domingo, 10 de maio de 2015

Colômbia: A planificação do Terror Estatal e a estratégia de confundir

SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2015


Colômbia: A planificação do Terror Estatal e a estratégia de confundir


  Por Azalea Robles
As contradições entre acumulação de capital e sobrevivência
 da humanidade e do planeta alcançam níveis ostensivamente
 críticos, o complexo militar-industrial implementa cada vez
 mais guerras para continuar seu crescimento perverso. Neste
 contexto aparece como um imperativo ético e político a
 análise medular das guerras: já não podemos contentar-nos
 com as explicações falsas e pseudo antropológicas de “guerras tribais”
ou de “não há cultura de paz nesses povos”: pronunciamentos
 cuja natureza destila colonialismo e constitui a argúcia para
 evitar ir ao centro do problema. Evidentemente, há
 abundância de pseudo estudos e instituições que difundem,
 alguns mais sutilmente que outros, essas premissas 
cosméticas. Aqueles que têm um altíssimo interesse em
 impedir a compreensão da realidade e, por conseguinte, a
 possibilidade concreta de transformação da mesma financiam
 estes tanques de pensamento.

  1. Cultura de Aceitação do Saqueio’ disfarçada de ‘Cultura de Paz’
Seria digna de chuvas de risos numa representação de teatro
 grotesco a existência de “Estudos de Preservação do Meio
 Ambiente” financiados pela indústria farmacêutica ou
 petroleira, ou melhor, a existência de “Cátedras de Cultura de
 Paz” cuja linha se dedica a esquivar a análise da raiz da
 guerra. Cátedras ministradas na Europa ou nos EUA, em
 países nos quais radicam as principais empresas fabricantes
 de armas, e as depredadoras energéticas: umas cátedras que
 se centram em “ensinar” a bolsistas provenientes de países
 como Congo, Afeganistão, Colômbia etc a maneira de serem
 mais“pacíficos”, de “resolver os conflitos civilizadamente” e
 de“desenvolver uma cultura de paz”, ofuscando
 olimpicamente que a guerra e a paz têm raízes econômicas e
 se desenvolvem em contextos de desigualdade social e não
 são meros assuntos de Cultura. Assim, os países que dedicam
 milionários orçamentos em guerras imperialistas e cuja
 supremacia mundial radica numa história de práticas
 colonialistas e genocidas, muito distantes da Cultura de
 Paz que apregoam de fachada, ministram cátedras de
 assimilação mental à cultura da aceitação do saqueio mais
 desmedido, enquanto‘bombardeiam humanitariamente’ em
 seu relance colonial. Assim, os bolsistas de países que sofrem
 a voracidade capitalista das guerras pelo saqueio dos recursos
 são adestrados na retórica que serve para perder de vista o
 núcleo do problema; é a raposa ensinando as galinhas com
 que tempero devem ser comidas.
Os apelativos “guerras tribais” e demais expressões
 consagradas no campo semântico destinado a prolongar o
 status quo encobrem guerras pela acumulação de recursos,
 guerras fomentadas com fins geopolíticos e econômicos
 claramente definidos pelos verdadeiros ‘Senhores da
 guerra’que são os fabricantes de armas, os mercadores da
 energia, da alimentação industrial, e das multinacionais de 
químicos, todos motores da maquinaria depredadora do planeta.
Os países concebidos na lógica global capitalista
 como‘armazéns de recursos’ a cada dia sofrerão de maneira
 mais cruenta a violência do saqueio e seu correlativo
 empobrecimento, que por sua vez causa êxodos massivos. Há
 uma carreira do grande capital por tornar-se a cada dia com
 mais recursos planetários.
O estudo do caso colombiano lança luzes indeclináveis sobre a
 realidade mundial: é uma mostra em quinta essência do
 capitalismo. Por esta razão, há um constante esforço midiático
em tergiversar a legalidade colombiana, em invisibilizá-la e
 impedir a compreensão de uma realidade que é uma
 radiografia das metástases mais atrozes do sistema
 capitalista. A resistência do povo colombiano é, ademais,
 tergiversada e invisibilizada nesse esforço constante dos
 monopólios de difusão de implementar a guerra midiática
 contra a compreensão da realidade, fazendo-o ver as
 resistências populares como “terrorismo”. O estudo às fontes
 dos sujeitos históricos e sociais torna-se uma verdadeira
 façanha em meio ao amedrontamento contra a investigação
 social e o pensamento crítico: não obstante sua
 periculosidade, esse estudo é indispensável.

