segunda-feira, 6 de julho de 2020

Após 54 dias de prisão injusta, comunidade conquista libertação de trabalhador negro


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LIBERDADE – Recepção calorosa a Sinha no Morro do Encontro hoje após sua libertação. (Foto: Raphael Assis/Jornal A Verdade)
Felipe Annunziata
RIO DE JANEIRO – Foi libertado hoje, por determinação judicial, Wilton Oliveira da Costa, conhecido como Sinha. O jardineiro terceirizado foi acusado injustamente de roubar uma moto e estava preso no presídio Ary Franco desde maio. A família e os advogados afirmam que Wilton é inocente e que a polícia havia confundido ele com o irmão William, morto em fevereiro numa operação policial. A história completa do caso está aqui.
O povo do Morro do Encontro, no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio, começou uma grande mobilização para conquistar a liberdade de Sinha que é morador do local. Foi feito um abaixo-assinado na internet, uma manifestação na comunidade reuniu centenas de pessoas e a esposa de Wilton, Marcele Oliveira, denunciou em todos os espaços da imprensa a prisão injusta de seu marido.
Com a repercussão negativa, o judiciário, que havia negado o habeas corpus com a justificativa de que a pandemia impedia a consulta do processo físico, foi obrigado a consultar a denúncia e reconhecer que Wilton tem direito a recorrer em liberdade. Hoje, Sinha voltou e encontrou uma recepção emocionada e festiva desde o presídio até a sua comunidade.

A Luta Continua Para Garantir o Reconhecimento da Inocência

Embora Wilton agora possa recorrer em liberdade, continua a luta pelo reconhecimento por parte da justiça da inocência dele. Sobram comprovações de que o estudante de educação física não tem nenhum envolvimento com o crime.
Além de estar a caminho do serviço na hora do crime, Sinha conta com uma rotina pesada de trabalho num hospital federal da Zona Norte e a rotina diária de aulas numa universidade privada. Também sempre apoiou as ações sociais na comunidade, procurando inserir as crianças do Morro do Encontro no caminho do esporte.
“Eu estou muito feliz, mas eu também estou muito revoltada coma situação que eu encontrei meu esposo. Ele está completamente abatido, triste. Está feliz com a saída, mas você vê o que o sistema carcerário faz com o trabalhador. (…) Minha família foi condenada, porque eu vejo isso como uma condenação. 54 dias longe do meu marido, meu marido longe da faculdade, longe dos amigos. Eu quero é justiça.” falou Marcele, nas redes sociais da Unidade Popular.
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Situação de Wilton é a de 33% dos Presos do País

Em fevereiro, segundo dados do Ministério da Justiça, o Brasil contava com uma população encarcerada de 773 mil pessoas. Na sua ampla maioria homens negros, cerca de um terço sequer foram julgados pelos crimes que são acusados, num total de mais de 250 mil pessoas.
Pela Constituição, todas as pessoas são consideradas inocentes até que se prove o contrário. No entanto, a política do Estado burguês nega esse direito diariamente a milhares de pessoas, principalmente a população negra. O caso de Wilton Oliveira da Costa é mais um símbolo da (in)justiça que existe no Brasil.
A luta da família e da comunidade de Sinha foi mais uma vitória contra o sistema judicial racista que rege o país. Esta é também a batalha de milhares de famílias. O Jornal A Verdade, como imprensa popular e defensora dos interesses dos trabalhadores, se coloca ao lado desta luta que não é apenas pela justiça para uma família, mas para todo o povo explorado e oprimido do nosso país.
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Um comentário:

  1. A Luta Continua Para Garantir o Reconhecimento da Inocência,para uma família pobre os custos emocional,moral e material são imensos.Sociedade brutalizante!

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