30.Nov.13 :: Outros autores
Quando
vemos as características e a actuação prática do actual poder nos EUA,
pode custar a crer que haja sectores da direita norte-americana que se
lhe oponham de forma radical. Mas existem, como sucede com a
extrema-direita organizada no Tea Party, cujos membros estão na sua
maioria convencidos de que Obama quer instaurar o socialismo nos EUA.
Existe
uma percepção generalizada nos maiores meios de informação espanhola de
que o Tea Party dos Estados Unidos é um movimento social de
sensibilidade libertária que surgiu em resposta ao que se entendia em
amplos sectores da população norte-americana como um aumento de
intervenção do Estado federal nos Estados Unidos sob a presidência
de Barack Obama. O correspondente António Caño do El Pais nos Estados
Unidos foi o promotor dessa visão, que é também a deste movimento e dos
meios conservadores e ultraliberais que com ele simpatizam. Mas a
realidade é bem diferente. Tanto os seus dirigentes como a sua prática
actual apresentam outro tipo de movimento, que tem por objectivo
defender os interesses económicos e financeiros de grupos empresariais
concretos (que incluem desde empresas tabaqueiras a companhias de
seguros, banca e empresas petrolíferas). É um movimento cuja base social
é a classe média de renda alta e sectores de classes de poder, que
acham que os seus impostos vão sustentar as minorias pobres do país.
Está extraordinariamente bem financiado, com grande riqueza de meios
procedentes de grupos financeiros e económicos que gozam de grandes
recursos políticos e mediáticos. O seu poder político deriva de
controlarem o sistema eleitoral através da redefinição dos distritos
eleitorais desenhados pelas câmaras legislativas dos Estados controlados
pelo Partido Republicano, favorecendo a eleição de políticos
ultraliberais, sem nenhuma sensibilidade democrática. Os seus membros
têm características comuns com o nacional catolicismo espanhol.
Consideram-se parte de uma pátria escolhida por Deus, num nacionalismo
extremo que tem também a missão de salvar os Estados Unidos de
«ideologias antiamericanas», libertando-os do governo federal
controlado agora por um Anticristo. 62% dos membros do Tea Party
(segundo sondagens oficiais) acha que o Presidente Obama quer instaurar o
socialismo nos Estados Unidos; 42% acham que o Presidente Obama é
muçulmano e quer impor a lei muçulmana no sistema judicial americano; e
21% acham que o governo federal está a matar gente para estimular o medo
às armas (sim, leu bem a frase) e muitas outras falsidades óbvias,
transmitidas por um imenso sistema de doutrinação, quase como ter
20 Losantos — em horário nobre — em todo o território
norte-americano. Rush Limbaugh, Glenn Beck, Michael Savage e a Fox News.
O dinheiro
que esta aparelhagem tem à sua disposição é imenso. É o movimento
da ultradireita, mais próxima do fascismo europeu, ainda que tenha as
suas características próprias, que o separam. O seu poder vem do
controle sobre grandes recursos (financiados por esses grupos
empresariais) e de grande número de câmaras legislativas dos estados que
são, como já foi dito, as que definem os distritos eleitorais das
eleições federais. Isso explica que, embora o Partido Democrático tenha
ganho as últimas eleições no Congresso (mais de um milhão e meio de
votos sobre os Republicanos), hoje o Congresso esteja nas mãos do
Partido Republicano, controlado pelo Tea Party. A sua eficácia deve-se
também ao profundo sentido de militância e à sua participação activa no
processo eleitoral. Como a abstenção é enorme nas eleições para o
Congresso (uma das instituições mais desprestigiadas dos Estados
Unidos), um grupo muito minoritário, como o Tea Party, pode ganhar
facilmente as eleições. Nas eleições para o Congresso só 30% do
eleitorado vota (nas eleições presidenciais, que coincidem com as do
Congresso, votam 52%, com o qual, um grupo muito motivado pode acabar
(com 16% do voto) controlando os canais legislativos do Estado e do
Congresso. A sua motivação é muito acentuada, pois tem um fanatismo
religioso que sustenta a sua crença de que estão a lutar contra o anti
Cristo, sendo altamente manipuláveis pelos grupos económicos que os
financiam. O seu fanatismo é complementado por uma grande ignorância
pois acham, por exemplo, que a paralisia do governo federal e a sua
inviabilidade de pagar a dívida melhoraram a economia norte-americana.
Daí que o seu controlo do Congresso via Partido Republicano represente
uma ameaça para o sistema económico dos Estados Unidos, e inclusivamente
para o sistema económico mundial. A situação referente à dívida pública
é um exemplo, mas estão a tentar chantagear o presidente Obama para
acabar com as reformas da saúde da Administração democrata e as pensões
públicas do país. O seu discurso é semelhante ao utilizado pelos
governos europeus e espanhol que, sob a desculpa de diminuir o défice
público, está a eliminar a Assistência Social, impondo políticas que
beneficiam o mundo empresarial e as classes de poder.
*Vicenç Navarro é catedrático de Política Pública na Universidade Pompeu Fabra e professor de Política Pública na Universidade John Hopkins.
*Vicenç Navarro é catedrático de Política Pública na Universidade Pompeu Fabra e professor de Política Pública na Universidade John Hopkins.
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