sábado, 23 de fevereiro de 2013
Partido Comunista da Índia, a luta contra as privatizações
Fundado em 1925 como consequência da revolução
bolchevique na Rússia, o Partido Comunista da Índia (CPI, na sigla em inglês)
sempre teve uma política voltada prioritariamente para a distribuição de terras.
Nas últimas duas décadas, porém, aliados com outras forças de esquerda, os
comunistas têm tentado frear uma onda de privatização no país.
Entre 1947 e 1990, a Índia teve a sua economia
planificada, com licenças de negócios dadas a poucas pessoas. A autorização para
abrir um negócio no país era chamada “Licença Raj”, uma brincadeira com o termo
“Raj britânico”, que se refere ao domínio britânico no país. Pelo menos 80
agências governamentais avaliavam a solicitação antes da abertura de uma empresa
privada no país. Caso fosse aprovada, a empresa ainda teria sua produção
regulada pelo governo.
Em 1990, no entanto, o primeiro-ministro P.V.
Narasimba iniciou uma série de reformas que incluem a privatização de
instituições do Estado e a abertura da Índia ao mercado global.
“Até a década de 1990, todas as políticas
econômicas do país eram, até certo ponto, socialistas, apesar de ser um
socialismo muito diferente do russo, por exemplo”, explica o secretário do CPI
do estado de Uttar Pradesh ao Opera Mundi, Dr. Gerish.
“Agora eles estão convidando grandes
corporações, industriais estrangeiros, privatizando o setor público. Nos últimos
20 anos, a nossa luta tem sido contra esta política”, argumenta.
História do partido
A primeira batalha enfrentada pelo CPI foi
participar do processo de independência da Índia, finalizado em 1947. A partir
de então, o partido tem defendido a implementação de uma “Índia socialista”.
“Durante a luta pela independência lutamos contra o feudalismo, a monarquia e o
latifúndio. Depois da independência, conseguimos pressionar o governo a abolir o
latifúndio em 1949”, conta Dr. Gerish.
A plataforma política do CPI contribuiu para
que o partido conquistasse, por meio de alianças de esquerda, o governo de três
estados: Kerala, Bengala Ocidental e Tripura.
Durante mais de trinta anos, a coligação Left
Front (Frente de Esquerda) ganhou consecutivamente as eleições em Bengala
Ocidental apoiando-se na sua agenda de reforma rural. Quando a assumiu o poder
nesse Estado, em 1977, começou a implementar o seu programa de redistribuição de
terra para pequenos camponeses e a descentralizar o poder através da criação de
assembleias governativas participativas locais, as gram panchayats.
“Foram cometidos vários erros da parte do
governo. Tínhamos uma política clara contra a aquisição de terras dos
agricultores por parte do governo. A administração comprava por um preço muito
baixo para depois as vender a indústrias. O governo pode comprar terras dos
agricultores apenas para fins governamentais, não para companhias privadas,
colonizadores e industriais. Os agricultores ficaram com raiva. Houve também
casos de corrupção e outros erros”, admite Dr. Gerish.
Há outras sobre as razões por trás dessa
derrota eleitoral. Alguns especialistas citam a hostilidade do partido contra a
indústria e o investimento privado, resultando em um alegado colapso da economia
local e a migração de um grande número de pessoas para outros estados da Índia à
procura de emprego. Outros falam ainda que a perda de popularidade se deve a um
discurso que continua colocando os Estados Unidos como inimigos.
Dissidentes
Após a independência da Índia em 1947, o
Partido Comunista vivenciou uma série de debates que levaram ao surgimento de
facções internas. O caso mais famoso é o da criação do Partido Comunista
Marxista da Índia [CPI(M), em inglês], que se insurgiu contra uma postura mais
conservadora (que alguns até chamaram de direita) do Partido Comunista
tradicional. Para o CPI(M), o CPI deixou de lutar pela revolução popular e
começou a operar de maneira consonante a um sistema parlamentar.
O CPI(M) foi fundado em 1964 com o apoio
majoritariamente de trabalhadores rurais, cidadãos de castas consideradas
inferiores e camponeses. Na base da sua ideologia, o CPI(M) “tenta aplicar
independentemente os princípios Marxistas-Leninistas às condições de vida
indianas e desenvolver estratégias para uma revolução democrática popular, que
transformará as vidas dos indianos”.
Em entrevista ao Opera Mundi, o
secretário do CPI(M) em Uttar Pradesh, Arun Mehta, assegura que,
independentemente das derrotas eleitorais, a esquerda constitui ainda uma dos
importantes formações políticas na Índia.
“Representamos muitas das preocupações das
pessoas - o direito à segurança alimentar, combate à corrupção, igualdade de
gênero e sensibilização e mobilização de pessoas em grandes números. Estar entre
as pessoas e guia-las em lutas contra os ataques das classes dominantes à sua
subsistência é nosso principal objetivo”. E conclui: “Isto assume um significado
ainda maior hoje em dia, quando o impacto da crise econômica global está sendo
muito sentida no nosso país”.
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