segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ulson Gunnar \ MH17: Afastar a Malásia da investigação para o encobrimento

MH17: Afastar a Malásia da investigação tresanda a encobrimento

por Ulson Gunnar [*]
Fragmento do cockpit. Era um jacto malaio, transportava passageiros malaios, voava com pilotos malaios, mas depois de o MH17 da Malaysia Airlines ter sido derrubado sobre a Ucrânia, em Julho de 2014, a Malásia tem sido sistematicamente impedida de participar na investigação, ficando um bloco esmagadoramente pró NATO encarregado da busca de provas, da investigação bem como do modo como a investigação será executada.

Apesar do papel importante que a Malásia desempenhou durante vários momentos chave posteriores ao desastre, parece que quanto mais perto da verdade a investigação estaria a aproximar-se, mais a Malásia é afastada tanto das provas como de qualquer influência sobre as prováveis conclusões da investigação. Sendo o avião em causa malaio, a Malásia como parceiro na investigação pareceria um dado adquirido. A sua exclusão da investigação parece ser uma indicação de que a objectividade da mesma foi comprometida e que as conclusões que ela extrair provavelmente terão motivação política.

A equipe de investigação conjunta inclui e exclui membros surpreendentes

Com os holandeses a liderarem a investigação, sendo a lógica que o voo tinha origem na Holanda e que a maioria dos passageiros era holandesa, foi constituída uma Equipe de investigação Conjunta (Joint Investigation Team, JIT). No princípio da sua criação parecia óbvio que a Malásia também seria incluída, considerando que perdera o segundo maior número de cidadãos no desastre e que o próprio avião estava registado na Malásia. Ao invés disso, a JIT acabou por ser constituída pela Bélgica, Ucrânia e Austrália, com exclusão específica da Malásia.

A Malásia foi surpreendida e protestou pela sua exclusão do JIT, exprimindo reiteradamente o desejo de ser incluída directamente na investigação.

O jornal Malaysia's Star informou : "O embaixador da Malásia na Holanda, Dr Fauziah Mohd Taib, disse que a Malásia não fora convidada para integrar-se oficialmente na Equipe de investigação conjunta liderada pela Holanda, a qual tem a incumbência da investigação criminal". Também informou que "O ministro dos Transportes, Datuk Seri Liow Tiong Lai, afirmou recentemente que a Malásia exprimira sua posição muito claramente de que deveria ser parte da equipe de investigação criminal e havia informado autoridades holandesas da sua intenção".

O [jornal] Malaysian Insider citou o académico malaio Dr. Chandra Muzaffar , o qual acredita que a decisão de excluir o seu país da investigação tem motivação política, destinando-se a excluir membros que possam insistir em cautela e objectividade ao invés de retirar conclusões primeiro e inclinar os resultados da investigação em torno daquelas conclusões. Em particular, o Dr. Muzaffar acredita que as investigações estão a ser intencionalmente enviesadas para atingir a Rússia.

O envolvimento da Ucrânia na investigação é particularmente perturbante. Tivesse o MH17 explodido na Ucrânia sob circunstâncias diferentes, o papel da Ucrânia seria de saudar. Contudo, ele aparentemente foi derrubado especificamente num conflito no qual a própria Kiev participa. Com ambos os lados do conflito na posse de armas anti-aéreas e com a própria Kiev a confirmar a posse de armas capazes de atingir a altitude em que o MH17 estava a voar quando alegadamente foi atingido, Kiev torna-se um possível suspeito na investigação. A inclusão de Kiev no JIT representa um monumental conflito de interesse.

Imagine um suspeito potencial a conduzir uma investigação de um crime que ele possa ter cometido. As possibilidades de encobrimento, desvio, interpretação, alteração indevida ou qualquer outra forma de distorção tanto da prova como do resultado da investigação são infindáveis.

