debruçam sobre os
novos dados e tentam determinar o destino final do que resta do ISON,
todos nós podemos aguardar com antecipação o próximo cometa que passar
perto do Sol. Até lá, podem passar anos, mas uma coisa não falha - os
cometas levam-nos sempre numa viagem emocionante.
Fonte: Astronomia On-Line
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