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domingo, 2 de agosto de 2020

Não existe boa burguesia!

Não existe boa burguesia!

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Thammy Miranda – Homem Trans
Por Magno Francisco da Silva
ALAGOAS – Durante a semana uma determinada empresa de perfume lançou uma campanha para os dias dos pais com Thammy Miranda, filho de Gretchen. Thammy é um homem trans, que havia trabalhado como ator, modelo e dançarino, fez cirurgia de mudança de sexo, casou-se e estabeleceu família. A propaganda provocou houve uma reação moralista de fundo conservador, obviamente homofóbico, defendendo a suposta família tradicional e uma certa interpretação do cristianismo. Por outro lado, também surgiram muitos defensores de Thammy e da empresa de perfume, valorizando a ação de Thammy por ter adotado crianças num país com muitos pequenos e pequenas sem lar e exaltando a “quebra de paradigmas” promovida pela empresa.
Poderíamos fazer uma longa digressão sobre a relação entre família nuclear, propriedade privada dos meios de produção e capitalismo, sobre a família como um ambiente produtor de neuroses, mas também sobre como a data  do dia dos pais e outras servem apenas para estimular o consumo e esconder o caos das relações afetivas provocadas por um modo de produção em crise que atinge todas as dimensões da vida social. Mas, de maneira breve, vamos nos concentrar em observar outras dimensões dessa situação.
Não é novidade o lançamento de campanhas publicitárias de determinadas empresas abordando temas polêmicos relacionados a moral e a sexualidade. A burguesia estabelece inúmeros mecanismos para pautar e controlar a subjetividade social apresentando polêmicas que geram muita visibilidade para suas marcas e muito dinheiro para seus cofres. Como ensinava Marx, a burguesia consegue transformar tudo em mercadoria, inclusive os problemas sociais que ela mesmo gera através do capitalismo.
Evidentemente o modo como essas polêmicas são lançadas deixam pouco espaço para questionar o capitalismo. Porém, é preciso não ter dúvidas: Não existe burguesia boa. Toda empresa capitalista vive da radical exploração da classe trabalhadora. A existência de crianças abandonadas, mas também de todos os males sociais, é resultado do capitalismo, que para existir desenvolve uma brutal concentração de renda. A cada crise econômica, o abismo entre pobres e ricos se torna maior. Apenas 6 bilionários, Bill Gates, Warren Buffett, Jeff Bezos, Amancio Ortega, Mark Zuckerberg e Carlos Slim Helu possuem a mesma riqueza que metade da população mundial.
Por isso a burguesia necessita de um conjunto de ferramentas ideológicas que servem para manter os explorados em concorrência, facilitando a dominação econômica e política. Machismo, racismo e homofobia são instrumentos ideológicos da burguesia. É verdade que a burguesia não os criou, mas se apoderou completamente deles, assim como de determinadas interpretações religiosas. Não existe possibilidade de superação disso sem eliminar a exploração do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção. Ou seja, é preciso destruir o capitalismo e realizar uma revolução.
Dito isso, a nossa luta deve ser por uma sociedade socialista, onde as crianças sejam filhos e filhas de todos e todas. Onde a responsabilidade sobre a vida dos pequenos e pequenas não seja apenas do núcleo familiar, mas de toda a sociedade. Onde os problemas sociais não sirvam para alavancar os lucros da burguesia. Essa é a única forma de não ter crianças abandonadas, sem escola ou morando nas ruas. Está na hora de ultrapassarmos os limites do liberalismo, pois isso significa uma prisão que facilita a reprodução do capitalismo e pavimenta o fascismo, ferramenta política que a burguesia tem adotado para salvar o capitalismo, esse moribundo e assassino sistema econômico.
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quarta-feira, 4 de março de 2020

