domingo, 2 de abril de 2017

Wadih Damous/.... até que ponto a Lava Jato está influenciada por interesses dos EUA?

 

José Cruz / Agência Brasil / Fotos Públicas
BRASIL
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Na última quarta-feira (29), o deputado Wadih Damous discursou na Câmara em defesa do Almirante Othon, a quem se referiu como um “herói nacional” e como o “maior cientista brasileiro”. Entenda o caso:

Como o Brasil produz energia
O Brasil tem três fontes principais de energia elétrica: a hidráulica (gerada pelas hidrelétricas), a nuclear e a termoelétrica (gerada pela queima de gás, carvão e óleo combustível). Esta última, muito mais cara e poluente, é normalmente operada por empresas privadas, que lucram mais quando para de chover e falta água para abastecer a matriz hidrelétrica.
No começo da década de 2000, o governo FHC abriu o mercado das termoelétricas para o mercado internacional em meio à chamada crise do apagão. Desde então, a competição pelo lucro no setor energético brasileiro tem mobilizado interesses privados contra o investimento público nas matrizes hidrelétrica e nuclear, ambas muito mais limpas e baratas do que a termoelétrica. 
Segundo muitos analistas, as campanhas de oposição à construção da hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, fizeram parte desses esforços de sabotagem concatenados com interesses externos, assim como as campanhas de difamação contra o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro para a geração de energia, cuja maior expressão foi a construção da usina termonuclear de Angra 3, sob a orientação do renomado cientista brasileiro Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva – ex-presidente da Eletronuclear reconhecido internacionalmente por seus conhecimentos a respeito do ciclo de enriquecimento do urânio. 
Onde a Lava Jato entra na história
Em 1969, durante o regime militar, o Brasil conseguiu fechar um acordo de cooperação sobre energia nuclear com a Alemanha apesar da forte pressão contrária dos EUA, que até hoje têm interesses econômicos em explorar a energia termonuclear no país através de empresas privadas.
Em julho de 2015, o Almirante Othon, pai do programa nuclear brasileiro e responsável pelo programa Angra 3, foi preso na Operação Radioatividade, 16ª fase da Operação Lava Jato, que investigou os contratos de empresas já mencionadas na investigação com a Eletronuclear.
Na ocasião, o juiz federal Sérgio Moro determinou o bloqueio de até R$ 60 milhões, sendo R$ 20 milhões do Almirante Othon, R$ 20 milhões de um executivo da empreiteira Andrade Gutierrez e outros R$ 20 milhões da Aratec Engenharia, que pertence à família do Almirante Othon. 
O cientista foi liberado posteriormente, mas voltou a ser preso em julho de 2016, durante a Operação Pripyat, outro desdobramento da Lava Jato que teve como foco os desvios de recursos nas obras da usina de Angra 3.
Em agosto do mesmo ano, o Almirante, hoje com 78 anos, foi condenado a 43 anos de prisão, sob acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, embaraço a investigações, evasão de divisas e organização criminosa. Recentemente, ele tentou cometer suicídio no presídio em que está detido, no Rio de Janeiro.
Na última quarta-feira (29), o deputado Wadih Damous discursou na Câmara em defesa do Almirante, a quem se referiu como um “herói nacional” e como o “maior cientista brasileiro”, apelando ao presidente Michel Temer pela comutação da pena. 
Segundo observou o deputado, antes de se tornar presidente da Eletronuclear, o Almirante Othon havia combinado com a Andrade Gutierrez que se o governo brasileiro adotasse seu projeto de matriz energética nuclear, a empresa lhe pagaria cerca de RS$3 milhões por seus serviços.
Ou seja, o cientista não teria cobrado propina sobre os contratos das obras da usina, conforme as acusações que sofreu na Lava Jato, mas apenas cobrado por suas capacidades técnicas.
Note-se ainda que, depois que o Almirante se tornou presidente da Eletronuclear e depois que o governo de fato adotou suas recomendações para a matriz energética, a Andrade Gutierrez perdeu a licitação para a construção de Angra 3 – que, aliás, teve um custo muito menor do que a de Angra 2.
“Esses processos que se dizem de combate à corrupção aqui no Brasil têm sido verdadeiras usinas de práticas ilegais de atentados ao direito de defesa e de desrespeito a direitos e garantias fundamentais”, disse o deputado.
Damous chamou a atenção ainda para o fato de que, se o Almirante quisesse enriquecer ilegalmente, poderia ter ganhado muito mais dinheiro vendendo segredos de Estado do Brasil. Além disso, ressaltou que os RS$3 milhões que Othon recebeu da empreiteira não se destinavam a seu uso pessoal, mas a um projeto revolucionário que o cientista estava desenvolvendo: um hidro-turbo-gerador capaz de produzir energia a partir de uma queda d’água de apenas 1,2m de altura, o que beneficiaria milhares de famílias brasileiras com energia extremamente barata.
“Eu pergunto: qual é a utilidade para o Brasil em deixar mofando na cadeia um cientista deste porte? A quem pode interessar o encarceramento perpétuo do Almirante Othon? Eu respondo: a interesses estrangeiros, a interesses imperialistas norte-americanos, que não querem a soberania nacional, que não querem que o Brasil domine o ciclo do urânio para fins pacíficos”, bradou o deputado.
Diante de todas as evidências de perseguição ao Almirante Othon por parte das investigações encabeçadas pelo juiz Moro, e levando-se em consideração a recente entrega do pré-sal para as multinacionais estrangeiras, após a completa depreciação sofrida pela Petrobrás com os escândalos de corrupção dos últimos anos, uma pergunta ainda fica no ar: até que ponto a Lava Jato está influenciada por interesses dos EUA?
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