Havana
(Prensa Latina) O ultranacionalismo avança na Europa que nem cupim em
madeira, encontrando terreno fértil num continente que se vê
incapacitado de procurar medidas eficazes para frear a expansão desse
movimento.
Paralelamente à crise econômica da União Europeia (UE) nos últimos
quatro anos, que ataca com mais violência às 17 nações da zona do euro,
as tendências preconceituosas dentro da própria população se sentem cada
vez mais fortes, para além dos militantes políticos.
A falta de
emprego, os salários precários, a insegurança sobre as garantias que o
estado deveria oferecer, a crise das famílias devastadas pelo desespero
de não conseguir se manter, tudo isso coloca em risco valores humanos
como a dignidade, a solidariedade ou a tolerância.
Além disso, a
globalização a serviço dos interesses financeiros internacionais
destrói conquistas sociais. Os valores democráticos são os que mais
sofrem com o maior ataque vindo de diferentes fundamentalismos e uma
violência neofascista começa a aparecer.
Quando a situação está
como na Espanha ou na Grécia, com índices de desemprego acima de 26% da
população economicamente ativa, sem perspectiva de melhora, ou quando a
economia da UE cai 0,1% só no primeiro trimestre, é difícil apelar aos
valores mencionados.
Novos perigos rondam a condição humana como
a intolerância, a indiferença, o ódio e a discriminação de outros, e
servem como terreno fértil para organizações políticas neofascistas,
antisemitas, racistas ou antiislâmicas.
Tudo isso levou ao
aumento de grupos xenofóbicos que andavam há anos de forma silenciosa
por toda a Europa e, no caso das antigas repúblicas soviéticas,
aceleraram sua atividade depois das mudanças de sistema econômico,
comentam analistas da UE.
O racismo e a xenofobia tiveram em
alguns casos caráter de estado, como aconteceu em 2008, durante os
governos de Silvio Berlusconi na Itália e Nicolas Sarkozy na França, com
operações contra a comunidade cigana, uma das mais marginalizadas na
Europa.
As origens do povo cigano rememtem ao início de 1300,
quando várias comunidades indianas foram presas por sultãos árabes para
serem levadas depois como escravos ao centro da Europa, principalmente
ao atual território de Moldova e Romênia.
No entanto, os ciganos
foram discriminados durante muito tempo, acusados de em vagabundos e
ladrões, uma minoria cuja população chega a ser entre 10 a 16 milhões de
pessoas em toda a Europa.
O problema desse povo na Europa levou
à realização em 2011 do fórum Ciganos no século XXI, em Lisboa, do qual
participaram representantes de 23 países como Alemanha, Áustria,
Bélgica, Brasil, Bulgária, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos,
Finlândia, França, Suécia, Rússia e África do Sul, entre outros.
De acordo com Daniela Rodrigues, da organização SOS Racismo, as
políticas de falsa defesa dos interesses da maioria da população
aplicadas por Berlusconi e Sarkozy permitiram uma arremetida contra os
ciganos em pleno século XXI.
Mesmo assim, os marroquinos
aparecem entre os mais marginalizados na Europa. Uma amostragem feita em
nações europeias demonstrou que 23,1% dos estudantes interrogados dizem
ter problemas em contar com colegas de classe que sejam ciganos.
Enquanto isso, o desemprego afeta sobretudo a juventude, que, ao mesmo
tempo, é o setor mais vulnerável à propaganda de ódio, racismo e
intolerância a estrangeiros, membros de outras religiões ou
representantes de diferentes raças (negros, árabes).
Isso se
deve, em parte, ao fácil acesso e habilidade dos jovens na Internet,
onde se relacionam nas redes sociais e, em muitos casos, falta uma
ideologia viável que evite tendências racistas ou xenófobas.
Muitas vezes o recrutamento de membros de organizações
ultranacionalistas segue o seguinte esquema: ultra-fanáticos de clubes
de futebol que são bombardeados com propaganda de ódio na Internet para
depois ir a concertos neofascistas, destaca a agência IPS.