  1. Acumulação capitalista e Terrorismo de Estado em Colômbia
Na realidade colombiana se plasma o despojo e re-
acomodação  territorial destinado em escala planetária a todas
 as zonas que apresentem um interesse econômico; uma lógica
 capitalista que não admite escrúpulos e constitui um ecocídio
 agregado a um genocídio. Em Colômbia são incitadas as
 estratégias do Terror correlativas ao saqueio capitalista. Estas
 são também exportadas como método de controle social,
 sabotagem, extermínio da reivindicação e contra insurgência a
 países da região [México, Honduras, Venezuela etc]
As cifras do Terrorismo de Estado em Colômbia são
 eloquentes: segundo um recente informe, um total de 19
 defensores de direitos humanos foram assassinados em
 Colômbia durante o primeiro trimestre de 2015, e outros 276
 foram agredidos.[1] Outro informe documenta que a Colômbia
 é o segundo país líder no assassinato de ambientalistas no
 mundo, com 25 assassinados em 2014.[2] 80% das violações
 aos direitos humanos e 87% dos deslocamentos populacionais
 ocorreram em regiões onde as multinacionais operam a
exploração mineira. 78% dos atentados contra sindicalistas
 foram contra aqueles que trabalham na área mineiro-energética.[3]
A planificação da acumulação de terras mediante o
 despojo violento se expressa na existência de 6,3 milhões de
 pessoas despojadas e deslocadas de suas terras para
 benefício do grande capital, milhões de pessoas vivendo mal
 em cinturões de miséria.[4] O despojo se acelera: 40% do
 território colombiano está solicitado em concessão por multinacionais.[5]
O Terrorismo de Estado se expressa também em: 9.500 presos
 políticos;[6] a eliminação física de um partido político: a União
 Patriótica [5.000 pessoas assassinadas pelas ferramentas 
paramilitares e oficiais do Estado].[7] O extermínio contra a
 oposição política é tal que: “Em Colômbia se cometem 60%
 dos assassinatos de sindicalistas que se apresentam em todo
 o mundo, por uma violência histórica, estrutural, sistemática e
 seletiva que se converteu em pauta de comportamento do
 Estado colombiano”, segundo denuncia a CUT.[8] O Tribunal
 Sindical Mundial condenou ao Estado colombiano: “por ser
 responsável pelos feitos sistemáticos de violação do princípio
 de liberdade sindical, na qualidade de autor direto, coautor,
 cúmplice ou acobertador de homicídios, lesões, torturas,
 privações ilegítimas da liberdade, atentados [...]”.[9]
O genocídio se plasma nos níveis de desaparecimento forçado:
 a ONU estima que mais de 57.200 pessoas foram
 desaparecidas em Colômbia.[10] Um informe da Promotoria
 documenta: 173.183 assassinatos e 34.467 desaparecimentos
 forçados, cometidos pela ferramenta paramilitar, num período
 de apenas 5 anos.[11] Uma estimativa de Piedad Córdoba,
 baseada no cotejo de informes e no conhecimento da
 sistemática subavaliação dos registros oficiais, cifrou nuns
 250.000 os desaparecidos em 20 anos.[12] A Coordenação
 Colômbia-Europa-EUA expressou que há um: “contínuo
 aumento dos casos [...] Os desaparecimentos forçados têm
 sido usados historicamente como um instrumento de
 perseguição política e de controle social baseado no terror,
 perpetrado por agentes do Estado e por grupos paramilitares
 que atuam com sua tolerância, omissão e aquiescência e que
 se beneficiam da impunidade [...] Os desaparecimentos
 forçados formam parte de uma prática sistemática de ataques
 contra a população civil, que têm sido funcionais à
 sustentação das elites sociais, políticas e econômicas do país”.
[13] Há mecanismos para a impunidade: “O sub registro de
 casos de desaparecimento forçado, a impunidade que se
 consolida com diversos mecanismos legais e sociais e a
 presença dos perpetradores nas comunidades [...] Muitos
 casos não são denunciados pela má administração de justiça,
 pela ineficácia dos mecanismos de denúncia, pelo ambiente
 generalizado de temor e intimidação em que vivem os
 familiares das vítimas, seus advogados, as testemunhas
 [...] [Ibid] Se somam as leis que excluem a grande parte das
 vítimas de desaparecimento forçado dos registros, as leis que
 ampliam o acionar repressivo da polícia, e as leis que tentam
 cobrir de impunidade aos responsáveis: “o Governo do
 presidente Santos está promovendo um novo marco 
normativo com preocupantes limitações aos direitos das
 vítimas de desaparecimentos forçados.”[14]
A maior fossa comum da América Latina foi encontrada atrás 
do batalhão militar na Macarena, com 2000 cadáveres de
 desaparecidos pela Força Omega do Plan Colombia, força que
 tem estreita ‘assessoria’ estadunidense.[15]

