SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2015
Colômbia: A planificação do Terror Estatal e a estratégia de confundir
Por Azalea Robles
As contradições entre acumulação de capital e sobrevivência
da humanidade e do planeta alcançam níveis ostensivamente
críticos, o complexo militar-industrial implementa cada vez
mais guerras para continuar seu crescimento perverso. Neste
contexto aparece como um imperativo ético e político a
análise medular das guerras: já não podemos contentar-nos
com as explicações falsas e pseudo antropológicas de “guerras tribais”
ou de “não há cultura de paz nesses povos”: pronunciamentos
cuja natureza destila colonialismo e constitui a argúcia para
evitar ir ao centro do problema. Evidentemente, há
abundância de pseudo estudos e instituições que difundem,
alguns mais sutilmente que outros, essas premissas
cosméticas. Aqueles que têm um altíssimo interesse em
impedir a compreensão da realidade e, por conseguinte, a
possibilidade concreta de transformação da mesma financiam
estes tanques de pensamento.
- ‘Cultura de Aceitação do Saqueio’ disfarçada de ‘Cultura de Paz’
Seria digna de chuvas de risos numa representação de teatro
grotesco a existência de “Estudos de Preservação do Meio
Ambiente” financiados pela indústria farmacêutica ou
petroleira, ou melhor, a existência de “Cátedras de Cultura de
Paz” cuja linha se dedica a esquivar a análise da raiz da
guerra. Cátedras ministradas na Europa ou nos EUA, em
países nos quais radicam as principais empresas fabricantes
de armas, e as depredadoras energéticas: umas cátedras que
se centram em “ensinar” a bolsistas provenientes de países
como Congo, Afeganistão, Colômbia etc a maneira de serem
mais“pacíficos”, de “resolver os conflitos civilizadamente” e
de“desenvolver uma cultura de paz”, ofuscando
olimpicamente que a guerra e a paz têm raízes econômicas e
se desenvolvem em contextos de desigualdade social e não
são meros assuntos de Cultura. Assim, os países que dedicam
milionários orçamentos em guerras imperialistas e cuja
supremacia mundial radica numa história de práticas
colonialistas e genocidas, muito distantes da Cultura de
Paz que apregoam de fachada, ministram cátedras de
assimilação mental à cultura da aceitação do saqueio mais
desmedido, enquanto‘bombardeiam humanitariamente’ em
seu relance colonial. Assim, os bolsistas de países que sofrem
a voracidade capitalista das guerras pelo saqueio dos recursos
são adestrados na retórica que serve para perder de vista o
núcleo do problema; é a raposa ensinando as galinhas com
que tempero devem ser comidas.
Os apelativos “guerras tribais” e demais expressões
consagradas no campo semântico destinado a prolongar o
status quo encobrem guerras pela acumulação de recursos,
guerras fomentadas com fins geopolíticos e econômicos
claramente definidos pelos verdadeiros ‘Senhores da
guerra’que são os fabricantes de armas, os mercadores da
energia, da alimentação industrial, e das multinacionais de
químicos, todos motores da maquinaria depredadora do planeta.
Os países concebidos na lógica global capitalista
como‘armazéns de recursos’ a cada dia sofrerão de maneira
mais cruenta a violência do saqueio e seu correlativo
empobrecimento, que por sua vez causa êxodos massivos. Há
uma carreira do grande capital por tornar-se a cada dia com
mais recursos planetários.
O estudo do caso colombiano lança luzes indeclináveis sobre a
realidade mundial: é uma mostra em quinta essência do
capitalismo. Por esta razão, há um constante esforço midiático
em tergiversar a legalidade colombiana, em invisibilizá-la e
impedir a compreensão de uma realidade que é uma
radiografia das metástases mais atrozes do sistema
capitalista. A resistência do povo colombiano é, ademais,
tergiversada e invisibilizada nesse esforço constante dos
monopólios de difusão de implementar a guerra midiática
contra a compreensão da realidade, fazendo-o ver as
resistências populares como “terrorismo”. O estudo às fontes
dos sujeitos históricos e sociais torna-se uma verdadeira
façanha em meio ao amedrontamento contra a investigação
social e o pensamento crítico: não obstante sua
periculosidade, esse estudo é indispensável.