Talvez a fórmula manejada possa parecer um tanto simplista, mas se
destaca como uma das maneiras mais usadas para coptar jovens às filas de
grupos como a Frente Nacional da França, Jobbik na Hungria, ou o
Partido Nacional-democrata Alemão.
A ULTRADIREITA NO PALANQUE
Já
há alguns anos, a ultradireita europeia tem seu palanque em diferentes
foros políticos, incluído o próprio Parlamento Europeu (PE), onde
atualmente 30 cadeiras são ocupadas por partidos dessa tendência.
O PE conta com deputados da Aliança Europeia pela Liberdade, do
Movimento Europeu de Liberdades e da Aliança Europeia de Movimentos
Nacionais.
Mas no plano nacional, o que assusta ainda mais é o
"sucesso" de grupos como o Partido Popular na Suíça, que chegou a 29%
dos votos em eleições parlamentares, e na Holanda o Partido da
Liberdade, com 15,5%.
O próprio Jobbik na Hungria, cujos
membros, portadores de armas e uniformes escuros, são acusados de
assassinar ciganos, contaram com 16,7% dos votos no ano passado.
Além disso, na Grécia, a ultradireita chegou ao gabinete, enquanto
cresce o número de adeptos da Aurora Dourada neofascista, entre
manifestações populares que exigem que o executivo impeça o crescimento
das tendências xenofóbicas nessa nação afundada na crise. O Partido do
Progresso Noruego, que em seu momento contou com 23% da preferência
popular nas urnas, também se soma à lista dos "ultranacionalistas
exitosos", como o movimento Verdadeiros Finlandeses, ou a extrema
direita dinamarquesa, apoiada por 14% dos votantes.
Tudo isso
levou à formação de alianças de ultradireita, como a de Movimentos
Nacionalistas Europeus (AENM), que no total recebeu ao redor de 300 mil
euros por conceito de ajuda a partidos parlamentares, estabelecida por
lei em várias nações europeias.
Um dos perigos mais palpáveis
dos grupos de ultradireita é que partidos historicamente apegados a
preceitos democráticos chegam a incluir dentro de suas práticas ações
com traços xenofóbicos, inclusive medidas exageradas de controle
migratório.
Frente às diversas tendências racistas e xenofónicas
da região, existem três grandes grupos considerados como os mais
vulneráveis como o caso dos jovens imigrantes, usados como força de
trabalho que a qualquer momento se elimina.
Outro grupo pode ser
identificado entre os muçulmanos, cujas práticas religiosas e culturais
são apresentadas como um perigo para a sociedade europeia e são
responsabilizados por todos os problemas sociais.
Um terceiro
setor vulnerável são os que podem ser facilmente considerados como
indesejáveis, expulsos ou explorados, como é o caso dos ciganos.
Além disso, a exposição à propaganda neofascista cria os chamados lobos
solitários que de forma individual podem causar muito dano, sobretudo,
porque os serviços de inteligência baseados em estereótipos de
muçulmanos terroristas poderiam deixá-los passar desapercebidos.
Isso ocorreu com o anglo-saxão Timothy McVeigh, que colocou um furgão
carregado de explosivos em frente à sede do Escritório Federal de
Investigações (FBI por sua sigla em inglês) no estado de Oklahoma, com
saldo de dezenas de mortos.
Tal ação foi imitada depois por subversivos chechenos ou por outros grupos violentos no Afeganistão e outros países.
O mais recente caso é o do noruego Anders Breivick, que em julho de
2011 assassinou mais de 90 pessoas, em sua grande maioria jovens, para
confirmar suas convicções de ultradireita.
Muitas de suas ações
foram inspiradas por materiais como os Diários de Turner, do escritor
nazista William Pierci, que já vendeu ao redor de cinco milhões de
cópias.
A intolerância, imperceptível para os corpos de
segurança e pela sociedade já que uma de suas marcas é seu caráter
individual, pode desatar fenômenos muito negativos.
Dizia Elie
Wiesel, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz e
prêmio Nobel da Paz: "a intolerância não é apenas o instrumento do
inimigo, mas o próprio inimigo" .
*Chefe da redação Europa da Prensa Latina.
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