domingo, 22 de janeiro de 2012

A História se repete: Exploradores e provocadores de guerras (X) contra povos trabalhadores.

SE OS EUA ATACAREM O IRÃ, A SOBREVIVÊNCIA DO SER HUMANO PODE ESTAR EM PERIGO




Miguel Giribets (especial para ARGENPRESS.info)


A ofensiva mediática: como nós levar a acreditar que um país nós ameaça com bombas atômicas que não tem

Nos últimos anos, não param as declarações de dirigentes ocidentais demonizando o Irã. É o caso de Tony Blair em 2006: “É importante que enviemos um sinal de força” contra um regime que “virou as costas para a diplomacia” e que está “exportando terrorismo” e “desprezando as suas obrigações internacionais” (1); o Departamento de Estado dos EUA afirmava, no mesmo ano: “O Irã é o mais ativo dos estados que apóiam o terrorismo, junto com a Coréia do Norte, Líbia, Sudão, Síria e Cuba”. Robert Gates, secretário de Defesa, disse, em 2008, que “O Irã está determinado a adquirir armas nucleares”. Relembrando as declarações do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em 2011, há poucas semanas, no sentido em que “falta pouco tempo” para que o Irã obtenha armas nucleares.

Também se refere aos planos “expansionistas” iranianos, de mãos dadas com os xiitas do Hezbollah no Líbano e dos xiitas do Iraque e da Síria.

Em 2006, a CNN tergiversou uma declaração do presidente iraniano dizendo que eles estavam desenvolvendo armas nucleares; o Irã respondeu proibindo a entrada dos jornalistas da CNN no país por alguns dias.

Também foram tergiversadas as palavras do presidente iraniano, Ahmadinejad, no sentido de que ele iria varrer Israel do mapa. A frase que ele disse foi: “Nosso querido Imã (referindo-se a Khomeini) disse que o regime de ocupação devia ser varrido do mapa” (2), que o que declarou é que o que deve desaparecer é um regime e não um país.

No Ocidente, a pretendida negação do holocausto, por parte de Ahmadinejad, criou muita controvérsia. A tradução literal das palavras que ele pronunciou foi: “Alguns tem criado um mito sobre o holocausto e o elevam ainda mais alto que a própria fé na religião e nos profetas”. O dicionário da Real Academia diz que mistificar (criar um mito) é “cercar de extraordinária estima certas teorias, pessoas, eventos, etc”. Evidentemente, acusar alguém de criar um mito, não é o mesmo que negar o acontecimento que gera o mito. (2)

Em 2006, o National Post de Toronto (Canadá), publicou que se criariam símbolos para os diferentes grupos da população no Irã, incluindo judeus, da mesma forma como fizeram os nazistas.

Por causa das eleições gerais de 2009, os EUA colocaram em funcionamento o mecanismo do golpe de Estado, embora o resultado da votação fosse o seguinte: Mahmoud Ahmadinejad, 63,3% dos votos (24,5 milhões), Hossein Mousavi, 34,2% (3,2 milhões); comparecimento às urnas de mais de 80%.

Muitas vezes já vimos que, quando a eleição não favorece o imperialismo, nossos “democratas” se esgoelam chamando-as de fraude, de lideranças populistas que enganam o povo, etc. Foi o que aconteceu no Irã em 2009: Mousavi, líder da oposição, convocou manifestações contra a “fraude” eleitoral, provocando um nível de violência (queima de carros e edifícios públicos, confrontos com a polícia...) para justificar o assalto do poder. Sabe-se que uma das fontes de financiamento destes movimentos, além da CIA é claro, era Amir Jahanchahi, o último ministro de Economia do Xá, desde Londres.