E para agravar este já gritante conflito de interesses, foi revelado recentemente que um alegado "acordo secreto" foi selado pelo JIT pelo qual qualquer dos seus membros poderia impedir a divulgação de provas. Com todos os membros o JIT sendo pró NATO e decididamente predispostos contra Moscovo, um tal "acordo" podia impedir provas cruciais de serem divulgadas o que provocaria uma conclusão ainda mais distorcida concebida pelos investigadores com o objectivo específico de avançar sua agenda política principal na Europa do Leste. Se a Malásia tivesse sido membro do JIT, a capacidade de outros membros para reterem provas ficaria grandemente diminuída e é provável que um tal acordo bizarro não fosse concebível.

A exclusão da Malásia prenuncia resultados com motivação políitica

Com o conflito em curso na Ucrânia encarado como uma guerra por procuração entre a NATO e Moscovo, o facto de os membros do JIT incluírem os apoiantes da NATO do regime de Kiev (um possível suspeito), dois membros da NATO (Bélgica e Holanda) e a Austrália que aprovou sanções contra a Rússia acerca do conflito, é um caso clássico de conflito de interesses.

Aqueles países e organizações internacionais que clamam por uma investigação e por justiça mas ignoram o problema óbvio de participantes num conflito a investigarem um incidente chave que pode beneficiar directamente a sua agenda, indica que tais apelos por justiça são hipócritas e, ao invés, que o que está a ser feito não é uma investigação, mas uma caça às bruxas politicamente motivada destinada a servir um motivo ulterior.

A Malásia geralmente não é considerada como um firme de aliado de Moscovo, mas tão pouco é um estado cliente leal a Washington, Londres ou Bruxelas. Acerca de muitas questões a Malásia tem mostrado uma independência em política externa que perturba a chamada ordem internacional mantida pelo ocidente. E a política interna da Malásia há muito tem lutado por obstruir avanços dos favoritos de Washington incluindo Anwar Ibrahim e sua facção política, o Pakatan Rakyat.

A sua inclusão na investigação proporcionaria um contrapeso imparcial muito necessário a um conjunto de membros do JIT totalmente favoráveis à NATO.

Para observadores casuais, a actual investigação conduzida por membros da NATO e por Kiev – um possível suspeito – não seria diferente do que a República Popular de Donetsk e a Rússia a conduzi-la. Poucos considerariam que a RPD ou a Rússia não conduziriam uma investigação imparcial e poucos encarariam uma investigação conduzida pela NATO como imparcial. Se a Malásia tivesse sido incluído no processo, poderia ter sido argumentado que uma investigação real estava a ter lugar ao invés de uma complexa campanha de propaganda.

A exclusão da Malásia é um sinal perturbador para as vítimas do desastre do MH17, significando que os verdadeiros culpados nunca serão conhecidos. A natureza abertamente política da investigação por um lado alimentará a propaganda de guerra da NATO, mas por outro lado alimentará as dúvidas de milhões no mundo todo sobre os verdadeiros acontecimentos que se verificaram nos céus do Leste da Ucrânia naquele dia. Tal como muitos outros acontecimentos na história humana que tiveram lugar em meio a uma luta política altamente arriscada , o derrube do MH17 será coberto de mistério, um mistério lançado sobre a verdade pela irresponsável liderança da NATO e daqueles em Washington, Londres e Bruxelas que encorajam o conflito na Ucrânia nestes mesmos dias.
28/Novembro/2014
Ver também:
  • Análise do crash do voo MH17 da Malaysian Airlines
  • O relatório da comissão holandesa sobre o crash do MH17 malaio "não vale o papel em que está escrito"
  • Encobrimento? Por que os media e a administração Obama ficaram silenciosos acerca do MH17?
  • O MH17 malaio foi abatido por caças do regime de Kiev
  • Ordenaram ao MH17 que voasse sobre a zona de guerra no Leste da Ucrânia
  • Mother of German MH17 crash victim sues Ukraine in EU court
  • Dutch government refuses to reveal ‘secret deal’ into MH17 crash probe
  • Malaysian Boeing disaster – Russia’s questions to Ukraine
  • MH17 Witnesses Tell BBC They Saw Ukrainian Jet.   BBC Deletes Video.

    [*] Analista geopolítico com base em Nova York e colaborador da revista online New Eastern Outlook.

    O original encontra-se em journal-neo.org/...


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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