domingo, 19 de maio de 2013

Partido Comunista Turco: Mais de 100 mortos após os bombardeios em Reyhanli

 

 

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Enquanto estimativas oficiais do governo do AKP [N. do T.: “Partido da Justiça e Desenvolvimento”, de ideologia liberal, atualmente no comando do governo central turco e defensor da renúncia de Bashar al-Assad do governo Sírio / apoiador dos insurgentes na Síria] falam em 46, de acordo com a informação de fontes ligadas a hospitais em Reyhanli o número de mortos após a explosão de duas bombas no centro da cidade, próximas ao edifício da prefeitura e ao escritório central dos correios no dia 11 de maio, é na verdade superior a 100.
Afirmações contraditórias do governo do AKP após o incidente
Falando de Berlim, o Ministro do Exterior Ahmet Davutoğlu afirmou ser “possível que tenha havido provocações durante uma fase de transição tão crítica na Síria”.  Insinuando ameaças ao governo da Síria, Davutoğlu continuou: “Ninguém deve testar o poder da Turquia. Quem quer que tenha cometido este atentado, receberá uma resposta à altura de nós se necessário. Não é coincidência que tudo isso tenha acontecido no mesmo momento em que decisões críticas vêm sendo tomadas em relação à transição, quando os contatos diplomáticos se têm intensificado”. Em Istambul, o primeiro ministro Erdoğan acusou os grupos que querem sabotar o “processo de paz” com os curdos na Turquia.
Ele disse: “Iniciamos uma nova era no processo de paz em nosso país, e aqueles que não aceitam a paz podem ter feito isso”. O vice-primeiro ministro Besir Atalay afirmou que a organização por trás dos bombardeios teria sido obra de um grupo pró-governo sírio, “Resistência Síria”. O grupo é dirigido por Mihraç Ural, um Alauita de Antakya [N. do T.: os alauitas são um grupo étnico árabe, do qual provém a família de Bashar al-Assad; Antakya é o nome atual da cidade mais conhecida por nós como Antióquia] e ex-líder esquerdista, que lutou na Síria, com seu grupo sírio, contra o Exército Livre da Síria [N. do T.: grupo insurgente contra o governo de Assad].
A declaração do presidente do parlamento, Bülent Arinç, colocou o “regime de Assad” como o suspeito de sempre por trás do incidente.
Povo de Reyhanli ocupa as ruas para denunciar o AKP
Imediatamente após as explosões, tomadas jornalísticas captaram a reação das pessoas próximas à área, expressando sua ira contra o primeiro ministro Tayyip Erdoğan, acusando a ele e ao governo do AKP pelo massacre. Os jovens da cidade gritavam próximos às ruínas da explosão que Erdoğan renunciasse imediatamente. Logo em seguida a estas reações, o governo declarou que estava proibido à imprensa transmitir daquela área.
Manifestação em Antakya
Poucas horas após as explosões, milhares de pessoas se juntaram em uma manifestação gigantesca em Antakya. A manifestação foi dirigida pela organização “União para Prevenção da Intervenção Imperialista na Síria”. A organização pediu a renúncia do governador de Antakya. Falando pela organização, Eylem Mansuroğlu afirmou que os autores do massacre são os assassinos sanguinários da Al-Qaeda, as gangues jihadistas de Al Nusra e o governo do AKP que protege e apoia estes grupos.
Mansuroğlu disse:
“Este ataque é um resultado direto das políticas de guerra do governo do AKP. Ele se baseia em políticas de animosidade do governo, de modo a destruir os laços históricos, econômicos, culturais e familiares que existem entre os povos da Turquia e da Síria.
Nós, como forças democráticas, já notamos muitas vezes em nossas declarações que as políticas beligerantes conduzidas pelo governo do AKP não trarão fruto algum exceto sangue, sofrimento e morte.
Nós queremos a paz. Exigimos o fim imediato do uso do solo turco como abrigo para assassinos que ameaçam outro país. Queremos receber os refugiados reais da Síria, as vítimas da guerra que precisam de cuidados, mas queremos a expulsão imediata dos militantes armados do país.
Apenas o povo sírio deve determinar o futuro da Síria. O conflito sectário que vem sendo estimulado na Síria encharcará todo o Oriente Médio de sangue. Os bombardeios a Reyhanli são uma clara prova.
O Partido Comunista da Turquia (TKP) também participou da manifestação, portando bandeiras com os dizeres “Tirem as mãos da Síria”. O partido também publicou declaração em que exige a renúncia do ministro de Assuntos Exteriores Ahmet Davutoğlu. A declaração apontou que: “O governo do AKP vem apoiando ativamente as provocações sangrentas na Síria. A Turquia se tornou um turbulento redemoinho a partir da retórica da ‘profundidade diplomática’. Os povos da Turquia, a começar pelo povo de Hatay, estão pagando o preço da infâmia de se tentar ganhar poder regionalmente através da emulação dos inimigos do povo sírio. As explosões em Reyhanli indicam que a ‘política externa’ de terceirização do imperialismo deu com a cara no muro.