- Acumulação capitalista e Terrorismo de Estado em Colômbia
Na realidade colombiana se plasma o despojo e re-
acomodação territorial destinado em escala planetária a todas
as zonas que apresentem um interesse econômico; uma lógica
capitalista que não admite escrúpulos e constitui um ecocídio
agregado a um genocídio. Em Colômbia são incitadas as
estratégias do Terror correlativas ao saqueio capitalista. Estas
são também exportadas como método de controle social,
sabotagem, extermínio da reivindicação e contra insurgência a
países da região [México, Honduras, Venezuela etc]
As cifras do Terrorismo de Estado em Colômbia são
eloquentes: segundo um recente informe, um total de 19
defensores de direitos humanos foram assassinados em
Colômbia durante o primeiro trimestre de 2015, e outros 276
foram agredidos.[1] Outro informe documenta que a Colômbia
é o segundo país líder no assassinato de ambientalistas no
mundo, com 25 assassinados em 2014.[2] 80% das violações
aos direitos humanos e 87% dos deslocamentos populacionais
ocorreram em regiões onde as multinacionais operam a
exploração mineira. 78% dos atentados contra sindicalistas
foram contra aqueles que trabalham na área mineiro-energética.[3]
A planificação da acumulação de terras mediante o
despojo violento se expressa na existência de 6,3 milhões de
pessoas despojadas e deslocadas de suas terras para
benefício do grande capital, milhões de pessoas vivendo mal
em cinturões de miséria.[4] O despojo se acelera: 40% do
território colombiano está solicitado em concessão por multinacionais.[5]
O Terrorismo de Estado se expressa também em: 9.500 presos
políticos;[6] a eliminação física de um partido político: a União
Patriótica [5.000 pessoas assassinadas pelas ferramentas
paramilitares e oficiais do Estado].[7] O extermínio contra a
oposição política é tal que: “Em Colômbia se cometem 60%
dos assassinatos de sindicalistas que se apresentam em todo
o mundo, por uma violência histórica, estrutural, sistemática e
seletiva que se converteu em pauta de comportamento do
Estado colombiano”, segundo denuncia a CUT.[8] O Tribunal
Sindical Mundial condenou ao Estado colombiano: “por ser
responsável pelos feitos sistemáticos de violação do princípio
de liberdade sindical, na qualidade de autor direto, coautor,
cúmplice ou acobertador de homicídios, lesões, torturas,
privações ilegítimas da liberdade, atentados [...]”.[9]
O genocídio se plasma nos níveis de desaparecimento forçado:
a ONU estima que mais de 57.200 pessoas foram
desaparecidas em Colômbia.[10] Um informe da Promotoria
documenta: 173.183 assassinatos e 34.467 desaparecimentos
forçados, cometidos pela ferramenta paramilitar, num período
de apenas 5 anos.[11] Uma estimativa de Piedad Córdoba,
baseada no cotejo de informes e no conhecimento da
sistemática subavaliação dos registros oficiais, cifrou nuns
250.000 os desaparecidos em 20 anos.[12] A Coordenação
Colômbia-Europa-EUA expressou que há um: “contínuo
aumento dos casos [...] Os desaparecimentos forçados têm
sido usados historicamente como um instrumento de
perseguição política e de controle social baseado no terror,
perpetrado por agentes do Estado e por grupos paramilitares
que atuam com sua tolerância, omissão e aquiescência e que
se beneficiam da impunidade [...] Os desaparecimentos
forçados formam parte de uma prática sistemática de ataques
contra a população civil, que têm sido funcionais à
sustentação das elites sociais, políticas e econômicas do país”.
[13] Há mecanismos para a impunidade: “O sub registro de
casos de desaparecimento forçado, a impunidade que se
consolida com diversos mecanismos legais e sociais e a
presença dos perpetradores nas comunidades [...] Muitos
casos não são denunciados pela má administração de justiça,
pela ineficácia dos mecanismos de denúncia, pelo ambiente
generalizado de temor e intimidação em que vivem os
familiares das vítimas, seus advogados, as testemunhas
[...] [Ibid] Se somam as leis que excluem a grande parte das
vítimas de desaparecimento forçado dos registros, as leis que
ampliam o acionar repressivo da polícia, e as leis que tentam
cobrir de impunidade aos responsáveis: “o Governo do
presidente Santos está promovendo um novo marco
normativo com preocupantes limitações aos direitos das
vítimas de desaparecimentos forçados.”[14]
A maior fossa comum da América Latina foi encontrada atrás
do batalhão militar na Macarena, com 2000 cadáveres de
desaparecidos pela Força Omega do Plan Colombia, força que
tem estreita ‘assessoria’ estadunidense.[15]
- Planificação dos Crimes de Estado no marco da lógica de “dissuadir a reivindicação mediante o terror”
Há uma lógica no Terrorismo de Estado: e é que a maior
tortura e degradação das vítimas, maior alcance da“mensagem
dissuasiva” nas comunidades. A estratégia da dissuasão
mediante o terror está teorizada nos manuais do exército: se
concebe a população como “o inimigo interno”, e se preconiza
claramente o emprego de uma ferramenta paramilitar para
realizar os massacres e as torturas. O paramilitarismo foi
preconizado para a Colômbia desde a missão estadunidense
Yarborough, [16] e reiteradamente reforçado até nossos dias.