“O que é surpreendente na condenação ocidental dos resultados das eleições através de fraude é que não há sequer indícios ou provas como resultado da observação feita antes ou uma semana após a recontagem. Durante toda a campanha, não houve nenhuma acusação crível (ou até mesmo duvidosa) de manipulação de votos”. (3)

Há poucos meses, o regime iraniano foi acusado de uma tentativa de assassinato do embaixador da Arábia Saudita nos EUA. Ali Akbar Javanfekr, porta-voz do presidente iraniano, declarou que “o governo dos EUA está ocupado na fabricação de um novo cenário e, a história tem mostrado, que tanto o governo dos EUA como a CIA, tem muita experiência na fabricação de cenários semelhante... Penso que seu objetivo é atingir o público norteamericano. Querem distrair as mentes do público dos graves problemas internos que enfrentam e atemorizá-lo com problemas fabricados fora do país” (4). “O ex-agente da CIA, Robert Baer, geralmente consultado pela mídia dos EUA, ridiculariza, no Time Magazine, o grotesco cenário da “conspiração iraniana”. Como pode a administração de Obama querer nos fazer crer que uma tropa de elite como a Força Al-quods poderia colocar uma operação sigilosa nas mãos de um vendedor de carros usados e de uma organização criminosa mexicana? Tudo isso é mais bem parecido com as mentiras em que os Mujahedeen e-Khalq se especializaram e nas que Washington costuma embarcar alegremente”. (5)

Destaque-se como se brinca com a linguagem segundo os interesse do momento. “Quando, há alguns anos, a construção de usinas nucleares era objeto de enfrentamento entre os governos europeus e as organizações ambientais, a mídia cunhou o termo “nuclear” no lugar de “atômica” com o objetivo de que o público não associasse esse tipo de energia com a bomba atômica, de tão infame lembrança. Agora, quando se trata do Irã, volta a se usar o termo banido de “atômico”. (2)


Os países ocidentais realizam ações terroristas no Irá

Os atentados e ações terroristas no Irã, vem ocorrendo sem interrupção ano após ano.
De 2006 podemos destacar um sequestro de oito soldados pela “Organização de Soldados de Deus para os Mujahideen sunitas”, dependente da CIA; a morte de oito pessoas em um atentado com bomba que era dirigido ao presidente do país, organizado por 17 oficiais britânicos e 140 árabes iranianos separatistas (a presença britânica no Iraque é uma excelente base de operações no Irã), o que faz com que os mortos na região se elevem para 18 em poucos meses; 21 civis morrem metralhados em uma estrada; mais 12 civis morrem em circunstâncias semelhantes.

Em 2007 aconteceu o seqüestro do segundo secretário da embaixada do Irã no Iraque por agentes dos EUA; a morte de oito Guardas da Revolução em um atentado perto da fronteira com o Paquistão; enfrentamentos armados no noroeste; tiros dados contra o consulado iraniano em Basra (Iraque) pelas tropas britânicas, que cercaram o prédio e abriram fogo; violação do espaço aéreo iraniano por dois aviões dos EUA em Khuzestão (região petrolífera ao sudoeste do país); 15 soldados britânicos foram presos por ações de espionagem em águas iranianas; liberação de um diplomata seqüestrado dois meses antes que afirma ter sido torturado pela CIA (seus pés foram perfurados com furadeira e apresenta fraturas no nariz e pescoço, além de lesões importantes nas costas, hemorragia nos órgãos digestivos e machucados nas orelhas).

Do ano de 2008 podemos ressaltar que nove pessoas são mortas em atentado a bomba em uma mesquita da cidade de Shiraz. Em 2010, 33 mortos em atentados suicidas com bombas em Zahedan, no SE, na fronteira com o Paquistão; outros 20 mortos em Mahabad, na maioria mulheres e crianças; vem a público a noticia de que o ex-vice ministro do Interior, Ali Reza Asgari, morreu em uma prisão israelense (fora sequestrado em 2007).

Em 2011 houve a derrubada de um avião espião não-tripulado dos EUA próximo às instalações nucleares de Fordo; 15 pessoas foram mortas na explosão de um depósito de munições em Teerã.


O assassinato de cientistas iranianos é política oficial dos EUA e Israel

“Não me lembro de outro momento na história em que o assassinato de cientistas tivesse se tornado política oficial de um grupo de potências equipadas com armas nucleares”, disse Fidel Castro há alguns meses. Mas é mesmo: os EUA e Israel estão assassinando os cientistas envolvidos no programa nuclear iraniano.

Em 2010, morre o professor de física da Universidade de Teerã, Masoud Ali Mohammadi, em atentado a bomba colocada em sua motocicleta. Poucas semanas depois, é revelado que o cientista Shahram Amiri fugiu depois de uma viagem a Meca, ajudado pela CIA. Dois meses depois, Shahram Amiri reaparece aparece dizendo que escapou de seus captores da CIA na Virgínia, diz que lhe ofereceram 50 milhões de dólares para desertar para os EUA e mentir sobre o programa nuclear iraniano. Acontece que ele não é um cientista nuclear e não sabe nada sobre as pesquisas sobre energia nuclear em seu país. Esclarece que agentes israelenses participaram dos interrogatórios.

