Fernando Alves, da Redação
BRASIL – “Recua, fascista, recua! É o poder popular que está na rua!” e “Vidas negras importam!” foram as vozes das ruas no último domingo, 07 de junho.
Protestos tomaram conta das principais cidades brasileiras. Milhares de pessoas, a maioria jovens trabalhadores e desempregados, negros moradores de periferia, movimentos de mulheres, moradores de ocupações urbanas, de morros e favelas, estudantes, diversos movimentos sociais, organizados e alguns partidos políticos de esquerda protestaram contra a ameaça de golpe e a implantação de um governo fascista no Brasil. Protestaram pelas vidas negras ceifadas diariamente sem piedade pelo aparato policial nos bairros populares e favelas do país.
Houve protestos também em defesa do SUS, por maiores investimentos em saúde e educação públicas, pela manutenção do isolamento social para evitar a morte de milhares de trabalhadores que estão sendo obrigados a trabalhar durante o crescente de casos de pandemia no Brasil. O país já é o segundo com maior número de contaminações e o terceiro em mortes pela Covi-19 no mundo.
Avança a Unidade Popular
A atuação dos militantes da Unidade Popular (UP), somada à força dos movimentos sociais, das torcidas antifas e dos movimentos negros mereceu importante destaque na cobertura da imprensa burguesa. A tônica foram as lutas contra qualquer ameaça de golpe fascista e contra as ações de racismo, em especial a morte de jovens negros e favelados por policiais militares que vêm ocorrendo em maior número no governo de Jair Bolsonaro. Houve ainda orientação para distanciamento social, uso de máscaras, álcool em gel e para que as pessoas de grupos de risco não comparecessem.
Leonardo Pericles, presidente nacional da UP, reafirmou a importância de que todos os lutadores sociais devem ir às ruas como “único lugar possível de derrotar qualquer ameaça de golpe fascista, defender os direitos dos trabalhadores que sofrem as consequências de um governo genocida e os direitos do povo pobre das favelas e periferias, assassinados barbaramente pela polícia”.
Os militantes da Unidade Popular em todo o país atenderam ao chamado de ocupar as ruas e lutar. Também o jornal A Verdade se fez presente com as brigadas de agitação e propaganda denunciando o capitalismo.
Cresce a luta popular
Em Brasília, a marcha se concentrou em frente à Biblioteca Nacional, seguindo em passeata pela Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional.
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram no Largo da Batata e se dirigiram até as proximidades da Av. Paulista. Eram muitos movimentos sociais, torcidas organizadas antifas (destaque para Gaviões da Fiel com a Democracia Corinthiana). Também marcaram presença os rappers Mano Brown, Thaíde, Dexter, Negredo e Big da Godoy.
No Rio de Janeiro, o Monumento ao Zumbi dos Palmares foi o ponto de encontro dos manifestantes, movimentos populares e antirracistas, que protestaram até a Candelária com muita indignação devido à ação da PM e das milícias nas favelas e morros cariocas. A caminhada também foi marcada por vários discursos e jograis. Destaque para a participação do Movimento Perifa Zumbi.
Em Belém, no Pará, a concentração aconteceu no Largo de São Braz. Houve repressão policial, mas os manifestantes da Unidade Popular se mantiveram firmes e realizaram o ato defendendo os direitos da classe trabalhadora. Mais de 100 pessoas que participaram do ato foram detidas.
Já Goiânia (GO) reuniu mais de mil pessoas convocadas para um ato antifascista, em defesa democracia e contra o genocídio do povo negro. O ato saiu da Praça Cívica e foi até a Praça Universitária, sendo acompanhada por um forte aparato policial, com cavalaria e helicóptero. Para Fábio Júnior, presidente estadual da UP, “a manifestação foi vitoriosa porque rechaçou as ameaças dos governos fascistas de Jair Bolsonaro e do governador Ronaldo Caiado (DEM). Houve a passeata e os manifestantes deixaram claro que estão decididos a resistir e derrotar nas ruas as ameaças de golpe dos fascistas”.