A ferramenta paramilitar é adestrada para torturar e treinada
por [de]formadores dos EUA e Israel, como o mercenário Yair
Klein.[17] Se trata de perpetrar Crimes de Estado como o
crime contra a menina Alida Teresa Arzuaga, de 9 anos
, violada e assassinada para torturar a seu pai [preso político],
e paralelamente injetar medo na oposição política;[18] ou
como o massacre da família do militante comunista e da UP
Julián Vélez, cujo filho foi torturado e castrado.[19]
Se trata, no marco desta planificação do Terror Estatal, de
perpetrar massacres como o massacre de Mapiripán. Os
paramilitares foram transladados em aviões do exército do
norte ao sul da Colômbia, e levados pelo exército ao lugar do
massacre.[20] Estiveram amputando e violando durante 10
dias, enquanto o exército impedia que entrasse ou saísse
ninguém: devido ao cerco do exército, ninguém pôde dar
auxílio à população. Umas 60 pessoas foram assassinadas:
submetidas a toda classe de torturas. Até hoje há dificuldade
para identificar as vítimas, dada a barbárie com que a
ferramenta paramilitar procedeu a esquartejá-las e lançá-las
ao rio. Segundo confessou o General Uzcátegui numa
gravação: “sabe o que fez a Brigada Militar Móvel 2? Colocou
um colchão de segurança para que os paramilitares saíssem.
O exército não só tem vínculos com os paramilitares, não só
não os combateu, como também combateu as FARC para que
as FARC não golpeassem os paramilitares”.[Ibid] Enquanto os
paramilitares torturavam, o exército garantia as atrocidades
combatendo as FARC que tentaram romper o cerco militar
para auxiliar a população. O exército garantiu que o massacre
compreendesse as torturas mais aberrantes: não era “uma
bala perdida”, era uma operação de Terrorismo de Estado
dentro da estratégia de terra arrasada nos Planos Orientais,
na qual esteve envolvida a assessoria estadunidense. O bispo
do Guaviare depôs: “Passaram caminhões com ao cerca de
120 homens à paisana sem armas; depois de passar pelo
batalhão, saíram com uniformes e armados [...]; outro grupo
de paramilitares também se deslocou, porém pelo rio
Guaviare, passando pelo ponto de controle militar sobre o rio”.[Ibid]
Outro crime de Estado que evidencia de maneira flagrante esta
planificação do terror é aquele cometido por militares e
paramilitares contra a comunidade do Cacarica,
quando“jogaram futebol com a cabeça” do líder campesino
afrodescendente Marino López. A Operação
Militar ‘Gênesis’consistiu em aterrorizar a comunidade para
forçá-la a um massivo deslocamento populacional: “Os
paramilitares e também militares cercaram todo o casario.
Nos juntaram a todos [...] Dois dos doze militares agarraram
Marino [...] Insultam-no, golpeiam-no. Um dos criminosos
pega um facão e o corta no corpo, Marino tenta fugir e se joga
ao rio, porém os paramilitares o ameaçam, ‘se foge, vai ser
pior’. Marino regressa, estende seu braço esquerdo para sair
da água. Um dos paramilitares lhe corta a cabeça com o
machete. Depois lhe cortam os braços em dois, as duas
pernas... E começam a jogar futebol com sua cabeça. Todas e
todos vimos. Tudo foi terror.”[21] Os habitantes denunciaram
o acionar da Brigada XVII. Vários paramilitares do bloco Elmer
Cárdenas, sob o mando de Freddy Rendón, vulgo “El Alemán”,
acusam ao General Rito Alejo del Río como um dos máximos
responsáveis: “Se tratou de uma operação
conjunta”,relataram ante o Fiscal de Justiça e Paz.[22]
A lista de crimes de Lesa-Humanidade perpetrados de maneira
sistemática pelo Estado colombiano contra a população, no
marco de uma planificada estratégia do terror e
desapossamento, seria interminável. O Estado colombiano e
seu mentor estadunidense pretendem continuar viabilizando o
saqueio dos recursos aterrorizando a população cuja
reivindicação entra em conflito com a depredação capitalista.