Em setembro de 2010, o Irã confirmou que um total de 30.000 computadores do setor industrial foram infectados com o vírus conhecido como Stuxnet. Este ataque cibernético afeta seriamente o desenvolvimento da pesquisa nuclear, pois quase 20% das centrífugas nucleares do Irã ficam imprestáveis. Testes prévios com este vírus já tinham sido feitos nas instalações nucleares israelense de Dimona.

Em novembro de 2010, o cientista nuclear iraniano Majid Shahriari morreu e o cientista Fereydun Abbasi ficou ferido em Teerã após atentados a bomba colocadas em seus carros. Ambos eram professores na Universidade de Teerã. O Mossad reconheceu a autoria dos ataques.

Em julho de 2011, o cientista Darioush Rezaie morre a tiros. Os terroristas também atiraram em sua esposa. Ele não estava ligado ao programa nuclear do país. O governo culpa os Estados Unidos e Israel pelo assassinato.

A cereja do bolo de toda essa trama foi colocada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), quando, recentemente, divulgou os nomes de uma grande quantidade de cientistas iranianos relacionados com a pesquisa nuclear. O governo diz que agora são alvo fácil para os terroristas israelenses e norteamericanos.


Um governo pró EUA em Teerã é absolutamente necessário para manter a hegemonia imperialista

O Irã produz 5,2% do petróleo mundial, é o quarto maior produtor do mundo. Sua receita do petróleo são cerca de 35 bilhões de euros (dados de 2005).

A reserva de petróleo iraniano é a segunda maior do mundo: 11,1% das reservas conhecidas assim com o gás natural iraniano que representa 15,3% das reservas mundiais.

Uma parte importante da indústria do petróleo ainda está em mãos privadas. A intenção do governo de Ahmadinejad é nacionalizá-la, “colocar os últimos elos da cadeia da nacionalização da indústria petrolífera”, segundo manifestou recentemente, pois “a maior parte das receitas de petróleo do país ainda vão para os bolsos estrangeiros”. Segundo com o chefe de Estado iraniano, apenas um terço das receitas do petróleo permanece no Irã, enquanto o restante “vão parar nos bolsos daqueles que saquearam os recursos petrolíferos do país”. (6)

O Irã se estende desde a região do Mar Cáspio, ao norte, até o Golfo Pérsico e o estreito de Hormuz, no sul. São áreas com um alto valor estratégico. O Mar Cáspio é um dos maiores produtores de petróleo e gás; um Irã dominado pelos EUA facilitaria o trânsito dessas matérias primas para o Japão e Europa. Pelo estreito de Hormuz passam, por dia, 40% do petróleo mundial. “Se estabelecer o controle sobre o Irã, Washington teria também o controle militar da costa oriental do Golfo e da costa sul do Mar Cáspio, das suas reservas de petróleo e gás, consideradas ambas como as segundas em importância no mundo. Os EUA já tem o controle militar de parte da bacia do Cáspio e do corredor que permite a comunicação dessa região com o Oceano Índico (Afeganistão e Paquistão). A maior parte do Golfo (Arábia Saudita e Iraque) também já está sob controle militar dos EUA. Ao final desta operação, Washington seria senhor e mestre das mais importantes áreas de exploração de hidrocarbonetos e das principais reservas ainda por explorar”. (7)

As relações comerciais com a Rússia são muito importantes e destaca o papel russo no desenvolvimento do programa nuclear civil. Com a China mantém-se o acordo de compra de gás iraniano por 25 anos, assim como o apoio no desenvolvimento do campo de gás de Yadavaran; 13,6% do petróleo importado pela China é iraniano, o que representa 25% das exportações de petróleo do Irã. Também existem grandes acordos comerciais com a Índia e Japão.

Outra das dores de cabeça dos EUA é que, em 2010, o Irã e o Paquistão firmaram um acordo para a construção de um gasoduto. A parte iraniana já estava pronta em 2011. “Mais preocupante para os EUA é que o gasoduto possa se estender para a Índia. O tratado de 2008 dos EUA com a Índia, apoiando seu programa nuclear, pretende evitar que este país se ligue a este gasoduto” (8). Não só isso: o gasoduto poderia chegar à China a partir do próprio Paquistão.