  1. Planificação dos Crimes de Estado no marco da lógica de “dissuadir a reivindicação mediante o terror”
Há uma lógica no Terrorismo de Estado: e é que a maior 
tortura e degradação das vítimas, maior alcance da“mensagem
 dissuasiva” nas comunidades. A estratégia da dissuasão 
mediante o terror está teorizada nos manuais do exército: se
 concebe a população como “o inimigo interno”, e se preconiza
 claramente o emprego de uma ferramenta paramilitar para
 realizar os massacres e as torturas. O paramilitarismo foi
 preconizado para a Colômbia desde a missão estadunidense
 Yarborough, [16] e reiteradamente reforçado até nossos dias.
 A ferramenta paramilitar é adestrada para torturar e treinada
 por [de]formadores dos EUA e Israel, como o mercenário Yair
 Klein.[17] Se trata de perpetrar Crimes de Estado como o
 crime contra a menina Alida Teresa Arzuaga, de 9 anos
, violada e assassinada para torturar a seu pai [preso político],
 e paralelamente injetar medo na oposição política;[18] ou
 como o massacre da família do militante comunista e da UP
 Julián Vélez, cujo filho foi torturado e castrado.[19]
Se trata, no marco desta planificação do Terror Estatal, de
 perpetrar massacres como o massacre de Mapiripán. Os
 paramilitares foram transladados em aviões do exército do
 norte ao sul da Colômbia, e levados pelo exército ao lugar do
 massacre.[20] Estiveram amputando e violando durante 10
 dias, enquanto o exército impedia que entrasse ou saísse
 ninguém: devido ao cerco do exército, ninguém pôde dar
 auxílio à população. Umas 60 pessoas foram assassinadas:
 submetidas a toda classe de torturas. Até hoje há dificuldade
 para identificar as vítimas, dada a barbárie com que a
 ferramenta paramilitar procedeu a esquartejá-las e lançá-las
 ao rio. Segundo confessou o General Uzcátegui numa
 gravação: “sabe o que fez a Brigada Militar Móvel 2? Colocou
 um colchão de segurança para que os paramilitares saíssem.
 O exército não só tem vínculos com os paramilitares, não só
 não os combateu, como também combateu as FARC para que
 as FARC não golpeassem os paramilitares”.[Ibid] Enquanto os
 paramilitares torturavam, o exército garantia as atrocidades
 combatendo as FARC que tentaram romper o cerco militar
 para auxiliar a população. O exército garantiu que o massacre
 compreendesse as torturas mais aberrantes: não era “uma
 bala perdida”, era uma operação de Terrorismo de Estado
 dentro da estratégia de terra arrasada nos Planos Orientais,
 na qual esteve envolvida a assessoria estadunidense. O bispo
 do Guaviare depôs: “Passaram caminhões com ao cerca de
 120 homens à paisana sem armas; depois de passar pelo
 batalhão, saíram com uniformes e armados [...]; outro grupo
 de paramilitares também se deslocou, porém pelo rio
 Guaviare, passando pelo ponto de controle militar sobre o rio”.[Ibid]
Outro crime de Estado que evidencia de maneira flagrante esta
 planificação do terror é aquele cometido por militares e
 paramilitares contra a comunidade do Cacarica,
 quando“jogaram futebol com a cabeça” do líder campesino
 afrodescendente Marino López. A Operação
 Militar ‘Gênesis’consistiu em aterrorizar a comunidade para
 forçá-la a um massivo deslocamento populacional: “Os
 paramilitares e também militares cercaram todo o casario.
 Nos juntaram a todos [...] Dois dos doze militares agarraram
 Marino [...] Insultam-no, golpeiam-no. Um dos criminosos
 pega um facão e o corta no corpo, Marino tenta fugir e se joga
 ao rio, porém os paramilitares o ameaçam, ‘se foge, vai ser 
pior’. Marino regressa, estende seu braço esquerdo para sair
 da água. Um dos paramilitares lhe corta a cabeça com o
 machete. Depois lhe cortam os braços em dois, as duas
 pernas... E começam a jogar futebol com sua cabeça. Todas e
 todos vimos. Tudo foi terror.”[21] Os habitantes denunciaram
 o acionar da Brigada XVII. Vários paramilitares do bloco Elmer
 Cárdenas, sob o mando de Freddy Rendón, vulgo “El Alemán”,
 acusam ao General Rito Alejo del Río como um dos máximos
 responsáveis: “Se tratou de uma operação
conjunta”,relataram ante o Fiscal de Justiça e Paz.[22]
A lista de crimes de Lesa-Humanidade perpetrados de maneira 
sistemática pelo Estado colombiano contra a população, no
 marco de uma planificada estratégia do terror e
 desapossamento, seria interminável. O Estado colombiano e
 seu mentor estadunidense pretendem continuar viabilizando o
 saqueio dos recursos aterrorizando a população cuja
 reivindicação entra em conflito com a depredação capitalista.
 Se pretende eliminar toda oposição, seja esta armada ou não.
O depoimento de Marinelly Hernández, presa política, é
 ilustrativo das aberrantes torturas que o Estado colombiano
 comete contra os familiares dos opositores políticos,
 principalmente se estes são insurgentes, uma realidade 
silenciada: “A nosso pai, o Exército colombiano, em união com 
os paramilitares, o pendurou vivo por suas mãos introduzindo
 ganchos em suas extremidades como se fosse carne de
 açougue, depois lhe feriram o estômago e todo seu corpo com
 uma navalha, depois destruíram seus lábios como se lhes
 talha aos pescados, por último lhe deram um tiro de
misericórdia; segundo a medicina legal, a nosso pai o
 torturaram vivo. Tinha 70 anos. Como é possível que façam
 isso com um ancião, rotulando-o de guerrilheiro? Por acaso,
 por eu ser revolucionária, tinham que cobrar com a vida de
 meu pai?[23] Aqui, a tortura aberrante claramente tem por
 objetivo enviar uma mensagem de terror aos que pensem
 ingressar na insurgência. Estas práticas genocidas são recorrentes.
Marinelly expressa a correlação entre o saqueio dos recursos e
 os massacres perpetrados pelo exército e a ferramenta
 paramilitar contra a população das zonas cobiçadas pelo
 grande capital. Aqui se refere ao massacre do Rio Nare: “O
 Capitão Martínez com suas tropas ingressaram numas minas
 de ouro onde se encontravam os campesinos sacando o 
mineral; um dia antes, lançaram panfletos dizendo-lhes que
 desalojassem, e no outro dia entraram com motosserras e
 machados: amarraram os trabalhadores em cadeia... iam
 soltando-os de um em um, sem assassiná-los, lhes cortavam
 os braços, as pernas e depois de cada pessoa recolhiam só um
 braço, só uma perna, faziam um montão e atiravam-no ao rio
 e outros aos buracos das minas e outros os deixavam para
 que as aves os comessem”.[Ibid] Marinelly, de uma família
 campesina, viveu em carne própria as agressões do exército
 colombiano contra o campesinato; foi testemunha de
 múltiplos assassinatos de amigos e familiares, cujos corpos
 foram abandonados torturados e desmembrados: “parte da
 guerra suja e psicológica que implementam para assustar aos
 lutadores populares”. A presa política explica que as violações
 do Estado colombiano a impulsionaram para a insurgência,
 como sua: “única forma de preservar a vida, lutar por ela e
 reclamar nossos direitos”, e evitar “terminar massacrada,
 torturada ou inválida por ser exemplarizada como ficam 
muitos campesinos, ou terminar sendo deslocada e vivendo
 das esmolas nas cidades”.[Ibid.]
A combinação do saqueio dos recursos e do Terror de Estado
 exercido contra os que se opõem ao saqueio explica a
 existência das insurgências colombianas como única saída que
 encontra uma população submetida ao despojo e à repressão
 mais descarnada frente a suas reivindicações. Esta é uma
 compreensão indispensável para os que desejamos a paz em
 Colômbia. A paz significa justiça social, cessar da entrega do
 país em concessões a multinacionais, reforma agrária,
 soberania alimentar, e cessar do Terror de Estado que hoje
 facilita a acumulação capitalista em detrimento das maiorias
 empobrecidas. Os problemas devem ser resolvidos a partir de
 suas causas, não a partir de suas consequências.

