segunda-feira, 11 de maio de 2015

O dia 24 de Abril deveria ser declarado “Dia da Paz”

Declaração da Associação Turca da Paz*

O dia 24 de Abril deveria ser declarado “Dia da Paz”

Associação Turca da Paz
09.Mai.15 :: Outros autores
O centenário do massacre de arménios cometido em 1915 trouxe a questão para a actualidade. Até o próprio Papa se pronunciou sobre a matéria. Para o imperialismo, as tragédias da há um século podem ser instrumento para agudizar as tragédias do presente. Para os povos, a história deve sobretudo servir para consolidar a luta pela paz.


São vergonhosos os debates em curso em torno do centenário do Medz Yeghem, o incidente no qual mais de uma milhão de pessoas foram massacradas e muitas mais foram expulsas do seu território. O que caracteriza estes debates são as manipulações imperialistas, as distorções liberais e os condicionamentos nacionalistas. Num tal quadro os povos da Turquia e da Arménia convertem-se de novo em joguete da diplomacia imperialista e estão a ser afastados um do outro em cada novo aniversário. O dia 24 de Abril deveria, na verdade, ser declarado um dia de paz na nossa região. A Associação Turca da Paz apela à humanidade a que dê as mãos e preste homenagem à memória da grande dor que recaiu sobre os nossos irmãos e irmãs arménias.
A causa do banho de sangue que assolou todo o mundo, e em particular a Europa, o Médio Oriente, os Balcãs e o Cáucaso no início do século XX não foi outra senão a guerra imperialista anexionista. O regime otomano de então e os movimentos nacionalistas arménios foram ambos feitos cativos pelo enquadramento determinado pela competição inter-imperialista. Hoje, um século mais tarde, a Associação Turca da Paz apela a que esse cativeiro seja rompido.
O imperialismo não pode sobreviver sem ter como objectivo a re-partilha do mundo. Por este motivo, manipulou deliberadamente uns contra os outros os povos da nossa região, povos que historicamente viviam em conjunto segundo uma relação que ia para além da boa vizinhança. A Associação Turca da Paz é de opinião de que, para o dia 24 de Abril se tornar um dia de paz, ele terá de ser entendido como um dia de unidade anti-imperialista.
A fase fundamental da transição do Império Otomano para a República da Turquia foi a Guerra da Independência. Entretanto, as características de classe desse mesmo processo criaram novos problemas. Enquanto a velha ordem entrava em colapso e a nova república era instituída, o capital e a propriedade mudaram de mãos e particularmente a burguesia turco-muçulmana em ascensão confiscou os bens dos Arménios e dos Gregos. A razão subjacente ao conflito nacionalista não é que os povos se odeiem entre si, é a competição económica! A Associação Turca da Paz desejaria sublinhar que a unidade entre os povos apenas é possível através da luta contra o sistema baseado na exploração.
Objectamos a que a palavra “genocídio” seja utilizada como um instrumento para criar animosidade entre os dois povos. Esta palavra não ajuda nem a identificar a realidade da partilha imperialista, nem as características de classe do imperialismo, nem a identidade dos culpados. A disputa acerca da utilização ou não da palavra “genocídio” é uma cortina de fumo que oculta a realidade e provoca a hostilização nacionalista. A solução adequada é a declaração de que os povos turco e arménio, convertidos em inimigos pelo imperialismo e pelo capitalismo, são irmãos e irmãs, e organizá-los. A Associação Turca da Paz reprova a controvérsia acerca do “genocídio”.
A tragédia vivida há um século é utilizada para menosprezar a legitimidade histórica da República da Turquia. Ainda que a questão seja apresentada como uma opressão sofrida por diferentes identidades nacionais, a verdadeira intenção não é essa. Pretendem desqualificar o facto de a Turquia ter sido criada através da luta contra o imperialismo. Pretendem desqualificar o facto de a Turquia ter substituido o velho regime teocrático por um regime secular. Pretendem desqualificar o facto de a Turquia representar em si mesma um progresso, comparada com o Império Otomano. A sugestão de que os Arménios e outros povos viviam felizes sob a “Pax Otomana” é uma falsidade histórica. Rejeitamos as tentativas de, recorrendo à profunda tragédia de 1915, reabilitar um regime no qual as pessoas viviam enquanto servas do Império e não como cidadãos. A Associação Turca da Paz declara que todos os passos em frente que possam ser dados de hoje em diante assentam nesta herança anti-imperialista e progressista.
A Associação Turca da Paz apela a todos os povos da região a que se unam contra o imperialismo, a exploração e o reaccionarismo, para que o aniversário do Medz Yeghem possa tornar-se num dia de paz que una os nossos povos.
*A Associação Turca da Paz integra o Conselho Mundial da Paz

ODiario.info
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