Em Recife, teve passeata nas ruas centrais tendo à frente movimentos populares que exigiram a garantia dos direitos democráticos, o fim do racismo e das ameaças de golpe fascista. A indignação também estava presente, em especial pela morte do menino Miguel Otávio, de cinco anos, morto após cair de um prédio de luxo no Centro da capital pernambucana.
Em Maceió, o ato antifascista defendeu o fim do Governo Bolsonaro e das ameaças fascistas e mortes causadas pelo racismo no Brasil. Com a faixa “Fora Bolsonaro, suas mãos estão sujas de sangue!”, levada pelos militantes da UP e do MLB, os manifestantes saíram da Praça Centenário e percorreram as ruas da cidade.
Belo Horizonte registrou um ato que reuniu mais de mil pessoas. A maioria vestindo cores que protestavam contra o racismo nas periferias e combatiam o fascismo. Em frente à antiga sede do Dops (Delegacia de Ordem Política e Social), um centro de torturas e assassinatos na Ditadura Militar, houve vários discursos contra as ameaças de golpe. Destaque para a fala de Leonardo Pericles, presidente nacional da UP, que rechaçou as ameaças dos golpistas e disse que a força das mobilizações populares vai derrotar qualquer tentativa de impor o fascismo.
Na Praça Sete, o ato antifascista se encontrou com movimentos antirracistas, momento em que os manifestantes deitaram no chão e fizeram referência ao assassinato de George Floyd, em Mineápolis, Estados Unidos. Pericles disse: “Os atos de domingo contaram com grande adesão popular, com panelaços das janelas de vários prédios, buzinaços. Muitos aplaudiram das janelas, demonstrando a insatisfação contra o governo de Jair Bolsonaro”. Os rappers Hot e Oreia e Djonga participaram da manifestação e as torcidas antifas de Atlético, Cruzeiro e América também tiveram importante participação.
Porto Alegre, uma das primeiras cidades no Brasil a realizar protestos antifascistas, manteve a tradição combativa do povo gaúcho e realizou mais um ato neste domingo. Os protestos levantaram as bandeiras antifascista, antirracista e em defesa das liberdades democráticas.
Salvador (BA), Florianópolis (SC), Aracaju (SE) e Teresina (PI) fizeram importantes manifestações.
Repressão violenta no ato em Fortaleza
Fortaleza, no Ceará, registrou a manifestação que sofreu maior repressão no país. Ironicamente, mas não por coincidência, o Estado é governado pelo PT de Camilo Santana, alegando que os manifestantes estavam infringindo o decreto estadual sobre o isolamento social na quarentena da Covid-19.
Apenas pretexto porque, quando a direita foi às ruas pedir intervenção militar, defender o fechamento do Congresso Nacional e do STF, amordaçar a imprensa e liberdade, a PM do Ceará não foi reprimir. Já o ato da esquerda em defesa das liberdades democráticas e contra o fascismo e o racismo foi duramente reprimido. O resultado foi: sete pessoas autuadas, sendo uma manifestante presa; todos responderão a processos.
Diante dos acontecimentos provocados repressão do Governo do Ceará, a UP cearense lançou nota de repúdio denunciando a ação policial com “revistas abusivas, pelotão de choque cercando para impedir a caminhada, detenções sem justificativas. Um total cerceamento da liberdade de manifestação! Um autoritarismo sem tamanho”. Também houve ato em Juazeiro do Norte em que a Unidade Popular promoveu ampla agitação política no Mercado do Pirajá denunciando o governo fascista de Bolsonaro.
As manifestações do dia 07 de junho de 2020 no Brasil se somaram aos importantes protestos ocorridos em vários países do mundo. Também demonstram que é preciso romper com o pessimismo, com a defensiva política e ideológica, de não acreditar na força das ruas. É hora de avançar e acreditar porque existe uma grande parte da população pobre que não acredita mais na institucionalidade e busca uma alternativa para sair da exploração e opressão capitalista.
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