Havana (Prensa Latina) A imprensa estadounidense fala
regularmente do soldado Bradley Manning como de um traidor que filtrou
informação confidencial para o Wikileaks, e mal menciona os maltratos ou
as violações aos direitos humanos que foram cometidos depois de sua
detenção.
Do oficial de inteligência -com 25 anos de idade- só se diz que é
responsável por proporcionar ao website alternativo milhares de vídeos,
documentos secretos e telegramas diplomáticos cruzados entre os Estados
Unidos e suas embaixadas sobre a preparação de operações de espionagem e
atentados terroristas.
No entanto, os grandes meios de
comunicação do país nortenho guardam silêncio a respeito do trato
abusivo que o jovem recebe em uma prisão militar, sua extensa reclusão
sem ser submetido a julgamento ou a proibição de fazer contato com
outras pessoas.
Manning foi preso em maio de 2010 sob 22
acusações relacionadas ao tratamento incorreto de dados de inteligência,
roubo de propriedade privada do Pentágono, difusão ilícita de
comunicações de inteligência e atividade fraudulenta em conexão com o
uso de computadores.
Ao militar, analista de informação no
Iraque de outubro de 2009 até sua detenção, também lhe acusa de que
membros de grupos terroristas acederam na Internet a mais de 700 mil
documentos secretos que supostamente Manning entregou a Wikileaks.
Seu caso é peculiar porque tem permanecido encarcerado desde há quase
três anos sem ser submetido a julgamento, quando a lei militar
estadunidense fixa um prazo máximo de 120 dias para esses processos
legais.
O soldado foi posto sob máxima custodia por nove meses
na base de Quantico (Virginia), como resultado de uma ordem direta
ditada por altos servidores públicos castrenses.
Durante todo
esse tempo, esteve confinado em um calabouço pequeno, sem janelas e com
uma única vista ao corredor através das grades.
"Além de
deixararem-me nu pelas noites, mantém-me em regime de isolamento. Os
guardas controlam-me a cada cinco minutos perguntando-me se estou bem,
inclusive quando durmo. Devo responder com algum gesto afirmativo",
narrou Manning em uma extensa carta ao coronel Daniel J. Choike, chefe
desse centro.
Contou que lhe tiraram seus espelhos, cortinas e
almofadas durante três dias por recomendação de um capitão de Quantico
por um suposto risco de suicídio, o que contradizia as indicações do
psiquiatra a cargo do caso.
As autoridades da base só permitiam a
Manning fazer caminhadas de uma hora ao dia dentro de uma habitação
vazia e lhe impediram utilizar o comedor, pelo que todas as comidas as
recebeu em sua cela, despojada de cadeiras, mesas ou outro mobiliário.
O acesso para ver televisão também era limitado e lhe negaram a
oportunidade de trabalhar, ainda quando existam regras que autorizam
essas atividades para os reclusos.
De acordo com seu advogado
David Coombs -ex tenente coronel do Exército-, o tratamento restritivo e
de confinamiento solitário provocou instabilidade psicológica em seu
cliente.
Juan Méndez, relator especial sobre Torturas da
Organização de Nações Unidas (ONU), corroborou com a afirmação do
jurista em um relatório divulgado no ano passado depois de pesquisar o
caso do soldado durante 14 meses.
Ainda que o governo dos
Estados Unidos tenha obstruido qualquer reunião totalmente privada entre
o recluso e o servidor público da ONU, este concluiu que o trato a
Manning foi cruel, desumano e degradante, e constitui uma clara violação
das convenções internacionais sobre direitos políticos e civis.
"Impor condições de detenção seriamente punitivas a alguém que não foi
considerado culpado de nenhum delito é uma violação a seu direito à
integridade física e psicológica, bem como a sua presunção de
inocência", indicou Méndez em seu relatório.
Acrescentou que se
os efeitos com relação à dor e sofrimento infligidos sobre Manning foram
mais severos, então poderiam constituir tortura.
Graças às
contínuas manifestações e outras ações de protestos de grupos defensores
dos direitos humanos nos Estados Unidos, o oficial norte-americano foi
transladado em abril de 2011 a uma prisão de menor segurança em Fort
Leavenworth, Kansas.
Segundo uma organização criada para
financiar a defesa legal do soldado, agora o jovem está detento sob
medidas menos estritas mas só pode receber a visita do advogado Coombs.
Manning encontra-se em pleno processo das audiências prévias a seu julgamento oficial, previsto para o próximo 3 de junho.
A princípios deste ano, a juíza militar Denise Lind admitiu que o réu
foi ilegalmente castigado durante o tempo que esteve em Quantico e, como
resultado essas incongruências legais, lhe descontarão ao menos 112
dias de qualquer sentença que seja ditada em seu contra.
O
governo estadunidense procura a máxima condenação para o soldado pela
acusação de "cooperação com o inimigo" e com esse fim poderiam
vinculá-lo diretamente com Osama Bin Laden, o falecido líder da rede Al
Qaeda.
A Promotoria prevê apresentar a um ex-Navy SEAL que participou na execução do dirigente islâmico em 2010.
Esta nova testemunha afirmará que Bin Laden possuía cópias digitais de
documentos secretos fornecidos por Manning, um fato que poderia aumentar
as sanções contra o uniformado nascido em Oklahoma.
Um de seus
advogados defensores comentou que as autoridades de Washington fazem
questão de chamar "inimigos" a milhares de pessoas no mundo atingidas
como consequência dos terríveis atos políticos e militares realizados
pela nação do norte.
No passado 28 de fevereiro, Manning declarou-se inocente dessa aacusação, mas
aceitou
assumir a culpabilidade nas acusações por manejo inadequado de
informação classificada, posse não autorizada e transmissão de dados a
uma terceira parte sem direito, ainda que não o fato de colocar esses
textos por iniciativa própria na Internet.
Com esse passo, a
defesa tentará deixar claro que que o jovem em nenhum momento quis
prejudicar os Estados Unidos, senão ajudar a expor o verdadeiro custo
das guerras desatadas pela Casa Branca no Iraque e no Afeganistão.
Se resulta culpado em todas as acusações, a sanção que tecnicamente corresponderia a Manning é a sentença capital.
*Jornalista da redação norte-americana da Prensa Latina.
arb/jvj/ymr/cc |
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