Por Marcelo Silva
RIO DE JANEIRO – Desde o início desta semana, acionistas e diretores da Supervia, concessionária que administra de trens urbanos na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem vindo a público afirmar que a mesma pode entrar em colapso financeiro na primeira quinzena de agosto. O motivo alegado é que devido ao isolamento social e consequente diminuição do fluxo de passageiros, os prejuízos somados chegariam a milhões de reais, e já no próximo mês o pagamento de funcionários, prestadores de serviços e fornecedores já seria comprometido.
Em entrevista concedida ao site Valor Econômico, Kazuhisa Ota, presidente da Gumi, braço da Mitsui, a principal acionista da Supervia, afirma que existe um grande rombo no caixa, e que tal situação vem sendo tema de reuniões junto ao BNDES, detentor de R$ 700 milhões de créditos no negócio e um dos acionistas do grupo. Cabe mencionar que a Supervia já havia protocolado em abril um pedido de reequilíbrio econômico-financeiro junto ao responsável pelo contrato, que no caso é o governo do Rio de Janeiro, sinalizando claramente que esperam por mais um socorro por parte do poder público, seja ele federal ou estadual.
A Secretaria Estadual de Transportes endossou essa necessidade, afirmando que essa é a pior crise nos transportes públicos dos últimos anos que as empresas de transporte – trem, metrô, barca e ônibus – precisariam de um suporte financeiro entre R$ 80 milhões e R$ 120 milhões mensais, por até um semestre, para manter as atividades. Além deles, outros veículos da mídia hegêmonica clamam por um auxílio governamental a concessionária, sempre repetindo que as PPP (parcerias público-privadas) serão a salvação para o Brasil conseguir superar a crise.
Note-se que desde o início da pandemia e das medidas de isolamento social, que alegam ser o motivo do rombo nas contas da Supervia, com o pretexto de melhorar o caixa e evitar demissões, a concessionária fez um corte de despesas, como a redução de 25% na jornada e nos salários de dois mil funcionários. Quem precisa dos serviços notou a contradição: diante da necessidade de menos pessoas nas ruas e de distanciamento entre os passageiros, o que a empresa ofereceu foram trens escassos e lotados.
Ocorre que esse filme é antigo, e já foi visto por todos nós inúmeras vezes, o governo privatiza determinado serviço, o consórcio que ganha a concessão após alguns afirma passar por dificuldades e ameaça interromper o serviço, caso não tenha seus desejos por ajuda, isto é, isenções fiscais, investimentos em infraestrutura, empréstimos a juros baixíssimos, perdão de dívidas, etc. Não faz muito tempo, vimos esta situação com as empresas que administram o BRT (serviço de ônibus expressos da capital) utilizando-se da mesma tática para pressionar a prefeitura; e a própria Supervia já se utilizou de tal artifício anteriormente. Ainda durante o governo anterior, foram perdoadas dívidas na casa dos 39 milhões de reais que a empresa possuía.
O que fica evidente é que, mais uma vez, está em cena uma jogada dos empresários que controlam os transportes no estado do Rio de Janeiro para pressionar o governo a dar mais regalias. Ora, se a crise é tão grande, se ano após ano surge a mesma história a respeito da necessidade do governo salvar um empreendimento que foi privatizado, por que não entram em acordo e entregam de volta este serviço que supostamente só causa prejuízo? E o nosso governo, que na prática não representa a população, e sim esses grupos de empresários, insiste em um modelo que não dá certo, que na primeira oportunidade coloca a faca no pescoço ameaçando cortar a prestação de serviços à população caso suas vontades não sejam atendidas.
A redução da frota e os cortes de salário dos funcionários em meio a um momento de pandemia já foi algo absurdo, e como se não fosse descaso suficiente com a saúde e o bem-estar do povo do Rio de Janeiro. Agora, ameaçam a suspensão dos serviços caso não tenham seus desejos atendidos. Por isso é fundamental a completa reestatização dos do transporte urbano e de os demais serviços essenciais para a sociedade. A gestão privada não tem interesse em melhorar a vida de nosso povo trabalhador, apenas vai utilizar toda e qualquer oportunidade para maximizar seus lucros e jogar os prejuízos nas costas do governo e dos trabalhadores.
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