  1. Denunciaremos os crimes resultado de uma planificação Estatal, ou vamos continuar promovendo a confusão?
Estes crimes de Estado enviam uma mensagem do terror 
contra a população: “Isto pode ocorrer com vocês ou com seus
 familiares, se persistem em sua reivindicação’. Há um claro
 intento de paralisar a ação reivindicativa das comunidades, e
 esse terror se exerce a partir do próprio Estado, num acionar
 que obedece a alguns interesses econômicos claros: é 
inaceitável, portanto, que se tente creditar os crimes “à 
violência” em abstrato, como reiteradamente o fazem os mass media
 com os crimes do Terrorismo de Estado. A mensagem é 
enviada pelos verdugos através de seus executantes
 paramilitares, e não é aceitável que os maquiadores
 midiáticos venham garantir a impunidade total aos que são os
 verdadeiros mandantes destes crimes: os que se servem do
 terror para subjugar a um povo e para garantir a acumulação
 de capital em poucas mãos, em detrimento do meio ambiente
 e das maiorias. O tentar, mediante o aparelho midiático,
 transformar os reiterados assassinatos políticos em “vítimas 
dos violentos” [assim, “os violentos”, em abstrato], busca 
diluir responsabilidades, busca ocultar a planificação de um
 Terror que de maneira sistemática é exercido a partir do
 próprio Estado contra a oposição política. Essa farsa midiática
 não cala nos setores mais conscientes do campo popular; no
 entanto, em parte da opinião pública, sim, faz efeito.