Está claro que os EUA precisam controlar o Irã como condição sine qua non para manter a hegemonia imperialista no mundo e, especialmente, a supremacia sobre a China.


O Irã e o dólar

O Irã quer fazer as suas vendas de petróleo em moedas que não seja o dólar. Embora a quantidade de dólares que circulam pelo mundo já não reflete qualquer riqueza real – pois os EUA botaram para funcionar “a máquina de imprimir dinheiro” sempre que necessitaram nos últimos 40 anos – a maioria das transações econômicas no comércio mundial são feitas em dólares; esta é a única “força” que resta para essa moeda. Se em algum momento o dólar deixasse de ser a moeda de referência para o comércio internacional, a economia mundial entraria em colapso. E não está em perigo só o dólar como moeda, mas também uma série de operações especulativas; quase as totalidades das bolsas de futuros de petróleo têm a sua sede em Nova York e Londres, e ambas as praças trabalham em dólar. Nestas bolsas ocorrem aumentos do preço do petróleo para beneficiar um punhado de especuladores.

O Irã aceita euros em suas vendas de petróleo desde 2003. Esta é uma das principais causas da crise EUA-Irã. Lembramos que Sadam Hussein quis fazer o mesmo com o petróleo do Iraque em 2000 e depois aconteceu o que aconteceu.

Desde 2008 o Irã está deixando de vender petróleo em dólares e passou a negociar em euros e yuans. Digamos que, por outro lado, esta medida permitiu-lhe ganhar, em um ano, sete bilhões de dólares. Desde 2006, o Irã está transferindo suas reservas em divisas de bancos europeus para bancos asiáticos.


O Irã não tem nem fabrica armas nucleares

Embora a propaganda ocidental tenta esconder, o Irã é talvez o país que mais tem sido controlado pela supervisão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). E mais, “em 2003, uma proposta razoável para esse fim foi a de Mohamed El Baradei, diretor da AIEA: que toda a produção de material que pudesse ser destinado a armas permaneceria sob controle internacional, com “mecanismos de controle para que os potenciais usuários possam obter suprimentos”. Esse seria o primeiro passo em sua proposta para implementar completamente a Resolução da ONU em 1993 sobre um Tratado de Redução de Materiais de Fissão (Fissban, em Inglês: Fissile Material Cutoff Treaty).

Até o momento, a proposta de El Baradei foi aceite, como pude entender, por um único Estado: O Irã, que o fez em fevereiro, por meio de Ali Larijani, chefe dos negociadores nucleares de Teerã. A administração Bush rejeita um Fissban verificável e está praticamente sozinha. Em novembro de 2004, o Comitê de Desarmamento da ONU votou a favor de um Fissban verificável. A votação foi de 147 contra um (EUA), com duas abstenções: Israel e Grã-Bretanha. Em 2005, uma nova votação na Assembléia Geral da ONU foi de 179 contra dois, com Israel e Grã-Bretanha novamente se abstendo. Aos Estados Unidos juntou-se Palau. (9)

Três países não assinaram o Tratado de Não Proliferação (TNP): Índia, Paquistão e Israel. Todos os três são potências militares nucleares (o Irã não é); os três conseguiram isso com a ajuda dos EUA, nenhum dos três representa “perigo” algum para a comunidade internacional (o Irã é um perigo). Concretamente, Israel possui entre 200 a 300 armas nucleares e não permite nenhuma inspeção da AIEA; além disso, Israel viola a resolução do Conselho de Segurança de 1991 para que todo o Oriente Médio fosse zona livre de armas nucleares e de destruição em massa.

Há poucos meses, o Irã anunciou que tinha um orçamento de 250 milhões dólares para pesquisas nucleares com fins pacíficos. Por sua vez, os EUA tem 81 bilhões de dólares, não só para pesquisa, mas também para incrementar o seu arsenal nuclear, que atualmente é de 5.000 bombas nucleares.