Se pretende eliminar toda oposição, seja esta armada ou não.
O depoimento de Marinelly Hernández, presa política, é
ilustrativo das aberrantes torturas que o Estado colombiano
comete contra os familiares dos opositores políticos,
principalmente se estes são insurgentes, uma realidade
silenciada: “A nosso pai, o Exército colombiano, em união com
os paramilitares, o pendurou vivo por suas mãos introduzindo
ganchos em suas extremidades como se fosse carne de
açougue, depois lhe feriram o estômago e todo seu corpo com
uma navalha, depois destruíram seus lábios como se lhes
talha aos pescados, por último lhe deram um tiro de
misericórdia; segundo a medicina legal, a nosso pai o
torturaram vivo. Tinha 70 anos. Como é possível que façam
isso com um ancião, rotulando-o de guerrilheiro? Por acaso,
por eu ser revolucionária, tinham que cobrar com a vida de
meu pai?[23] Aqui, a tortura aberrante claramente tem por
objetivo enviar uma mensagem de terror aos que pensem
ingressar na insurgência. Estas práticas genocidas são recorrentes.
Marinelly expressa a correlação entre o saqueio dos recursos e
os massacres perpetrados pelo exército e a ferramenta
paramilitar contra a população das zonas cobiçadas pelo
grande capital. Aqui se refere ao massacre do Rio Nare: “O
Capitão Martínez com suas tropas ingressaram numas minas
de ouro onde se encontravam os campesinos sacando o
mineral; um dia antes, lançaram panfletos dizendo-lhes que
desalojassem, e no outro dia entraram com motosserras e
machados: amarraram os trabalhadores em cadeia... iam
soltando-os de um em um, sem assassiná-los, lhes cortavam
os braços, as pernas e depois de cada pessoa recolhiam só um
braço, só uma perna, faziam um montão e atiravam-no ao rio
e outros aos buracos das minas e outros os deixavam para
que as aves os comessem”.[Ibid] Marinelly, de uma família
campesina, viveu em carne própria as agressões do exército
colombiano contra o campesinato; foi testemunha de
múltiplos assassinatos de amigos e familiares, cujos corpos
foram abandonados torturados e desmembrados: “parte da
guerra suja e psicológica que implementam para assustar aos
lutadores populares”. A presa política explica que as violações
do Estado colombiano a impulsionaram para a insurgência,
como sua: “única forma de preservar a vida, lutar por ela e
reclamar nossos direitos”, e evitar “terminar massacrada,
torturada ou inválida por ser exemplarizada como ficam
muitos campesinos, ou terminar sendo deslocada e vivendo
das esmolas nas cidades”.[Ibid.]
A combinação do saqueio dos recursos e do Terror de Estado
exercido contra os que se opõem ao saqueio explica a
existência das insurgências colombianas como única saída que
encontra uma população submetida ao despojo e à repressão
mais descarnada frente a suas reivindicações. Esta é uma
compreensão indispensável para os que desejamos a paz em
Colômbia. A paz significa justiça social, cessar da entrega do
país em concessões a multinacionais, reforma agrária,
soberania alimentar, e cessar do Terror de Estado que hoje
facilita a acumulação capitalista em detrimento das maiorias
empobrecidas. Os problemas devem ser resolvidos a partir de
suas causas, não a partir de suas consequências.
- Denunciaremos os crimes resultado de uma planificação Estatal, ou vamos continuar promovendo a confusão?
