Os mais de 2 milhões de habitantes da cidade de Manaus, no norte do Brasil, vivem um verdadeiro clima de terror frente aos efeitos do coronavírus na população; faltam oxigênio e leitos em quase todo sistema de saúde.
Manaus já havia sido uma das regiões brasileiras mais castigadas pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus no primeiro semestre de 2020. Mas agora, frente ao crescimento do que parece ser uma segunda onda do vírus, sem que os efeitos da primeira onda fossem abrandados, a região parece viver um colapso do sistema de saúde que não dá mais conta de atender a crescente quantidade de infectados.
Localizada no norte do Brasil, no meio da floresta Amazônica e no encontro entre os rios Negro e Amazonas, Manaus é uma das grandes cidades periféricas do país. São mais de 2 milhões de habitantes que vivem do polo industrial da zona franca, do setor de serviços e de atividades extrativas e de agricultura. Apesar dos altos índices de pobreza entre a população, Manaus é uma das municipalidades que mais responde pela produção nacional de riquezas, sendo o 6° maior PIB do país (2018) e o terceiro município com maior produção industrial, atrás apenas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Toda essa riqueza não serviu, no entanto, para defender o povo manauara dos efeitos da pandemia. Se no primeiro semestre de 2020 a cidade de Manaus foi uma das mais afetadas, sendo o poder público obrigado a abrir covas comuns nos cemitérios como única forma de poder enterrar os mortos, agora em 2021 o serviço público de saúde entrou em colapso. Já os ricos da região, políticos e donos de empresas, seguem sendo tratados em hospitais caríssimos do sudeste do país e transportados de avião frente à primeira necessidade.
Segundo Jesem Orellana, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Amazonas, o oxigênio acabou e os hospitais se transformaram em verdadeiras câmaras de asfixia para os doentes. “Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes”, declarou. Durante toda a semana, profissionais de saúde atuando na linha de frente dos hospitais denunciaram a situação através de vídeos e mensagens nas redes sociais.
O governo Bolsonaro virou as costas para o povo de Manaus
Muita coisa pode ser dita sobre a situação atual em Manaus, o que não se pode dizer, no entanto, é que os governos foram surpreendidos com o crescimento da transmissão do vírus e da gravidade dos doentes. Dois fatores se conjugaram para formar o desastre atual: um governo regional fraco (governador Wilson Miranda, do Partido Social Cristão – PSC) e incapaz de tomar medidas para proteger a população; e um governo federal fascista (Bolsonaro), que através de seus deputados e apoiadores trabalharam para boicotar as medidas sanitárias e viraram as costas para o povo de Manaus no momento de maior gravidade.
Já no mês de dezembro, era evidente o aumento exponencial da quantidade de infectados e o colapso do sistema de saúde era iminente. O governo do Estado chegou a anunciar medidas de distanciamento social mais restritivas, mas essas foram sistematicamente boicotadas com apoio dos deputados federais fascistas da base de apoio de Bolsonaro, como seu filho, Eduardo Bolsonaro e a deputada Bia Kicis, que mobilizaram comerciantes e empresários e comemoram a abertura do comércio, pressionando o governador e propagando notícias falsas.
O Ministério da Saúde, por outro lado, nada fez como preparação para o aumento dos casos na região. Não mobilizou estoques de equipamentos, oxigênio, profissionais de saúde ou leitos, apenas continuou fazendo propaganda do medicamento hidroxicloroquina como a salvação para todos os males da Covid19. Registra-se que o governo comprou e mantém em estoque, parte desse já próximo a data de vencimento, milhões de caixas deste medicamento comprovadamente ineficaz para a maioria dos pacientes com sintomas graves causados pelo novo coronavírus.
O descaso é de tamanha proporção que pode ser classificado como crime contra a população de Manaus, sendo o governo de Bolsonaro diretamente responsável pelas mortes e, também, pelas milhares de vítimas que sofrerão as sequelas da contaminação pelo vírus nos próximos anos. Trata-se, também, de um grande ataque contra os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente no município, especialmente as enfermeiras, técnicas e pessoal de atendimento que está sendo obrigado a jornadas de trabalho desumanas, a trabalhar sem recursos mínimos e sofrendo uma enorme exposição à carga viral que coloca a vida de todos eles em risco, cotidianamente.
A verdade é que o governo fascista de Jair Bolsonaro tem verdadeiro desprezo pelo povo da região amazônica, a grande maioria de origem indígena e cabocla. Bolsonaro só consegue ver a região sob a ótica dos seus amigos milionários e generais militares que frequentam o território, ou seja, a Amazônia é para eles apenas fonte de extração de superlucros e matéria-prima, dinheiro que será gasto em festa de luxo e compras milionárias em São Paulo ou em Miami.
Já são dois anos de governo sem nenhum projeto de desenvolvimento sustentável para a região, de geração de emprego e renda através da preservação da floresta e dos rios e de investimento em saúde, educação e moradia para a sofrida população da região metropolitana de Manaus.
É irônico que bem no meio da floresta amazônica, região que é conhecida como o pulmão do mundo pela capacidade de geração de oxigênio e de absorção do gás carbônico da atmosfera, reduzindo o aquecimento global, os doentes estão morrendo exatamente pela falta de oxigênio para respirar. A abundância de recursos pode rapidamente se transformar em carência, se o objetivo é o lucro e não a vida das pessoas.
Sandino Patriota, São Paulo
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