A forma iraniana de compreender o Islã é contraria as armas nucleares. “O aiatolá Khomeini e seus sucessores condenaram a fabricação, armazenamento e uso de armas nucleares, e até mesmo a ameaça de recorrer a elas, como atos contrários aos valores religiosos da fé islâmica. Segundo eles, o uso de armas de destruição em massa que matam indiscriminadamente civis e militares, partidários e opositores de um governo, é moralmente inaceitável. Tal proibição ganhou força de lei através da promulgação do decreto emitido pelo Guia Supremo da Revolução, o aiatolá Khamenei, em 09 de agosto de 2005. (10)

“Durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), Saddam Hussein ordenou disparar mísseis não-guiados contra cidades iranianas. O exército iraniano respondeu fazendo o mesmo... Até que a intervenção do Imã Khomeini, que ordenou a suspensão de lançamento de mísseis iranianos, invocando o princípio exposta acima, e proibiu qualquer lançamento indiscriminado de mísseis contra as cidades inimigas. O Irã escolheu sofrer uma guerra de longa duração antes de vencê-la usando armas que matam indiscriminadamente”. (10)

Em 2006, o Irã retomou seu programa de pesquisa nuclear, que havia sido interrompido em 2003 por pressão internacional. O suporte técnico russo é importante, tanto em pessoal como na construção de usinas de energia nuclear como a de Busher, que tem um custo de quase um bilhão de euros. “O projeto nuclear iraniano é baseado em três aspectos principais: construção de reatores nucleares, produção de combustível nuclear e desenvolver através desta forma de energia a medicina, indústria e agricultura. Existem mais de 430 reatores nucleares para produção de energia elétrica no mundo e produzem 16% de eletricidade”. (11)

O enriquecimento de urânio iraniano é feito a 3,5%. Para uso militar é necessário enriquecê-lo a 80-90%; como vemos, os “perigos” de que o Irã esteja construindo a bomba atômica são simplesmente uma grande mentira.

Desde 2006, os norteamericanos têm conseguido várias condenações contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU e medidas de boicote internacional contra esse país, o que tem prejudicado seriamente sua economia (proibição de venda de bens e tecnologia, congelamento de ativos...). O relatório da AIEA que facilitou a condenação pelo Conselho de Segurança da ONU naquele ano contém frases antologia como: “Apesar de a Agência não ter visto qualquer desvio de material nuclear para armas atômicas ou outros artefatos explosivos nucleares, não é possível neste momento concluir que não há material ou atividades nucleares não declaradas no Irã”. (12)

A realidade é que um relatório de 2006 do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, assinala que os EUA não tem nenhuma informação real do programa nuclear iraniano, não há evidências. Outro relatório de 2006 da AIEA ao Conselho de Segurança afirma que não há evidências de que o programa nuclear do Irã tenha como objetivo a fabricação de armas nucleares.O mesmo volta a ser dito em 2008, quando um relatório da NIE (National Intelligence Estimate) dos EUA reconhece que o Irã não tem programa nuclear armamentista algum, pelo menos desde 2003. Em 2010, Ali Asghar Soltanieh, embaixador permanente do Irã na AIEA, relembra que, após oito anos de inspeções, não há evidência alguma de construção de armas atômicas. Um total de 16 agências de inteligência dos EUA (incluindo a CIA) manifestam-se nesse sentido em dois Estudos Nacionais de Inteligência.

Como Mohamed El Baradei, diretor da AIEA, não defendia exatamente as tese dos EUA, as potências ocidentais forçaram sua demissão.

Um relatório dos EUA de 2006, apresentado perante uma comissão parlamentar, continha tantas mentiras que a própria AIEA teve de protestar, e isso não foi bem recebido em Washington. Recentemente, Baradei, livre de compromissos, colocou as cartas na mesa: “Os norteamericanos e os europeus retiveram importantes documentos e informações. Não estavam interessados em compromisso com o governo de Teerã, mas na mudança de regime por quaisquer meios”. (13)

El Baradei foi substituído pelo japonês Amano, um cãozinho fiel do império. Segundo o Wikileaks, através de documentos da embaixada dos EUA em Viena, Amano prometeu lealdade aos Estados Unidos. A partir de 2010-2011 as teses da AIEA estão em perfeita harmonia com os interesses ocidentais.

