quinta-feira, 31 de março de 2016

Atos reforçam repúdio a tentativas de derrubar o governo, mas cobram nova política

Atos reforçam repúdio a tentativas de derrubar o governo, mas cobram nova política

Manifestantes cobram mudanças na política econômica, mas também defendem legalidade e democracia, no dia em que se completam 52 anos do golpe que derrubou o governo Jango
por Redação RBA publicado 31/03/2016 21:17, última modificação 31/03/2016 21:24
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São Paulo – Os setores da sociedade contrários ao impeachment, que identificam nesse processo uma tentativa de golpe para derrubar um governo legitimamente eleito e que não cometeu crime de responsabilidade, reuniram centenas de milhares de pessoas pelo país hoje (31), para mostrar que nem todos são favoráveis à retirada da presidenta Dilma Rousseff. Embora façam críticas ao governo e suas políticas, esses movimentos defendem a legalidade e a normalidade democrática, ao mesmo tempo em que cobram medidas para recuperar a atividade econômica e retomar o crescimento. A pauta da Frente Brasil Popular e da Frente Povo sem Medo era clara: em defesa da democracia e dos direitos trabalhistas, contra o golpe e por outra política econômica.
As manifestações, que ocorreram na maioria dos estados, também remetem aos 52 anos do golpe civil-militar que derrubou o governo João Goulart e iniciou um período de ditadura do qual o país só sairia a partir de 1985. O ato realizado na Praça da Sé, na região central de São Paulo, fez lembrar o comício das Diretas Já, em 25 de janeiro de 1984, quando se pedia o restabelecimento das eleições para presidente da República – o que só ocorreria em 1989.
O professor Paulo Sérgio Pinheiro, ex-integrante da Comissão Nacional da Verdade e secretário de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso, recordou a data e fez críticas ao partido que agora articula a queda da presidenta, anunciando sua saída do governo, no qual permanece com o vice, Michel Temer. "A Praça da Sé lotada novamente é um recado para esse PMDB golpista", afirmou Pinheiro, de acordo com o site da revistaFórum. Ele lembrou ainda que o ato das Diretas era liderado exatamente pelo PMDB.
Figura presente em todos os comícios daquele período e nas manifestações políticas e eleitorais das décadas seguintes, o cantor e compositor Chico Buarque apareceu hoje no ato realizado no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro, para criticar o golpe. Em rápida intervenção, disse que a manifestação poderia reunir pessoas que votaram ou não em Dilma, e inclusive eleitores decepcionados com os rumos do governo, mas que não se poderia duvidar da integridade da presidenta. Segundo ele, os presentes estavam "unidos pelo apreço à democracia e em defesa intransigente da democracia".
Alvo de ataques por suas posições políticas e preferências eleitorais, Chico também lembrou de 1964, vivido por sua geração. "Vocês me animam a acreditar que não, de novo, não, não vai ter golpe", afirmou aos manifestantes no Rio.
Representantes da classe artística já haviam se reunido pela manhã, no Planalto, com Dilma, para manifestar apoio. O neurocientista Miguel Nicolelis não participou, mas mandou um vídeo com um pedido à presidenta para resistir. "O mundo inteiro sabe da tentativa de se remover uma presidenta sem a legitimidade das urnas, mas por meio de um processo que combina múltiplas formas, que se iniciou na noite do anúncio do resultado das urnas", afirmou. "Os que insistem no seu afastamento atropelam a legalidade, subvertendo o Estado democrático de direito. Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje sem qualquer pudor como detentores da ética, mas serão execrados amanhã, não tenho dúvida", afirmou na cerimônia o escritor Raduan Nassar.
A preocupação com a turbulência política motivou uma reunião do ministro da Justiça, Eugênio Aragão, com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, nesta tarde. "A onda de ódio não pode continuar", disse Aragão, pedindo também respeito às decisões judiciais. "A Constituição garante aos nossos juízes a independência. Nós temos que garantir que eles julguem a partir de sua consciência e do texto constitucional", declarou, acrescentando que "não é admissível que se comece a agredir um ministro e suas famílias em razão de opiniões leigas diferentes e, muitas vezes, inspiradas por noticiário deturpado".


Com informações de agências
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