  1. Ofensiva contra a compreensão da realidade: Estratégia da Confusão
A Estratégia da Confusão é implementada até a saciedade pelo
 aparelho midiático: por exemplo, o redigir notas sobre crimes
 em que se conhece perfeitamente que a autoria é paramilitar,
 porém põem “assassinado por grupos armados”: isto com a
 clara intenção de exculpar a ferramenta paramilitar que serve
 ao poder econômico e de buscar impingir à resistência popular
 parte dos crimes perpetrados pela estratégia paramilitar.
O léxico “grupos armados” ou “atores armados” é um léxico da
 confusão, dado que grupos armados são tanto os
 paramilitares, como o exército, como as insurgências;
 portanto, não há nada mais aberrante que conhecer que os 
vitimários são parte de uma Estratégia repressiva Estatal e
 paraestatal, articulada do poder multinacional, e optar por 
tecer o discurso da confusão. Esta midiatização é indignante, e
 constitui uma dupla vitimização das comunidades que
 denunciam aos responsáveis, e que no entanto veem
 ignoradas suas vozes nas notas midiáticas, de maneira com
 que a ferramenta paramilitar-militar do terror não somente
 tenha cometido as atrocidades como também que os meios
 não assinalem sua responsabilidade, amparando-a assim da
 impunidade que a perpetua.
Parte da Estratégia da Confusão é o emprego da falsa
 dicotomia “grupos armados legais” versus “grupos armados
 ilegais”: sendo legais as forças repressivas do Estado, 
enquanto que na ilegalidade se acham tantos as forças 
repressivas paramilitares –que, no entanto, se articulam ao
 próprio Estado, recebendo logística, armamento e
 impunidade-, e as guerrilhas –estas últimas de natureza
 oposta ao paramilitarismo-. Esta perfídia midiática busca
 instaurar um campo conceitual que ignora a realidade do
 paramilitarismo como estratégia preconizada em manuais 
militares. Também busca instalar um campo conceitual que
 exclui o caráter político e social do conflito colombiano, ao
 tentar apresentar as insurgências num mesmo pacote com o 
paramilitarismo; tentando arrancar da guerrilha seu caráter
 político, inerente à sua própria gênese e composição, de ser
 uma expressão do campo popular colombiano que se levanta
 em protesto político contra o saqueio, protesto político que
 acontece devido à impossibilidade democrática instaurada
 desde o Estado mediante a sistemática repressão ao opositor 
político.
O paramilitarismo é uma ferramenta a serviço do Grande
 Capital que atua com a plena coordenação do exército
 colombiano; porém, os meios [de comunicação] trabalham
 para ocultar a vinculação desta ferramenta com os que a
 criam e empregam. Lamentavelmente este trabalho
 sistemático dos meios [de comunicação] consegue colonizar
 parte importante da população, deixando inclusive marcas
 residuais que surpreende encontrar nas mentes das próprias
 vítimas. O bombardeio midiático é uma ofensiva sem trégua
 contra a capacidade de compreensão da realidade e, portanto,
 contra a possibilidade de ação efetiva sobre a mesma.
Por isso é importante desmascarar essa planificada
 manipulação semântica elaborada pelos tanques de
 pensamento. Essa manipulação é também injetada no
 discurso das ONGs através do condicionamento que os
 financistas impõem, conseguindo paulatinamente que no
 campo popular se introduza uma semântica que obstaculiza a
 capacidade de compreensão da realidade. Há uma planificação
 do terror para facilitar a acumulação capitalista em mãos de
 multinacionais e do latifúndio; frente ao genocídio não cabe
 mais cair no apagamento das causas do drama colombiano,
 nem jogar à confusão, nem adotar o léxico imposto pelos
 tanques de pensamento da USAID.

NOTAS de “La planificación del Terror Estatal y la estrategia de confundir”
No caso de não figurar as notas completas na presente publicação, consultá-las em www.azalearobles.blogspot.com



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