quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A fome no mundo em alguns números




05.Dez.13 :: Outros autores
Os fundos que seriam necessários para erradicar a fome no mundo são ridiculamente baixos, mas isso implicaria pôr em causa a omnipotência dos gigantes da agro-indústria.

Um em cada quatro habitantes do planeta padece de desnutrição ou sofre de carência crónica de vitaminas e minerais essenciais. Na verdade, os fundos que seriam necessários para erradicar a fome no mundo são ridiculamente baixos, mas isso implicaria pôr em causa a omnipotência dos gigantes da agro-indústria.
No mundo há actualmente, em função da definição que se adopte, entre 842 e 1.300 milhões de pessoas que sofrem de desnutrição. A isso há que juntar aproximadamente mil milhões de pessoas que carecem cronicamente de vitaminas e minerais (micronutrientes) essenciais, aquilo que por vezes se denomina “fome oculta”. Por último, no nosso planeta há também 1.500 milhões de personas que padecem de sobrepeso (obesidade). Assim, metade da população ou come demasiado, ou demasiado pouco, ou mal.
À escala mundial, a proporção de pessoas que padecem fome baixou 17% desde a década de 1990 e nem sequer a crise financeira tem dificultado esta descida. Assim, desde 2007 verifica-se uma descida de 9%. Mas esta média mundial não é válida em toda a parte. A África e os países ricos viram aumentar a quantidade dos seus cidadãos que padecem fome em dez milhões (+5%) e dois milhões (+15%) de pessoas, respectivamente.
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O país onde mais se padece de fome é a India: afecta 213 milhões de pessoas. A África é o continente em que a percentagem é mais elevada, com o Burundi à cabeça com 67% dos seus habitantes padecendo de desnutrição. Provavelmente os números relativos ao Congo e ao Sudão do Sul são mais elevados, mas não existem estatísticas fiáveis para estes países. HYPERLINK“\l“sdendnote5sym““v No outro extremo do quadro, o país em vias de desenvolvimento que tem a percentagem mais baixa é o Cazaquistão (0,5%) seguido de perto por Cuba (0,6%). HYPERLINK“\l“sdendnote6sym““vi É inadmissível que ainda haja pessoas que sofrem de fome. Com efeito, hoje somos capazes de produzir à escala mundial suficiente comida para alimentar 12.000 milhões de pessoas.
Entretanto, hoje em dia desperdiça-se uma terça parte daquilo que se produz. E a isto há que acrescentar que apenas se utiliza uma terça parte das terras cultiváveis. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), erradicar a fome no mundo custaria 30.000 milhões de dólares por ano, uma ninharia. Para que façamos uma ideia, representa 0,004% do volume de negócios realizado no mercado de produtos derivados, 0,6% do mercado alimentar, uma décima parte do que consumimos na Europa em bebidas com gás, ou inclusivamente uma sétima parte dos subsídios à agricultura nos países “desenvolvidos”.
Poderia para além disso afirmar-se que estes subsídios são os que contribuem para criar a fome no mundo. Efectivamente, estes subsídios contribuem para que se venda no Sul a preços irrisórios, com o que se cria uma concorrência desleal para os produtores destes países. O absurdo atinge o seu paroxismo sabendo-se que este investimento anual retornaria 120.000 milhões de produto mundial bruto graças à espiral positiva que um aumento da duração e da qualidade de vida iria provocar. Já para não falar dos 7,5 milhões de vidas humanas que se poderiam salvar cada ano.
E, entretanto, o nosso sistema de produção mundial não está disposto a fazer os investimentos necessários. 500 milhões de pequenos produtores produzem 70% do que comemos. Mas a industria alimentar, incluídas as bebidas (produção, comercio e venda) está controlada por uns poucos monopólios. Assim, só a indústria alimentar representa um mercado de 4.000.000 milhões de dólares. Duas empresas possuem 75% do mercado das bebidas com gás. 42% do mercado mundial do café está nas mãos de três sociedades privadas. Outras quatro possuem 33% do mercado das sementes, 60% da agroquímica, 38% das biotecnologias, mais de metade do chocolate, ou inclusivamente 60% do da cerveja e assim sucessivamente.
Estas megaempresas geram lucros exorbitantes, frequentemente em detrimento dos pequenos agricultores e produtores do Sul. Entre 7 e 10% do preço do café na loja reverte para as pessoas que o colhem, enquanto os que o comercializam embolsam uma terça parte do seu preço. No caso das que colhem as bananas representa entre 5 e 10%. Por seu lado, as pessoas que produzem o cacau apenas recebem entre 3,5 e 6% do preço de venda do chocolate, quando na década de 1990 esse valor atingia os 18%.
Por outra lado, a pegada ecológica da produção alimentar e da agricultura é enorme. Assim, a produção alimentar e a agricultura são responsáveis por uma terça parte das emissões mundiais de gases com efeito de estufa.
Como seria de esperar, a produção de carne contribui com a parte de leão. Por exemplo, a produção de carne de vacum provoca vinte vezes mais emissões de CO2 do que a produção de trigo, necessita de doze vezes maior quantidade de água e de uma superfície de solo cinco vezes maior.
Também aqui a diferença entre o Norte e o Sul é enorme. Cada habitante do planeta consome em média 39 kg de carne por ano. Mas um luxemburguês come 3,5 vezes mais, ou seja 137 kg por ano. Um estado-unidense médio segue-o de perto com os seus 125 kg por ano. Um europeu come em média 82 kg, um latino-americano 72 kg, um chinês 54 kg, um habitante do sudeste da Asia 26 kg, um africano 17 kg e um indiano 3,2 kg.
Fonte: Rebelion www.rebelion.org/noticia.php?id=177032
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