ERNESTO CARDENAL Sacerdote, sandinista, ministro da Cultura

De: Edição de 04.03.2020 , página 10 / seção de recursos
ERNESTO CARDENAL

Sacerdote, sandinista, ministro da Cultura

E ainda por cima "acusado" do marxismo: obituário do poeta e teólogo da libertação Ernesto Cardenal
Por Gerhard Feldbauer
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»Contribuições para a literatura mundial«: Ernesto Cardenal em um festival literário em Granada, Nicarágua, fevereiro de 2010
Como principal representante da teologia da libertação, o padre e escritor nicaragüense Ernesto Cardenal apoiou o movimento sandinista na luta contra a ditadura de Somoza na década de 1970 e assumiu o cargo de ministro da Cultura no governo de Daniel Ortega após sua queda em 1979. Ele morreu no domingo aos 95 anos. Embora Cardenal tenha se afastado do Partido Sandinista, FSLN, em 1994 e tenha criticado duramente o presidente Ortega, ele deixa os mortos e seu legado serem honrados em um luto de três dias pelo Estado.
A teologia da libertação se espalhou rapidamente na América Latina, onde quase metade dos católicos do mundo vive, desde a segunda conferência episcopada em 1969 em Medellín, Colômbia. Impulsos decisivos vieram das lutas de libertação nacional no continente, particularmente dos sucessos em Cuba e Nicarágua, mas também da tentativa de revolucionar a sociedade sob Salvador Allende, no Chile. Os teólogos da libertação supunham que Cristo realizou sua obra de redenção "na pobreza e na perseguição" e que a Igreja foi chamada a seguir o mesmo caminho. Nesse sentido, alguns bispos latino-americanos estavam mais ou menos abertamente ao lado dos povos combatentes e, em vista da miséria e da fome, anunciaram que o reino de Deus não poderia começar no futuro.
Cardenal estava de acordo com o "pai da teologia da libertação", o peruano Gustavo Gutiérrez, o professor brasileiro Leonardo Boff e o arcebispo Hélder Câmara, também do Brasil. Os teólogos da libertação foram submetidos a perseguição absolutamente inquisitorial por Karol Wojtyla, também conhecido como João Paulo II (Papa 1978–2005) e Joseph Ratzinger, Cardeal e Chefe da Congregação para a Doutrina da Fé (até que ele próprio se tornou Papa em 2005). Centenas deles, como Ernesto Cardenal, foram perseguidos, repreendidos e removidos por seu trabalho social para os pobres e oprimidos. Nos 24 anos em que o cardeal Ratzinger foi Grande Inquisidor, ele tem, segundo o ex-reitor da Faculdade Teológica Católica da Universidade de Viena, Hubertus Mynarek (ensaio em: "Papa sem auréola",
Teste o melhor
Wojtyla não teve objeção quando membros do Opus Dei, clerical-fascista no Chile, se juntaram ao governo de Pinochet. "Papa pellegrino, maledeci l'Assasino" (papa peregrino, amaldiçoa o assassino) chamou uma multidão que protestava para visitar o Chile. Em vez disso, ele se mostrou imóvel na varanda com o ditador fascista, abençoando ele e os membros de seu governo. Cardenal, no entanto, foi humilhado pelo pontífice durante uma visita a Manágua em março de 1983 para renunciar ao seu cargo ministerial. Além disso, "acusado" de ser marxista, Cardenal se recusou a renunciar ao governo - o papa o proibiu de trabalhar em 1984 e o suspendeu do sacerdócio. O irmão de Cardenal, Fernando, assumiu o Ministério da Educação em 1984 e foi excluído da ordem jesuíta.
O trabalho poético de Cardenal foi publicado em nove volumes por Peter Hammer Verlag em Wuppertal. Merecem menção especial "O Evangelho dos Camponeses de Solentiname" (dois volumes, 1976/78, "Cortar o Arame Farpado. Salmos da América do Sul" (1967) ou "Em Cuba. Relatório de uma Viagem" (1972). Contribuições para a Literatura Mundial para Cardenal recebeu grandes honras: Prêmio da Paz do Comércio Alemão do Livro (1980), Prêmio Iberoamericano de Poesia Pablo Neruda (2009), Prêmio Reina Sofia de Poesia Iberoamericana (2012) e outras.Várias universidades, incluindo a de Wuppertal 2017, lhe concederam o doutor honoris causa, Cities cidadania honorária.
Mais recentemente, Cardenal estava nas manchetes no ano passado. Ele foi hospitalizado quando sofreu uma infecção nos rins quando o arcebispo Stanislaw Waldemar, o núncio (embaixador) do Vaticano na Nicarágua, lhe trouxe uma mensagem do papa. Segundo relatos da mídia, Francis retirou a condenação de Ernesto Cardenal. Outro visitante, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio José Báez Ortega, disse que se ajoelhou em frente à cama doente de Cardenal e pediu ao "apóstata" sua "bênção sacerdotal". A agência de imprensa italiana ANSA observou na época que Cardenal não havia se distanciado do marxismo e de seu passado revolucionário. Como o diário espanhol El Paísescreveu, saudou a eleição de Jorge Mario Bergoglio, dizendo: "Eu me identifico com o novo papa. É melhor do que poderíamos ter sonhado.
Junge Welt