Primeiro relatório Amano é datado de fevereiro de 2010. Em novembro de 2011, um relatório da AIEA assinala, sem provas conhecidas, que o Irã “tem realizado atividades relacionadas com o desenvolvimento de um artefato nuclear explosivo” com “possíveis dimensões militares”. É um relatório falso: “Especialistas e analistas de todo o mundo têm questionado o relatório, alegando que o mesmo é baseado em informações procedentes de alguns serviços secretos de países nada próximos ao regime de Teerã.

Além disso, algumas fotografias apresentadas são do início desta década, ou se faz referencia a um programa sobre mísseis que o Irã abandonou há anos, ou tenta-se vincular o programa nuclear com um especialista ucraniano que trabalhou no país nos anos noventa. Como essas fontes informam, a maior parte do relatório refere-se a atividades anteriores a 2003, tornando obvio o que a própria inteligência dos EUA reconheceu em 2007, que o programa nuclear iraniano tem “sido pacífico desde 2003” e ocultando intencionalmente a colaboração que o governo iraniano vem mantendo com a agência citada. (14)

Nos Estados Unidos ventila-se que as pesquisas que permitirão que o Irã obtenha armas atômicas são chefiadas por um proeminente cientista russo que, uma vez identificado como Vyacheslav Danilenko, é uma das mentes mais importantes do mundo na produção de... nanodiamantes; nada que tenha a ver com energia nuclear.

E, para completar, em dezembro passado, o Tribunal de Manhattan chegou a sabia conclusão de que o Irã estava por trás dos atentados de 11 de setembro.

O Irã novamente solicitou à AIEA para enviar um grupo de técnicos ao país para inspecionar suas pesquisas nucleares. Não houve resposta. O representante iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, disse que, após oito anos de inspeções e centenas de visitas não planejadas, não há sequer uma prova de que o Irã esteja produzindo bombas atômicas. Neste sentido também se manifestou o ex-secretário geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Hans Blix.

É tão difícil saber se o Irã está desenvolvendo armas nucleares? Primeiramente, se o estivesse fazendo, estaria desviando o urânio para esses fins; mas o relatório da AIEA nega, pois os movimentos de urânio deixam um rastro facilmente detectável com contadores Geiger. Depois, há meios técnicos (contadores e medidores de radioatividade) para medir níveis de radioatividade; mas todas as investigações neste sentido revelam que o Irã enriquece urânio para fins pacíficos. E ainda, “temos uma capacidade incrível para encontrar dutos de ventilação desde o ar, desde o espaço, por satélites. Se você está construindo uma instalação subterrânea, tem que ter ventilação. Tem que ter ar limpo. Para eliminar o ar contaminado e trocá-lo por ar fresco... Entretanto nada, nada foi encontrado”. (15)


EUA: armando seus aliados na região até os dentes

As manobras militares ocidentais simulando um ataque ao Irã ainda são comuns. Em 2004, forças dos EUA e britânicas realizaram manobras em Fort Belvoir, na Virgínia; em 2006 as manobras das tropas dos EUA foram diante das costas do Irã; em 2007, mais uma vez ao largo da costa iraniana, com o maior contingente de forças navais jamais utilizadas pelos EUA: vários porta-aviões, 200 aviões de combate e 10 mil soldados; em 2008 foram os israelenses que realizaram manobras no Mediterrâneo; em 2009, novamente os israelenses fizeram exercícios militares em Gibraltar; também em 2009, foram realizados os maiores exercícios militares jamais realizados no mundo, pelos EUA e Israel, com armamento de última geração. Para 2012 estão programadas grandes manobras.

O maior perigo de guerra até agora ocorreu no verão de 2010, quando uma grande frota dos EUA se posicionou no Golfo Pérsico, ao largo da costa iraniana, para monitorar navios que entravam e saiam do Irã, com base em acordos da ONU.

Os EUA estão armando até os dentes os países “amigos” da região. Em 2008, prometeu ao Egito ajuda militar de 13 bilhões de dólares, 30 bilhões a Israel e 20 bilhões para a Arábia Saudita. “Por sua vez, transferências de armas em larga escala têm sido realizadas sob a bandeira dos EUA como “ajuda militar” a países selecionados, incluindo cinco bilhões de dólares em um acordo de armas com a Índia, destinado a melhorar a capacidade da Índia contra a China. (Huge US-India Arms Deal to Contain China, Global Times, 13 de Julho de 2010)”. (16)

Também em 2008, Israel decidiu comprar 25 caças F-35 dos EUA, por 15,2 bilhões de dólares; assim garante a superioridade aérea sobre qualquer outro país do Oriente Médio. Além disso, a Arábia Saudita cedeu um corretor em seu espaço aéreo para que aviões israelenses bombardeiem o Irã. (fonte: The Times).

