terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Egito: Menos de 1/3 dos eleitores votaram em referendo sob protestos

Com baixa participação, Constituição egípcia é aprovada com 64% dos votos

Conflito político deve se prolongar por muitos meses com opositores afirmando que não vão aceitar o resultado do referendo







O novo texto constitucional egípcio foi aprovado por 63,8% dos eleitores que compareceram às urnas nos últimos dois sábados (dias 15/12 e 22/12) no referendo, anunciaram nesta terça-feira (25/12) as autoridades do país.

Os resultados oficiais confirmam estimativas de pesquisas de boca de urna encomendadas pela Irmandade Muçulmana e por um grupo opositor, divulgadas no último domingo (23/12). De acordo com as previsões, 64% dos egípcios teriam votado “sim” na consulta popular sobre a proposta constitucional.

Em entrevista coletiva nesta terça (25/12), a Comissão Eleitoral do Egito informou a vitória e indicou que apenas 32,9% dos 51 milhões de eleitores do país compareceram às urnas durante o referendo. A votação foi boicotada por diversas organizações, incluindo a principal associação de juízes.

“Nós investigamos, seriamente, todas as denúncias”, garantiu o magistrado Samir Abu el Matti do comitê, negando o pedido de grupos opositores de anular o referendo. As organizações afirmaram neste domingo (23/12) que a votação foi repleta de irregularidades e fraudes.

De acordo com relatos colhidos pelos opositores, alguns locais de votação abriram horas depois do previsto, islâmicos continuaram a fazer campanha pelo “sim”, mesários influenciaram o voto de eleitores e a lista de eleitores contava com a presença de pessoas não elegíveis, incluindo o nome de homem morto.

A vitória do “sim” no pleito constitucional determina que o rascunho se torne a nova Constituição do país, que passa por uma transição democrática desde a queda do regime de Hosni Mubarak por protestos populares. A Assembleia Constituinte será destituída e a população deverá ir às urnas novamente para eleger o Parlamento.

Conflito não deve parar

Mas, o conflito político sobre a consulta popular e a nova Constituição do país deve se prolongar por muitos meses com opositores afirmando que não vão aceitar o resultado do referendo.

“O referendo não é o jogo final. É apenas uma parte da batalha desta longa luta pelo futuro do Egito”, disse a frente opositora. “Nós não vamos permitir uma mudança na identidade do Egito ou o retorno da tirania”.

Milhares de pessoas tomaram as ruas egípcias nas últimas três semanas em protestos favoráveis ou contrários a nova Carta Magna e a administração de Mohamed Mursi, que deixaram dezenas de mortos e feridos.

Constituição ditatorial?

O polêmico texto recebe o apoio do presidente Mursi e da Irmandade Muçulmana, mas foi muito criticado por um conjunto heterogêneo de grupos. Os oposicionistas temem a imposição de preceitos muçulmanos e a criação de uma nova ditadura no país com a falta de garantias aos direitos democráticos.

O novo texto constitucional foi formulado e aprovado por apenas 234 membros vinculados a Irmandade Muçulmana durante uma sessão da Assembleia Constituinte boicotada por representantes de outros setores, que protestavam contra medidas de Mursi.

No dia 22 de novembro, o presidente aprovou um decreto lhe garantindo poderes extraordinários, imunidade em relação ao Legislativo e Judiciário e a impossibilidade de dissolver a atual Assembleia Constituinte de maioria islâmica. A medida, entendida por muitos como a volta à era ditatorial, também impedia o cancelamento ou suspensão de decisões de Mursi, mas foi cancelada pelo próprio presidente por conta dos intensos protestos.

Desde então, milhares de egípcios favoráveis e contra o presidente tomaram conta das ruas do país. Os muros próximos ao palácio presidencial estão repletos de grafites e frases que pedem pela democracia, liberdade do povo e ironizam o presidente, vinculado a Irmandade Muçulmana
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