terça-feira, 7 de junho de 2016

Geraldo Gamboa 86 anos faleceu

05 de Junho de 2016 | 20h42

Faleceu neste domingo, aos 86 anos, o cantor e compositor Geraldo Gamboa

Campos entoa um samba triste

Patrícia Bueno


A partir deste domingo, vai ser mais doloroso para os fãs do sambista Geraldo Gamboa passar pelos arredores do Boulevard Francisco de Paula Carneiro, no Centro de Campos. Era lá que o ilustre representante da Velha Guarda podia ser visto trocando ideias com amigos, cantarolando sambas e relembrando histórias que costumava repetir cheio de orgulho. Depois de 12 dias internado no Hospital Álvaro Alvim, Gamboa faleceu ontem pela manhã, aos 86 anos de idade, de falência múltipla dos órgãos em decorrência de um câncer. O enterro está marcado para as 9h, no Cemitério Campo da Paz.

Na tarde deste domingo, no velório, amigos e parentes foram se despedir do bamba. “Conheço Gamboa há mais ou menos 40 anos. Tinha por ele muita consideração e um respeito muito grande”, comentou o amigo que se identificou apenas como Manoel Alfredo.

Gerusa Alda Gomes dos Santos, filha do sambista, comentou que o pai, em seus últimos dias de vida, disse que estava com "saudades de quem não se foi". "Meu pai falava muito em códigos. Na hora eu entendi que ele estava sentindo falta de alguns amigos ou parentes, não sei ao certo. Ele também disse que estava com saudade dos fundos de sua casa", contou emocionada.

A cantora Alba Valéria relembrou os tempos em que encontrava com Gamboa quando estava a caminho do trabalho, no Centro. "Ele estava sempre sentado ali, perto da banca do Orlando. Adorava parar para conversar com ele. Era dali que saíam muitas histórias e ensinamentos. Com poucas palavras ele passava uma intensa mensagem de vida", relembrou Alba.  

A notícia da morte de Gamboa repercutiu rapidamente nas redes sociais e logo as homenagens ganhavam compartilhamentos. O fotógrafo e produtor cultural Wellington Cordeiro chegou a fazer um restrospecto com momentos da carreira do bamba. Postou, inclusive, uma foto do mestre ao lado de um  baobá, árvore-símbolo da cultura africana. "Mestre Geraldo Gamboa foi poeta, filósofo, socialista, espiritualista, leiteiro, alfaiate e, principalmente sambista, como sempre deverá ser cultuado. Cumpriu com dignidade sua função nesta vida, cuidando de sua família, conquistando amigos e criando obras inesquecíveis. Que vá em paz, já que a saudade já se faz presente", escreveu Wellington.  

Outro que conviveu bastante com Gamboa foi o presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Coopam), Orávio de Campos, que também se manifestou poeticamente  na internet. "Geraldo se junta aos bambas na e academia do samba celestial", disse.

A cantora Lene Moraes, que deu uma valiosa contribuição à valorização da carreira de Gamboa, gravando com ele o CD "Bambas da Planície", também lamentou a morte do amigo, a quem considerava uma referência para seu trabalho. "Chove a tristeza dos sambistas da planície goitacá... Geraldo Gamboa partiu para o céu onde será recebido com honras e muita luz".

História no ritmo da batucada e nas batidas do coração

Geraldo Gamboa nasceu Geraldo Gomes. Pai de sete filhos, foi alfaiate e responsável pelas fantasias de várias escolas de samba de Campos. O compositor e cantor, autor de canções memoráveis como Aquela nota de Cem, dedicou-se ao samba romântico e ao carnaval desde 1954. De sua mente efervescente saíram mais de 40 músicas. Por conta de sua inspiração, andava sempre com um bloquinho e uma caneta para o caso de a memória não ajudar.

Sua brilhante passagem pela história do samba de Campos teve como um dos destaques a gravação de “Dança, Gracinha, Dança”, composta para a porta-bandeira da Mocidade Louca, pelo saudoso Eli Miranda. Ainda jovem, tentou sucesso no Rio, tendo se apresentado em algumas casas noturnas e rádios, mas precisou voltar por falta de oportunidades. Com o retorno, veio a boemia.

Um de seus momentos de glória em sua cidade foi um show em sua homenagem, no Teatro Trianon, organizado por amigos. Hoje, antes do sepultamento, os amigos sambistas preparam um "gurufim", espécie de velório popular em que há música para amenizar a saudade.

Quem sabe hoje, uma outra grande homenagem esteja para acontecer e ele, dentro de sua melhor roupa, se junta à grande roda de samba no céu com a presença de Wilson Batista, Roberto Ribeiro, Délcio Carvalho, Eli Miranda... Quanto ao Boulevard... Este nunca mais será  o mesmo. 
fonte: O Diário
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