Luiz FalcãoDiretor de Redação do Jornal A Verdade
BRASIL – A pandemia da Covid-19 já matou 660 mil pessoas no mundo; até o final do ano, o número de mortos deve atingir um milhão, segundo o Instituto para Métricas e Avaliação de Saúde de Washington. A imensa maioria é gente humilde, pobres, imigrantes, desempregados, negros e idosos. No entanto, essa enorme tragédia em nada atinge a classe rica, os burgueses, aqueles que ganham milhões num só dia sem trabalhar. Com efeito, mesmo durante a pandemia, a fortuna dos bilionários cresceu em todos os países capitalistas. Nos Estados Unidos, enquanto 45,7 milhões de trabalhadores ficaram desempregados, a Americans For Tax Fariners (ATF) constatou que fortuna dos bilionários estadunidenses aumentou em 700 bilhões. Mark Zuckerberg, dono do Facebook e do Whatzapp, ficou 62% mais rico durante a pandemia, e agora acumula a fortuna de U$$ 88 bilhões. Jeff Bezos, dono da Amazon, atual homem mais rico do mundo, tinha U$$ 65 bilhões e atualmente US$ 179 bilhões, embora no seu país 160 mil pessoas tenham perdido suas vidas devido à Covid-19. Mais: as oito maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo pagaram US$ 18 bilhões de lucros (dividendos) para seus acionistas nos cinco primeiros meses do ano.
Minoria Lucra Muito
No Brasil, não é diferente. Estudo da organização Oxfam “Quem paga a conta” revelou que apenas entre 18 de março e 12 de julho, o patrimônio de 42 bilionários brasileiros aumentou R$176 bilhões durante a pandemia da Covid-19. Luciano Hang, dono da rede Havan, é um dos que mais se enriqueceram. Hang adora fazer live trajando verde e amarelo e proclamando-se um grande patriota. Porém, após a eleição de seu amigo Jair Bolsonaro para a Presidência da República, tornou-se o sétimo homem mais rico do Brasil, e sua fortuna aumentou de R$6 bilhões (USD$1,4 bilhão) para R$19,6 bilhões (USD$3,6 bilhões), informa a revista Forbes. Do outro lado, 100 mil brasileiros morreram de Covid, milhões perderam emprego e crianças ficaram sem ter o que comer. Para esconder do povo que o seu governo torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres e defender a criação de mais um imposto, Jair Bolsonaro disse que “que não é fácil a vida dos patrões”. Não, não é fácil, é extremamente fácil.
Pois bem, enquanto, os amigos e a família de Bolsonaro ficam mais ricos durante a pandemia, o povo brasileiro, aqueles que são pobres e têm que batalhar o pão de cada dia, vivem na penúria. De acordo com a Oxfam, o número de brasileiros vivendo na extrema-pobreza, aumentou este ano de 5% para 9,5% da população; são quase 21 milhões de pessoas que vivem com apenas R$ 353 reais por mês. Na realidade, com o avanço do desemprego, muitas famílias ficaram sem dinheiro para pagar aluguel, comprar gás, comida e pagar água e luz.
Maioria Perde Tudo
Ademais, o valor do auxílio emergencial, R$600,00, é insuficiente para garantir as necessidades de uma família. Este é o caso de Paula Evelin da Silva, mãe de cinco filhos, e que trabalhava com carteira assinada numa escola em São Paulo como cuidadora de crianças com necessidades especiais. Demitida, foi obrigada a ir com os filhos morar numa ocupação no Jardim Julieta, Parque Novo Mundo, Zona Norte de São Paulo. Mas, a Justiça deu ordem de despejo às famílias que moram na ocupação. Assim, Paula, seus filhos e centenas de famílias não sabem o que fazer e nem têm para onde ir. De acordo com o observatório das Remoções da FAU-USP, desde março, mais de 2.500 pessoas foram removidas de suas casas por reintegrações de posse na capital paulista, isto é, foram jogadas nas ruas quando o país vive a maior crise de saúde pública da sua história e o vírus da Covid-19 mata mais de 1.000 brasileiros por dia. Vemos assim, o quanto são hipócritas os ricos e seus governos: dizem que é para ficar em casa, lavar as mãos e usar máscara senão contrai o vírus e pode morrer, mas, ao mesmo tempo, despejam os pobres. Ocorre que a Justiça, a Polícia, o Governo e a classe rica pensam somente nos seus interesses, não se importam com nada que acontece na vida dos trabalhadores. Quando pensam em reformas, como a da Previdência e a Tributária é para jogarem a crise nas costas do povo.
