quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Manlio Dinucci/ A arte da guerra: O poço sem fundo afegão

 


Manlio Dinucci*
22.Ago.12 :: Outros autores


Os EUA declararam o Afeganistão como o seu “mais importante aliado fora da NATO”, estatuto idêntico ao de Israel. A ocupação imperialista do Afeganistão, plataforma estratégica para outras aventuras ainda mais perigosas, não é apenas um pântano para o qual não encontram saída. É um poço sem fundo de recursos todos os dias consumidos pela máquina de guerra.



«É maravilhoso ouvir os pássaros saudar com o seu canto este belo dia aqui em Cabul». Estas foram as palavras cheias de romantismo com que Hillary Clinton abriu a cerimónia oficial, no meio das árvores do blindado palácio presidencial na capital afegã. Enquanto falava, outros pássaros com listras e estrelas na cauda voavam no céu afegão: os caças F/A 18 que, depois de descolar do porta-aviões Stennis no Mar Arábico sobrevoavam o Afeganistão.
Uma vez escolhida a sua presa, atacam com misseis e bombas teleguiadas por laser e metralham com o seu canhão de 20mm, que dispara em cada rajada 200 projécteis de urânio empobrecido. Estes aviões, e outros cujo preço ultrapassa os 100 milhões de dólares, custam 20 mil dólares por cada hora de voo: cada missão dura à volta de oito horas, o que significa um custo de 150.000 dólares, a que há que acrescentar ainda o custo das armas utilizadas. O ano passado, de acordo com dados oficiais, os aviões EUA/NATO efectuaram 35 mil missões de ataque sobre o Afeganistão. Não é surpreendente que os Estados Unidos, só eles, tenham gastado nesta guerra, até agora, 550 mil milhões de dólares. Um poço sem fundo que continuará a delapidar milhões e milhões de dólares e de euros. Em Cabul, Clinton anunciou uma boa notícia: «Tenho o prazer de anunciar que o presidente Obama designou oficialmente o Afeganistão como o mais importante aliado dos Estados Unidos fora da NATO». O que quer dizer que este país conseguiu o estatuto que têm Israel e que, na base do «Acordo de Cooperação Estratégica», os Estados Unidos se comprometem a garantir a sua «segurança».
Segundo os funcionários da Administração, os Estados Unidos conservarão no Afeganistão entre 10 a 30 mil homens, sobretudo das forças especiais, para além das companhias de militares privadas. E continuarão a utilizar no Afeganistão a sua própria força aérea, inclusive os drones [1] de ataque. O «mais importante aliado fora da NATO» receberá desta organização uma ajuda militar de mais de 4 mil milhões de dólares anuais. A Itália, que se comprometeu a pagar 120 milhões anuais, continuará a proporcionar, segundo as palavras do ministro da Defesa Di Paola, «assistência e apoio às forças de segurança afegãs».
Além disso, o governo afegão receberá, como ficou decidido na conferência de «doadores» de Tóquio, 4 mil milhões anuais mais para «exigências civis». E também nesse campo, «a Itália cumprirá com a sua parte», declarou Terzi, o ministro das Relações Exteriores. Pela experiência real, cada dólar e cada euro gasto oficialmente em fins civis será utilizado para reforçar o domínio militar dos EUA/NATO nesse país. País cuja posição geográfica é de primeira importância estratégica para as potências ocidentais e os seus grupos multinacionais, que avançam cada vez mais para Este, desafiando a Rússia e a China.
Para convencer os cidadãos estadunidenses e europeus, muito sensíveis pelos cortes nos gastos sociais, que convém tirar uns tantos milhões de dólares e de euros dos tesouros públicos para os destinar ao Afeganistão, dizem que servem para melhorar as condições de vida do povo afegão, particularmente das mulheres e crianças. Esta é a fábula que Hillary Clinton explicou, acompanhada pelo trinar dos pequenos passaritos de Cabul e pelo coro de todos os que se aproveitam desta magnanimidade.
Nota do tradutor:
[1] Aviões não tripulados de observação e bombardeamento.

* Colaborador habitual do Il Manifesto
Este texto foi publicado em www.lahaine.org
Tradução de José Paulo Gascão
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