“Os EUA estão armando os estados do Golfo (Bahrain, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos), com o sistema antimísseis terra-ar Patriot Advanced Capability-3 e o Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), bem como com o míssil padrão interceptador Marc-3 instalados em navios de guerra da classe Aegis no Golfo Pérsico” (16). “Em 11 de novembro [de 2011] o The Wall Street Journal revelou que a Casa Branca fornecerá aos Emirados Árabes Unidos (UAE) “milhares de bombas avançadas “antibunker” e outras munições, como parte de um esforço dos EUA para criar uma coalizão regional para se contrapor ao Irã” (17). Em 2010, foi assinado o maior contrato de venda de armas da História, num montante de 60 bilhões de dólares, os EUA estão vendendo aviões, navios e tecnologia militar à Arábia Saudita.


Rumo à Terceira Guerra Mundial?

Os planos de ataque ao Irã são anteriores ao ataque contra o Iraque; assim o afirmou o analista de inteligência Willian Arkin no Washington Post.

Em agosto de 2010, o Almirante Mile Mullen, chefe da Junta de Chefes de Estado Maior da FFAA dos EUA, assegurou que este plano existia: “Sim, já o temos...atacar o Irã é uma opção importante e está bem compreendida”.

Apenas 24 horas depois no jornal The Washington Times (...), Rowan Scarborough disse: “Os mísseis serão disparados de navios, submarinos e bombardeiros B-2, para eliminar as defesas aéreas e as instalações nucleares. O B-2 jogarão toneladas de bombas, incluindo bombas que penetram instalações subterrâneas em locais fortificados e enterradas onde se suspeita que Teerã esteja enriquecendo urânio para ativar suas armas e onde trabalham nas ogivas” (18). O uso de bombardeiros B-2 não é por acaso, pois são os únicos que podem transportar ogivas nucleares. O The New Yorker deixa claro que os planos dos EUA contemplam um ataque ao Irã com armas nucleares.


A crise econômica do capitalismo está deixando o sistema mais agressivo

Hoje, a política internacional dos Estados Unidos é feita a canhonaços; a “guerra fria”, que dominou o cenário mundial nas últimas décadas, está muito longe. Os EUA somente podem manter manu militari seus interesses econômicos e estratégicos para que o sistema capitalista não afunde e para não perdem a liderança sobre seus concorrentes europeus e asiáticos. Uma das razões para a retirada das tropas no Iraque e no Afeganistão pode ser a necessidade de concentrar tropas para um ataque ao Irã.

A guerra contra o Irã não é um evento isolado, mas há cinco anos faz parte de um plano de guerra para fortalecer a presença americana, especialmente diante da China. “[A campanha] de um plano de cinco anos [inclui]...num total de sete países, começando com o Iraque, em seguida Síria, Líbano, Líbia, Irã, Somália e Sudão” (19). A atual ofensiva do Ocidente, dos países do Golfo e da Turquia contra a Síria tenta deixar o Irã sem aliados no Oriente Médio. Isto significa que depois da Síria, o próximo passo do imperialismo será atacar o Irã.

O exército iraniano tem um milhão de soldados, incluindo a Guarda Revolucionária que é de 500.000; as autoridades iranianas prevêem a mobilização de 20 milhões de reservistas (população total: 71 milhões de habitantes). Não podemos prever o resultado de uma guerra contra o Irã, mas com certeza podemos dizer que os EUA estão diante do exército mais numeroso e melhor armado que jamais enfrentaram.

Os aviões e helicópteros de combate iranianos são semelhantes em desempenho aos norteamericanos F-5E e F-14, além disso, o Irã está adquirindo caças-bombardeiros russos e outros equipamentos militares de última geração. O míssil Shahab-3 pode carregar ogivas nucleares e atingir Israel e bases dos EUA em todo o Oriente Médio. Em recentes manobras militares foram testados mísseis de médio e longo alcance, que podem atingir alvos difíceis de detectar.

