O Petro: solução para a crise económica da Venezuela?
por Andrés Villadiego [*]
![]() Se se tratar efectivamente de um mecanismo de endividamento, é necessário advertir quanto aos obstáculos legais e políticos que o governo teria de enfrentar ao proceder semelhante entrega de recursos naturais propriedade da nação como parte da garantia de uma dívida. Mas além disso, o facto de se tratar de reservas de petróleo que ainda se encontram no subsolo impede que sejam alienadas, pois a própria Constituição estabelece a propriedade estatal exclusiva sobre tais recursos, com o que é muito pouco provável que o governo consiga obter liquidez em divisas emitindo um título de dívida com estas características. E, no caso de fazê-lo, teria que ser com a concessão de altíssimas taxas de desconto lesando com isso os interesses nacionais. A outra possibilidade do Petro como instrumento de política económica é que seja utilizado como um mecanismo de flexibilização do mercado cambial, ou seja, uma moeda virtual convertível em divisas, tal como fica expresso no artigo 7 do mencionado decreto. POSSÍVEIS PROBLEMAS À VISTA Esta última possibilidade introduz dois problemas para a sua implementação eficaz: em primeiro lugar, a determinação da taxa de câmbio que seria aplicada às operações realizadas com a criptomoeda (se é que tal denominação é efectivamente aplicável ao Petro); e em segundo lugar, a garantia de que a autoridade cambial conte com suficiente liquidez para atender à procura de divisas nos casos em que o Petro seja adquirido com a intenção de ser convertido posteriormente em dólares ou outras moedas fortes. Actualmente a nação enfrenta gravíssimos problemas de liquidez em divisas, pelo que dificilmente poderão ser atendidas as exigências do público. Isto pode derivar no estabelecimento de uma taxa de câmbio elevada para o Petro, ou então na sua atribuição discricional e opaca, com o que se estariam a reproduzir as mesmas distorções que infestaram o mercado cambial desde há vários anos. Também é necessário advertir que o mercado de criptomoedas em geral, além de limitado, é altamente especulativo e com riscos elevados. Considere-se, por exemplo, que o Bitcoin, a maior e mais conhecida das criptomoedas, passou de um valor de menos de US$900 em Janeiro de 2017 para um máximo de mais de US$17 mil em meados de Dezembro, alta exponencial só explicável por um efeito de "bolha". De maneira que a adopção de qualquer coisa parecida com uma criptomoeda como parte da política económica do governo poderia introduzir ainda maior volatilidade num momento em que o que se requer é estabilizar a economia.
12/Fevereiro/2018
Ver também: [*] Economista, venezuelano. O original encontra-se em prensapcv.wordpress.com/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
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