Estes crimes de Estado enviam uma mensagem do terror
contra a população: “Isto pode ocorrer com vocês ou com seus
familiares, se persistem em sua reivindicação’. Há um claro
intento de paralisar a ação reivindicativa das comunidades, e
esse terror se exerce a partir do próprio Estado, num acionar
que obedece a alguns interesses econômicos claros: é
inaceitável, portanto, que se tente creditar os crimes “à
violência” em abstrato, como reiteradamente o fazem os mass media
com os crimes do Terrorismo de Estado. A mensagem é
enviada pelos verdugos através de seus executantes
paramilitares, e não é aceitável que os maquiadores
midiáticos venham garantir a impunidade total aos que são os
verdadeiros mandantes destes crimes: os que se servem do
terror para subjugar a um povo e para garantir a acumulação
de capital em poucas mãos, em detrimento do meio ambiente
e das maiorias. O tentar, mediante o aparelho midiático,
transformar os reiterados assassinatos políticos em “vítimas
dos violentos” [assim, “os violentos”, em abstrato], busca
diluir responsabilidades, busca ocultar a planificação de um
Terror que de maneira sistemática é exercido a partir do
próprio Estado contra a oposição política. Essa farsa midiática
não cala nos setores mais conscientes do campo popular; no
entanto, em parte da opinião pública, sim, faz efeito.
- Ofensiva contra a compreensão da realidade: Estratégia da Confusão
A Estratégia da Confusão é implementada até a saciedade pelo
aparelho midiático: por exemplo, o redigir notas sobre crimes
em que se conhece perfeitamente que a autoria é paramilitar,
porém põem “assassinado por grupos armados”: isto com a
clara intenção de exculpar a ferramenta paramilitar que serve
ao poder econômico e de buscar impingir à resistência popular
parte dos crimes perpetrados pela estratégia paramilitar.
O léxico “grupos armados” ou “atores armados” é um léxico da
confusão, dado que grupos armados são tanto os
paramilitares, como o exército, como as insurgências;
portanto, não há nada mais aberrante que conhecer que os
vitimários são parte de uma Estratégia repressiva Estatal e
paraestatal, articulada do poder multinacional, e optar por
tecer o discurso da confusão. Esta midiatização é indignante, e
constitui uma dupla vitimização das comunidades que
denunciam aos responsáveis, e que no entanto veem
ignoradas suas vozes nas notas midiáticas, de maneira com
que a ferramenta paramilitar-militar do terror não somente
tenha cometido as atrocidades como também que os meios
não assinalem sua responsabilidade, amparando-a assim da
impunidade que a perpetua.
Parte da Estratégia da Confusão é o emprego da falsa
dicotomia “grupos armados legais” versus “grupos armados
ilegais”: sendo legais as forças repressivas do Estado,
enquanto que na ilegalidade se acham tantos as forças
repressivas paramilitares –que, no entanto, se articulam ao
próprio Estado, recebendo logística, armamento e
impunidade-, e as guerrilhas –estas últimas de natureza
oposta ao paramilitarismo-. Esta perfídia midiática busca
instaurar um campo conceitual que ignora a realidade do
paramilitarismo como estratégia preconizada em manuais
militares. Também busca instalar um campo conceitual que
exclui o caráter político e social do conflito colombiano, ao
tentar apresentar as insurgências num mesmo pacote com o
paramilitarismo; tentando arrancar da guerrilha seu caráter
político, inerente à sua própria gênese e composição, de ser
uma expressão do campo popular colombiano que se levanta
em protesto político contra o saqueio, protesto político que
acontece devido à impossibilidade democrática instaurada
desde o Estado mediante a sistemática repressão ao opositor
político.
O paramilitarismo é uma ferramenta a serviço do Grande
Capital que atua com a plena coordenação do exército
colombiano; porém, os meios [de comunicação] trabalham
para ocultar a vinculação desta ferramenta com os que a
criam e empregam. Lamentavelmente este trabalho
sistemático dos meios [de comunicação] consegue colonizar
parte importante da população, deixando inclusive marcas
residuais que surpreende encontrar nas mentes das próprias
vítimas. O bombardeio midiático é uma ofensiva sem trégua
contra a capacidade de compreensão da realidade e, portanto,
contra a possibilidade de ação efetiva sobre a mesma.
Por isso é importante desmascarar essa planificada
manipulação semântica elaborada pelos tanques de
pensamento. Essa manipulação é também injetada no
discurso das ONGs através do condicionamento que os
financistas impõem, conseguindo paulatinamente que no
campo popular se introduza uma semântica que obstaculiza a
capacidade de compreensão da realidade. Há uma planificação
do terror para facilitar a acumulação capitalista em mãos de
multinacionais e do latifúndio; frente ao genocídio não cabe
mais cair no apagamento das causas do drama colombiano,
nem jogar à confusão, nem adotar o léxico imposto pelos
tanques de pensamento da USAID.
NOTAS de “La planificación del Terror Estatal y la estrategia de confundir”
No caso de não figurar as notas completas na presente publicação, consultá-las em www.azalearobles.blogspot.com
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