O arquiteto-mor destas políticas desumanas e bélicas, o ministro dos Assuntos Exteriores Ahmet Davutoğlu, deve renunciar imediatamente.
O governo do AKP certamente pagará pelos crimes contra a humanidade e contra o povo da Síria”.
Locais agridem refugiados sírios
O pânico inicial após as explosões logo se tornou ira contra os sírios na cidade. Foram registradas lutas entre a população local e refugiados sírios após as explosões. Além da polícia, os militares turcos tiveram de intervir para dissipar os confrontos. A cidade, com uma população local de 70.000 pessoas, abriga hoje cerca de 80.000 refugiados. Entre os refugiados, há também membros do Exército Livre da Síria (FSA). Reyhanli vem sendo o principal núcleo da FSA em sua luta no norte da Síria. Está localizada em uma das mais importantes rotas de suprimentos da FSA, a Cilvegözü-Bab Al Hawa.
Militantes da FSA se refugiam em campos estabelecidos em Reyhanli e atravessam livremente a fronteira para atacar as forças do governo sírio, cruzando de volta à Turquia para descansar. Há tensão constante entre os habitantes locais de Reyhanli e os militantes do FSA desde que estão na área.
Proibição pelo governo do AKP de cobertura da mídia a partir de Reyhanli
Após o incidente, a maior operação de censura na história da Síria teve lugar quando o governo do AKP proibiu a cobertura midiática a partir de Reyhanli. Três jornalistas foram detidos por violação da proibição.
De acordo com o procurador do Estado, a cobertura midiática a partir de Reyhanli exporia “segredos de Estado”.
Evidências no local do acidente são apagadas por tratores
Membros do principal partido de oposição, o CHP, foram a Reyhanli poucas horas após os bombardeios. Um dos deputados do CHP, Mevlüt Dudu, que foi ao local das explosões, afirmou que “os policiais não estão recolhendo evidências; ao contrário, eles estão enterrando as evidências. Tratores estão fazendo uma limpeza no local”. O governo também proibiu os meios de comunicação de tirar fotos e de filmar a cena do crime. Dois operadores de câmera foram detidos por terem feito tomadas do local da explosão.
Incidente em Reyhanli desencadeia protestos por toda a Turquia
No domingo 12 de maio, houve protestos massivos em cidades de toda a Turquia, incluindo Istambul, Ankara, Mersin, Eskişehir e İzmir. Em todos os protestos, o AKP foi denunciado como o partido responsável pelo massacre em Reyhanli. Falando no protesto em Ankara, Dengiz Sönmez, porta-voz do principal sindicato de empregados do governo (KESK), afirmou: “Enquanto as forças do trabalho, da democracia e da revolução estiverem contra o AKP que é mero lacaio dos EUA, o imperialismo e o AKP devem pagar o preço”. Sönmez também apontou a relação entre o que houve em Reyhanli e a busca por uma desculpa para a intervenção imperialista na Síria, acrescentando:
“Nós nunca abandonaremos o povo sírio à própria sorte. Estamos gritando daqui que não deixaremos nosso país ser levado à guerra”.
Incidentes anteriores similares a Reyhanli
Houve quatro incidentes anteriores na Turquia quer resultaram na morte de civis. Todos foram resultado direto da política do AKP em relação à Síria. O primeiro ocorreu em outubro de 2012, quando um ataque de morteiro da Síria resultou na morte de cinco cidadãos turcos e em ferimentos a outros nove em Akçakale, uma cidade turca na fronteira com a Síria.
Após o incidente, os moradores de Akçakale invadiram o escritório do prefeito, acusando o AKP da responsabilidade pelas mortes. O AKP acusou o governo sírio e usou o incidente como desculpa para um ataque de artilharia contra a Síria. Poucos dias após este incidente, provas apontaram a oposição armada síria como responsável pelo ataque com morteiros. O segundo incidente ocorreu em janeiro de 2013 na província de Gaziantep. Após uma explosão que ceifou as vidas de cidadãos sírios no distrito industrial da cidade, o AKP rapidamente pôs a culpa no governo sírio. Posteriormente, foi revelado que a explosão foi causada pelo superaquecimento de uma caldeira de ácido em uma fábrica onde refugiados sírios foram empregados ilegalmente. No dia 11 de fevereiro de 2013, houve uma explosão gigantesca no cruzamento de fronteira de Cilvegözü, próximo a Reyhanli, que tomou as vidas de 14 pessoas e feriu mais de 10. O governo do AKP acusou o governo sírio outra vez, mas ao invés de mostrar as provas de sua acusação o governo censurou as provas. Dia 02 de maio, um grupo de pessoas pertencentes à oposição síria desejava cruzar a fronteira em Akçakale. Quando a polícia turca pediu seus passaportes, o grupo atacou com rifles de assalto, matando um policial e ferindo cinco civis. O governo do AKP não pôde acusar o governo sírio por este incidente. Entretanto, após poucos dias o governo e a grande mídia simplesmente não falavam mais no assunto.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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