sexta-feira, 31 de julho de 2015

Manlio Dinucci* / O pacto militar entre Grécia e Israel

O pacto militar entre Grécia e Israel

Manlio Dinucci*
31.Jul.15 :: Outros autores
Não é apenas na vergonhosa capitulação face à troika que o governo Syriza-Anel manifesta a sua verdadeira natureza. A vassalagem ao imperialismo, que Tsipras já garantira na visita pré-eleitoral aos EUA, concretiza-se agora na integração plena na estratégia da NATO para a região, e na cooperação com o Estado sionista, peça-chave nos planos imperialistas de expansão e agressão.


Quando Tsipras chegou ao poder na Grécia tocaram em Israel as sinetas de alarme: o Syriza apoiava a causa palestina e podia por fim á cooperação militar da Grécia com Israel. Face à brutal repressão israelita contra os palestinos, advertia Tsipras, «não podemos permanecer passivos, pois o que sucede na outra margem do Mediterrâneo pode suceder amanhã na nossa costa».
Sete meses passados calaram-se os alarmes: Panos Kammenos, ministro de Defesa do governo Tsipras fez uma visita oficial a Telavive onde, a 19 de Julho, assinou com o homólogo israelense, Moshe Ya’alon, um importante acordo militar. Para esta decisão, Kammenos, fundador do novo partido da direita grega ANEL, escolheu precisamente o momento em que a Grécia se encontrava atenazada com o problema da dívida. O «acordo sobre o status das forças», comunica o ministério da Defesa grego, estabelece um quadro jurídico que permite ao pessoal militar de cada um dos países deslocar-se e permanecer no outro país, com o objectivo de participar em exercícios e actividades de cooperação». Um acordo idêntico a este, Israel só assinou um com os Estados Unidos. Na agenda das conversações também está incluída uma referência à «cooperação na indústria militar» e na «segurança marítima», particularmente nas jazidas de gás «offshore», que Israel, Grécia e Chipre consideram sua «zona económica exclusiva», não reconhecendo as reivindicações da Turquia.
Em cima da mesa das negociações também esteve «a questão da segurança do Médio Oriente e do Norte de África». Dando eco às declarações de Moshe Ya’alon que denuncia o Irão como «gerador de terrorismo, cuja ambição hegemónica mina a estabilidade dos outros Estados», Kamenos declarou que «também a Grécia se encontra ao alcance dos mísseis iranianos; e ainda que um só chegasse ao Mediterrâneo poderia acabar com os Estados da região». A decisão de contactar a chefia das forças armadas israelenses tem como objectivo estabelecer uma coordenação mais estreita com as forças armadas da Grécia. Ao mesmo tempo, o chefe da marinha militar helénica, o vice-almirante Evangelos Apostolakis, assinou também com o seu homólogo israelense um acordo de cooperação, não muito explícito, sobre «serviços hidrográficos». O pacto militar com Israel em nome do governo de Tsipras não é apenas uma vitória pessoal de Kammenos. Ele insere-se na estratégia dos EUA/NATO e na sua ofensiva para Leste e para Sul com o objectivo de integrar mais estreitamente a Grécia na aliança Atlântica, e também de forma mais ampla numa coligação de países onde se inserem Israel, Arábia Saudita, Ucrânia e outros.
O secretário-geral da NATO, Stotenberg, declarou que o «pacote de resgate» da UE à Grécia é «importante para toda a OTAN» já que a Grécia é um «sólido aliado que investe mais de 2% em Defesa (nível só semelhante na Europa ao alcançado pela Grã-Bretanha e a Estónia).
Para a NATO é especialmente importante a base aeronaval da baía de Suda, em Creta, permanentemente usada nos últimos anos pelos EUA e outros aliados na guerra contra a Líbia e nas operações militares na Síria. Graças ao pacto da Grécia com Israel é agora utilizável, também na sua função anti-Irão.
Neste quadro estratégico, aprofundam-se as contradições entre a Grécia e Israel por um lado e a Turquia no outro. Na Turquia, a NATO mantém outras 20 bases e o comando das forças terrestres que em nome da «luta contra o EI» bombardeia os curdos do PKK (os verdadeiros combatentes anti-EI), e juntamente com os EUA prepara-se para ocupar a faixa setentrional do território sírio. Escudando-se no art.º 4º do Pacto Atlântico, que refere as ameaças à segurança e à integridade territoriais.
* Geógrafo e analista político

Este texto foi publicado em: http://ilmanifesto.info/il-patto-militare-grecia-israele/

Tradução de José Paulo Gascão
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