O governo federal ainda diz que não tem dinheiro para pagar o auxílio emergencial até o final do ano, mas gasta rios de dinheiro na compra de milhões de comprimidos de cloroquina, quando diversos estudos provaram que esse remédio não tem nenhuma eficácia contra o novo coronavírus e deixa de cobrar impostos dos milionários que financiam sua rede criminosa de mentiras. De fato, apesar de a Receita Federal ter multado vários empresários por não pagarem impostos, eles seguem impunes. Em janeiro, deste ano, Rubens Menin, dono da MRV Engenharia e maior acionista do canal CNN Brasil, e Salim Mattar, fundador da Localiza e secretário de Desestatização do Ministério da Economia, recorreram ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para não pagar R$ 140 milhões de impostos. Os dois importaram um avião da marca Falcon em 2011, mas declararam que alugaram o avião, embora a Receita tenha o comprovante de que pagaram US$ 4 milhões pela aquisição do jato executivo.
Luciano Hang deve ao Brasil R$57,9 milhões, além de R$123 milhões para o Refis. Além disso, a rede Havan foi multada por esconder receitas e por contabilidade irregular, para não pagar tributos ao país que diz amar tanto. Hang já foi condenado, mas a Justiça burguesa o livrou da prisão. Outro milionário multado por sonegar imposto, e que recorreu, é Flávio Rocha, dono das Lojas Riachuelo e da Confecção Guararapes. São milionários bolsonaristas dizem que amam a pátria, mas a vida de luxo que levam revela que amam mesmo enricarem à custa do povo brasileiro.
Enquanto isso, os trabalhadores são tratados pelo Governo da pior maneira possível: O Ministério Público do Trabalho (MPT) verificou que 30% dos trabalhadores dos maiores frigoríficos do país foram contaminados pela Covid-19 por trabalharem com menos de um metro de distância na linha de produção, sem máscaras ou protetores faciais durante várias horas por dia e sem intervalo. Apenas um frigorífico do Rio Grande do Sul testou 1.330 pessoas e 959 testaram positivo e um frigorifico da BRF de Rio Verde, após fazer uma testagem obrigada pelo MPT, teve que interromper a produção por 14 dias devido à grande quantidade de trabalhadores com a doença. Além de enfrentarem o vírus, os operários sofrem diariamente com atraso dos salários, aumento das horas de trabalho e adoecimento por esforço repetitivo. O desprezo do atual governo com os que trabalham é tão grande que o ex-capitão, mesmo sabendo que estava com o vírus, tirou a máscara para interrogar os trabalhadores da limpeza que trabalham no Palácio Planalto, mansão onde mora e passa o dia andando de moto, passeando de jet-ski e brincando com emas.
