Victor Farias
BRASIL – Em busca por melhor remuneração, fim dos bloqueios, EPI’s e contra a precarização do trabalho, os entregadores por aplicativos decidiram paralisar suas atividades no primeiro de julho. Essa é a primeira mobilização nacional e foi registrada em diversos estados do Brasil, evidenciando as necessidades da categoria que tem atuado de forma intensa no período de isolamento social.
Manifestações do mesmo tipo também ocorreram no Chile e na Argentina.
O “Breque nos apps”, nome que identificou o movimento, teve grande adesão dos entregadores e representou um duro golpe nas pretensões liberais de precarização do trabalho por meio da tecnologia.
O Jornal A Verdade esteve presente na cobertura das mobilizações nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Aracaju, Salvador, Teresina, Maceió, Goiânia e São Paulo. Os atos conseguiram demonstrar a força da união dos trabalhadores em luta e agregaram grande parte da categoria.
“A gente está mostrando pra eles que não estamos alienados aos aplicativos. Eles têm feito o que querem da gente, mas não vamos mais aceitar isso. É muito importante estar participando dessa luta na linha de frente e ver o olhar de esperança de cada motoqueiro. Hoje já saímos vitoriosos estivemos com mais de duzentos trabalhadores na rua, e a luta não vai parar”, avaliou Vanessa Barbosa entregadora e integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) de Minas Gerais.
O dia de luta histórico teve início pela manhã e continuaram ao longo da tarde. São Paulo foi a cidade com maior número de pontos de concentração durante a manhã. Pela tarde, os manifestantes ocuparam em grande número as três faixas da Avenida Paulista e seguiram com motos, bicicletas e patinetes pelas principais praças e avenidas até a Zona Sul da Capital. Ao longo do percurso, transmitido ao vivo pelo A Verdade, novos entregadores aumentaram ainda mais o movimento.
Nas cidades do Alto Tietê, como Mogi das Cruzes, os entregadores e entregadoras também fizeram greve e saíram em manifestação pela Rodovia Henrique Eroles exigindo melhores condições de trabalho.
“No começo era bom, mas logo eles diminuíram as taxas. Outra coisa é que se nós não ‘trazer’, comida não comemos. Já teve dia que se meu companheiro não dividisse a marmita dele comigo, eu ficaria com fome”, disse um entregador anônimo presente no protesto em São Paulo.
No Rio de Janeiro, a mobilização foi registrada em Niterói e no Centro da Capital. Na cidade do Rio, o cortejo seguiu do Centro à Zona Sul. Os trabalhadores chamaram atenção para a criação de bases de apoio em cada região e a disponibilidade de banheiros durante a jornada de trabalho.
“A nossa manifestação é para todo mundo, […] está muito ruim para trabalhar, estamos pegando corrida muito longa e recebendo muito pouco. Então, uma das reivindicações são essas: a gente quer um aplicativo melhor – a gente quer trabalhar, não estamos reclamando para parar de trabalhar –, mas a gente também quer segurança, quer um pagamento digno pelo [nosso] trabalho.”, relatou Lucas, entregador na cidade de Niterói.
Em Porto Alegre, os trabalhadores se concentraram na Praça da Alfândega, Centro Histórico da capital gaúcha. Com suas mochilas térmicas e palavras de ordem, os trabalhadores denunciam jornadas de mais 15h de trabalho para conseguir em média R$100 ao dia.
Em Maceió, centenas de entregadores se concentraram em frente a um dos principais shoppings da cidade e percorreram as principais ruas com motos e bicicletas para chamar atenção aos problemas. Em uma das paradas, um empresário do ramo de entregas implorou para que os trabalhadores voltassem aos seus postos, mostrando assim o quanto esses profissionais fazem falta para o funcionamento da economia.
“Ninguém tem ajuda dessas empresas e a gente dá o sangue pra isso. E se reclamar ainda é bloqueado ou perde as corridas. A gente vale nada pra elas não”, afirmou um entregador que também preferiu não se identificar.
As capitais Goiânia e Belo Horizonte também tiveram representantes da categoria mostrando como é danosa a situação desse ofício que prova o quanto sofre um trabalhador sem direitos e garantias. A concentração goiana foi no Parque Vaca Brava e seguiu até a Praça Cívica.
Na capital mineira, a ação foi em frente à Assembleia Legislativa e seguiu em cortejo pelas principais.
O Jornal A Verdade registrou em sua cobertura um dos entregadores presentes na manifestação de Goiânia mostrou a perna machucada de um acidente recente e se queixou que as empresas não mantêm nenhuma assistência o que fez ficar horas aguardando atendimento médico por conta própria. Esses descasos se acumulam em todo país.
Apesar de não haver registros de incidentes por parte dos motoboys, em Aracajú o movimento sofreu repressão policial que tentou deslegitimar o movimento que tomou as ruas da Capital Sergipana. Prova da dedicação e resistência dos lutadores.
Precarização
Com o isolamento social, os pedidos por aplicativos dispararam, transformando-se em alternativa para funcionamento de bares e restaurantes.
Apesar disso, toda essa demanda não representou melhorias e ganhos para a categoria. Os índices de acidentes e mortes cresceram em até 50%, como na cidade de São Paulo.
Fora isso, esses trabalhadores estão sujeitos ao crime, a contaminação e ainda não possuem qualquer vínculo ou garantias de trabalho digno com as empresas que são avaliadas em bilhões.
Cansados do descaso das empresas bilionárias, os entregadores denunciam que tem assumido todos os custos com equipamentos de proteção e trabalho.
“O desemprego e a crise causadas pelos ricos abrem espaços para que esse tipo de trabalho precário seja a única opção para a juventude e os trabalhadores pobres. Ao mesmo tempo, os aplicativos são empresas bilionárias que lucram muito com a superexploração dos nossos”, afirmou Isis Mustafá diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante da Unidade Popular Pelo Socialismo (UP) que acompanhou as manifestações em São Paulo.
- classic-editor-remember:
- block-editor
Deixe uma resposta