quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O obscuro buraco económico no Afeganistão



21.Jan.15 :: Outros autores
Há 13 anos que os EUA ocupam o Afeganistão. O balanço desse país destruído é catastrófico. Mas o próprio ocupante paga e pagará um preço, que não será apenas o do atoleiro militar em que se meteu. É o da corrupção e criminalidade institucional que instalou e de que é parte, é o dos custos económicos, humanos e morais cuja factura, mais cedo ou mais tarde, o próprio povo norte-americano lhe apresentará.


Quando se cumprem 13 anos sobre a invasão estado-unidense do Afeganistão, e embora seja difícil acreditá-lo, Washington gastou ou desbaratou, segundo cálculos do diário inglês Financial Times, um milhão de milhões de dólares na sua hipotética reconstrução.
O jornal acrescenta que para além do milhão de milhões de dólares desbaratados a administração norte-americana deverá assumir novos encargos para que o regime de Hamid Karsai possa, com a ajuda das tropas do Pentágono, manter-se no poder.
Compilando dados de várias agências financeiras e Organizações Não-Governamentais, o Financial Times sublinha que também a guerra e ocupação do Iraque custou à Casa Branca a enorme quantia de 1 700 000 milhões, enquanto em ambos países perdura a insegurança, a corrupção e a falta de cuidados básicos para a população. Um total de 2 700 000 milhões.
Um dos principais fornecedores de dados oficiais foi o inspector-geral especial para a Reconstrução do Afeganistão, John Sopko, que assegurou que o que os Estados Unidos gastaram neste país é superior ao custo do ambicioso Plano Marshall para reconstruir a Europa ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
Este inspector, aprovado para o cargo pela Casa Branca e o Congresso, informou que milhares de milhões de dólares foram perdidos ou roubados em projectos que frequentemente faziam pouco sentido nas condições do Afeganistão.
Desde lanchas rápidas para um país que não tem acesso ao mar a numerosos equipamentos de guerra e viaturas civis obsoletas, a aviões enferrujados que aparecem em qualquer parte do país ou um programa de plantação de soja num país cujo povo esta acostumado a consumir trigo, eis algumas das iniciativas que serviram para ocultar os grandes desfalques e vigarices.
Sopko, que foi nomeado há dois anos juntamente com uma equipa de 200 pessoas, acusou numa conferência as agências estado-unidenses de deitar dinheiro pelo cano abaixo e classificou de “descarada” a corrupção de funcionários afegãos e estado-unidenses.
Na sua declaração o inspector-geral para o Afeganistão sentenciou: “Construímos escolas que ruíram, clínicas onde não há médicos; construímos estradas que se desfazem em pedaços. É grotesco e tudo isto foi realizado sem qualquer supervisão”.
Washington gastou 34,4 milhões de dólares num enorme projecto para cultivar soja, sem o discutir com as autoridades afegãs, no que Sopko classificou de “uma atitude prepotente dos Estados Unidos”, porque as populações não se interessam por essa cultura.
E é lógico que o cultivo da soja não interesse aos cidadãos desse país asiático uma vez que a maioria dos seus habitantes, para conseguir obter algum dinheiro para sobreviver no meio do grave desastre que a invasão estado-unidense deixou e dos constantes ataques e confrontos com os diferentes grupos armados, tem de se dedicar ao cultivo da papoila.
A proliferação da produção de ópio cresceu 3 000 % desde que os taliban foram expulsos do governo em 2001. Em 1999 os talibán ilegalizaram essa cultura e dois anos mais tarde a planta estava praticamente erradicada, indicou um relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes das Nações Unidas.
Dados de Organizações não-governamentais indicam que o governo presidido por Hamid Karzai obtém 25 % do Produto Interno Bruto (PIB) do negócio da droga.
O montante alcança cerca de 3 000 milhões de dólares, e com a produção total proveniente de diversas origens é abastecido 90 % do mercado europeu e 40 % do mercado estado-unidense.
Com um país destruído e empobrecido, muitas famílias afegãs tratam de sobreviver com o negócio do ópio. De entre os seus 30 000 000 habitantes, 65 % da população economicamente activa carece de emprego; o analfabetismo situa-se nos 80 %; a carência de água potável e de saneamento é quase generalizada em todo o território; 50 % das crianças sofrem de malnutrição e 600 morrem diariamente devido a doenças evitáveis; 22 milhões sobrevivem do cultivo da papoila.
Nesse sentido, Sopko sublinhou que o programa estado-unidense de luta contra os estupefacientes “foi um fracasso, uma vez que desde 2001 até hoje aumentaram os hectares cultivados e os volumes de exportação dessa droga”.
O que faltou que Sopko explicasse é que os camponeses colhem a planta de papoila e recolhem o seu leite, mas que depois tem de ser realizado um tratamento químico para o qual é necessário dispor de laboratórios, processar o líquido e convertê-lo em heroína ou morfina.
O produtor afegão não dispõe nem de dinheiro nem de capacidade para processar a droga, e o negócio passa para as mãos dos chamados Senhores da Guerra que controlam as diferentes regiões do país, bem como de integrantes do governo imposto pelos Estados Unidos. Participam também membros das forças de ocupação e da Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana.
Para retirar o ópio do Afeganistão é necessário ter transportes e grandes contactos para atravessar fronteiras e colocá-lo à disposição dos consumidores nos países ocidentais.
Passados 13 anos desde o início da ocupação, as promessas de reparar as habitações e de construir outras novas desfizeram-se e os três pequenos hospitais construídos encontram-se sem tecto, com falta de água e sem pessoal profissional para os cuidados de assistência.
Definitivamente, o grande perdedor foi o povo afegão, enquanto muitos invasores encheram os bolsos.
Rebelión publicou este artigo com autorização do autor mediante uma licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para o publicar em outras fontes.
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