terça-feira, 29 de novembro de 2016

Filipe Diniz / Reescrever a História…

Reescrever a História…

 Filipe Diniz     28.Nov.16     Colaboradores
Já se adivinhava como a direita iria evocar a Revolução de Outubro de 1917: com a reescrita e a falsificação histórica. Nada de surpreendente. Os trabalhadores e os povos irão celebrá-la. O grande capital de hoje olhará para ela com os mesmos olhos e o mesmo temor com que a reacção mundial viu, há 100 anos, a eclosão revolucionária do árduo processo de construção de uma sociedade nova, liberta da exploração do homem pelo homem.

Ainda agora começa, mas já se adivinhava há muito a forma como a direita iria evocar a Revolução de Outubro de 1917. Na tribuna electrónica da direita mais assumida – o “Observador” – um elucidativo artigo (19.11.2016). Abre com uma citação, cuidadosamente truncada, de «Dez dias que abalaram o mundo». Onde quer chegar é que («segundo o historiador húngaro Peter Kénez») o assalto ao Palácio de Inverno se passou tranquilamente, e os bolcheviques, «poucos e desorganizados», depois de ocuparem «os edifícios públicos mais importantes, as redacções dos principais jornais e as estações de caminhos-de-ferro» se limitaram a tomar «o último reduto de resistência em Petrogrado». Fora «uma noite tranquila».
Não mereceria a pena mencionar a violência que antecedeu essa noite dita «tranquila»? Não se verificara em Agosto o motim encabeçado por Kornilov, que exigia a instauração da pena de morte não só na frente de combate mas também na retaguarda? Não abandonara o Comando Supremo Riga às tropas alemãs, esperando que elas reforçassem os kornilovistas e Kerenski contra os operários e soldados de Petrogrado? Não tentava o governo provisório mobilizar tropas para esmagar a insurreição camponesa? Não assumiam ao mesmo tempo extrema violência o aumento dos preços dos produtos de consumo e a degradação dos salários dos operários?
E não foi precisamente a resistência organizada contra tais violências que alterou de forma decisiva a correlação de forças a favor do movimento revolucionário? Não fizera ela crescer o número de sovietes e a influência dos bolcheviques neles? Não passaram a contar-se por dezenas de milhares os combatentes organizados nas Guardas Vermelhas (com, por exemplo, 12 destacamentos só na fábrica Putílov)? Não crescera de forma esmagadora a organização dos marinheiros na Esquadra do Báltico, a que pertencia o cruzador «Aurora»? Não foi a tão duramente conseguida organização militar, social, política que permitiu esse final de «noite tranquila»?
Há muito que estamos habituados à reescrita da História pelos vencedores (incluindo alguns palermas). Mas nenhuma reescrita poderá diminuir o fulgurante acontecimento que inaugurou a época da passagem do capitalismo ao socialismo.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2243, 24.11.2016
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