"Efeito Trump" divide a opinião europeia
por M K Bhadrakumar [*]
![]() Em ambos os casos, a contestação no essencial reduziu-se à questão de saber se a Bulgária e Moldova estariam melhor afastando-se um bocado da União Europeia ou se precisariam realinhar-se com a Rússia. A resposta é clara. O objectivo irrestrito de ser membro da UE já não é atraente para Moldova, enquanto a Bulgária parece estar cansada da sua pertença à UE. Por outro lado, a Rússia é real e está na porta ao lado. Os resultados das eleições de ontem constituem uma bofetada no prestígio da UE. Na verdade, a influência de Moscovo está a propagar-se na Europa do Leste. Isto também é uma viragem em termos politicos para a esquerda. Em ambos os países há muito descontentamento com "reformas", corrupção desenfreada, etc. O sentimento russófilo é muito substancial e há ansiedade em promover comércio com a Rússia a fim de ultrapassar dificuldades económicas. Além disso, os partidários locais do ocidente e da UE estão desacreditados em ambos os países. Em Moldava, apenas cerca de 30% da população considera a UE atraente, ao passo que 44% apoiariam a adesão à União Económica Eurasiática liderada por Moscovo. Curiosamente, 66% dos moldavos confiam em Vladimir Putin; em comparação, apenas 22% confiam nas palavras de Barack Obama. Contra o pano de fundo da vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, será interessante observar como estas tendências irão acabar. O presidente eleito da Bulgária, Rumen Radev, apelou ao fim das sanções da UE contra a Rússia. Ele argumenta que Sófia deveria ser pragmática na sua abordagem à anexação da Crimeia pela Rússia. (Isto não obtante a longa história de lealdades divididas entre a Rússia e a Europa.) A administração Obama na sua fase terminal esforçar-se-á por pressionar a UE a estender as sanções contra a Rússia por um período de mais seis meses além de Dezembro. Mas será que Trump seguirá as pegadas de Obama quando o problema emergir outra vez em meados do próximo ano? É improvável que ele mostre o zelo messiânico de Obama em "conter" a Rússia. Eis como o consenso da UE sobre as sanções contra a Rússia pode romper-se uma vez que muitos países na Europa ressentem-se da pressão americana e preferem restaurar laços comerciais e económicas com a Rússia. De modo interessante, Trump pode conseguir ressonância também na Velha Europa. O líder dos trabalhistas britânicos, Jeremy Corbyn, no fim-de-semana fez um espantoso apelo a líderes ocidentais para "desmilitarizar" a fronteira entre a Europa do Leste e a Rússia ou arriscarem-se a uma Nova Guerra Fria. Ele disse que o ocidente não tinha de acumular forças junto à fronteira russa. Corbyn disse à BBC:
Corbyn fez também uma cuidadosa sugestão de que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a qual inclui a Rússia, substituísse a NATO como fórum de resolução das questões na região.
Na verdade, alguma turbulência já começou em relação à segurança europeia mesmo antes de Trump conquistar o Gabinete Oval. A propósito, o primeiro-ministro checo, Bohuslav Sobotka, disse segunda-feira que declarações americanas acerca da possível instalação de um escudo global de radar anti-mísseis dos EUA na República Checa são pura ficção. "Um radar no território checo significaria nova escalada nas relações com a Rússia. Precisamos utilizar a abertura de janela após a eleição de Donald Trump a fim de ter os Estados Unidos e a Rússia sentado a uma mesa", afirmou ele. Sobotka destacou que hoje o principal problema de segurança da Europa do Leste é por um fim à guerra na Síria. "Os Estados Unidos têm considerável influência sobre a situação na Síria, a Rússia também tem considerável influência. Assim, é necessário utilizar isto", disse ele, acrescentando que Donald Trump pode estabelecer cooperação mais eficiente com a Rússia sobre a Síria. Entretanto, como matéria de facto, nem Trump tomou ainda posição sobre a NATO nem vai ser fácil para ele buscar uma separação da América da aliança ocidental. Disto simplesmente, a Europa não está pronta para um futuro pós NATO. Há temor palpável em muitos quadrantes (tanto nos EUA como na Europa) de que se os EUA se retirassem da Europa a Rússia avançaria e exerceria comportamento mais afirmativo na Europa do Leste. Num artigo neste fim-de-semana, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, fez um apelo apaixonado a Trump de que agora não é o momento de os EUA abandonarem a NATO. Ele enfaticamente mencionou a ameaça de percepções de uma Rússia "mais afirmativa". Ler a opinião publicada aqui . A moral da história é que a opinião pública europeia permanece dividida. A Grã-Bretanha, França e Hungria recusaram-se a comparecer a uma controversa reunião na noite passada em Bruxelas, apoiada pela Alemanha, para alinhar a abordagem do bloco diante da eleição de Trump. O fosso dentro da UE sobre a votação nos EUA ficou revelado. O irrepreensível secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, ralhou com políticos da UE dizendo-lhe para acabarem com as suas lamentações sobre Trump. ( Daily Mail ) De modo interessante, o primeiro político estrangeiro com quem Trump se encontrou após a eleição foi Nigel Farage, o populista que fez campanha pelo Brexit.
14/Novembro/2016
[*] Antigo embaixador indiano, analista político. O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/... Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
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