sexta-feira, 29 de maio de 2015

CESAR MANGOLIN / Uma reflexão sobre a lei do “Assédio Ideológico”.

Uma reflexão sobre a lei do “Assédio Ideológico”.

Cesar Mangolin
Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei de um deputado do PSDB que procura tipificar um novo crime: o assédio ideológico.
Segundo o projeto do deputado bicudo e obtuso, pegaria até cadeia aquele professor que ensinasse os estudantes a partir de doutrinas e não de ciência, ou ainda, o professor doutrinador e não aquele que apresenta de maneira imparcial todas as possibilidades de explicação e todos as correntes de pensamento para que os estudantes pudessem livremente escolher como pensar.
Três observações apenas:
1º –  é óbvio que sua excelência tucana chama de doutrinador qualquer professor marxista, ou o que ele entende por isso, afinal estudar Marx dá muito trabalho. Conheço muita gente que se apresenta como marxista e faz apenas um belo discurso liberal. Muito mais ainda gente que nunca leu uma página de Marx e fala com tom de entendedor que sua teoria está superada, ou que suas previsões não deram certo, como se Marx tivesse gasto tempo com previsões e fosse um vidente com bola de cristal e não um homem de ciência…
2º – com a experiência que já carrego no ensino superior, tenho certeza que é impossível para qualquer professor, em qualquer disciplina, passar de maneira adequada por uma corrente de pensamento apenas sem vulgarizá-la, quanto mais percorrer todas elas… Todavia, ainda que isso fosse possível, o processo de construção de conhecimento não corresponde necessariamente ao ato de “passar” para estudantes todas ou algumas correntes de pensamento de um tema qualquer… Embora praticada largamente, a educação bancária (que “deposita” conhecimento pronto na cabeça de estudantes – como chamava Paulo  Freire) não é capaz de construir conhecimento algum, nem a praticada por professores revolucionários, nem a praticada por professores conservadores e por apologetas da ordem, que constituem largamente a maioria dessa infeliz categoria. Tampouco estão, como regra, os estudantes realmente interessados em construir conhecimento, mesmo na faculdade… Compelidos aos bancos do ensino superior pela necessidade do emprego e pelo aumento das exigências de certificação escolar por parte das empresas, os estudantes e professores portam-se, no geral, como pessoas que cumprem protocolos e esforçam-se em provas para garantir que sua permanência por ali seja a mínima necessária. Chamei isso de exclusão prorrogada (conceito emprestado de Pierre Bourdieu) e o fenômeno de “sobrecertificação” num artigo de poucos anos atrás (quem quiser dar uma olhada, segue o link do artigo:  https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/mangolin-sobrecertificac3a7c3a3o-e-expansc3a3o-o-ensino-superior-brasileiro-e-a-exclusc3a3o-prorrogada-de-pierre-bourdieu.pdf ).
3º – a ilusão da imparcialidade pode levar a dois caminhos: o primeiro é o do dogmatismo próprio do positivismo, de que a ciência é verdadeira, neutra e imparcial; o segundo é o do relativismo teórico, próprio da moda “pós-moderna”. No primeiro caso o caminho é tratar a sociedade capitalista e o império da técnica como o último estágio do desenvolvimentos das sociedades humanas, que basta apenas aprimorar e colocar em ordem para ser perfeito; no segundo caso, temos a instauração do irracionalismo, pura e simplesmente. Presente já na “filosofia espontânea” do senso comum, derivado do individualismo próprio da sociedade burguesa, tratar a verdade subjetivamente, havendo como critério único o que cada um quer “achar”, ou o “olhar” particular e individual, parece até avançado e modernoso para muita gente que tem preguiça de estudar. Nos dois casos temos instrumentos poderosos para auxiliar a  reprodução da ordem burguesa: o primeiro porque a afirma como única verdade e resultado de inexorável processo da evolução histórica; o segundo porque torna impossível pensar a sociedade existente como estrutura, porque nega o conhecimento objetivo e impede pensar em transformações concretas de conjunto.
