domingo, 16 de setembro de 2012

EUA: Com mentiras e fartas emissões de $ até o colapso total?!

 

Tornar boas as más notícias financeiras

Paul Craig Roberts
16.Set.12 :: Outros autores

A “grande economia hegemónica americana” está à beira do colapso total, porque a única maneira que tem de pagar as importações que a mantêm é pela emissão de mais dívida e impressão de mais dinheiro. Dado que a criação de dívida e de moeda minam o dólar como moeda de reserva mundial, os EUA vão tornar-se de um dia para o outro um país do terceiro mundo, para alívio do resto do mundo. Mas também nos EUA o capital financeiro e a sua imprensa ocultam a realidade, como se a mentira fosse capaz de a alterar.


O relatório de sexta-feira sobre a estatística do emprego diz que foram criados 96.000 novos empregos em Agosto e que a taxa de desemprego (U.3) caiu de 8,3 para 8,1%. Como 96.000 novos empregos não são suficientes para corresponder ao crescimento populacional, o decréscimo na taxa de desemprego U.3 foi causado por 368.000 trabalhadores à procura de emprego que desanimados desistiram da procura de emprego e foram eliminados da força de trabalho de acordo com a contagem pela U.3. Os trabalhadores desistentes não são incluídos na medida do desemprego U.3, o que a torna sem préstimo. O único objetivo da U.3 é tirar boas notícias das más. A taxa de desemprego U.3 conta apenas os que não desanimaram com a incapacidade de encontrar trabalho e ainda estão ativamente à procura de emprego.
O governo fornece outra medida do desemprego, a U.6, que inclui pessoas desencorajadas com a incapacidade de encontrarem emprego que estão fora da força de trabalho há menos de um ano. Esta medida do desemprego dá 14,7%, um número que chamaria a atenção se fosse noticiado.
Quando se incluem os trabalhadores desistentes de longo prazo (mais de um ano), a taxa de desemprego dos EUA é de cerca de 22%. Por outras palavras, a taxa real de desemprego dos EUA é cerca de três vezes superior ao noticiado nos títulos (8,1%).
Qual o objectivo de noticiar uma taxa de desemprego cerca de um terço inferior à real? A única resposta é: enganar com boas notícias.
Vejamos esses 96.000 empregos. Que tipo de super-empregos de alta tecnologia e altos salários está “a única superpotência, o país indispensável, a maior economia mundial e paraíso capitalista” a criar? A resposta é: empregos mal pagos próprios do terceiro-mundo, razão pela qual não existe e não pode existir recuperação económica. Todos os bons empregos foram para o exterior, de modo a maximizar o rendimento dos ricos.
De acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS) (Organismo de Estatística do Trabalho), 28.300 dos 96.000 empregos, ou seja 29%, são para empregadas domésticas e empregados de mesa http://www.bls.gov/news.release/empsit.t17.htm
Os cuidados de saúde e os serviços sociais, sobretudo serviços de cuidados de saúde ambulatórios e domésticos, forneceram 21.700 empregos (22,6%).
Assim, 52% dos novos empregos criados pela superpotência americana são os empregos mal pagos de empregadas, empregados, auxiliares de enfermeiro e auxiliares de hospital.
Os empregos industriais bem pagos baixaram em 15.000. O rendimento perdido por estes empregos excede largamente os ganhos das empregadas, empregados e auxiliares hospitalares.
De onde vêm os outros 46.000 empregos?
Dantes, nos tempos difíceis, o emprego no estado aumentava, mas, apesar da propaganda republicana, nos tempos melhores de hoje já não. O estado (federal, estatal e local) perdeu 7.000 empregos.
Os serviços profissionais e de negócios ganharam 28.000 lugares, sobretudo no desenho de sistemas de computadores e serviços relacionados (principalmente para indianos e visas de trabalho H-1B) e serviços de consultoria técnica e de gestão (principalmente para antigos empregados das corporações que agora vivem dificilmente como consultores das suas antigas empresas, sem reforma ou proteção de saúde, ou noutras palavras trabalhando o mesmo por menos).
Essas três categorias dão conta de 81% dos novos empregos.
Onde estão os restantes?
Alguns milhares de empregos nos financeiros e nos seguros, empregos que absorvem o rendimento dos consumidores, mas não produzem qualquer produto. Telefones, cabo, água, eletricidade e aquecimento criaram 8.800 empregos. Transportes e armazenagem de bens excedentários criaram 5.700 empregos. Comércio de retalho, principalmente lojas de comidas e bebidas (álcool), criaram 6.100 empregos.
E é tudo. A “poderosa economia americana” é uma economia que não consegue produzir o seu próprio vestuário e calçado ou produtos manufacturados que consome, incluídos os produtos de alta tecnologia, ou a sua própria energia, tudo isso tendo que ser importado com emissão de mais dívida.
A “grande economia hegemónica americana” está à beira do colapso total, porque a única maneira que tem de pagar as importações que a mantêm é pela emissão de mais dívida e impressão de mais dinheiro. Dado que a criação de dívida e de moeda minam o dólar como moeda de reserva mundial, os EUA vão tornar-se de um dia para o outro um país do terceiro mundo, para alívio do resto do mundo.
Na semana passada, o sr. Draghi, presidente do Banco Central Europeu, anunciou para efeitos de propaganda que o BCE compraria dívida soberana dos membros da UE em dificuldades se, e apenas se, os governos dos países assistidos concordassem nas condições que seriam impostas.
Por outras palavras, Draghi disse à Grécia, Espanha e Itália que o BCE compra as suas obrigações se fizerem o que se lhes disser. As condições de Draghi são uma combinação de austeridade sobre as populações junto com a entrega da soberania financeira desses países. Uma vez que os países devedores em dificuldades já tinham essa opção, o esquema de Draghi não altera nada. No entanto, a bolsa de Nova Iorque utilizou o anúncio de Draghi para urdir lucros especulativos.
Draghi afirma que o dinheiro utilizado pelo BCE nas obrigações gregas, italianas e espanholas será compensado pela retirada de reservas do sistema bancário europeu, o que dificilmente pode ser considerado uma operação útil para bancos em stress e para a recessão europeia.
É difícil imaginar piores notícias do que as de Draghi. No entanto, as bolsas subiram. Este resultado é mais uma evidência de que os mercados financeiros não podem merecer confiança.
Porém, jamais em tempo algum ouviremos isto da imprensa financeira.
Um sistema financeiro baseado em mentiras e enganos não pode durar para sempre.
8 Setembro, 2012
Tradução: Jorge Vasconcelos
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