A derrubada de um avião espião norteamericano de última geração em dezembro passado, é um sinal de que a tecnologia iraniana não deve nada à dos EUA. O avião não foi abatido com um míssil, mas através do uso de informática: os iranianos controlaram o software do avião espião e o fizeram pousar com segurança. Além disso, essas aeronaves possuem sistema de autodestruição que foi neutralizado pelos iranianos. Lembrando que os iranianos já tinham conseguido interceptar outras vezes até seis aviões de espionagem, sendo alguns israelenses.

Foi repetido diversas vezes nos meios de comunicação ocidentais que os planos de agressão dos EUA contemplam a destruição de 10.000 alvos em poucas horas. Esta lista inclui alvos civis, como indica a revista Military Review (do exército dos EUA) em julho de 2010: “Este tipo de ação militar é semelhante às sanções: provoca danos com a finalidade de mudar condutas, através de meios mais poderosos" (20). As palavras de John Pike, analista militar que dirige a empresa Global Security, no Washington Times em 2010, não deixam duvidas: “Muitos desses lugares têm anexos alojamentos para os trabalhadores. Bombardeam-se as casas, matam-se os trabalhadores e se fará retroceder o programa em, pelo menos, uma geração”. (21)

Os EUA usaria mini-bombas atômicas, mas que são seis vezes mais potentes que a de Hiroshima. O cúmulo do cinismo é que, para o Ocidente, estas bombas são humanitárias, enquanto que as armas nucleares iranianas – que não existem – são terrorismo puro e simples. O uso de armas nucleares é “justificado” porque muitos alvos são subterrâneos e só podem ser destruídos com estas armas.

Os perigos de uma guerra global são claros. Por um lado, morreriam centenas de técnicos russos que estão trabalhando nas instalações nucleares iranianas, com o que a Rússia não poderia ficar de braços cruzados. Na opinião de Michel Chossudovsky “se o Irã for alvo de um ataque aéreo ‘ preventivo’ das Forças Aliadas, toda a região, desde o Mediterrâneo Oriental à fronteira ocidental da China com o Afeganistão e o Paquistão, poderia explodir, o que, potencialmente, conduz a um cenário de uma Terceira Guerra Mundial. A guerra também se estendem para o Líbano e a Síria. É muito improvável que os ataques, se implementados, fiquem limitados às instalações nucleares do Irã, como afirmam as declarações oficiais dos EUA e da OTAN. O mais provável é um ataque aéreo a infraestruturas militares, civis, sistemas de transporte, fabricas e edifícios públicos”.(22)

“A questão da chuva radioativa e da contaminação, casualmente ignorada pelos analistas militares dos EUA e da OTAN, seria devastadora, afetando uma vasta área do Oriente Médio (inclusive Israel) e a região da Ásia Central” (19). Para citar um exemplo: Há alguns anos a Birmânia mudou sua capital de Rangum para Pyinmana, pois eles acreditam que nesta localidade o efeito da radiação nuclear provocado por um ataque ao Irã seria menor.

A radiação e o inverno nuclear poderiam ter consequências insuportáveis para o ser humano. Claramente falando: a sobrevivência da raça humana estaria em jogo se os EUA atacassem o Irã.

Seria catastrófico para a economia mundial. O estreito de Ormuz pode ser fechado em poucos minutos, com isso 40% da produção mundial de petróleo estaria bloqueada. O petróleo poderia alcançar preços exorbitantes.

Ray McGovern e Elizabeth Murray, ex-analistas da CIA, manifestaram-se recentemente sobre as consequências de um ataque ao Irã. Dizem que poderia acabar com a economia mundial e que somente beneficiaria aos comerciantes de armas.

Nos últimos tempos vem tomando corpo a possibilidade de que o inicio do ataque ao Irã seja feito por Israel. Desta forma, os meios de comunicação ocidentais poderiam dizer que os EUA e a OTAN entram numa guerra contra o Irã para dar respaldo ao seu aliado israelense. Neste sentido temos observado na mídia, já há algum tempo, declarações como as de Shaul Mofaz, Ministro de Defesa israelense: “Se o Irã continuar com seu programa de desenvolvimento da bomba atômica, o atacaremos. As sanções não são eficazes...Um ataque ao Irã para deter seus preparativos nucleares será inevitável”. (23)

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