É, na humilde opinião deste que escreve, um conjunto de besteiras esse projeto de lei, próprio de tucano reacionário que pretende pegar carona na onda conservadora que tem permitido com que as pessoas coloquem pra fora seus preconceitos e suas mesquinharias de maneira cada vez mais agressiva. Não acredito que o tal projeto se torne lei, mas assusta, sem dúvida, que apareça algo desse tipo.
Sou contra, evidentemente, uma loucura dessas, porque sei a quais interesses serve e quais seriam os penalizados.
Mas seria até curioso, se levássemos isso a sério, imaginar que estariam proibidos os que, de fato, doutrinam e vendem ilusões nas salas de aula. Tenho certeza absoluta de que os marxistas não formam a maioria dos professores. Antes fosse. Nosso quadro é formado por gente que, por sua vez, foi formada por professores que propagam ilusões sobre a sociedade burguesa. Ilusões mesmo, porque carecem de qualquer fundamento científico, ou do seu princípio básico, o postulado da objetividade. É inegável para qualquer um que tenha gasto o tempo necessário para estudar (e não é pouco tempo…) que Marx foi o único pensador capaz de, a partir do postulado da objetividade, portanto cientificamente, analisar e descrever o metabolismo e a anatomia do capitalismo, fazendo ao mesmo tempo a crítica das teorias econômicas que partiam de pressupostos falsos e ideológicos, como  o antropologismo idealista e o indivíduo. Não é por acaso que O Capital tem como sub título a “crítica da economia política”, que não tem como objetivo construir outra versão da economia política, mas a de demonstrar suas falácias, seus equívocos e sua distância do que se pode considerar ciência…
Portanto, poderíamos imaginar, levando uma lei dessas a sério, que a maior parte dos professores estaria ferrada… Eles vendem ilusões nas salas de aula. Defendem que a sociedade na qual vivemos é um conjunto de relações individuais mercantis, vantajosas reciprocamente; afirmam que vivemos numa sociedade que permite a mobilidade social e possibilita a qualquer um ser o que quiser, dependendo apenas de sua vontade e de sua dedicação; defendem a meritocracia como princípio organizador das posições de indivíduos que vivem, objetivamente, em condições essencialmente desiguais; culpabilizam as vítimas excluídas do acesso aos gêneros necessários para manter a vida; defendem um sistema que mata centenas de milhares todos os dias pela fome, pela violência urbana, pela guerra; fazem com que todos acreditem que tomar a vida como sendo apenas o trabalho é o caminho para a emancipação; convencem que a vida bovina e honesta é o ideal; fazem com que os trabalhadores se tornem egoístas e vejam seus pares como concorrentes, não como companheiros; fazem com que lutem por sua própria escravidão como se lutassem pela liberdade; com que se rastejem sonhando com as alturas, satisfeitos por estarem no caminho correto, enquanto comem a poeira do chão…
É isso que fazem os professores, como regra. A educação formal sempre foi um poderoso instrumento de reprodução da ordem, não de sua transformação. Vai continuar assim, para a frustração de educadores bem intencionados que alimentam ilusões com sua ação. Os professores são os agentes diretos da exclusão conformada, não os que podem levar à libertação.
Nosso deputado bicudo deveria tomar cuidado com o que propõe: se levarmos a sério uma tal lei as salas de aula terão de ser quase todas fechadas. Não porque os professores são todos marxistas, como diz gente histérica por aí. Mas porque são, em sua maioria, doutrinadores e vendedores de ilusões acerca da ordem capitalista, formadores de carneiros, criadores de fantasias, ratificadores das nossas desgraças…

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