Outros que têm se beneficiado com o Governo Bolsonaro-Mourão são os seus filhos e os generais-ministros. O filho 01 é investigado há dois anos pelo Ministério Público por ter obtido a fortuna de R$2,5 milhões com “rachadinhas” realizadas em conluio com seu braço direito Fabricio Queiroz, que se escondeu por um ano na casa do advogado da família de Bolsonaro. A investigação, porém, nunca termina, pois vive sendo suspensa por liminares suspeitas dadas por juízes também suspeitos. O filho 03 é reconhecidamente apologista do AI-5, de um golpe militar e do fechamento do Congresso Nacional, e declarou ter orgulho de ser lobista da empresa de armas DIG Sauer e de ter pressionado o Exército para realizar uma compra milionária da empresa. Tem mais: a ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, enquanto foi casada com ele, comprou 14 imóveis avaliados em R$5,3 milhões e pagou boa parte em dinheiro vivo, revelou a revista Época. Como conseguiu todo esse dinheiro? Ele diz que não sabe, como também não sabia onde estava o Queiroz e tampouco quem mandou matar Marielle Franco. Mas, se algumas poucas pessoas possuem dezenas de imóveis, mais de 7 milhões de famílias brasileiras não têm casa para morar, vivem em condições precárias e insalubres, perdem tudo quando acontecem chuvas fortes ou são despejados.
Os generais também se beneficiam do autoritarismo e do obscurantismo deste governo ao somarem gordas gratificações aos seus salários e nomearem filhos, filhas e amigas para cargos de confiança de bancos, ministérios e empresas estatais. Em troca, associam o Exército a um genocídio, mantendo há três meses um general e dezenas de oficiais no Ministério da Saúde, como denunciou num raro momento de sinceridade um ministro do STF.
Falso Patriotismo
Trata-se de um governo antipovo e antipátria; não se importa com os que morrem da Covid-19, com o meio-ambiente nem com os trabalhadores. De acordo com a consultoria IDados, 15 milhões de trabalhadores ficarão desempregados até setembro, e 60 milhões brasileiros vivem com menos de R$ 740 por mês. Não bastasse, os trabalhadores informais continuam lutando para desbloquear um aplicativo da Caixa e como não conseguem são obrigados a ficar horas em gigantescas filas nas agências da Caixa.
Nem os povos originários são poupados desse genocídio. Deixando claro todo o seu ódio e preconceito contra os povos indígenas, o ex-capitão vetou lei que garantia o acesso deles à água potável e a itens de higiene. Diz ser um seguidor de Cristo, mas nega água a quem tem sede e adora mesmo os donos das empresas que fabricam a Cloroquina. Na verdade, como bem denunciaram 152 bispos, o ex-capitão “manipula os sentimentos religiosos para enganar o povo”. Achando pouco, vetou na integra lei que garantia prioridade a mulher chefe de família no pagamento do auxílio emergencial mesmo que tenha filhos e seja responsável por eles. Um verdadeiro feminicídio.
Na verdade, todas as ações do atual governo são contra o povo brasileiro. Em junho, tentou transferir R$ 83,9 milhões do Programa Bolsa Família para propaganda do Palácio do Planalto. Em julho, com ajuda de deputados do Centrão quis retirar R$ 8 bilhões do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização de Profissionais da Educação) para escolas privadas.
O plano do governo é, assim, enriquecer grandes empresários e massacrar os trabalhadores, destruir a floresta amazônica, exterminar os povos indígenas e privatizar o Banco do Brasil, os Correios e a Petrobras, como foi revelado na reunião ministerial de 22 de abril quando o ministro banqueiro Paulo Guedes disse: “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias”.
Desse modo, a proposta de Flávio Dino, governador do Maranhão e dirigente do PCdoB, de formar um “pacto nacional pelo emprego” com Jair Bolsonaro, além de inútil, mostra até onde a social-democracia está disposta a ir para salvar o capitalismo. De fato, os milionários, a família Bolsonaro e os generais pretendem impor um regime ainda mais fascista em nossa pátria. O objetivo é claro: continuar se locupletando, aumentar a fortuna de uma minoria de ricos e dos banqueiros, promover a repressão política para impedir a organização e a luta popular e aprofundar a superexploração dos trabalhadores e do povo brasileiro. A liberdade que defendem é, portanto, a liberdade de uma minoria enricar enquanto a classe operária, os pobres, a imensa maioria da sociedade, vivem na miséria e na vulnerabilidade ou morrem de Covid-19.
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